Um poema aflora (fragmento)
O não sono chega.
Meus faróis acesos.
Toda convergência possível era luz em meus olhos.
( Meu primeiro poema) Sem nome...
Troveja!
Lá fora chove e
Os verbos se soltam,
Se perdem.
ASAS E GARRAS
Ela quer ser livre
Ela quer ser louca
Ela quer ser plena em quase tudo
Ela quer ser livre
E não prende o cabelo
Ela quer ser solta e não calça sapatos
Namorados ela também não tem
Não há quem a tenha
Mas, ela tem tudo
Tudo é seu e não é
Pra quê ter coisas na bolsa?
Ela é louca e não sabe
Ela sabe e não é
Ela locomove o espaço
Ela para o passo deles
Para o meu também
Ela é louca e livre
E lisa a sua pele é
É sedosa e amável
Indubitável ela é
É perene e extensa
E amena e forte
Ela chora sempre
E corre com lágrimas ao vento
Quem não quer ser amado?
Claro, ela também quer
Mas, é campo minado a vida inconstante dessa mulher
Pois ela quer ser livre pra chorar suas dores
Pra amar seus amores, pra pular e correr
Ela é Preta, e sua cor é tudo
O mundo que escorre em gotas de lágrimas e suor
Ela é o pecado, o Diabo-Deus
Ela é incrível, incompreensível
É água e óleo misturado
Um campo minado em meu colo
CARDÁPIO
Eu te fiz em musica,
Sinfonia confusa.
Olhei o menu e pedi você!
Campo Santo
Um campo parco, encima dum morro, muito mal cuidado, era santo. Antes de tudo, haviam pessoas defronte o portão fraco e enferrujado. Rostos úmidos e frágeis, com uma tristeza que,como todos sabem, duraria pouco. Ao pé da ladeira, uma cena bonita, aqueles corpos significantes a espera de um outro que, de certa forma, ao mesmo tempo estaria e não estaria lá.
Depois de algum tempo, o suficiente para cansar aos que ficaram de pé, o Motivo veio através do portão, imediatamente depois de subir amargamente a ladeira. Belas ladainhas de coros fúnebres, desde uma antiga casa, vinham sendo cantadas. Homens nem sempre tão esbeltos revezavam-se em ajudar a locomoção, mas sem a desejada gratidão do Motivo. Pelas vielas pouco espaçadas caminham todos irrigando as pedras que, adicionadas ao canto, estavam tristes sob os passos ritmados. A musica seguia, não parou mesmo quando passou o portão enferrujado.
Naquele parco campo onde ninguém morava haviam, fotos, flores, e memórias perdidas e invisíveis. Os rostos frágeis com gentileza se amontoavam consultando o gemido que em coro gemiam, esperando a despedida de um alguém que não havia. Acompanhados pelo padre, que os pecados expurgava, á volta do fosso e daquele Motivo, sofrendo uma dor que é difícil explicar, oravam todos odiando a Deus.
Tímida
Vi um pé entre milhares,
aparentemente ela precisa de poucos movimentos cardiovasculares
para irrigar seus passos certos.
será que se espreguiça
quando o sangue faz seu rosto ficar vermelho
e ela se olha no espelho?
seria um pecado não se impressionar!
mas é claro que uma dia,
espero, verei esse corpo frágil
se abrir em braços largos
e com milhões de beijos e afagos
abraçar a terra.
Árvore
Não sou homem, sou Arvore. Abstenho-me desse conceito môno-semântico. Ser homem implica em ser o que não se é, e sou o que sou.
Quando um ser se nomeia homem constrói, em si, conceitos incorruptíveis, absolutamente sólidos. Não me sinto no direito de não mudar. Minhas angustias forçam-me as mudanças de "espírito".
Tentativa vã a de ser uno.
Quem de fato é homem? Que absurdo é esse? Quem esculpiu tamanha utopia? Meu pênis não me responde, minhas mulheres nunca tentaram, meu pai, esse sim foi homem, num mundo em que se pôde imaginar concreto andando.
Essa necessidade de se distinguir?
Um homem para criar o universo, para medir todas as coisas? Um homem para indagar sobre si, sobre o sentido de pronunciar-se, concluir-se, conceituar-se?
Eu sou uma Árvore, homens não abraçam e respiram o mundo. Homens dormem e sonham e amam e choram. Sou Árvore porque sou, escolhi ser. Imponente pelo que sou não pelo que faço. Sou frondosa e alta e quase perene e verde e só numa cidade grande.
O VENTILADOR
O ventilador está cheio de homens.
não posso contemplá-lo!
contemplá-lo seria
contemplar a miséria,
o desleal.
seria silenciar-se
diante da desgraça,
da fábrica e de duras horas de trabalho.
procurei o que contemplar...
mas, o ventilador está lá
me devolvendo à cidade,
me fabricando um homem moderno
de olhos fechados e boca aberta,
de ouvidos fechados e alma também.
que acredita e ora à máquina e ao lucro.
Este texto já foi carregado neste site em uma outra conta, na qual tive problemas e não posso mais usa-la.
GUDES
Para escorregar e cair,
Olhar pro céu e as estrelas,
Voltar a ser criança.
Para lembrar da terra
E das bonecas,
Dos tempos do quintal.
Pra fugir da rotina,
Voltar a ser menina,
Machucar, correr pra mãe.
Para lembrar do tempo
Em que tudo era doce
E não havia preocupações.
Esquecer das brigas e intrigas
E com todas as amigas
Fazer um mundo no quintal.
MÃOS DADAS
Para que servem as mãos se não para da-las?
Tocar a palma da mão outra?
Para que, se não cede-las à alguém?
E quando se cede à palma...
Aplausos!
E quando se cede a palma...
Ternura!
É banal e casual e usual
Pois assim a fizeram.
Se me faz falta te-las,
Obrigado pela mão!