Poemas, frases e mensagens de MARCOSLOURES

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de MARCOSLOURES

ARDIS

 
A vida tantas vezes ardilosa,
Preparando armadilhas, numa espreita,
Enquanto uma alma insana se deleita
E em meio a tais prazeres, louca, goza,

Por mais que a terra mostre-se argilosa,
Moldando esta verdade em que se aceita
Um tempo de alegria, onde se deita
A sorte que buscara espinho e rosa,

Aquém deste ideal que se supõe
A dor da fantasia decompõe
E mostra quão voraz se faz o amor,

Recebo dos teus olhos, farto brilho,
E penso em cada passo, no empecilho
Que impeça o coração navegador...

Marcos Loures
 
ARDIS

Andando por charnecas sempre escuras,

 
Andando por charnecas sempre escuras,
Nos pântanos, a sorte se lançou,
E as mãos que procuraram por ternuras,
O tempo sem querer nada deixou,
As horas se entregando em amarguras,
Amar foi tudo aquilo em que pensou,

Porém a vida volta e se revela
Desnuda sem a máscara; é vazia,
Nas mãos de tantas cores, aquarela,
Nos olhos a saudade queima; fria.
E tudo se resume nesta tela
Aonde esta beleza se esvaia...

Querer e não poder seguir adiante,
Passado inda presente e delirante...

Marcos Loures
 
Andando por charnecas sempre escuras,

ESPERANÇA

 
Reavendo esperança após o nada
Jazendo noutro canto desta casa
O quanto do vazio não embasa
A história noutra lenda revelada,

Ainda que se veja desenhada
A lenda mais audaz, intensa brasa
O passo sem sentido algum se atrasa
E não se deixa ver a velha estrada

Há tanto consumida pelo fogo
Perdida mesmo quando em firme rogo
O tempo não perdera alguma luz,

Porém de tanto crer no que não vinha,
A senda mais feliz jamais foi minha
E apenas ao vazio me conduz.

Cansado de lutar contra o que venha
E ter no meu olhar esta impressão
Do tolo caminhar em direção
Ao quanto com certeza não convenha,

Ainda que se saiba a velha lenha,
Os dias com firmeza me trarão
Apenas a saudade de um verão
E nele cada passo nunca tenha

Somente outra certeza senão esta
Do medo que deveras nos atesta
A sórdida presença da lembrança

Rondando o quanto teime no futuro
E do não ser apenas me asseguro
Enquanto sem sentido a voz se lança.

3

Já não me caberia acreditar
Nas curvas do caminho ou mesmo até
Por onde a vida trace em leda fé
As tramas mais audazes de um luar,

Não tendo nem sequer onde parar,
A sorte se desdenha e sei quem é
Que tanto poderia e mesmo a pé
Não deixa do infinito procurar,

Um sonho que se faz realidade?
Apenas um lampejo em claridade
Ou mero ocaso em vida discrepante,

O tanto que me reste, finalmente
Somente toma parte do que mente,
E molda o quanto ausência me garante.

4

São versos que se fazem sem temer
A sorte desairosa do jamais
Poder ter no futuro atemporais
Momentos mais repletos de prazer,

Não tento acreditar e mesmo ver
Após os velhos erros, vendavais
Os dias que se mostrem desiguais
Negando qualquer calmo amanhecer,

Resulto deste infausto e sigo assim
Procuro algum lugar dentro de mim
Aonde eu não perdesse a dimensão,

Dos erros costumeiros e talvez
Ainda quanto mais já se desfez
Enfrente novos tempos que virão.

5

Acredita decerto piamente
Nos dias mais felizes? Mero fardo
Aonde cada passo eu já retardo
E tento acreditar no que se mente,

E mato sem saber uma semente
E gero invés do sonho um novo cardo,
Cada palavra dita, algum petardo
E nele o mundo perde o quanto sente.

Restando muito pouco ou quase nada
Daquilo que se fez em nova estada
Apresentando apenas incerteza

Do passo sem firmeza em plena queda,
E o prazo aonde o fim já se envereda
Não deixa que se vença a correnteza.

6

Um universo novo em meio ao caos?
Apenas ledo sonho de algum santo
Ou mesmo a cena feita em desencanto
A sorte não se eleva em tais degraus,

Os dias mais audazes, mesmo maus
E o que me resta apenas traz no canto
Dos velhos infestados pelo manto
Puído ou se perdendo em podres naus,

Apresentar no olhar uma esperança
E crer ser mais possível a mudança
É como alimentar a imensa fera,

E sei que na verdade desde agora
Somente o que inda reste nos devora
E deixa o quanto quis em tosca espera.

Não tento acreditar no que não veio
E sei jamais viria para mim,
A florescência morta no jardim
Expressa o meu caminho em devaneio,

Não pude acreditar e se receio
A história se desenha sempre assim,
Iniciando em vão no mesmo fim,
O tempo se presume sempre alheio,

Arcando com meu mundo sem sentido
Apenas me entranhando aonde olvido
O passo num vazio interminável

Depois de cada engodo, novo engano
E o mundo onde decerto ora me dano,
Jamais seria enfim mais habitável.

Negar uma vontade e crer, cismar
Vencendo o quanto possa ressurgir
E ter no olhar além do vão porvir
A imensidão espúria deste mar,

Já não pudera mesmo me entregar
E vendo o quanto possa redimir
O engano de quem tanto ao presumir
Não teve outro caminho a se mostrar.

Apenas o que vejo dita o rumo
E deste navegar onde me esfumo
Enfrentaria a sorte desumana,

E tendo tão somente a negação
Ausenta deste passo outra versão
Enquanto a própria história hoje me engana.

Jogado sobre as pedras deste cais
Meu barco não traria nova senda
E quando imaginasse em tal contenda
O tempo noutros dias desiguais,

Reúno os meus anseios temporais
E vejo o quanto o sonho não desvenda,
E sei desta emoção em leda lenda
E nela outros anseios onde trais,

Vestígios de uma sorte morta e crua
Olhando para além eu busco a lua
E bruscamente a mente nada vendo

Envolta no silêncio desta sorte,
Apenas sem ter nada que conforte,
O mundo se anuncia amargo e horrendo.

