Nosso Mundo
Sistematicamente luto contra o precipício
que devora minha alma adormecida de mim,
e neste mar revolto que sou, todo vício,
encontra paz no meu corpo, luz do meu fim
Teu nome fixo na minha boca, é artifício,
doce veneno; faz-me brinquedo, arlequim
jogo de prazer, sem regras nem princípio,
noites mal dormidas, conversa de botequim.
Lua que inebria, és o mal que me faz bem,
delírio de loucura que não cessa, prende!
cortina do meu dia, verão insano, obscuro
Mesmo sendo dor, não há nesta vida ninguém,
sendo culpado, possa amar-me tão inocente...
e é neste pecado que me lavo e faço puro!
Musa
Tenho sono e não consigo
adormecer de você...
Tenho sede e já não há água
na tua fonte que me dê prazer...
Tenho loucura e não encontro
a insana que habita teu ser...
Nada me prende e tudo me consome
neste nosso romance...
Talvez eu seja um estranho que te ame,
calado!
ou apenas um destino infame,
que te busca, sem muita explicação,
apaixonado!
Não sinto culpa, sinto poesia!
Não sou frio, sou o excesso
onde te perdes sem agonia...
És musa, eu inspiração,
e se amo melhor com a imaginação,
não lute não,
apenas dê vazão,
aprenda a dançar
com a minha canção...
o homem ama mais com a razão,
o poeta com intensa emoção,
desespero, egoísmo e solidão...
Não me cobre ação...
gosto de ser
a tua mais doce ilusão!
Inquietação
Dizem que é poeta aquel´alma com fome
Sem sofrer,finge que é sem o que não é ser
É o mais perto da palavra que consome
Em demasiada valia do que vale parecer
Mas será o poeta esse fogo de fingir dor?
O calafrio conturbado da pena canto do fado?
Ah, fosse possível saber qual a tarde do amor
Por toda a noite escreveria estrelas a seu lado!
Verdade é que não é possível conhecer a mão
Nem olhar os pés que caminham sobre o vento
Nem a estrada lida em que se esconde a fada
É perfeita a boca cálida que acalenta o pão
O corpo sem idade que faz da criança o tempo
Revelando a face apagada na água sem morada.
Desencanto
Coração sentimental, mero objeto
dum sistema carnal,vida sem teto,
luz vagando na escuridão mundana,
assim jaz o amor da raça humana...
Finda vida minha,deste vazio repleto,
e morra eu cá, na solidão, decrépito,
e já não vejo nas alturas, Oh Hosana!
Donde anda minha razão, mente insana?
Mares levam meus sonhos em ondas além,
ventos espalham restos perdidos de mim,
e o inverno habitou de vez meu peito...
Se ao menos no mundo houvesse mais alguém,
que ouvisse dos pássaros o canto sem fim,
talvez pudesse na dor do meu eu dar jeito...
A Hora da Tua Solidão
Quantas personagens,
para fugir da solidão,
quanto devaneio
à toa e sem razão...
Quantos amores
no teu caminho,
em desatino,
quanto vazio!
Triste sina a tua,
fugir de si,
sonhar sem ter onde ir...
Passado, passado!
Tudo agora é passado!
morto e enterrado...
Não tenha medo,
sou teu novo enredo,
sonha comigo
um novo mundo,
volta a inocência
da infância,
não amo o que você
não é...
Te quero livre,
tira estas roupas,
que distorcem o teu ser,
deixa-me apreciar o nu
da tua alma verdadeira,
teus pecados todos
já foram lavados
nas tantas lágrimas
que derramei,
salva-me do martírio,
das noites aflitas
em que minha mente
implora solução,
não te suporto triste...
sela comigo
o pacto da vida,
seja o inverso
do que a corja atrevida
cospe agora
a todo universo.
Tempo de Ser
Solidão,
tempestade cruel,
arrasta sonhos
derruba-os ao chão,
desfaz monumentos
erguidos ao amor
e num só momento
tudo é pó,
tortura e dor.
As horas correm,
e não tenho tempo de ser...
Tudo é tão relativo,
-eu sei..
e não lembro
quando a tristeza
tornou-se
absoluta em mim
Preciso esquecer
o tempo que me falta
pra ser,
tudo o que
precisas ter.
Pedra
Era só o que me faltava... na hora da despedida
Esta poeira de nada que me arde em ferida
contra-nada de minh´alma sem guarida
ser na palma a arma que me sangra, retorcida
Não conheço o Deus da tua boca que me nega
Tenho encontro marcado com o Pilatos que me prega
És desamor, acção em rejeição que me entrega
À pergunta sem resposta dos reis que me querem
No túmulo onde te irás rir das preces que me ferem
finalmente vou dormir, com as pedras que me derem
Poètes, 05/Abril/2011
Nada Além de Nós
Tanta alma
clama por alívio
dum corpo amaldiçoado,
desde o berço,
e meu corpo são,
grita, cansado, por sossego,
a minh'alma atormentada
pelas esferas repletas de feras,
sem destino nem morada,
onde minha cabeça espera,
o dia feliz da ausência
destes monstros saídos d'outros
contos,
do teu passado,
que me ocupam
o dia
e roubam tua alegria...
O meu sorriso,
nesta hora,
é o resultado
da analgesia
de todo o meu ser
e já não sinto a dor
que tenta nos afligir,
ah, meu amor,
estas sobras,
estes restos
de gente
tão carente
dum pouquinho de afeto
e atenção,
estas chagas abertas,
em plena praça,
desbotando a paisagem,
são apenas
o retrato
da miséria humana...
Nada vai roubar
o brilho da nossa paixão,
enquanto no meu peito
bater um coração...
...E é teu!
Démodé
Sinto que tudo
é tão finito,
neste céu cinza
que é a vida
sem o teu sorriso...
ó, precipício de mim!
Nenhuma outra voz
satisfaz a canção que é
ouvir o teu sussurrar
ao "pé" d'ouvido,
nenhum outro ser
possui a tua grandeza
e já não duvido
que a minha vida começa
quando teus olhos vibram
ao amanhecer
e termina
quando não sei
absolutamente
nada do teu ser...
Canção
Não me fales da cor,exacta ou não,
dos teus passos em alcance largo
nem dos ombros carecidos do coração
revolta contra o muro de tom pardo
Muda-me,revira-me o olhar,para o teu lar
lugar d´anseio do que escrevo em loucura
em qualquer tempo do verbo desejar
preenche a saudação do braço em tremura
Quero aprender a morrer para o mundo
és bálsamo para todo o meu tempo
cura para toda a minha insegurança
Vês que és júbilo profundo?
que palavra poderia alargar o vento
senão o nome que lavra a criança?