este amor que trago dentro
este amor que trago dentro
tu inteiro em mim ternura
é punhal cravado ao centro
do meu ventre, azul doçura.
quando repouso os cabelos
no teu corpo feito de asas
vou tecendo mais que tê-los
mil beijos, lábios e graças.
uma crina de água invento
no teu rosto, em doce e sal
e de minhas mãos intento
ser em nós tudo o que vale.
um troço de mar, viagem
na cama afoita da boca
sou de rio a ponte a margem
e no cais a amarra, a doca....
tu, a proa do meu navio
que me embalas no teu ser
tens o céu preso num fio
que me atraca ao teu querer...
Alentejo, o ninho da liberdade
Alentejo ao Sol é um orgasmo no ventre do meu país. Há sempre nos montes oiros de saudade. Agarram-se à terra sobreiros orgulhosos donos das sombras. Nos ombros da brisa sentem-se asas a trinar o trigo das searas. Os pássaros cavalgam aos milhares os horizontes quentes nas horas lentas. Grita nos povos um fogo alvoroçado. Em cada galho de gente ardem as línguas, corpos vergados em doces afagos a florir raízes, fundas, cada vez mais fundas num infinito ciclo de amor retorno. Escancaram-se os braços ao pó dos dias, que dão o flanco às noites mornas no silêncio dos arados. Lá cheira a amantes saciados, em poesias a germinar searas de ilusões. Come-se a esperança nas casas de Catarina, e cantam-se os filhos em Vila Morena. Nas palavras ceifam-se todas vontades num sorriso aberto a convidar à partilha numa oração feita de pão. Só lá à noite se ouvem rir alto os girassóis. E eu pergunto: onde se pousa a liberdade? No alto ninho da cegonha, pronta a voar feliz.
Alentejo ao Sol é um orgasmo no ventre do meu país. Há sempre nos montes oiros de saudade. Agarram-se à terra sobreiros orgulhosos donos das sombras. Nos ombros da brisa sentem-se asas a trinar o trigo das searas. Os pássaros cavalgam aos milhares os horizontes quentes nas horas lentas. Grita nos povos um fogo alvoroçado. Em cada galho de gente ardem as línguas, corpos vergados em doces afagos a florir raízes, fundas, cada vez mais fundas num infinito ciclo de amor retorno. Escancaram-se os braços ao pó dos dias, que dão o flanco às noites mornas no silêncio dos arados. Lá cheira a amantes saciados, em poesias a germinar searas de ilusões. Come-se a esperança nas casas de Catarina, e cantam-se os filhos em Vila Morena. Nas palavras ceifam-se todas vontades num sorriso aberto a convidar à partilha numa oração feita de pão. Só lá à noite se ouvem rir alto os girassóis. E eu pergunto: onde se pousa a liberdade? No alto ninho da cegonha, pronta a voar feliz.
Aqui me imolo de saudade
hoje
o poema está vazio
a vontade
moribunda
a voz
cansada.
há uma palavra esquecida,
no caminho das ideias,
perdida.
tu.
vem inspiração
rompe-me
o sangue nas veias
petrificado
meu ar infecto
alucinado.
anula-me
disfarça-me
que aqui
me imolo
de saudade.
talvez o tempo
se não escape
meu amor
da tua imagem
que me bate.
talvez o espaço
nos aperte
e num abraço
nos acerte
ou nos mate.
vermelho quente
mal te sinto
à ombreira da porta
entreaberta
sei do inevitável
reboliço do corpo
do desalinho do chão
sob os nossos passos.
de pronto somos
impiedosas bocas
que se mordem,
botões rebentados
os seios soltos
entre as tuas mãos
língua com língua
nesta ânsia
pele com pele
a salgar-nos o ventre
de saudade
esfarrapados.
que importam os outros
cá dentro há o mar
só nosso
em vagalumes
de esperança.
cá dentro
demolimos paredes
que se envergonham
do desnorte
em nossas coxas
a gemer
em chamas
o vermelho quente
da paixão.
quero-te em mim
abre-me toda
volta-me
arranha-me os poros
transpira-me
no teu corpo teso
em espasmo de amor.
não páres, verga-me
rasga-me e verte-te
em mim cravada em ti.
e,
sem querer saber
sequer
se a porta se fechou.
mal te sinto
à ombreira da porta
entreaberta
sei do inevitável
reboliço do corpo
do desalinho do chão
sob os nossos passos.