10

Desnuda-se ilusão e o passo traça
A fútil sensação de novo encanto
E quando procurasse em todo canto
Uma emoção expressa tal fumaça

E o prazo determina o quanto embaça
E nisto o que se visse em luta e pranto
Apenas desenhando o desencanto
Marcando com terror a rua e a praça,

Não pude e não tivera qualquer ponto
Aonde sem saber onde me apronto
Eu vivo esta incerteza do vazio

E nele se anuncia o que não veio
Olhando para além vivo o receio
De quem adentra o sonho mais sombrio.

11

Durante tantas noites solitárias
Imerso nas lembranças de outros dias
Enquanto na verdade não virias
As horas são audazes e corsárias

E invadem sendas loucas, temerárias
E tentam transformar em melodias
As ânsias mais atrozes e trarias
Somente as mesmas vagas luminárias,

Encontro nos anseios de quem ama
Apenas a verdade me mera chama
E dela me aproximo embora saiba

Que toda fantasia tendo um fim
Jamais eu poderia crer em mim
Aonde esta emoção já não mais caiba.

Negar outro momento e crer no verso
Ansiosamente exposto nas janelas
E quando este vazio me revelas
Talvez como se fosse este universo

Audaciosamente enquanto imerso
Nos ermos onde tanto em dor atrelas
Seguindo este cenário rompo celas
E tento acreditar onde o disperso,

Repare cada luz e saiba bem
Do quanto da esperança nisto tem
Embora inutilmente, este é o fato,

E sigo sem proveito e sem razão
Vivendo os dias tolos que virão
E neles solidão; sempre constato.

13

As mãos da vida tecem no vazio
A imensa sensação da queda e sigo
O tempo sem saber de algum abrigo
Enquanto cada passo eu desafio,

Vestindo esta ilusão e sei do frio
E nada mais que possa inda persigo
Sabendo inconsequente do perigo
E nele outro momento ora desfio,

E bebo o sortilégio de assim ser
Tentando adivinhar mero prazer
Aonde no final nada haveria,

Somente esta esperança tola e rude
E quando o dia a dia desilude
Restando dentro da alma esta agonia.

As flores de uma vida sem futuro
Despetaladas ânsias de outro sonho
E sei do quanto possa e decomponho
Ousando neste passo em ledo escuro,

E quando alguma luz cedo procuro
Ainda sendo o passo mais bisonho,
Apenas o vazio onde componho
Meu verso se traduz em solo duro,

Não pude e não teria qualquer chance
De crer no passo aonde o tanto alcance
Marcando com acordos mais sutis

Os nobres desenhares, vida amarga
E o tanto quanto tenho a voz embarga
E nega na verdade o que mais quis.

15

Consolo-me em saber do fato quando
A vida se pressente noutro rumo,
Mas sei do quanto possa e já resumo
O tempo noutro vago desabando,

O marco mais atroz se desenhando
E nele cada passo traz no sumo
O tanto quanto pude e se me esfumo
O mundo se perdera em contrabando,

No caos sem ter apenas um alento,
O todo desenhando o quanto tento
Vestindo esta esperança em luz e sorte,

Apenas do meu mundo sem proveito
O quanto se quisesse e não aceito
Transforma qualquer sonho que conforte.

Nos seios sempre fartos do querer
Por vezes me entranhando e me perdendo
No canto aonde o tanto fora adendo
A vida se desenha em desprazer,

O quanto pude mesmo conceber
E sei do todo ou quando sou remendo
Vivesse tão diverso do que estendo
A luta sem sentido a se prever,

Não tento acreditar em luz nem mesmo
Enquanto solitário eu ensimesmo
E vago por estrelas que não vêm,

Depois de certo tempo sem apoio,
A vida se perdendo do comboio
Outra esperança chega e perde o trem.

17

No corpo de quem tanto fora mais
Do que se imaginara no passado,
O verso sem sentido enquanto brado
Expressa o que se faz em temporais,

Não tendo na verdade novo cais
O barco sem saber do desolado
Anseio deste tempo desfraldado
Imerso sob fúrias, vendavais,

Não quero que se faça o que não tente
Sequer o meu caminho imprevidente
Ou mesmo sem saber do quanto resta

Minha alma se anuncia sem proveito
E bebo do que possa e não aceito
Sequer a noite amarga e mais funesta.

18

Respiro o quanto reste da esperança
E nada mais pudera ter nas mãos
Tentando acreditar em podres grãos
Que o tempo em solo espúrio agora lança

Jogado contra o medo da mudança
Os dias adentrando velhos vãos,
Os passos se repetem entre os nãos
E deixam para trás a confiança

Marcar em discordância o que não veio
E ter no olhar apenas tal receio
Pousando no infinito enquanto sinto,

Meu mundo sem temor e sem discórdia
A vida se moldando em tal mixórdia
Amor quando existira foi extinto.

Jamais irei contigo, companheira
O passo em mais diversa direção,
Expressa os dias tolos que verão
A sorte que julgara costumeira,

Não tendo na verdade quem me queira
A luta se desenha em solo vão
E o bando se perdendo em dimensão
Diversa da que possa e não se inteira,

A marca da pantera, o beijo bom,
Teus lábios e a delícia de um batom
Pousando sobre os meus em noite cálida

E quando se imagina a sorte pálida
Ressurge do passado em força tal
Tramando outro momento sem igual.

20

Nos ermos mais distantes e sombrios
Dos sonhos entre incautos passos vejo
O tanto quanto possa e se desejo
A vida se expressando em mansos rios,

Deixando no passado os desafios
E neles outro engodo malfazejo,
O rumo que deveras eu prevejo
Acende da esperança tais pavios,

Encontrarei a sorte que desenho
E nela quanto mais em ledo empenho
Ainda em aproximo do jamais,

E bebo em tua boca o que queria
E nisto imensa luz em fantasia
Encontra mansamente o calmo cais.

