Poema Despido
Dominas-me voraz
Sem que entenda o sentido
Dos versos que trazes
Na boca que beija
Em carícias longas
O brilho do sol.
Sou apêndice sôfrego
De um poema.
Pacifico-me na tua voz
Que embala o desejo
De ser letra do teu corpo,
E rasgo a folha imerecida
Que te sustém,
Com a fúria decomposta
Da improbabilidade
De te possuir.
Contempla-me
Na prateleira exposta
No extremo do segmento.
Sou matéria invisível
Dos teus propósitos.
À Pedra Filosofal
Pedra nobre, bela, pura,
Em teus olhos encontrei amizade
Da mais verdadeira que existe.
Rara pedra, de tão pura,
Amiga do meu coração!
Força e beleza engrandecem,
Iluminam o teu ser,
Luz de encanto, grande estrela
Orgulho-me de te conhecer!
Sem ti éramos mais pobres
O dia não teria tanto encanto,
Faltaria cá o Sol.
Amigas como tu são raras,
Levar-te-ei sempre no coração!
A ti Pedrinha! Porque mereces por seres quem és e como és!
Faz-me um poema
Faz-me um poema!
Sussurra-o ao meu ouvido,
Em segredo.
Abraça-me e diz-me
O que eu quero ouvir.
Beija-me!
Como se não houvesse amanhã
E nada mais importasse à nossa volta,
Como se tivéssemos todo o tempo,
E como se o nosso desejo não se esgotasse
Nas palavras que nunca dissemos
Mas que adivinhamos
Em cada novo verso,
E que sonhamos ouvir.
Faz-me um poema!
Mostra ao Mundo que me amas
E que me queres
Mais do que se deseja a vida.
Não te importes com a distância
Que colocamos em cada letra,
Em cada ofensa que não queremos dizer.
Não te canses de me olhar
Sem me ver.
E toca-me!
Mostra-me que existes
E que és muito mais que um sonho
Que eu criei no coração
Que tanto te ama.
Confissões de uma Vítima de Violência Doméstica
Sou um corpo que deambula ao acaso,
Que vive com medo todo o dia.
Amostra de ser mal amado
Sem conhecer felicidade e alegria.
Uma mulher constantemente criticada
Que chora apenas escondida,
Consciente que não vale nada,
E a imagem totalmente denegrida.
Escondo os hematomas como sei.
Habituei-me há muito a mentir...
Vivo uma vida como nunca pensei,
Com a maior parte do tempo a fingir.
Esta mão, assim queimada, e a doer,
É porque sou tão distraída...
Meti-a numa panela a ferver
E fiquei tão arrependida.
Tapo as nódoas negras com roupa
De Inverno, mesmo no Verão.
Apenas porque sou meia louca
Passo a vida a cair ao chão.
A boca, assim cortada,
Foi apenas porque sorri...
Não sei estar calada...
Apanhei porque mereci.
Quando parti o braço direito,
Foi porque me maquilhei nesse dia.
Mas afinal, foi bem feito,
Porque parecia uma vadia.
O meu corpo está tão cansado
Não aprendo a me comportar
Para viver bem com meu amado,
Que tudo faz por me amar.
Farta dos meus erros e maldade
Subo até ao vigésimo andar!
Salto, enfim, para a liberdade,
E já sou feliz... a voar!
Este poema já foi publicado aqui, a 29/06/2007.
A pedido de uma amiga, volto a (re)publicar hoje.
No teu olhar
No teu olhar descubro-me
E desnudo-me mais
A cada novo dia,
Como se nascesse de novo
E me guiasse apenas
Pela suavidade dos gestos
Que colocas em cada carícia.
Deixo-me ir,
Abraçando apenas o futuro,
E esquecendo
As pedras pontiagudas
Que pisei, descuidada.
Envolvo-me nas palavras
E bebo dos teus lábios
Doces, mágicos,
E grito sem medos
Amo-te!
Súplica
Resguardo-me no silêncio fusco da noite
Oculta entre palavras indizíveis
E quedo-me na extensão
Dos sentimentos condoídos
Que me abarcam…
Cerrei a passagem ao meu peito
E aos meus actos
Numa atitude de percepção
Da crueldade alheia
E fico-me nestas razões
Protectoras da sensibilidade
Que me pertence secretamente.
Não mais ouvirás teu nome
Gritado pela minha alma
(já selada por feitiço).
Deixo-te entregue à luminosidade
Do tempo que te seduz
E reclino-me no desprezo
A que me votaste amargamente.
Não me peças sorrisos…
Dispensar-te-ia apenas os pérfidos
(e morreria por dentro).
Amor... sem ti
Escuto o teu dormir
Nas madrugadas silenciosas
Que me ferem a alma de saudades.
Roubo-te beijos em sonhos
E guardo-os, como tesouros,
Por trás do luar
Com que me visto para ti.