de pronto somos
impiedosas bocas
que se mordem,
botões rebentados
os seios soltos
entre as tuas mãos
língua com língua
nesta ânsia
pele com pele
a salgar-nos o ventre
de saudade
esfarrapados.
que importam os outros
cá dentro há o mar
só nosso
em vagalumes
de esperança.
cá dentro
demolimos paredes
que se envergonham
do desnorte
em nossas coxas
a gemer
em chamas
o vermelho quente
da paixão.
quero-te em mim
abre-me toda
volta-me
arranha-me os poros
transpira-me
no teu corpo teso
em espasmo de amor.
não páres, verga-me
rasga-me e verte-te
em mim cravada em ti.
e,
sem querer saber
sequer
se a porta se fechou.
amor, só no trinco
desci da noite na boca do vento
estou logo ao pé do solstício
sem saber se o dia começa ou acaba
o mealheiro dos sonhos ainda está a meio
talvez pinte nele um segredo
a florir um verso tolo como o amor.
mas guardo ainda a lua debaixo da almofada
a confortar as minhas penas
se à noite elas fogem, se vêem estrelas
são vaga-lumes do meu peito só no trinco
por isso tal como Ícaro tombado
evito o sol e escrevo pela sombra
que generosa fertiliza a flor da tarde
que se abre como abraço
na ilusão que amor é calmo e já não arde.
Os silêncios são raízes
Se a rua da vontade
que te cala
é uma laranja amarga
contorna a rotunda
vira à esquerda
mergulha no rio
que te enleia a boca.
Vai, persegue-te
solto do novelo
que te tece na manta
da saudade.
Que os silêncios são raízes.
E eu cruzo os braços.
O cotovelo arde na espera
e beber o tempo é um asfalto
a mergulhar na ponte sem fim.
Mas a vida não crepita
na lenha molhada
nem a derrapagem
aquece a estrada.
No silêncio agarro-me à terra.
E quando a alma emudece
o corpo desce.
sou a tua obra assassinada
estas pinturas de dedos cortados, saídas da impossibilidade irónica do comodismo, caem sobre mim como telas escuras onde te sinto no ridículo de uma miragem. corro a aprontar o meu corpo na água que me lava os olhos e vejo-te chegar nas
interrogações. de boca aberta vou sorvendo a presença onde te afirmas e eu dispo ali a tristeza. já nua passas em mim a tua lixa crua, bebes-me os sentidos, negas-te e ris. brincas-me nas tintas do sangue que me escorre das ausências e admiras de longe a tua obra assassinada.
um intervalo somente
o hoje é feito de nuvem
de cinza tão miudinho
mas sei que passa e tem
dentro dele um riozinho
é uma esperança que dança
nos seus pezinhos de lã
a prometer noite mansa
e um pouquinho de amanhã
porque sei breve esta chuva
que me atrista alegremente
doce saudade, água de uva
que embriaga as minhas horas
um intervalo somente
nos nossos beijos de amoras
meu sonho de ferro
se amor vem
do equilíbrio entre sombras e luz
sou talvez incêndio e água
ah, nada sei
tua boca estrangeira
não entende a minha boca
e eu, pedinte
já sem tempo
encharcada
por meus olhos de água
suponho tuas mãos
a mirar pedras neste espelho.
espero, espero, espero
mais umas linhas e desalinhas
enquanto em mim dói
cada página muda
onde nada muda
na impiedade do verbo cego
onde me deito
repetidamente
ah, tua boca estrangeira
não entende a minha boca
um lábio de silêncio
virá despedir meus olhos
dos teus tiranos
tirar deste meu chão
o movimento onde me encerro
(já são nove anos)
eu
coração nocturno
num sonho de ferro
Não sei se sou eu que escrevo e penso
Não sei se sou eu que escrevo e penso
Tudo se escapa ao nada e entranha em mim
E cada vez que falo sou fogo denso
Onde incendeio o eu e lhe dou fim.
Aqui eu vejo um barco e uma espera
E ao longe sou também essa conquista
No meio rola a vida, o sol, a esfera
Indiferente ao eu qu’aquém me avista.
Desconheço esse eu que em mim navega
E estes mastros que m’enlaçam para dentro
E me afastam do eu em escrita cega
Penso então em fugir e andar dispersa
Noutro mar que me escreva pelo centro
Deste eu, e descubra o que em mim versa…