Não quero a dor aguda que ora trace
O tempo aonde o mundo não traria
Sequer a menor sombra da alegria
E nem sequer o quanto diz repasse

Das dores do passado e se mostrasse
Apenas o que resta em ironia
Ou mesmo na verdade moldaria
A luta aonde o tempo destroçasse

O verso sem sentido e sem proveito
Do quanto com certeza me deleito
Em erros costumeiros da emoção,

Uma esperança ronda esta janela
E sei desta nudez que se revela
Em sórdida e diversa dimensão.

22

Respiro alguma sorte e nada vindo
Somente o que se fez em tom feroz,
A vida se perdendo em nova foz
O manto se descobre agora findo,

E o verso noutro verso se abstraindo
Enquanto nada vejo além e após
Aposto no que tento e sendo atroz
O marco de um passado se sentindo,

Depois do que viria em tom suave
A luta na verdade mais agrave
Engodos entre caos e nada além

Da marca mais audaz, felicidade
Que quanto mais inútil ora se brade
Expressa o que deveras nunca vem.

23

Os sonhos que pudessem persistir
Envoltos nesta luz e nada além
Do tempo aonde o tanto não mais vem
Perdendo qualquer rumo de um porvir,

E sei do quanto possa redimir
E vicejando a vida sem ninguém
E nela o que se mostre sei tão bem
Do verso que tentasse presumir,

Ocasionando a queda de quem tenta
Vencer em mansidão qualquer tormenta
E nada mais se vendo senão isto,

O pantanal dos sonhos envolvendo
O corte mais audaz atroz e horrendo
Enquanto simplesmente ora desisto.

Cantos enamorados da ilusão
Aonde uma esperança habitaria
Vencendo o quanto resta em utopia
Matando pouco a pouco outra emoção,

Jorrando como fosse uma explosão
E nada mais do tanto em fantasia
Explode aonde o cais se moldaria
Nos erros de um espúrio coração,

Alego o que não veio e nem se faz
Apenas o que tanto sei mordaz
E atrás desta incerteza o rumo seda

Marcantes dias mortos do passado
E o verso noutro tempo desolado,
Pagando com terror, mesma moeda.

25

Ainda se buscara algum conforto
E confrontando a vida com o sonho
Apenas o que possa e não componho
Traduz o quanto sigo semimorto,

E sei desta expressão em fino aborto
Marcando com terror dia medonho,
E nada mais teria onde proponho
Somente após tempesta um manso porto,

Negar o meu caminho e crer no quanto
A vida se mostrara e quando canto
Tentasse num momento alguma sorte

Diversa da que toca e me desnuda
E nisto o quanto vejo em dor aguda
Apenas com certeza desconforte.

Nas armas esquecidas no porão
As tramas de quem tanto quis o brilho
Do rumo sem sentido aonde trilho
E vejo a mais dorida dimensão,

Dos erros costumeiros desde então,
Ensaio um passo além ledo andarilho
E bebo o caminho em empecilho
Diverso dos anseios que se vão,

Cevando neste solo mesmo ingrato
O tanto do vazio que resgato
Impede qualquer passo em firme luz,

Ao verso sem sentido e sem descanso
Enquanto na verdade nada alcanço
Meu mundo noutro engodo se produz.

27

Jorrasse em meu olhar outro futuro
Diverso do que tanto me legaste
A vida se desenha sem desgaste
E apenas outro cais quero e procuro,

O solo da esperança sendo duro
O vértice renega então esta haste
E o peso da verdade que negaste
Não deixa qualquer passo mais seguro,

Esbarro nos meus erros, e sei quando
Meu mundo noutro tanto desabando
Marcando com terror o dia a dia,

Não tendo qualquer chance, eu já me perco
E bebo do vazio e sei do cerco
Aonde o meu caminho eu perderia.

Não pude e nem tentara acreditar
Nas tramas mais audazes da paixão
E sei dos dias tolos que virão
E nada do que possa caminhar,

Jogado pelos cantos bar em bar,
Os ermos da esperança mostrarão
Apenas o que rege a solidão,
E dela nada possa aproveitar,

Somente o descaminho a se traçar
Negando novos dias e emoção
Diversa da que possa desde então
Apenas outro passo destroçar,

Jazendo sobre as pedras, nada tenho
E sei do quanto possa em ledo empenho
E venho com meus olhos plenos de água

Tentar acreditar noutro momento
E sei que na verdade ainda tento
Vencer o quanto tenho em medo e mágoa.

29

Nas tramas mais sutis onde se vendo
O temporal dos sonhos sem sentido
O mundo em manto velho e já puído
O canto se anuncia e me perdendo,

Aonde se quisera em estupendo
Caminho o tanto quanto dilapido
Do marco da esperança e desprovido
Do encanto vejo o todo qual remendo,

Apresentar encanto agora exposto
A vida na verdade a contragosto
Agostos enfileira em puro inverno

Nos antros de minha alma em horda e súcia
A sorte da mulher, doce pelúcia
Encontro como fosse o meu inferno.

30

Resumos entre espaços mais dispersos
Errático momento em tom atroz,
E nada poderia em minha voz
Sequer o quanto cresse em mansos versos,

No vento se perdendo em mais dispersos
Cenários sem saber por onde nós
Possamos desvendar momento após
A vida sem singrar tais universos.

Apresentando o fim e nele o fato
Aonde sem temor tento e resgato
Os erros costumeiros, sonho e queda,

Ainda quando muito me aproximo
Enfrento a tempestade em lodo e limo
E o passo no vazio se envereda.

31

A paz que se tentasse em tal intimidade
Viver sem mais temor e nisto acreditar
Na fonte que perdera a luz forte e solar
Vivendo o quanto quero em plena liberdade,

Mas quando se aproxima a fria realidade
O tanto que se quis já não podendo alçar
A vida se desenha e sei que sem lugar
Apenas o não ser agora toma e invade,

Vestígios de outra espera e nela em ondas tantas
Enquanto na verdade o quanto desencantas
Expressa muito mais que mera fantasia

E gera outra esperança embora mais sutil,
O quanto se quisera o tempo dividiu
E nada mais decerto aqui já restaria...

