A TODOS OS LUSO-POETAS
Cada vez que ao Luso-Poemas vou,
Dizer-me poeta, indigno sou...
Poemas de tanta beleza feitos,
Que fazem os meus ser imperfeitos.
- Vossos poemas desde simples a complexos
Da beleza e sentimentos são reflexos -
Minhas rimas não fazem sentido,
Diante dos versos que tenho lido:
Fazem a minh'alma rir, suspirar,
Alegrar-se, deleitar-se e chorar...
- Como queria ser um poeta, mais um escritor,
Mas me compraz ser só mais um vosso leitor. -
Aos Luso-Poetas muito obrigado,
Nos poemas me tenho deliciado,
Como se isso tudo não bastasse,
O ler vossos poemas não chegasse:
Os espelhos da minha alma visitais,
Os gritos do meu coração comentais...
Muito Obrigado Luso-Poetas....
Nilton Nascimento
Melodia da Distancia
Meu coração no peito louco dança,
Ao som de mudos gritos de lembrança,
E de intensos sussurros de saudade.
(Uma melodia feia mas com vaidade).
O som dessa musica me balança
Dias e noites com força, com pujança.
E me embala com tal voracidade
Que chega a doer, ser atrocidade.
Distancia é compositora, e maestra
Desta incansavel, alegre má orquestra.
Mas está meu coração tão cansado
De por esta musica ir embalado...
E já é tanta sua raiva... só deseja
É que esta louca orquestra morta seja.
NÃO ESPERAREI
Não me sentarei a ver passar a Sorte,
Nem esperarei que te vás oh Fado.
Não posso simplesmente estar sentado,
Só vendo a vida correr para a morte...
Te perseguirei de Sul até Norte,
Este a Oeste, até te ter encontrado,
Batalharei, até estar tão cansado,
Que desejarás voltar pra tua corte.
Eu te dobrarei perante a Vontade,
Arrancarei de ti toda a maldade...
- Comigo está Aquele que fortalece,
E quem com Ele está não desfalece. -
Essas tuas curvas tomarão esse rumo
Daquele que detem o fio-de-prumo...
Nilton Nascimento.
NÃO QUERO ESTAR COMIGO
Me afasto de mim inconsciente,
Tento fugir do presente...
Procuro o passado,
Vou na sala da recordação
Ali onde toca nossa canção,
Por ti sou abraçado.
E me invade uma boa sensação,
Palpita forte meu coração,
Pois estou a teu lado.
Ao agora fico indiferente,
Eu neste hoje sou tão carente.
Sou um apaixonado.
Se meu ontem fosse hoje, e amanhã!
A ultima noite minha manhã.
Não fugiria de estar comigo,
Pois sei: sempre estaria contigo.
Nilton Nascimento
PARA MEU SENHOR IX
Quando não Te vê, não te alcança meu olhar,
Meu Norte se perde, se desnorteia...
(Confuso te procuro), se tonteia...
Meus polos acabam por se baralhar.
Se meu astrolábio já não Te ve brilhar,
Numa cordilheira de estrelas cheia,
Meu "quem sou" no nada se serpenteia
Procurando ver Teu brilho fervilhar.
Sem Ti não há terra, agua nem o ceu azul,
Nem Oeste, nem Este, nem Norte ou Sul...
Sem Ti simplesmente fico perdido
E ao desejo de Te encontrar rendido,
Te procuro dia e noite, noite e dia
Pra dar aos pontos cardeais sintonia.
PARA MEU SENHOR VIII
Em Ti Pai deposito minha vida,
Meus problemas, medos, minhas aflições.
Restaura-me também das desilusões...
E cura a minha alma enfraquecida.
Abre toda a porta, mostra-me a saída...
Pois como Sabes por minhas confições,
Meus choros, gritos, clamores e orações,
É minha caminhada tão sofrida!
Pai sopra-me uma brisa, um bom vento,
Que me dê bom animo, novo alento...
Me ajuda nesta minha caminhada,
E não me deixes nunca sair da estrada.
Te peço não por ser eu merecedor...
Mas porque sei sim, que Tu Pai, és amor.
AMIGO APAIXONADO
Amigo tu me chamas,
Amiga... te respondo.
E por medo te escondo
Que tenho o peito em chamas.
Tenho o coração ardente,
Queimado por um fogo...
Procura desafogo,
Quer gritar o que sente.
Mas há o medo de perder
A tua bela amizade,
E te escondo a verdade...
Os impulsos vou prender.
Minha visão vou ofuscar
Pra não ver tua beleza.
Vou me queimar de frieza,
Vou o desejo sufocar.
E mesmo apaixonado,
Pra essa amizade guardar
A outra corpo vou dar...
Enganar enganado.
>>>>> Nilton Nascimento
TEU SILENCIO É
Teu silencio: Voz da solidão,
É o desanimo da esperança,
Doente tormento da lembrança,
Alento da desesperação.
Vento que pra longe te leva.
É um alimento que dá fome.
É mal que a poucos me consome.
Permanente, e sombria treva.
Mar que afoga minha alegria.
Rio que afasta a felicidade.
A brisa que queima a saudade.
O sol que congela meu dia.
Sepulcro da minha boa paz.
Ferida aberta que não sara,
Chaga que de crescer não para.
É capacitar ser incapaz.
Somente tua voz é a solução,
Só tua voz que mata esta dor.
Tem dó, acalma este sofredor.
Pois vai rebentar meu coração.
>>>>> Nilton Nascimento
PARA MEU SENHOR I
Oh Jesus, irmão meu, Sê meu lenhador…
Das raízes deste mundano pecador
Corta-me, das raízes más separa-me…
E deste infértil mau chão, arranca-me.
Quando, ao chão cair, serás transportador,
Pois sei que Tu és acolhedor, zelador…
Da seiva má com teu calor seca-me.
E da agua das tempestades guarda-me.
Quando este tronco, for já preparado,
Pronto e da má seiva separado,
Molda este tronco com Tua sabia mão…
Molda-me, à Tua boa imagem bom irmão.
Para terminar, pinta-me de clamor,
Compaixão, fé, humildade, e de amor…
PARA MEU SENHOR VII
Aqui a Teus pés, por amor e adoração,
Dispo perante Ti, o meu coração…
Eu Te entrego sua espada, o seu escudo,
De toda sua fria armadura o desnudo…
Retiro sua bandeira, ou marcação
E todo rasto de sua designação…
Em Tua mão o deixo, p’ra ser revestido.
Com tuas cores eu o quero ver vestido.
Mas não com armaduras de aços frios,
Nem com as “belas” sedas dos gentios,
(Pois melhor p’ra mim ficar nu seria).
Reveste ele com vestes de alegria,
Humildade, compaixão, temor, clamor,
Sabedoria, adoração, fé, e amor.