Não almeje aquilo que ignora
Cite o luto, ó Anjo da Morte, ao Ignóbil que já estremece,
de execrada masmorra vê liberto; o corpo do pó afastado.
Pouco menos que a superfície do ignoscente se conhece:
“ignoti nulla cupido”, nada variega a lida do Desventurado.
Lobriga o Poder outorgado, cinca de amaldiçoados revéis,
frígido o desprezo da Terra que deixou de auferir haverá;
ao arranjo da Morte vaga permanecerá, expondo arrieis,
bastada Vingança aos redores do mundo; aos outros quiçá.
Se lhe parecia ser igual a todos, parelho ao Ômega e Infinito,
mas o Anjo da Morte teve um esgar de transversa Bondade,
no derradeiro instante de operar, se deteve ante esse grito.
Supérstite insidioso, qua virtude é acoimar Vícios indizíveis,
para eles hão de anuir todos, qu'a Vida é fardo, veleidade,
cada qual deve partir agora, no brandir de espadas tangíveis.
Palavras misteriosas no banquete do rei Belsazar
Naquele pedaço de Céu brilha intenso agora um grande Sol amarelo,
as asas dos pássaros livres em sobrevoo fazendo faiscarem no azul;
um luzir do ouro fulgindo traz ledo à memória, em lúgubre pesadelo,
indeléveis restaram as cenas durante festim hílare enquanto taful.
Assentado em trono dourado soletre jazia ladeado por Guarda Real,
cercanias só franqueadas aos Nobres Príncipes da estirpe gloriosa,
luzente repousava em cabido espada como exposta num memorial,
rodeava o servo atendente do vinho, lépido, atento como mariposa.
Doce vinho de dourados alcatruzes bebiam à gloria do Rei e Senhor,
aos prazeres mundanos sorrindo, eram luxurias ali tão exuberantes
mas, todo esparramo profano não escapava aos olhos penetrantes.
Ao arrepio de torso, grafando surge no tapume de Nabucodonosor,
uma gavinha deixando ali desconhecidas palavras defronte castiçal,
de tanto terror treme o Rei presenciando terrível mão sobrenatural.
Da repulsa aos toscos daguerreótipos expungidos
De toscos incultos, mais uma vez nas abas d’ aldeia, eis-me aqui,
de apascentar -já há muito declinei - almas de rudes pastores;
dos vales, da Terra Querida saudoso, só Venturas encontrei ali,
nas tíbias tardes observando o farfalhar da aragem nas flores.
Nestas Plagas cá, talvez, flutuando a Paz encontre no resguardo,
pois que, cogito, às vezes, se plausível Juventude tão inolvidável.
Desvalido mordaz imperativo de aturar impropérios do Javardo,
perseguir obsto passadas Tristezas; recuso ato tão Abominável.
Passando foi o Tempo, hipnóticos vislumbres, a trazer sensações;
de conforto extremo fazendo vivificantes os sentires preciosos,
refutando, eis que frágil e por hora, tão somente perturbações.
Ao Chamado irei, debalde alfétenas, a ele não renunciarei jamais,
mormente anuiria cordato, balindo aos acendimentos sediciosos,
se mirasse tão só daguerreótipos expungidos dos mesmos locais.
Desgraçado o Outubro em Balaclava
Entre outros tantos Corcéis, em prata e couro com esmero ajaezados,
lídimos senhores das vontades próprias ao sabor de insano desatino,
qual turba ali imponente, golpeiam ruidosos cascos a ravina estilados;
triunfais, em curso sobre leito de seixos rolados cunhando o Destino.
Anuídos dóceis à Sorte, mesmo outr’horas, a Rocinantes semelhando,
traduzem ânsia do próprio existir, vigor inato, mesmo predestinados;
por vezes, tomando nos dentes bridão, contravindo das rédeas o mando,
cabeças em profusão buscando de chofre hostes dos Inimigos irados.
Da Morte fugindo, alucinados, eles na mesma irreprimível ânsia da glória,
conduzem ginetes airosos, hussardos vibrando os Sabres de Combate,
carregar ao cruel soar de aço letal, clarim majestoso, sopeando acicate.
A sede da conquista, Ambição de granjear mais uma estrondosa Vitória,
à mercê da íntima instância, em Balaclava, da sedenta conquista a esteira,
as pedras do Vale em trágico final viram a última carga da Brigada Ligeira.
O túmulo é alcova dos bravos
No entanto, calam as baionetas, avançam em mais uma carga,
aos brados, nas savanas áridas sobre tórrida ganga brilhante,
areias no deserto do Kalahari, pedregosos campos de sarga,
dominaram as dunas de gesso de Namibe, perigo constante.
São Jovens. Ainda têm entusiasmo como do Fogo de Batismo,
para que ela se torne cinzas, oferecem a carne com prazer,
volvendo á Terra querida, berço dos ancestrais, Patriotismo,
eretos caracteres, não se esperava outro diferente proceder.
Firmes como os monólitos em círculos espalhados em Brodgar,
sabem que este Mundo é perverso,que a Iniquidade paira no ar;
mundo cruel permeado de grandes sofrimentos, duras provas.
Então,sabem realmente que devem morrer,quão árdua é a lida,
o destino dos bravos que enfrentam com ardor, alma atrevida,
até descansarem nos Túmulos, dos intrépidos, afáveis alcovas.