Não pude e nem talvez inda tentasse além
Da sorte desejada e há tanto adormecida
A senda mais audaz refuga enquanto a vida
No fundo sem juízo ao nada sempre vem,

E bebo do caminho enquanto em teu desdém
A luta se anuncia há muito consumida
Nas tramas do vazio e sei da empedernida
Vontade de lutar enquanto o nada tem,

Apresentar um passo e acreditar no fundo
Aonde com certeza eu busco e me aprofundo
Inundações diversas de sonhos do passado,

Um mar que se perdera em ondas sem sentido,
Do quanto ainda tenho o todo dilapido
E trago outro cenário apenas esboçado.

Reparo cada engano e vejo o que se visse
Depois do meu caminho em sórdida aventura
O tanto quanto resta a morte configura
E a vida não passasse enfim de uma tolice,

O marco mais audaz e nada mais se ouvisse
Senão a voz cansada e nela se assegura
A luta sem proveito em noite sempre escura
E sigo sem saber restando tal crendice,

O verso sem proveito a vida sem razão
Os tempos mais sutis e neles se verão
Apenas o que rege um passo sem saber

Do quanto poderia a sorte me mostrar
E quando se anuncia o tempo a desnudar
O tanto que se quis jamais gere prazer.

34

Beber do quanto possa em sonho tal
Depois do que se visse noutro engano
O mundo quando invade ledo plano
Expressa este momento desigual,

Encontro cada sonho em vão sinal
E sei do meu caminho e já me dano,
Ainda sem saber o quanto explano
O medo se transforma em ritual,

Não tento acreditar no quanto venha
E sei deste cenário em turva senha
Legado de outra sorte em descaminho,

Depois de tanto tempo solitário
Enfrento o mesmo rude itinerário
E sei que no final irei sozinho,

Resplandecesse o sol onde não há
Sequer a menor sorte ou esperança
E nada do que tento agora avança
Marcando com terror o que virá,

Negando o quanto reste aqui ou lá
Depois da solidão vivo a mudança
Sabendo do meu mundo em temperança
E a morte com certeza o rondará,

Nefastas noites dizem do vazio
E quando noutro passo desafio
O mundo sem segredo e sem apoio,

Ainda quando vejo o dia a dia,
A luta se transforma em agonia
Secando em vaga origem meu arroio.

36

Nas tramas mais audazes o que espero
Traduz além do nada que conheço
Sabendo já de cor seu endereço
O velho sentimento que insincero

Invade quando muito o que mais quero
E sei desta ilusão em adereço
E o meu caminho agora reconheço
Tropeço após tropeço em mundo fero,

Apresentar o caos e nada ter
Somente o que pudera recolher
Das mortes já deixadas no caminho,

E sei do meu anseio sem remédio,
A vida se anuncia em pleno tédio
E sigo o meu momento ora sozinho.

Não tive e não teria qualquer chance
De crer nalguma luz após a treva
E na alma o que se quer e não se ceva
Ainda no vazio ora me lance,

O verso sem saber por onde avance
A solidão espreita e sei que neva
Aonde esta emoção jamais longeva
Amortalhando o tanto num relance;

Depois deste nuance em esperança
A vida se perdendo sem pujança
A sórdida presença do real,

Expressa no caminho esta desdita
E quando novo sonho necessita
Eu bebo este oceano em mágoa e sal.

38

Não mais me caberia acreditar
Nas tramas de uma vida aonde o nada
Encontra com certeza a velha estrada
E perde o rumo logo ao mergulhar

E vejo quanto possa no luar
Beber a sorte tanto imaginada,
Depois do que se visse desenhada
A morte não se faz por esperar,

Apoio onde não resta nem o sonho,
E quando o meu anseio decomponho
Medonhamente eu vejo o fim de tudo,

Não tento caminhar contra este vento
E sei que mesmo quando a sorte eu tento,
No fim sem mais defesa ora me iludo.

Restauro com meu verso o meu caminho?
Não pude discernir qualquer sinal
E sigo sem saber do velho astral
Aonde com certeza irei sozinho,

Ainda que se perca em tanto espinho
Ousando acreditar no roseiral,
O manto se transforma e bem ou mal,
Apenas só não quero ser mesquinho.

Mas sei que do quanto espero inutilmente
E mesmo quando o sonho tanto eu tente
Invalidez transcende o canto em paz,

E nada do que se fez expressaria
A sorte mais audaz e noutro dia
O tempo sem sentido algum se faz.

40

Quisesse apresentar qualquer momento
Aonde o que se vê possa fazer
A vida mais diversa e no prazer
O tanto quanto quero e até fomento,

A solidão não traz este elemento
Que busco e sei no farto amanhecer
Ousando nas estâncias do querer,
Ainda sem temer o forte vento,

Um tempo após o tempo mais cruel
E abrindo em azulejo o imenso céu,
A vida poderia nos traçar

Um dia mais suave e em plenitude
O quanto do passado ora transmude
Expressa o mais divino caminhar...

41

Já não me caberia melhor sorte
Não fosse a minha vida mesmo assim,
Iniciando a queda chego ao fim
E nisto nada trago que suporte

Alento? Na verdade não conforte
Meu canto sem saber do que há em mim,
Apenas discordando de onde vim
Tentando no vazio o velho norte,

Ainda sem saber o que viria
Apresentando o caos em fantasia
A luta se desenha e sei do fato

Aonde com promessas não se faz
O mundo a cada ausência perde a paz
E apenas esperança vã constato.

Resgato cada passo e sigo em luta
Diversa com o tanto que me dera,
Deixando para trás a primavera
Ao menos a esperança é mais astuta,

Mas sei do quanto possa e já reluta
Marcando o que deveras destempera
E gera no vazio esta quimera
E nela a força traça sempre bruta,

Espero alguma luz e nada veio
Somente o mesmo prazo e sem anseio
O meio de seguir perdendo o lastro,

Ainda que se queira acreditar
Num rumo mais diverso e me moldar
Ao menos no não ser ora me alastro.

