Voo Solitário
Parti, para uma viagem sobre mim, na direcção do infinito. Segui a direcção do mar, o oceano inundava-me o olhar, as lágrimas fundiam-se nas águas frias, estirei as asas, parti.
Neste voo solitário, rodeado de outros, voei, para longe do teu calor, para longe de ti. Precisava sentir a tua ausência, não aquela que já carrego no peito, mas a física. O vento, frio, as nuvens, cinzentas, a noite, escura, foram os companheiros da minha alma, que ao ganhar distância, se sentia desnorteada, vazia, ôca. Perdi o tempo, envolto em memórias de ti, em imagens de nós, a tua voz, foi a melodia que escutei nas asas do vento.
Parti, para longe, muito longe, isolei-me no meio deste mar imenso, deixei-me ficar, esperando-te, esperando que desses pela minha falta, e deste!
A chuva, disfarçava-me as lágrimas que me percorriam o corpo, o vento, levava para longe os meus prantos, escondia o teu nome em cada rajada. As ondas, impunentes, abafavam o som da música que sempre tocaste para mim. Tremi, não sei se de frio, não sei se de solidão. Ali, de pé, sobre aquela rocha negra. esqueci-me do tempo, qual estátua perdida numa baia qualquer. Um anjo petrificado, esperando por um toque dos teus dedos para renascer para a vida.
A tua ausência esmagou a minha alma, o teu silêncio rasgou-se no rebentar do trovão, um raio de luz, electrizante e letal, despedaçou o anjo, atirando ao oceano, cada pedaço, cada pena, deixando a rocha, negra, vazia.
Todas as tardes, desde então, uma gaivota vem pousar naquele rochedo. As pessoas que passam, olham-na, solitária, sempre a olhar o horizonte, para lá do mar. Contam os pescadores uma velha lenda, que um dia, uma alma perdida, morreu de amor, numa noite de tormenta, enquanto esperava pela sua outra parte, ali, sobre aquela rocha.