Poemas, frases e mensagens de Nuno Grande

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Nuno Grande

Essência

 
A minha vida é um livro chato
Onde no fim procuro a solução
Para os problemas do passado e do presente
E para aqueles que um dia virão.

Desfolho-me e nada encontro
Só tenho vida por viver,
Mas a solidão está bem marcada,
A tinta de sangue lacrada
Na essência do meu ser.

A minha vida é um livro em branco
Em que ninguém nada escreveu,
É nele que procuro a resposta
Mas afinal o que sou eu?
 
Essência

Dor

 
A dor, a insuportável dor que sinto
Que me atravessa os ossos e a alma
É a força que me mantém em pé...
Deam-me analgésicos
Queimem-me os receptores nervosos
Arranquem-me o cérebro pelas narinas...
Mas acabem-me com esta dor lancinante
E como resultado matem-me!
Também agradeço se a morte for a cura e não a consequência.
 
Dor

Árvore

 
Havia uma árvore
Que ninguém via
Havendo quem dissesse
Que nem sequer existia.
Havia uma árvore
Que não dava flores
Havendo quem dissesse
Ser a árvore dos horrores.
Havia uma árvore
Que chorava todo o dia
Havendo quem dissesse
Que uivava de agonia.
Havia uma árvore
Que um dia sonhou
Havendo que dissesse
Que nesse dia, de vez, murchou
Havia, houve, há
 
Árvore

Ying Yang

 
Ultimamente a solidão abraça-me o espírito
E a mim se agarra como se uma lapa fosse
Mas, ai, como dela sinto falta!
Sem a solidão não passo de um total vasio
Sou menos do nada que agora sou.
Sinto-me triste por não estar triste
E triste por triste me sentir!
 
Ying Yang

Momento de Criação

 
Há já algum tempo que caneta e papel
Velhos amigos de minha eleição
Não se juntam para que assim criem
Mais uma bela história de pura ilusão.

Estão agora reunidos para assim recriar
Mais uma epopeia para nos iluminar
E assim preencher de amor o meu coração
Recheado de lágrimas e tanta desilusão.

Entre beijos e caricias trocados pelos amantes
E suores e suspiros nesse leito
O momento supremo de prazer e paixão
Resulta na fecundação do poema perfeito!
 
Momento de Criação

Morte

 
A morte é um encontro
obscuro, sentido, iminente,
Quente fulgor que nos absorve o espírito.
Arco-Íris a preto e branco.
Rasgar de asas, foices e lágrimas
sentidas, desejadas e cómicas.
Espíritos encessantes, vaguiantes, emocionantes
Condescendentes da dor da alma e do ser
Reflexo esbatido da nossa imagem
 
Morte

Descer

 
Sobe a rua, meu irmão
Mas não a desças logo de seguida.
Pé ante pé, passo ritmado
Assim é o andar, da vida.
Sobe a rua, meu irmão
E lá acima chegarás...
Corre, sprinta, mas não te apresses:
Nada de especial encontrarás.

Sobe a rua, meu irmão
E o prometido acharás
Mas não te iludas, pois então:
Depois de morto o que foste, serás!
 
Descer

A Puta

 
A puta sobe a rua escura
Salto agulha e micro saia,
Procura cliente que lhe dê
Algum dinheiro e muita malha.
Tem preçário á là carte
Que é puta mas tem classe
E um chulo a deitar o olho
Para que ela o não roubasse.
E a puta assim anda
Toda feliz e muito airosa
Já nem se lembra de quando lhe
Desfloraram o botão de rosa.
É puta mas não recriminem
Que mais vergonha é roubar
Esta apenas cobra uns trocos
A quem demais a enrrabar.
 
A Puta

Uno

 
Na multidão me encontro uno
A multidão abafa meu grito
Na multidão, abismo profundo
Uno estou e nisso acredito.

As personagens deste romance
Romanceiam impossibilidades
Para além do que a vista alcança,
Mais que tudo realidades.

Nem de dia nem de noite
Não há mais forma de fugir
Falta de vontade, falta de sorte
Até o fim, por fim, se concluir.
 