Encontraria apenas a verdade
Depois de tanta luta sem proveito
E quando nos espinhos onde deito
Enfrento o quanto tento e desagrade,

A rústica expressão que agora invade,
O manto se desfaz e nega o leito
Ao sonhador sem nexo e sem direito
De ter noutro caminho a liberdade,

Ausento dos meus passos e prossigo
Sem ter sequer a sombra de um abrigo
Ou mesmo acolhedora fantasia,

Negar qualquer espera noutro tom,
O dia se desenha e sei sem dom
O canto que decerto esperaria.

Não tento acreditar no que não veio
E sei que não viria de tal sorte
Que tanto quanto o passo me conforte
Apenas desenhando este receio,

Enfrento com temor o quanto anseio
E bebo sem sentido algum o corte
E nada do que deixe como aporte
Suporta o meu caminho em devaneio,

Esbarro nos enganos de quem sonha
E sei da solidão dura e medonha,
Mas tento acreditar noutro cenário,

Embora todo amor já não desnuda
A face mais atroz e sei aguda
Do passo onde se fez desnecessário.

45

Restauro com meu verso o que presumo
Talvez inda me salve do fastio
E bebo com ternura o desafio
E sei da solidão mero resumo,

Vivendo com temor onde me esfumo,
E vago sem saber do velho rio
Morrendo pouco a pouco ora desfio
O tempo sem saber onde o consumo,

Apenas o momento dita o não
E vejo noutro fardo a sensação
Do vago desvendar em passo rude,

Não tendo outra saída vou ao fim
Bebendo o quanto resta vivo em mim,
E deixo para trás a juventude.

Não quero e não pudesse ainda ver
O mundo mais diverso do que tento
E quando do passado num momento
A luta se desenha em desprazer

Não vejo o quanto quis amanhecer
Depois do meu caminho e desatento
Marcando com terror e sofrimento
O nada aonde o pouco pude ter,

Apenas o final se desenhando
Aponta o meu anseio desde quando
A luta se presume noutro passo,

E sei do quanto é rude o meu caminho
E marco com meu tempo mais daninho
O quanto na verdade me desfaço.

Não trago o coração liberto ou vejo
Após a tempestade esta bonança
E quando a solidão invade e avança
Eu bebo deste sonho benfazejo,

O manto mais audaz quando o prevejo
No fim de todo encanto teima e alcança
Deixando sem sentido a confiança
E nisto outro momento em paz desejo.

Restauro com meu sonho o que não tendo
Apenas semeasse o mesmo adendo
E vivo sem proveito o quanto teime,

Ainda quando a vida audaz nos queime
E mostre sem sentido a imprevisão,
As horas mais felizes se verão?

48

Nascera do vazio em tom audaz
E mesmo quando o rumo em reticência
Pudesse desenhar em consciência
O mundo aonde o pouco tenta ou faz,

Resulto do que um dia quis em paz
E vejo sem saber da impertinência
Do tanto quanto possa em vã ciência
E nisto outro momento sou capaz,

E bebo o que não tinha e nem tivera
Somente desenhando a longa espera
De quem noutro cenário se perdeu,

O verso que pudera ter em luz
Agora no vazio não conduz
E o mundo se imergindo em treva e breu.

No pranto sem saber de algum alento,
A voz de quem se fez em tons sutis
Demonstra o quanto fora este aprendiz
Bebendo com terror o velho vento,

E quando no final eu me alimento
E sei do todo na alma sem teu bis
E vejo o que deveras tanto quis
E nisto outro caminho agora invento,

Reparo com meu passo o que não tive
E sei da solidão em que convive
O verso com o sonho e nada mais,

Despisto com meu canto o que se cria
Ausento desde quando em poesia
A luta enfrenta dias mais banais.

50

Medonhas faces dizem do passado,
Mas quero acreditar neste futuro
E sei do quanto possa e me asseguro
Do tempo noutro tempo desenhado,

Pousando mansamente não me evado
E bebo a sensação e já procuro
Vencer o que pudera e não torturo
Meu canto noutro engodo decifrado,

Restauro com o sonho o dia a dia
E vendo o quanto resta em alegria
O mundo não pudera ser assim,

Encontro o que inda tenho em esperança
E o passo sem sentido quando avança
Espera reviver cada jardim...
 
ESPERANÇA

Do sonho; as mais incríveis asas; alço

 
Do sonho; as mais incríveis asas; alço
E busco sem qualquer rebuscamento
O tempo em que melhore o firmamento
Senão terei que andar milhas descalço;

Se o termo que assinei foi fátuo e falso,
Fadiga não me diz falecimento,
Farsante por instantes, num momento,
Aguardo o julgamento e o cadafalso.

Aperto mais a corda no pescoço
Engulo qualquer coisa com caroço
E o moço que já fui alvoroçado

Não sabe mais se quer seguir em frente
Só sei que não sabendo vou urgente
Que o tempo, meu amor, anda nublado...

Marcos Loures
 
Do sonho; as mais incríveis asas; alço

ESPIRAL DE SONETOS - VANDALISMO HOMENAGEANDO AUGUSTO DOS ANJOS

 
Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

Augusto dos Anjos

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“Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos”
Ao perceber inúteis as luzernas
Adentrando terríveis vãos, cavernas
Retratos de momentos tão medonhos.

Expondo à minha face tais paragens
Cenário distorcido em vagas luzes,
Arrebatando em mim diversas cruzes,
Soturnas e temíveis paisagens.

Das ânsias cintilantes fluorescências
E impávidas figuras caricatas
Em meio às gargalhadas e bravatas
Convites para os ermos das demências.

Afetam meu olhar e inebriantes,
Fulguram quais bisonhos diamantes.

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Fulguram quais bisonhos diamantes.
Olhares que me espreitam desta fera,
A solidão enquanto destempera,
Tranqüilizando ao menos por instantes.

