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Poemas, frases e mensagens de MarySSantos

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de MarySSantos

monotype corsiva

 
monotype corsiva
 
cobre-me com teu céu amorenado de chuvas
carregadas de pecados

massageia-me com letras
libertinas, pecaminosas,
nuas, oleadas
e indecorosas

acaricias-me com as penas
de aves pagãs
roça-me
dedilha-me
aquece-me

engravida-me de versos
lânguidos
pervertidos
e ousados

escreve-me no corpo
um poema ascendente/descendente
de um jeito rimado
melódico
cadenciado

ondulante na fonte monotype corsiva
em arabescos pervertidos
pra em tua boca serem
quentes recitados
 
monotype corsiva

essência

 
ornar - se
com a elegância
da simplicidade é
desvincular-se
do apego pela aparência
para deixar sobressair
a majestade do Espírito.
 
essência

Bloody Mary

 
Bloody Mary
 
sou o embaço que teus olhos rondam
e que tu’alma apalpa perdida das mãos.

sou infinitos pontos escurecidos
viajando dentro de outros pontos
voadores coloridos

como um átomo perdido
do universo molecular
estou à deriva num dramático
vermelho ‘bloody mary’,

mascarado pra confundir
reinados
sou coquetel
ardente e salgado

apimento
desagrado
seduzo

poucos
são os apreciadores
desse gosto

ainda assim... bebes-me
ardendo o ranho
de tua garganta
só pra sentir meu paladar
e tentar me compreender
mas,
embriaga-te antes

sem que possas me saber
 
Bloody Mary

Sei do inverno que fica nas palavras

 
 
é de inverno
o tempo...

sei
do peso do frio
sobre a pele
e
do rio
em murmúrio
preguiçoso
passando...
quase mudo
encrespante
taciturno...
vadio

sei dos dias
de vestes
névoas
e das noites
paramentadas
de
encharcadas
túnicas ...

sei da polida
cor do aço
escapando dos olhos
na mira do lustre
do silencio
refletindo-se
nas gotas modorrentas
em desconstrução dos
pensamentos

caem
ideias
em poças varridas
pelo vento
...
a dissolver
o ártico
homicida
fantástico
do tempo

ah!
esses sonhos
vaporosos
de enganos
que os anjos
nos fazem
beber quando a solidão
vem nos colher...

também deles
sei...

para eles
o que importa é que outras
cores
e sentidos
se acheguem
para iludir
um pouco
mais
os sonhadores...
 
Sei do inverno que fica nas palavras

levando a alma da gente

 
há momentos que
na alma da gente
paredes oram em silencio,
janelas fogem dos sobrados
e o vento tem corpo congelado

há momentos
que não dizem por que vem
a solidão

há secura sem sede
e fome com muito pão

há momentos
que o pensamento
só quer trazer de longínquos montes
uivos melancólicos de abandono
para suprir a falta que faz um apito
quando um navio vai sumindo
devagarzinho na linha do horizonte...

há momentos
que o delta de um rio
se alarga porque chora
 
levando a alma da gente

sonho às vezes tem que morrer para a vida acontecer

 
a emoção de voar
alto
deixar se planar
depois da adrenalina
de um salto
momento único
de prazer

colher a magia
das asas
da poesia
faz o poeta transcender

se o sonho
insisti
a desilusão
também existe
e é a dor da fome
que faz o pássaro
descer...
 