Uno

Memórias

 
Memórias são...
Vislumbres da realidade
Que adoraríamos reviver,
Lágrimas e funerais
E dores para esquecer,
Amores, despedidas, pura ilusão...
Memórias são momentos de mais pura solidão.
Recordar não é viver, é sonhar
É por um pé na dignidade e chorar...
Memórias são tormentos, belas sensações
Lacradas e causterizadas nos nossos pobres corações.
Mas sem memórias o que seriamos?
Fim ao ódio mágoa e rancor
Fim ao bem,ao mal, ao assim-assim
Fim ao ontem, hoje e amanhã
Fim ao fim, fim ao mundo, fim a mim...
O que seriamos sem memórias?
Numa palavra - Felizes
 
Memórias

Merda por todo o lado

 
Já nem a água do rio lava a merda desta cidade
Já nem a água do rio lava a merda deste país.
Viremo-nos então para o mar...
Mas esse também já cheio da nossa merda
(não desaguasse lá a água do rio)
Já nem água para a merda nos lavar tem.
Abra-se então a merda de um buraco na terra
Para que lá a merda devidamente se enterre...
Mas já tanta merda há debaixo da terra
Que já lá não cabe merda nenhuma.
Merda!!! E agora?
Exportemos, então, a merda que por cá se faz...
Mas já tanta merda há no estrangeiro
Que já não precisam desta merda para nada.
Que fazer então a tanta merda que por aqui há?
Nada senão no meio dela viver...
É uma merda não é?
 
Merda por todo o lado

Eclipse

 
De tempos a tempos o extraordinário acontece
O calor encontra o frio,
A luz encontra a escuridão,
A vida encontra a morte...
Dá-se o eclipse!
Caem do céu anjos, castigo dos seus pecados,
Chove do céu fogo matando milhares,
Tremores de terra abalam os solos,
A peste volta a atacar...
E dá-se o eclipse!
É o juizo final!
E tudo acaba, recomessando.
Esse dia está próximo, próximo até demais.
A ânsia do eclipse já se cheira.
Os corpos já tremem de antevisão.
Tudo ilusão!
Grande ilusão!
O frio já não pode encontar o calor,
A escuridão a luz; a morte a vida,
A lua o sol.
Já não há eclipse!
O mundo chora...
 
Eclipse

(in)dentidade

 
Quem és? Como te chamas?
Depende do sítio onde perguntas...
Como te chamas aqui?
Depende de onde é aqui...
Que tipos de nomes costumas ter?
Conjugações das dez letras...
Dez? Mas não eram 27?
Não...
Diz-me um dos teus nomes.
Completo?
Sim, pode ser...
Não posso!
Porquê?
Porque o infinito está contido no finito?
Mas o teu nome é infinito?
Nomes...
Sim, nomes, são infinitos?
O infinito está contodo no finito...
Então como te vou chamar?
Como quiseres, tenho tantos nomes que já não faz diferença!
 
(in)dentidade

Ser eu

 
Nem silvestre nem de morte
Nem horizonte nem pesar
Sou só todo e a parte
Noite e dia de luar.
Qual silvestre, citadino
Qual problema de lugar.
 
Ser eu

Poeta

 
Um poeta não mente no que escreve!
A tinta é o sangue que lhe corre na alma...
E cada poema que a sua mão chora
É como um contrato vitalício com a morte!

Um poeta só sente o que escreve!
Pois, só então, se funde consigo mesmo...
E só escrevendo a dor recordada o atinge
Onde a dor sentida apenas o afagou!

Um poeta não passa de um encompreendido!
Pois nem a si msmo conseguiu entender...
Mas é graças a essa falha monumental
Que se torna o maior génio de todos os tempos!
 