Verdugos de nós mesmos, muita vez,
Alheios ao que possa ressurgir,
Ouvindo uma esperança além bramir,
Em novo dia, ainda, mesmo crês.

Adentro nos mistérios de minha alma
Masmorras, catedrais e ancoradouros,
Diversos caminhares, ritos mouros
Do quanto já vivera, medo e trauma

E quando me percebes arrebatas
“Templos de priscas e longínquas datas.”

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“Templos de priscas e longínquas datas”
Encontram no meu peito o esconderijo
E quanto aos meus anseios me dirijo
As dores se revoltam em cascatas.

E nesta turbulência mal convivo
Com todos os espectros que se hospedam
Caminhos usuais quebram, depredam,
E assim em meio ao caos eu sobrevivo.

Mortalhas entre pútridas carcaças
Somente me rondando pesadelos,
A cada nova noite revivê-los
Enquanto ao largo sei que ainda passas

E mesmo se presente; não me internas
Ao perceber inúteis as luzernas

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Ao perceber inúteis as luzernas
Estranho quando a luz em lusco fusco
Entranha muito além do que ora busco,
Traçando procissões raras, supernas.

Heréticos demônios coexistem
Com anjos muitas vezes mais profanos,
E os erros cometidos, meus enganos,
Ainda mesmo após, vivem, persistem.

Esboço reações, mas não prossigo
Etéreas maravilhas e abissais,
Nefastas hedonistas magistrais,
Ambígua sensação de caos e abrigo.

Insólito momento; desbaratas
“Onde um nume de amor, em serenatas.”

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“Onde um nume de amor, em serenatas.”
Ouvia-se deveras percebi
Esdrúxulos caminhos vêm a ti
Presenças tantas vezes mais ingratas.

Ascendo aos mais diversos elementos,
Na fúria deste vento, águas profundas
Incêndios invadindo quando inundas
Gerando paz em forma de tormentos.

Antíteses comuns de um sonho tosco,
A par destes incríveis contra-sensos
Os medos e os prazeres são imensos,
Luar mesmo que pleno, segue fosco;

E quando necessárias noites ternas
Adentrando terríveis vãos, cavernas

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Adentrando terríveis vãos, cavernas
Não pude perceber saídas, fugas
E quando ao enfrentar também refugas
Diverso da loucura que ora externas,

Incríveis vendavais, tormentas várias,
Estúpidas quimeras ancestrais
E nelas os diversos rituais
Mostrando faces torpes, temerárias.

Assiduamente entranham suas garras
E deixam cicatrizes tatuadas
Nas almas que circundam, destroçadas,
Enquanto as minhas pernas tu agarras

E incrível carpideira em vozes tensas
“Canta a aleluia virginal das crenças”.

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“Canta a aleluia virginal das crenças”
Espantosa quimera incendiando
Num panorama outrora bem mais brando
Gerando mais terríveis desavenças.

Assassinos, ladrões, répteis humanos
Arrastam-se entre fogos e demônios,
Explode emanação de seus hormônios
Alastram-se terrores, desenganos.

Fomentam temporais em vento forte,
Um bêbado funâmbulo caminha
E podre sensação que se avizinha
Prenunciando assim tortura e morte

No meio dos espectros mais bisonhos
Retratos de momentos tão medonhos.

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Retratos de momentos tão medonhos.
Asquerosas figuras, gargalhares,
Na cúpida ilusão, podres altares,
Arfantes emoções, terríveis sonhos.

E em meio às trevas surge esta satânica
Beleza que seduz e tentadora,
Dos males e dos gozos, genitora,
Em convulsão feroz, quase tetânica.

Esbarram-me cadáveres do anseio
Negado há tanto tempo, desde a infância,
Caminham com soberba e elegância
Não tendo dos espectros mais receio.

E o Demo fabuloso em tais bravatas
“Na ogiva fúlgida e nas colunatas”.

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“Na ogiva fúlgida e nas colunatas”.
Nefastos, gigantescos corvos vêm
Num crocitar constante, como alguém
Que risse destas cenas insensatas.

Vergastas soltas cortam todo este ar
E algozes em masmorras, cadafalsos,
Os pés em carne viva estão descalços
Ao longe sobre as trevas o luar

Num lusco fusco entranha este cenário,
Insanos os espectros de minha alma,
Que incrivelmente sinto bem mais calma,
Além do que pensara necessário

Especulares ritos quais miragens
Expondo à minha face tais paragens.

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Expondo à minha face tais paragens
Uma fantasmagórica impressão
Demarca a minha pele em abrasão
Fomenta o desespero; falsos pajens

Adentram o salão aonde a festa
Explode em cores fátuas e vulgares,
Diversas meretrizes, lupanares
Resultam tentações árduas, funestas.

Eclodem de crisálidas gigantes
Falenas que medonhas bebem luzes,
Os crânios entre adagas, ferros, cruzes
Em tons bem mais profícuos, radiantes

E sobre estas cabeças, vãs e imensas
“Vertem lustrais irradiações intensas”.

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“Vertem lustrais irradiações intensas”
E entranha nos meus olhos tal fascínio
Perdendo das vontades, o domínio
As horas em tempestas, festas, tensas...

Estrídulos distantes, chibatadas
Açoites entre carnes laceradas,
Dos restos do que fui sequer pegadas,
Jamais imaginara as alvoradas.

Brumosa madrugada em pesadelos,
A turba, imunda súcia, velhos párias
Deitando sob as várias luminárias,
Assim posso melhor, decerto, vê-los

E emaranhando ao longe ledas cruzes
Cenário distorcido em vagas, luzes...

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Cenário distorcido em vagas luzes
Novelos de cadáveres, zumbis,
E incrível que pareça estou feliz,
Bebendo cada fonte em que reluzes

Apátridas bastardos, desdentados
Profanas criaturas fartos risos,
Sensações de infernos, Paraísos,
Demônios com arcanjos misturados.

E o gozo prazeroso da tortura
Esvai em sangue intenso sacrifício,
E como fosse outrora o Santo Ofício,
Percebo que o terror ajuda e cura.

