Poemas, frases e mensagens de Propoesia

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Propoesia

"Queres apaixonar-te comigo...?"

 
...

depois pergunto-te se sabes
o caminho de volta
ou
se devo deixar migalhas dos meus beijos espalhadas no
vento, para que possas reunir
o nosso amor prometido.

depois
será um adeus sempre por chegar
e já partido em risos
porque as pedrinhas do chão são de alegrias miúdas
e fazem cócegas aos pés de amores-perfeitos
quando os pisas, delicada-
-mente:

prometo voltar
em cada adeus novo que vivermos
tu e eu

porque

o melhor da vida é o que a ilusão
nunca prometeu.
 
"Queres apaixonar-te comigo...?"

Breve e no entanto

 
Há muito tempo
prometeu-se flores
-
a breve idade
das coisas
a misturar nas mãos
ilusões
de chuva
ao sol.

Veio o verão
e chamou às cores maduras
alimento.

No outono
nomeou as folhas secas
ais de vento.

No inverno
teve frio
e saudade
do tempo desertor
-
e teceu um cobertor
feito de penas
e de lã.

E todas as noites adormece
e de manhã
se retempera
acordando
numa estranha
primavera.

(e entretanto há morangos
a sorrir
e panquecas suspirando
por um beijo que a fome
faz florir)
 
Breve e no entanto

'Se não ler, não comente, mande beijinho.'

 
Este ofício de trocarmos galhardetes,
este “hobby” de fingirmos ser poetas,
é um vício que enobrece nossas gentes
é o “lobby” dos amantes e ascetas.

Ai, se for literal este proveito
de chamar-se a isto Literatura,
pese embora o literato conceito
de negar-se toda e qualquer ditadura...

mais um pouco e será literacia
a “livralização” da incultura -
era pobre, o poeta, e não sabia
que um nome nem sempre é assinatura.
 
'Se não ler, não comente, mande beijinho.'

Porto de mim, rio de nós

 
Porto de mim, rio de nós
 
Céu de açúcar branco
glace de cetim

Cidade tingida
de graça e carmim

Rio de mistérios
com tanto de mim
 
Porto de mim, rio de nós

Risos d'água fresca

 
Cantam melodias a meu gosto
as águas frescas do teu riso
quando nascem
e escorrem
p’lo teu corpo
em cascatas
de verbena.

Bebo-as nas covinhas do teu rosto
e cresce-me um oásis no olhar
onde páras
e descansas
cativa dos meus beijos
de alfazema.

E as que caem
nas pedrinhas do caminho...
recolho-as à flor
do meu poema.
 
Risos d'água fresca

INSHORE

 
A pouco e pouco,
aprendo a caminhar pelos mapas que trazes nos bolsos,
sem riscos e sem legendas,
esquecendo a era de encanto e nós
sendo raio de sol e céu de chuva encadeando
letras de canções.

Agora o tempo é outro, é de lampejos e cotovias,
tardes submersas, cantos heróicos e outras menores poesias...

Já calaste tudo o que tinhas que ter voado,
enquanto as palavras iam morrendo como pássaros de papel
sem tintas para poisar
num só poema
de amor.

(entretanto, há asas debatendo-se
contra as paredes doces
do teu peito
e no estreito
abismo que voz fosse,
sobem águas, em grito ensurdecendo)
 
INSHORE

'se fores um dia o meu olhar'

 
 
não queiras saber dos dias -

o tempo mede-se nos meus olhos:
é íntimo dos seus reflexos
cristalizando ao rocio
imperceptível e leve
duma lágrima.

não queiras saber do mundo -

assegura-te dos meus olhos:
dois infindos universos
que manobras, por um fio
à deriva da luz breve
que te cega e legitima.
 
'se fores um dia o meu olhar'

Diz-me ao ouvido-.__

 
...

hoje dói-me uma palavra
em crise de aguda infecção.

por favor, fala baixinho,
não agraves o prurido da questão

diz-me ao ouvido,
não tenho a língua vacinada,
ainda te pego
o mal que sobe do meu peito,
balança na febre dos meus lábios,
me morde os ais,
e ameaça cair
...
ao mínimo estertor duma palavra

_-´ALTA DEMAIS.
 
