Estreitos
Soube do ser especial
Que és
Desde o primeiro grito
Talvez não fosse previsto
Chegares naquela altura
Mas ali estavas
Trocando e antecipando
As voltas
Do tempo
E das nossas …
A tua bravura
Foi evidente
Quando o teu coração
Pausou por um momento
Ao longo deste tempo
Foste um balão demasiado cheio
Tentando colher a rosa
Da alheia aprovação
Agora
A vida
Está pedindo-te
Para colheres
Todo um roseiral
Meu doce pequeno
Não vamos desistir
Enquanto o céu
Estiver perto do chão…
Vamos sim…
Lançar as asas ao vento
Sabendo antemão
Que as lágrimas
Voltarão
Ao mesmo lugar
Como os teus sorrisos
Como os nossos olhares
como as nossas mãos
Nenhuma borboleta volta a rastejar
as feridas
não se curam
com o sal
de uma lágrima
os antigos amores
não se apagam
com outros lábios
acredita
darei um nome
e um sentido
a todos os vazios
que deixaste
com cada ausência
[tua)
a cada vírgula
depois dos parágrafos
dos pontos finais
das reticências …
e jamais farei do esquecimento
silêncios
para não te lembrar
uma parte de mim
irá para sempre amar-te
a melhor parte
a outra parte
irá envelhecer
como casulo
que um dia
abrigou
asas
da
tua
ida
Olhares separados
olhos
enganadores
verdes
nas promessas
assustadores
nas dores
indefesos
perto dos teus
esses olhos
nossos olhos
na mistura
nasceu um sonho
e um torrencial
desgosto
que ainda chove
nos dias de hoje
silêncios
de cobre
e a fome
do prazer
de te
ter
de te
ver
Parado no presente…correndo ao teu lado no futuro passado
carguejo
[no poço dos seios]
esta saudade obesa
crescendo com tempo
quero andar em frente
mas estou tão preso
a um amor de sempre
que fica difícil
seguir na direção
certa …
recuar parece tão certo
mas só te vejo
no futuro
ao meu lado
Especialista
como conseguiste
desapegar do coração
um amor como o meu
feito de acenos e de orvalhos nos olhos ?
nem foi preciso abrandar o relógio
giraste os ponteiros
ao som do corridinho algarvio
e foste rodopiando ao pé-coxinho
invadindo a saudade com o esquecimento
desapertando o botão que apertava o coração
despindo a mágoa do peito sem quebrar o gelo
apagaste o meu nome
do futuro e do passado
sem ressentimentos
com uma habilidade especial
em desatar os laços de nós
os nós dos laços
que coragem, que sabedoria da tua parte
aqui neste lugar dos abraços
continuas a ser a razão de uma saudade
em alma viva
em carne exposta
de gorgomila erguida
esperando os vocábulos antigos
de um “amo-te”
soando a novo
como estás?
porque não respondes?
Reanimação de um sentimento maior
voltei depois de tantos anos
como se tivesse ido ali e voltado
por instantes
tudo mudou
tu mudaste
e já não basta
escrever com o coração pungido
um amor atrasado
que já não faz sentido
este legado
de um íntimo
é teu
por direito
por defeito
por arrasto
um sentimento compondo
as saudades nos cantos
e no centro
bailando os sentidos
Do amor-imperfeito nascem silêncios
o amor-perfeito
só existe
se for de sangue
se for flor
não acredito na perfeição
de um amor adulto
onde a paixão
solavanca
o íntimo
não acredito num amor
trajado de pele
desaguando
[no prazer dos egos]
o sexo
não nos comemos vivos
não somo vencidos por um pirilau
ou presos por uma panqueca
não plastificamos a testa
para não engravidarmos
a razão
temos de ser
tão generosos
como uma mãe é com um filho …
temos de ter raízes como uma flor
para sermos felizes