Disformes fantasias em que pensas:
“Cintilações de lâmpadas suspensas”

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“Cintilações de lâmpadas suspensas”
Espalham-se nos antros mais imundos,
E os olhos demoníacos, profundos,
Sanguíneas emoções são recompensas.

Hedônicos fantoches histriônicos
Gerando abortos fetos e embriões,
E nesta orgia, louca, tu te expões,
Em danças, atos bruscos desarmônicos.

Fétida e sulfurosa madrugada,
As ânsias estampadas neste rosto,
Melífero terror amansa o gosto
Da imagem ora pútrida e encarnada

E como fossem pedras, foices, urzes
Arrebatando em mim diversas cruzes.

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Arrebatando em mim diversas cruzes
Esdrúxulos demônios me rondando,
E o mundo num instante desabando
Terrível profusão de grises luzes.

Vertiginosa imagem quando eu abro
Os olhos tudo gira, corpo e mente,
Qual fosse um festival torpe e demente
Num ar empesteado em tom macabro

Fulgura entre os espectros áureo brilho
Argênteas, brônzeas flores, rubros olhos,
Pisando sobre brasas, sobre abrolhos
Vagando sem destino, teimo e trilho

Incêndios devorando céus e matas
“E as ametistas e os florões e as pratas.”..

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“E as ametistas e os florões e as pratas”
Entranham ardentias, fogaréus,
Satânicas imagens douram céus,
A lava se derrama em vis cascatas

Vulcânicos eflúvios em clarões
Expondo esta volúpia incontrolável,
Delírio se tornando inevitável
Enquanto tuas carnes; decompões.

E gêiseres explodem vêm à tona,
Histriônicos ritos, corpo nu,
Gargalha-se deveras Belzebu,
Uma esperança tola me abandona

Na vívida impressão, várias imagens
Soturnas e temíveis paisagens.

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Soturnas e temíveis paisagens
Tornando este cenário deslumbrante
Envolto pelos brados lancinantes
Confusas e diversas as mensagens

Entranho cada vez mais pela furna
Figuras demoníacas, dantescas,
Catedrais gigantes, nababescas
Numa ânsia tresloucada em tez noturna

Adentram num instante em seus corcéis
Grotescos cavaleiros esqueléticos,
Com seus esgares lúgubres e herméticos
Girando nestes toscos carrosséis

Montando em seus soberbos animais
“Como os velhos Templários medievais.”

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“Como os velhos Templários medievais.”
Estranhas criaturas uniformes,
Nas fácies caricatas e disformes,
Perfazem seus diversos rituais

Brumosa madrugada em tons sombrios,
Espectros em hedônicas orgias,
E tu entre os cadáveres sorrias
Deitando sem pudor, lúbricos cios

Em holocausto vejo uma criança
As garras dos demônios no seu rosto,
O solo putrefato, decomposto
Uma ninfa desnuda ao longe, dança

Voluptuosa luz nas excrescências
Das ânsias cintilantes fluorescências

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Das ânsias cintilantes fluorescências
Eclodem quais falenas constelares,
Misturam aos sanguíneos lupanares
Corpos desnudados, penitências.

Clamor de vozes dúbias e insensatas
Demônios, querubins, anjos mordazes,
E em meio a tal loucura inda trazes
Nas mãos terríveis fogos e chibatas

Explodem vez em quando os artifícios
Em multicores tantas, maviosas,
Azulejando o solo, várias rosas
Dos céus entre os infernos, precipícios

Lembrar que há tempos entre vendavais
“Entrei um dia nessas catedrais”.

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“Entrei um dia nessas catedrais”
Aonde se expressando cadavéricas
Imagens quase lúbricas e histéricas
Toando sons edênicos, venais.

Assisto ao vandalismo que em meus mitos
Transforma com diverso tom, matizes
Sombrias entre as luzes que desdizes,
Sonoras emoções, diversos gritos.

Adagas e chicotes, orações,
Mesquinhas ilusões, medos diversos,
E quando transfiguro para os versos,
Demonstras com sarcasmo outras versões

Descendo entre satânicas cascatas
E impávidas figuras caricatas.

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E impávidas figuras caricatas
Dançando nesta imensa catedral
Gemido sem sentido gutural
Partícipe das loucas serenatas.

Esgueiro-me entre corpos lacerados,
Bebendo desta insânia me transmudo,
E quando me percebo quase mudo
Também entranho em ritos tresloucados.

Medonhos magos, loucos ancestrais,
Alquímicos cadinhos, carpideiras,
Tremulam entre tantos as bandeiras
Momentos de terror são magistrais

Adentro por confusos, ledos sonhos
“E nesses templos claros e risonhos ...”

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“E nesses templos claros e risonhos
Demoníaca figura angelical,
Misturam-se deveras, bem e mal,
Ao mesmo tempo belos e medonhos.

Esqueço-me de tudo que aprendi,
Visão de um Paraíso deturpado
Inferno, limbo, céu quase nublando,
E neste pandemônio estás aqui.

As roupas já puídas pelo tempo,
A carne decomposta, olhos sombrios,
E enfrento meus temores, desafios,
A cada passo, medo ou contratempo

E ris enquanto o senso desacatas
Em meio às gargalhadas e bravatas.

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Em meio às gargalhadas e bravatas
Encontro minha face estropiada,
Refletindo esta espúria madrugada
Marcada por açoites e chibatas.

Satânicas imagens pululando
Açoites entre fúrias e risadas,
As costas já sanguíneas, laceradas,
Abutres me rondando em tosco bando.

Em meio às preces, velas e serpentes,
Vagando sem destino pelas sendas,
Qual fossem multidões de ritos, lendas,
Hedônicas lascivas e dementes

Satã com seu comboio; traz vergastas
“E erguendo os gládios e brandindo as hastas.”

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“E erguendo os gládios e brandindo as hastas”
Em vândalos e párias transformados,
Momentos tão brumosos e nublados
Vagando pelos ares, tu te afastas

E trançam sobre nós alados seres
Diversas garatujas, gargalhares,
Altares entre fogos, lupanares,
Mostrando os seus anseios e poderes.