Diz-me ao ouvido-.__

LUA NOVA

 
No quarto onde improvisei a noite, senti-te entrar, com passos de silêncio e respiração cautelosa. O meu coração pareceu querer subir-me à boca, mas segurei-o, com um engolir em seco, e, instintivamente, encostei-me à parede fria, no canto mais afastado da porta.

[e agora? quem, como... será o homem que eu estou prestes a descobrir com o delírio dos meus dedos e a emoção da cegueira...?]

Tacteaste, no escuro, e alcançaste-me. Não disseste nada, mas senti a tua voz percorrer-te o corpo em silêncio e manifestar-se quente, macia, no toque da tua mão - "vem, não tenhas medo...", diziam-me a tua pele cautelosa, os teus gestos lentos. E a tua respiração, já perto, tentava sincronizar as modulações da minha, como que a fazer-se inaudível e menos intimidante.

["...como seria bom, dar um passo em frente, e descobrir o outro de olhos fechados", disseras-me. E eu aqui, agora, de olhos sem ver,
sem saber se acredito ou não: os meus sentidos estão desabituados deste alerta absoluto... os meus olhos viciados da luz, sofrem, com a sua privação...]

Seguraste as minhas mãos frias, com as tuas, aumentado gradualmente o aperto. Depois, quando as sentiste quentes, aninhaste-as numa das tuas, e, com a outra, estudaste-lhes todas as linhas, todos os montes, nas palmas; todas as veias, todos os relevos, nas costas.

[confesso que me senti mais calma. De repente lembrei-me da maturidade e sabedoria das tuas palavras. Da doçura, da convicção. Da honestidade que eu lhes via, sem a incerteza do olhar. E de outro significado, para "descobrir o outro de olhos fechados" - confiar, confiar cegamente.]

Continuei quieta, não ousando retirar as mãos, ou dar-lhes vontade própria - não saberia que fazer delas, ainda, nem do corpo, nem dos pensamentos, que se atropelavam com estímulos de tempo, espaço e dimensão.

[estou noutra dimensão... sinto vertigens, como quando algo inquietante me apanha de surpresa, ou quando tenho aquela sensação estranha de já ter vivido esse momento...]

Ele levou-me as mãos à sua boca, e beijou-mas meigamente, ainda em silêncio. Percorreu-me com elas o seu rosto, e eu, de repente, dei-lhes liberdade, soltei-as, como a duas andorinhas que acabaram de aprender a voar - tacteei-lhe os lábios, o queixo, passei, ao de leve, nas maçãs do rosto, subi-lhe aos olhos, acetinei-lhe as pestanas, desenhei-lhe as sobrancelhas, penetrei-lhe os cabelos com os meus dedos...

[um belo rosto, de um homem maduro, bem cuidado... a pele vincada pelo tempo, mas macia. O cabelo, a permitir espaço a uma calvície moderada, sedoso e curto - até aqui, quase como imaginei...]

Enquanto lhe explorava o rosto, ele deu um passo em frente, descendo-me as mãos pelos braços, antebraços, sempre muito lenta e delicadamente, parecendo "examinar-me" cada milímetro. Rodeou-me os ombros, desceu às axilas, continuou pelos perfis laterais do tórax e parou-me na cintura, cingindo-a.

(nunca soube que o meu coração pode ser tão barulhento! é tão perturbador, esse som intruso, quase me tira a concentração... e eu, ah, quero concentrar-me, agora!)

Puxou-me para si, devagarinho e abandonou-se ao meu toque, mantendo-me presa pela cintura. Senti-lhe todo o seu corpo e as minhas mãos souberam exactamente, estranhamente o que fazer a seguir: desceram pela sua nuca, acariciaram as suas costas e repousaram um momento no seu peito. Estremeci, sentindo os pelos que a camisa, semi-aberta, libertava...

[uma coisa (mais) a agradecer à escuridão: a impossibilidade de ele ver o vermelho vivo das minhas faces... mas suponho que até isso, ele consegue ver, sentindo - eu própria, estou a aprender a ter essa capacidade: aposto que ele sorriu, neste momento...]