Onde ficou meu coração
Sucumbi às vontades tão mundanas,
e, fascinado pelas tentações da vida,
tive vícios e paixões todas proibidas,
mas, não quero desaparecer na bruma,
quero voltar para minha Terra Mãe
onde sei que estão meus Mortos.
Sentir mais uma vez a umidade da brisa,
ver o cruzeiro no cume do monte santo,
os ciprestes balançantes,
que enfeitam o pequeno cemitério,
último refugio dos meus Mortos queridos.
Quero poder outra vez entrar na velha casa,
olhar os cômodos, relembrar toda mobília,
arrancar uma cortina de linho tão antiga,
aperta-la junto ao peito, terno beijar a orla,
depois envolver meu corpo como mortalha,
com um sorriso de saudade nos lábios.
E, quando o brilho do sol ao entardecer,
deixar todo o cais cor de ouro escuro,
verei acenderem as tochas de resina,
sentindo o odor do incenso da antiga igreja.
Ouvir os flautins quebrando o silêncio,
o badalar do carrilhão, sinos de prata
anunciando mais um funeral;
as velas alvas das embarcações ancoradas,
e, o soar ao longe do vento na crista das ondas.
Enquanto for um estranho em terra alheia,
minha Alma não terá descanso,
mesmo que veja ao redor um Paraíso,
o que preciso é voltar para meu chão,
para minha Pátria, minha Mãe,
meu Torrão Natal onde ficou meu coração.
Exaltação maior
E tantas vezes eu já vi o Astro Rei cruzar o céu anegando-se em águas,
rememorando as altas muralhas e torres defendidas com tanta bravura.
Como pescadores, jamais toleramos os barcos à vela ao sabor das vagas,
ufana-me saber que a todos filhos acolheu, Ela abrigou-os com ternura.
Das trôpegas armaduras, bélicos márcios inopinados, lançaram olhares,
airosos, divisando além os vitrais de todas as nossas antigas catedrais,
alçando a vista, exultam dos pináculos, alcançando tão remotos lugares,
Júbilo a todos fazendo conhecer, triunfos quantos não perderão jamais.
Outros que não acoimem por sermos uma Nação de altivos guerreiros,
louros das Vitórias colher, os regozijos nunca foram alvos primeiros:
é a sina defender o Solo Amado, à vista dos rios, alterosas montanhas.
Nem só das lutas sangrentas vivemos insanos procurando vã a ventura,
deste Solo Sagrado, agora inimigos tantos jazem na paz da sepultura;
será a Exaltação maior; defender a Pátria, a colher glórias tamanhas.
Exaltação ao hussardo
Na ravina sáfara, desde prisco dilúculo pisando até o arrebol,
nenhum deles se atreve a contrariar o galope dos Andaluzes,
de si garbosos, bridão mordendo, vangloriavam a tralha ao sol,
a não deixar tarefa inacabada já afeitos por findar das luzes.
Das rédeas aos puxões trotam os Ginetes brandindo chicotes,
tesos penachos, corpos firmes empunhando Sabre de Batalha.
Galope febril escusam na carga nata débil clarão de archotes,
torvelim dos seixos lisos, jorrando na ravina, a poeira espalha .
Cerrados dentes, esplendor das almas ansiadas pela refrega,
ao som dos clarins, do pó, ágil sopro do vento, à carga agrega,
fervem como os raios do sol no raso da justa brados marciais
Abrasados restam, cheios ouvidos entram pelo peito, corações
aleives temem na inércia, apenas se detidos perante Baldões;
aos brios, jamais afetarão a frias pedras, posto reles Mortais.
Derradeiro estirão da atalaia
Bélicos os cantos repercutem para se volverem lutadores,
são frontes altivas, ara nas ramadas no bruno sossegado.
Camaradas a trovar, prófugos para se verem Vencedores,
a tal baldio redor, tosca a fogueira dá o lume improvisado.
Mal acesas as chamas, de subitâneo, rude vem o vento,
defraudar a flama, legando negro aquele cavo noturno,
atrás do quinhão da floresta, canchas vazias, desalento,
O Silêncio; cruciante ultimar meio ao pez o Ultimo Turno.
No breu, por triz não congela o sangue em meio à treva;
granjeando caiar pejado rubor, ali frouxos os braços eleva,
ora inclina vexada face, acamando o mento contra frio peito.
Espinhosos os passos, soam-lhe como pernas engastadas,
em tonéis de chumbo permitissem movimentos pausados;
estorvos os encontra para mover os pés, aprontar o Preito.
No galope em parelha com o Diabo
Deflagrada que foi a árdua batalha, a Cimitarra riscava Espada,
num sopé, bombardas vomitavam longe ferro e enxofre fundido;
quando derradeiro pendão desabou sobre poeira ensanguentada,
centenas de patas golpeando entranhas jacentes naquele árido.
Aos gritos dos moribundos, que cavalos corriam era a sensação,
sem os cavaleiros; garbosos, carregando galope baixaram achos,
no troar despertados; brilhava sob a luz do sol o Sabre Cristão,
Andaluzes no trotar rápido, tesas caudas, empinando penachos.
Fora do alcance das bombardas, outro piquete dos baios galopou,
mais centena de passos pisando sangue o esquadrão se afastou,
viu então, em galope parelho com o diabo o cavaleiro sem cabeça,
A escopeta fez descarregar contra hostes no flanco orientado,
disparado o fuzil, tinha toda certeza ter aquele alvo acertado.
sequer pontaria fez, riscou a pederneira incendiando a mecha.