Poeta

Milagres Campestres

 
Eu acredito em milagre não?
Quem não acredita?
Os milagres rodeiam-nos
Quais abutres à volta da carcaça esventrada,
Semi-degustada e já (é rápido!!) defecada.
Houve um milagre, muito falado sim, dos pães
Eu acredito, no dos cães...
Não entenderam? Não? Eu explico, é para isso que cá estou...
Eu acredito no milagre dos cães, pastores é claro,
Prova irrefutável da geração expontânia
É só juntar um carro de bosta a um atestado de incompetência
e é vê-los surgirem, expontaneamente, pois claro, cães pastores,
Sim daqueles que guiam as ovelhas até ao pasto
E as protegem dos demais que lhes querem deitar o dente.
E as pobres criaturas pastam e conversam: méé, méé, méé...
Antes zurrassem, seria mais adequado com certeza
Mas isso sim seria um milagre digno de se ver...
Não ovelhas a zurrar mas sim a admitir o burras que são.
De quando em vez as ovelhas fazem uma rebelião
"viva o vigésimo quinto dia do quarto mês!!!
Viva a liberdade, viva a areia que aos olhos nos atiram
Somos tão felizes!! méé, méé, méé..."
Hihóóó
Novos cães, mesmo pasto, mesmas ovelhas...
É este o prado que por cá temos!
E agora já acreditam em milagres? Não?
E ainda dizem que deus (sim em minuscula) é Brazileiro
Há, Há, Há, méé, méé, méé, Há, Há
se é verdade o "danado", o "curnudo", o senhor dos mil nomes
É de cá e há muito que se diverte com esta quinta.
 
Milagres Campestres

Viagem

 
Corre sem fim o rio atrós
Para tras não podes voltar
Dá a moeda ao velejador
E ele ao sítio te levaá.
Caem do céu os negros anjos
Prontinhos para te destruir
O corpo, a alma e o que mais
Nas suas mentes lhes surgir.
Oh! Mão atrós que te estrangula
E te arrasta para o demo
Prazer incessante, infecundo
Não te deixa nem mais um segundo
É o fim, o fim eterno!
 
Viagem

Início/Fim

 
Entre mares e marés

Entre luas e luares

Segue o desespero de mãos dadas

Por entre ruas calejadas

Contigo a seus pés.

Num compasso bem ritmado

A procissão assim caminha

Luz e noite e pouco mais

E a sombra dos olivais

E o cantar de uma andorinha.

E o dia, noite fica

Sem ninguém por isso dar

Entre choros e lamúrias

Entre risos e penúrias

Tudo o que começa tem que acabar.
 
Início/Fim

O Zé

 
O Zé é um individuo chato e burro
Inculto até dizer chega,
Mas ainda assim é orgulhoso.
Orgulhoso do que os seus avós fizeram
Que mais não foi que descobrir um filão de ouro.
dois na verdade: um de raios de sol cristalizados,
e condimentos reservados aos deuses;
outro de ouro negro, daquele que tem dois braços e duas pernas,
pelo menos a quando da extracção.
E é disto que p Zé se orgulha.
Destes filões dos seus avós sobra... a memória.
Graças ao divino/a (comédia) que já lhos tirou.
mas o peito do Zé é um balão cheio, tão cheio...
Mas não há ninguém que lhe dê uma alfinetada?
Enfim, divagações, voltemos ao Zé.
O Zé é megalómano e desmedido
Prefere andar esfarrapado e esfomeado
Para ter um bom carro e um com mecanismo portátil de conversação à distância
e ainda não viu que é isso que faz rir o seu vizinho.
Mas o Zé é que sabe... Palavra do Zé é suspiro do divino/a (comédia)
Ai Zé! Onde é que vais tu parar?
Á sarjeta?
Não! Isso seria demasiada ironia...
Ir agora um homem parar onde sempre viveu
Ir parar á sarjeta quando foi dela que (nunca) saiu
É castigo demasiado severo.
deixemos o Zé com o seu inabalável orgulho.
nós que sabemos a verdade, faremoscomo os demais
rir, simplesmente.
 
O Zé

As Cordas

 
Cinco cordas me prendem ao chão
E não me deixam nem mexer.
A corda da solidão prende-me os sentidos
ao mesmo tempo que me enforca o coração.
A corda do sofrimento
Que me comprime todas as terminações nervosas
Causando dores avassaladoras.
A corda da mudez que me impede de gritar ou pedir ajuda
Ajudando assim ambas as anteriores.
A corda da lucidez que me impede de me alhear de tudo
logo seguido da corda da mente
que me cria vãs ilusões que logo são retiradas
para minha total infelicidade.
Mas a corda que me devia segurar
Essa, qual ironia, nem de mim se aproxima
embora por vezes pareça que sim,
fugindo logo de imediato
com um sadismo tal que deixa o próprio sadismo a um canto.
A corda a que me refiro é a corda da morte,
aquela que sempre desejei que se aposse de mim,
aquela que me trará a felicidade.
Mas em vão espero e enquanto espero sou amarrado
 
As Cordas