Não me vês...
Mas estou aqui,
E sinto cada gesto
Como se fosse meu.
Sei o gosto desse beijo
Que nunca me darás,
E sinto o teu abraço
Que me tira da solidão
Por breves instantes...
Sei que é amor,
Sem desejos secretos
Para além de te amar,
Sem mentiras nem esconderijos,
Sem loucas demências,
Sem ti...
Ilha do Amor, com Paulo Afonso Ramos
Escrevo-te! Para que saibas o que nunca tive a coragem de dizer, olhos nos olhos, pela simplicidade de não aceitar o teu olhar, fosse ele qual fosse...
Sim! É o medo que me norteia! Estou amparada na pessoa que não age para não ferir ou que se deixa ir ao sabor do vento mesmo que, por isso, me obrigue qualquer consequência.
Não sei se alguma vez irás ler estas linhas em que me deleito como que numa cena de amor, e é no teu peito que imagino a frase erudita que busco na minha cabeça, estremecida, mas que ainda consegue fabricar alguns tímidos desejos... Quero-te!
Nem imaginas o que penso escrever enquanto percorro o teu árduo corpo, sim árduo, porque o imagino entre a resistência e a loucura... a um passo, apenas, de ser só meu.
Oh! Loucura. É como me chamo, é como me sinto, quando quero gritar-te... Eu Amo-te! Oh, mágica imaginação que transforma essa sensação em lágrimas constantes... Já te disse aqui que é o medo que me norteia. Mas não há medo que chegue que me impeça de sonhar!
E na coragem emprestada vou imaginar que estas frases chegaram ao seu destino e que quis o tempo trazer-me a resposta. Quero ler-te assim:
“Meu amor... trouxe-me o vento os suspiros do teu desejo e as palavras que sempre ambicionei ouvir e agora posso tê-las. Soube desde o primeiro instante que tu eras o meu destino e descobri, na carícia do teu olhar, que minha alma te pertence há muito.
Sonho com um gesto teu desde o primeiro momento e aguardei, na ânsia, por uma palavra tua, que tardou em chegar. Por mais incrédulo o meu sentir, nunca consegui matar a esperança que julguei vã, e hoje, meu amor... Hoje!... Hoje tornaste o meu mundo mais feliz, porque sinto agora que estás no meu universo.
Aguardo-te na nossa praia, onde já misturei com o mar as lágrimas de saudade ao pôr-do-sol.”
Oh! Ternura. Doce brisa que afaga a minha imaginação... Oh! Loucura dos dias que passo entre o mar e a areia a olhar o teu rosto imaginado, o teu corpo esculpido no querer da minha imensidão feita de um rochedo perdido...
Tu nunca chegaste! E a tua resposta foi criada pela minha loucura, isenta de qualquer realidade. Morri na nossa praia. E o corpo perdeu-se nas areias da imprecisão.
Tu nunca chegaste... mas as ondas visitaram-me sempre, e foram elas que alimentaram a minha esperança, o meu desejo e a minha vida, perdida... nesta ilha do amor...
Vera Silva e Paulo Afonso Ramos
Solto-me das amarras
Não me digam que o céu é azul
Se posso sonhá-lo da cor que eu quiser!
Não me falem do cheiro das rosas
Se lhes posso dar o aroma do meu perfume!
Não me tentem calar
Porque posso gritar histericamente o teu nome!
Não me prendam os pulsos
Porque mais tarde ou mais cedo
Solto-me das amarras e mostro-me...
Sou frágil como um copo de cristal
Mas forte como o mar enraivecido.
Não me acusem do que não faço
E não erguerei os punhos.
Não me obriguem a nada!
Deixem-me ser assim...
Solta, livre,
Apaixonada pela vida e de riso fácil!
Não me peçam para dormir
Se tenho tanto para escrever
E ainda não sei as letras todas do meu nome!
Pressinto-te, morte
Pressinto-te Morte, em espasmos de pranto,
Numa dor que sangra em fogo
Pesado, que m’esventra
E insuportavelmente m’alegra
Na chegada tranquila,
Em passos que ceifam almas
À passagem, e avança lenta
Na minha direcção.
(ah meu amado, se viesses ainda
a tempo da salvação
com lábios de feiticeiro)
Sou corpo aniquilado
Com alma que jaz, oculta
Entre promessas de amor eterno,
E já moribunda, pronuncio
Teu nome e rogo-te afincadamente
Que me leves daqui,
Onde a vida m’esbofeteia
Em cada esquina
Sem lágrimas nem contemplações.
(e como as trevas são tão mais belas
e mais puras que a imundice
com que teus olhos m’enxergam)
Sorrirás perante a visão do cadáver
Em misto de alívio e conforto,
Num contentamento sublime
E merecedor, e a respiração
Segura caminhará nas portas
Do poema, escancaradas em ouro
Puro, para te receber
Com vénias serviçais.