Todo o meu corpo estava atento, agora. Todo o meu corpo me enviava estímulos e a percepção por contacto ia-me revelando sensações jamais experimentadas. Senti-lhe o ligeiro tremor das mãos e tremi, o cerrar dos olhos e sorri, o arrepio no peito e senti, o calor do desejo e estremeci...

(tem um corpo forte e másculo, ligeiramente mais alto que eu... e já nem sei como consigo "ver" isso, a carga dos sentido é forte demais, receio que me esteja a provocar um "black-out" total... receio deixar de pensar... receio...)

Eu deixei escapar um ligeiro gemido, quando ele me tocou os seios, numa carícia de reconhecimento, quase seda, quase veneração, toda procura... Com o seu rosto, tocou o meu, e os seus lábios, quentes e ávidos, delinearam-me todos os contornos, perceberam-me cada semicerrar de olhos, sentiram-me cada afoguear de pele. Sorriu e apanhou-me a boca com a sua, num beijo que deixei aprofundar até misturarmos respirações e suores.

[...]

Depois, finalmente, falou: "Acho que já nos conhecemos... queres reconhecer-me...?". A voz rouca dele atropelou-me um "sim" na garganta, mas não fez mal, os meus dedos deram-lhe a resposta...
 
LUA NOVA

São flores, senhora, são flores

 
São flores,
os perfumes escondidos nas manhãs
do seu "bom dia".

São flores,
mesmo que os seus olhos digam "nada"
e só sorria.

São flores,
que no seu regaço se transformam,
por alquimia.

São flores,
os pães frescos que me serve com romãs
e alegria.

São flores,
que eu levo num raminho apertadas,
minha energia.

São flores
que lhe trago nos beijos que a adornam
ao fim do dia.
 
São flores, senhora, são flores

Es.finge

 
Sou assim mesmo, incompreensível,
Se me que quiseres, toma o visível,
E amadura-o nas tuas mãos,
Depois atura-lhe sins e senãos,
Depois mistura-me, se conseguires,
Que eu sou óleo, não vou mentir,
À tona d’água já estagnada
Contendo tudo sem estar com nada.

Sou mesmo assim, indissolúvel,
Mesmo rodando, bastão volúvel,
Eu não me acerto ou só me arrisco,
Até no sonho eu me belisco,
Temendo o fim do mar do sono
Onde me afogo, em abandono.
Se me quiseres, quer-me de um trago,
Onde eu passar, só faço estrago.

Mas se depois desse amargor,
Depois da boca e do estertor,
Sobreviveres… decifra em mim
Este indizível eu em motim,
Imobiliza-o, vence-o por dentro,
Não tenhas medo, não percas tempo:
Se não o fazes na certa hora…
Certo é ser ele quem te devora.
 
Es.finge

Vens

 
sem eu bem saber de onde
traído pelo teu hálito
à minha nuca
o meu corpo aquecendo
ao contacto longo do teu
(a por-me louca)

um ponto de prazer
entumecido
invasor
enaltecido
pela dança do meu corpo
contra o teu
(quase fogo)

e queres e voltas-me
perseguindo
a rotação do fulcro
prometido
e o beijo com que esmagas
minha boca
(sabe a pouco)

as mãos que queimam as roupas
rasgam vias
os olhos entrechocam-se
(e tu guias-me)

o impulso forte e convexo
abrindo caminho ao sexo
(humedecido)

sei_os íntimos sinais
os gemidos
a voz rouca exigindo
(mais e mais)
e a tua língua indutora
levando-me a longitudes
abissais

finos almíscares
e falo doce
(meu amor)
minha língua
ao teu render quase vindo
em aljôfares...

dobras-me
como flor breve morrendo
nos teus braços
segues-me o vento inocente
(voo devasso)
e quando pousas
és beijo de horizonte
e o sul que em mim ousas
é espiral em crescendo

barco tempestivo
subindo e descendo
em ventre de mulher
procelas de mel
desflorada pele
(tenso arder)

e eu em vagas subindo
e tu em mim naufragando

e tu em mim investindo
e eu, tão louca, gritando:

vive-me até que o poema
nasça da morte pequena
de nós dois

(e depois...)
a longitude das vagas
nos espasmos percorrendo
corpo e alma
verso em ritmado delírio
que fundi
com teu sémen escorrendo
adocicado
a flor de nácar onde sugas
chão sagrado
prazer fundo:

e somos, só tu e eu
-
o Amor (todo) do mundo...
 