sonho às vezes tem que morrer para a vida acontecer

Velho Diário

 
Folheou páginas dos pecados e elas sorriram desavergonhadas. Os rabiscos quase apagados jogaram-lhe na face o ardor de mil beijos escondidos sob os mantos das árvores. Enquanto inocentes cinderelas retornavam dos encantos e magias em horas determinadas ela fugia, descalça e de camisola assanhada, dos guardiões da pureza e candura. Liberta, sob o olhar feiticeiro da lua, percorria a noite enquanto o chão era feito de sombras de folhas rendadas. O vento aqui e acolá assoviava alcovitando os momentos furtivos. Era ela, cega aos perigos, tão espevitada, recusava pureza, fitas e laços, soltando os cabelos para o vento bolinar, sempre rumando para o que lhe atiçava emoção. Os olhos tremeram quando as páginas se despiram e ela reviu um corpo quente em bronze luzidio, dentes alvos e lábios polpudos. O olhar de um mar noturno em tempestade trazia a nau para misteriosas viagens. Navegava no momento como um rodopio de valsa. A paixão flutuava numa dança de pecado - Foi pecado? - As páginas tremem, interrogando-a neste patamar do tempo e mostram também seu retorno sorrateiro, no primeiro raio da aurora, para o calor dos lençóis e do travesseiro que nunca cansaram de ouvir suas confidências e preces para que suas travessuras não fossem descobertas. Pedia perdão aos céus, com a promessa de não cometer de novo – mas tudo se repetia, pois uma voz sempre exigia sussurrando-lhe no coração: se o sabor tem o doce néctar da flor, para que pedir perdão se esses pecados são feitos de amor? - Leu e releu por um bom tempo o versinho grifado e fechou o velho diário, sem remorsos, deixando dormir as páginas amarelecidas de insubordinação.
 
Velho Diário

O balanço

 
Em uma árvore no alto da colina
Tinha um balanço que hoje é lembrança.
Lá ficaram os sonhos da menina
Se balançando em fantasias de criança.

A menina até ao céu cantarolava
E sua voz se espalhava na colina
Quanto mais o balanço balançava
Mais alto cantava a menina

A menina não sabia o q' era dores
Apenas se entretinha a balançar
Cantava sorrindo para as flores
E só com flores vivia a sonhar

Um dia deixou de ser criança
Mas não matou dentro del' a menina
Quis retornar a balançar naquela dança
Quand' o balanço já não está mais na colina.
 
O balanço

Lenha pra lareira

 
até quando serei palavras puras
que escolhes para versos
banhado de pudores
sem que percebas minha pele deixando
em teus dedos
vestígios do que mais sinto fome?

palavras que me fazem fértil
não têm essências virginais...

camuflá-las com nuvens
celestiais ao som de harpas
angelicais, não me permitem
fazer

sei da beleza do singelo
que me doas
e até me aconchego nelas,
sossegada

mas...

hoje quero palavras
em fuga do gelo

letras cruas
pra se cozerem
na fervura
de um poema danado.

hoje prefiro que as tua
sejam as
brasas do pecado...
 
Lenha pra lareira

Espírito

 
quando não há mais fio
para agarrar
corrimão nenhum pra me apoiar
sinto as mãos do precipício
a força bestial a me puxar.

abrir os olhos
para levar a cor do céu
na queda
é tudo o que resta.

entretanto...

algo sutil se manifesta
repercute no vácuo
o som de harpas.
junto vem um toque de
promessa
e o frescor de um sopro
em minha testa.
mãos suaves me salvam
do abismo

sustentada pelo Ser
suave e invisível...

levito
 
Espírito

texturas

 
texturas
 
TEXTURAS

um tecido
cobre-me
com mesclas de maciez
e aspereza

de chiffon esvoaçante
ou inteiro de seda
preferia que fosse

lilás com rosa
no
flu-flu
em degradê
alcançando terno
tom de cereja

sentir-me-ia
delicada borboleta
leve
e...
e...
efêmera...

por que que tudo que é belo
revoluteia de forma breve!?

querendo sim
querendo não
a parte rústica do tecido
serve de armadura.
o macio pedaço
cobre-me
para que
prossiga leve

flutuando...
com certa candura.
 
texturas

pra enxugar o choro da saudade

 
em tuas planícies e colinas

percorrem

meus largos

sentidos distantes...

adoraria ficar à meia distância,

observando lágrimas delineando

as linhas de tua compleição.

ver o sol nascer e morrer

dentro dos teus olhos

e do pico que denigre o céu,

beber da fonte que me faria

florir...
 
pra enxugar o choro da saudade

in pulsos frios

 
 
não é repentino
o sintoma degelando
aos poucos a consciência

percepção antiga
esta
de que o espaço em mim
tem dimensão maior
do que imaginado

vaguezas se inquietam
apetecem preenchimentos
intensos de labaredas de
sentimentos

o âmago, exigente
repreende-me
pela insuficiência do amor
que abasteço por
[talvez]
não queira eu
pagar o preço
que se paga quando
com muita munificência se ama?

decepção, medo, egoísmo. avareza...?

o que sabota
o esguichar do meu amor
para não ter a potencia
de um lança chama?
 