Vens

à floração das espumas [1]

 
a maré recuava devagarinho, depois da floração de espumas:
-sabes o que te vou pedir a seguir, não sabes...?
ela soergueu-se, o seu perfil talhado ainda de húmidos contornos, na contraluz do céu entardecido. havia réplicas de sorrisos no seu olhar.
-o quê?... e esperou, gaiata, desafiadora, passeando a língua entre os lábios.
-casa comigo.
maria deu uma gargalhada pequena e funda, ainda eco do sorriso nos olhos.
-sim!... e somos felizes para sempre.....
ele acusou a ironia e fez beicinho:
-eu estou a falar a sério... -choramingou- quero casar contigo e ser feliz para sempre...
-ah, nós dois já sabemos que isso não existe... – contemporizou maria.
-pois não... não podemos ser felizes para sempre... – disse ele, deitando os olhos ao mar, que os levou para longe.
depois, retornou-os a ela, trazidos pelas vagas arrependidas:
-mas podemos tentar para sempre...
 
à floração das espumas  [1]

Brumas, feiticeiras brumas

 
Se os meus olhos salgam nuvens
em dias que o sol não vem
mar de vida, são as chuvas
que do fundo dos meus versos
arrastam ventos e areias
grãos de morte que eu disperso
numa praia de ninguém.

Bruma ainda, e o dia faz-se
sempre à flor do oriente
onde, dizem, a luz nasce –
dorso d’águas, travessia
sedutoras luas cheias
iludindo a maresia
em véus de brisa inocente.

Deixem-me ser caravela
rasgo de voz, aventura
se por dentro sou procela
à pele sou descobrimento -
quem me impede que nas veias
traga gumes de aço e vento
que me ajudem na procura

doutros mares, doutras verdades
curvas fáceis, contornâncias
em crescente claridade
sopros de luz emergente
incendiando as ameias
da bruma que me faz frente...?
Que é a luz, senão distância?

Que é do mar, sem as sereias
e sem sal que o alimente?

(pP)
 
Brumas, feiticeiras brumas

fototardia

 
fototardia
era a luz do entardecer, na exacta hora da condescendência das cores:
um filtro ocidental sarou as asas do olhar, e recompôs os tons primordiais - o verde saturou as relvas, reminiscências de castanhos outonaram as terras, a minha pele aveludou-se de rosas breves, o ouro dos teus olhos rebrilhou sóis escondidos. sensíveis poderes de pintar a vida num momento.
se o momento se prolongasse, dir-te-ia: "cola o teu rosto ao meu e deixa que nos tire uma fotografia... quero que a minha alma fique presa aqui, presa a ti, no lugar sagrado onde acaba o dia".
 
fototardia

"Passa tempo, que isso passa..."

 
Houve um momento
entre nós
que durou o tempo
que me restava para a saudade.

Sem voz te disse
nessa hora:

"é tão frágil
a verdade
sem a ilusão volátil
da eternidade!"

Sem voz me disseste
"o tempo não chora..."
 
"Passa tempo, que isso passa..."

ausência

 
ausência
sem exigências, em imperfeitas reticências, o teu tempo perfurou o vento à minha volta e pendurou bolinhas de sabão. bolinhas de sabão – já se sabe – só vivem enquanto dura um olhar: os meus olhos não resistiram à imponderabilidade da luz e sete cores explodiram dentro deles. sobraram partículas de mar que me aspergiram o rosto, como quando o mar morre na praia todos os arco-íris que traz no peito. agora, há uma dorzinha de areia, sob os sete colchões onde me deito.
 