in pulsos frios

ardência

 
clama alma
um vestido verdadeiro
desbotado
d' esperança
e corado de
realidades que
sonhos esculpiram.

sedoso na transparência
do amor que
não se trança com
tramas ardilosas
do tempo

livre... leve
mas aderente
a versos

e... frágil...
suscetível
às investidas
do vento. ..
 
ardência

'palavrosia'

 
'palavrosia'
 
veemente
disse que eu não mais viria
às palavras me insinuar...
que um tempo
daria
de fininho saindo
sem provocar
ondulações, nesgas violáceas
resquícios de vento
sequer.

entretanto...

é mais forte
a vontade de te sentir

as curvaturas
tuas
delinear.
teus
sentidos claros ou
indefinidos,
pesquisar

tocar teu porte
fechar os olhos
sentindo tua espessura.

dar-te meus olhos
minhas mãos
meus lábios
entreabrindo-se
silábicos
arfantes de breves
surpresas

fazer-te amor
balbuciando intrigas

provocando
protestos

confesso...

és minha libido
minha luxúria
meu vício promíscuo
e também minha oração

és o limiar de um voo
asas minhas em convulsão

és tatuagem
roçagando como vento
minh' alma

também és
o antídoto

... a minha calma!
 
'palavrosia'

Flor de Cacto

 
é do deserto que me deixas que se abrem as linhas,
árduas dunas de sede e areia em chão mártir de ventos,
sacrificando pegadas silentes

meu telhado, uma palavra que não
protege minh' alma de noturno sol
massacrante
trincando meus lábios,
retalhos de luz
que oásis nunca
alcança

[lábios expatriados
de um verbo que se move
molhado]

por baixo das pálpebras
estafadas
noites dão alucinógenos
às retinas
fazendo-me lembrar ser flor
desabrochando no teu corpo
naqueles instantes em que me acolhes
e ao mesmo tempo me espinha
 
Flor de Cacto

sonata de fim de tarde

 
sonata de fim de tarde
 
nuvens de asas
fogem do horizonte
fazem ninhos
nos olhos
o reflexo

farfalhos e pios
no silencio
úmido tecem refúgio

triste melodia surge
no habitat
que tua ausência acolhe

talvez o que mais se perceba
não seja o fim da tarde
que treme nas cordas
de um violino

são lembranças
que ressoam como
sinos
 
sonata de fim de tarde

tempo solvente

 
preciso de um tempo menino
correndo pra lá e pra cá
com uma pipa colorida
disputando o céu com os pássaros,
medindo forças com o vento
até cansar os braços.

necessito de um tempo
menino
iluminado por um sol
a pino
deixando pele morena-dourado
e com um ardido avermelhado
lançando no ar o cheiro
de moleque queimado.

preciso de um tempo menino
correndo de peito nu
e pés descalços
com a pura intenção
de se atirar no primeiro riacho

preciso de um tempo
menino
mergulhando e boiando
com alma entregue
desobrigada de ser triste
desobrigada de compromissos

careço de um tempo criança
pra amolecer o adulto tempo
que sedimentou sentidos,
enrijeceu sentimentos
e esgotou os pressupostos
pra triturar seu estado granítico
 
tempo solvente

caso não saiba

 
 
talvez não saibas
como separo a distancia do tempo.
nem da profundidade
que me abraça
ao me atirar no cânion do beneplácito
sem enxovalhar um juramento

talvez por isso dói aqui
a conformação
e teu quase apagão pro silencio

fio o dia entremeando buscas
em conquistas, segregando o mar
de qualquer cais que venha me pausar.

rasgo noites para sorver-lhes entranhas
resgatando ideias para gladiar com sombras
grávidas de mim.
qualquer hora a espada me libertará
entregando-me inteira à luz da promessa
esticada como forte teia
no interstício que separa
a sede da fonte
a pele do calor
a fome do alimento
o pavio da chama

que pedem pontes
para efetivos transeuntes
 
caso não saiba

anseio

 
anseio
 
anseio
.
.
.
tantos ares
tantos chãos
tantos lugares

dos rios
aos mares

o bornal
de perguntas
está cheio

de respostas
vazio vai
o peito
.
.
.

anseio
 
anseio

As vezes nem poemas são... apenas a mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.