ausência

minha espuma em fina flor

 


reavalio as distâncias
e é longe, longe
esse peito onde me apertas
quero mais, mais
do teu corpo onde acrescento
desejo, e beijo
a tua boca onde me matas
a sede, e cedo
ao instinto da fusão

meu barco
meu amor
meu rasgo
de sabor

nas linhas curvas do tempo
afora, é agora
o precipício onde me agarras
e os sins, e os nãos
meus ecos onde murmuras
meu bem, nem bem
te respiro, e quase morro
a dois, e é doce
o rasto da tua língua

meu barco
meu amor
minha espuma
em fina flor

e eu mar
que me tens
e tu brisa
onde me vens

e nós dois
e depois…

ainda ouso
fantasio
em ti pouso
reavalio

 
minha espuma em fina flor

POEMA DE VIDA INTEIRA*

 
Preparem-se!

Hoje vou penetrar-vos o âmago dos sentidos,
Vou arrancar-vos os sangues dos gemidos,
Os últimos cantos em dores finas,
Percorrer todas as fibrilas clandestinas
Dos vossos óbvios e incautos corações!
Não tenham medo, calem as orações,
Repousem só os credos que aprenderam
E leiam-me, como nunca antes me leram!

Entreguem-se!

Regridam até ao útero de todos os inícios
Dissequem todos os mínimos indícios
Regressem à certeza do pecado original
De não nascerem livres de ónus e de aval!
Respirem agora as dores aprofundadas
Na prematura idade das coisas não faladas,
As anestesias das carícias, o colo de vossa mãe,
O murro no nariz, e o sangue que essa dor tem!

Recordem-se!

Não foi por aí a primeira desilusão?
Não foi por aí que alguém vos deu a mão?...
“-Vai por aí, por aqui há coisas que não precisas,
Vai por aí, lê assim, senta direito, respeita as divisas...”.
Foi por aí também... a primeira traição, amargando fundo,
O primeiro amor, engrandecendo o mundo,
O adeus imprevidente, rasgando horizontes,
O último beijo, secando para sempre as fontes...

Revejam-se!

Na árvore jovem com sede de céu e inferno!
Na terra pejada de flores que morrem no inverno!
Na ilusão breve de ter o mundo na mão,
A certeza toda, a eternidade dos amores de verão...
Depois, recaiam na ansiedade de ser,
Na dor de um amor, lentamente, a morrer,
Na erro fatídico de fazer por fazer e usar por hábito
Os mesmo papéis, os mesmos anéis, os mesmo êxitos...

Repesem-se!

Que valor dar ao grito que não nasceu?
Que dor chamar ao filho que nos morreu?
Que cor inventar para o dia que nos sorriu?
Que sabor escolher para o fruto que não surtiu?
Que importância dar à palavra que nos magoou?
E a primeira bofetada, que dano irreversível nos causou?
E o primeiro passo, em que número milenar coube?
E as marcas por sarar, os dias por contar, alguém os soube...?

Lede:
Por vós,
Por mim,
Vingai todos os poemas já escritos
Sangrai todos os ecos não proscritos!

Vede:
Por mim,
Por vós,
Escrevo este poema de vida inteira...
P'la metade, ninguém o creia, ninguém o queira!

*Escrevi este poema para o IV Evento Luso-Poemas, mas, achando-o longo e pesado demais para ser lido entre tantos, "cortei-o" pela metade, para a versão participante. Poesia também é isto, depuração (ou castração...?).
 
POEMA DE VIDA INTEIRA*

há mar e ir, há mar e vir

 
ao fundo, na fronteira das luzes, há um muro voltado às sombras, para onde me arrastas. o caminho passa por beijos candentes, que me derretem as fibras do vestido. lá, onde me encostas, sinto as pedras frias excitar-me contrastes, a leste, e o teu corpo quente impulsionar-me vagas, a oeste. deixo a tua mão surpreender-se na facilidade dos caminhos, na inexistência de barreiras de rendas, no ungir das rosas de orvalho. conspiram os astros, constelam-se estrelas, estremecem areias...e as minhas mãos que sabem o fulcro exacto do teu firmamento! - há um cometa aceso, um profundo abismo, uma atracção cósmica, uma sedição voraz: e só o mar sabe o que o amor nos faz...
 
há mar e ir, há mar e vir