Bisonhas caricatas, demoníacas,
Deidades desfilando uma nudez
E quando sobre a cena tu me vês
Imagens tão sutis e afrodisíacas

Assim entre terríveis penitências
Convites para os ermos das demências.

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Convites para os ermos das demências
Fatídicos tormentos entranhados,
Revivem mitos mortos, vãos passados,
Esgotam os limites das decências.

Ecléticos fulgores luz fugaz
Caleidoscópios vários em mosaico,
Hermética volúpia em ar arcaico
E nisto tu te ris, te satisfaz

Energúmenos seres, débeis faces
Escravizando cortes em taperas,
Aonde imaginasse primaveras
Com nuvens invernais, tu logo embaces

Quebrando imagens toscas com vergastas
“No desespero dos iconoclastas.”

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“No desespero dos iconoclastas”
Cultuam-se imagéticas figuras,
Em meio às claras luzes, vãs e escuras
Satânicos arcanjos, cruas pastas.

Decomposição mostra destroços
Carcaças eclodindo das masmorras
Por mais ainda tentes e socorras
Só restam dos demônios, frios ossos.

Cadáver insepulto ri-se irônico
E cadafalsos vejo entre estes tronos,
Representando assim os abandonos
Num ato genial, porquanto hedônico

Danças sensuais por instantes
Afetam meu olhar e inebriantes.

27

Afetam meu olhar e inebriantes
Momentos entre fúrias e prazeres,
Diversas profusões de vagos seres,
Enquanto em tal cenário te agigantes.

Mesquinhas e rasteiras serpes vêm
E lambem minhas pernas, mordiscando,
Aos poucos cada parte devorando
Depois de certo tempo, mais alguém

Explode em gargalhadas, dança nua
Orgásticos demônios, anjos nus
E em meio ao festival, vejo urubus
Vagando sobre nós, tampando a lua

Reconhecendo em ares tão medonhos
“Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!”

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“Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos”
Qual fosse algum espelho que mostrasse
A verdadeira e imunda, turva face
Num misto de terrores enfadonhos

Astutos querubins, seres satânicos
Vestindo uma alva e rota maravilha
Enquanto ao longe imagem tosca brilha
Disseminando risos entre pânicos

E neste vandalismo entre promessas
Divinas emoções num temor farto,
Falenas adentrando então meu quarto
Nos sonhos, pesadelos recomeças

Estrelas invadindo deslumbrantes
Fulguram quais bisonhos diamantes.

MARCOS LOURES
 
ESPIRAL DE SONETOS -  VANDALISMO HOMENAGEANDO AUGUSTO DOS ANJOS

SONETOS FEITOS EM 27/07/2010

 
001

Buscando meramente algum apoio
Aonde prenuncio a queda, eu tento
Vencer o mais comum alheamento
Tomando em incerteza o velho arroio,
E tento discernir trigo de joio,
Num passo muitas vezes violento
E quando permaneço desatento
A vida se sonega em vão comboio.
Olhar e ver apenas o que extinto
Ainda trago, é como se o futuro
Houvesse transformado em ermo e escuro,
Cenário corriqueiro em minha vida,
No quanto posso mesmo ou tanto eu minto,
A sorte imprevisível, corroída.

002

Exatamente quando mergulhava
Num mar em palidez, vasculho o fim
E bebo cada parte do que há em mim,
Ondeio caminho em dor e lava,
E mesmo quando ausente procurava
A consonante sorte, nada enfim
Tomando plenamente e sendo assim,
A trama se esbarrando em qualquer trava.
Solucionar as dívidas que trago
Na busca em placidez, ausente o lago
Somente este bravio mar reside
Na praia dos meus pânicos constantes
Sirena em face escusa; já adiantes
E nela o meu reflexo agora incide.

003

Somatizando ao fim estas crisálidas
Na ultrapassagem dura; se apresente
A vida com a face descontente
Resumo de outras eras bem mais cálidas,
Palavras muitas vezes são inválidas
E nelas o que eu teimo e não se atente
Expressa o mais complexo contingente
Nas noites tão erráticas quão pálidas.
Esgoto dentro em mim uma esperança
Enquanto a realidade ainda avança
E traça novo tempo aonde eu possa
Tramar a realidade em claro tom,
E o dia amanhecendo, farto dom
Que impede num instante a velha fossa.

004

O quanto trago em pedras ar e fúria
Mesquinho ser enquanto racional,
Mergulho num destino sempre igual
Gerado pela insânia e por incúria,
Legado onde me entrego, em tal penúria
Cercado por constante e mais venal
Delírio desenhando este abissal
Caminho aonde resto e sem lamúria.
Escalo os mesmos montes e vasculho
O quando dentro da alma é pedregulho
Horrivelmente nu exposto ao chão
Denigro a própria imagem cada dia,
E migro para o próximo a agonia
Herança para os que inda, iguais, virão.

005

À cântaros carrego e me lastimo
Do peso desenhado pelo escasso
Desenho aonde ausência teimo e traço,
Caindo a cada passo, mesmo limo.
O tanto quanto posso e não lastimo
Resumo o meu delírio em novo espaço,
A porta se entreabrindo quando passo
Vestindo em ironia o que deprimo.
A tola humanidade já se espelha
Na face desdenhosa e dita ovelha
No quanto em liberdade Ensinaste.
Assim ao desnudar o rosto obtuso
De quem no vago espelho ora entrecruzo
Percebo a insanidade deste traste.

006

Na explosão destes canhões
Nada trago em consonante
Caminhar onde garante
O que tanto não me expões,
E persisto em negações
Desviando a cada instante
Outro passo, degradante,
Visto em várias direções.
Escusando-me na culpa
Do que tanto se esculpa
Deste sórdido demônio,
O mercante sonho agora
Onde a fonte desarvora
Indefectível pandemônio.

007

Percorrendo em paralelo
Vago passo eu tento quando
O que trago e te revelo
Noutro tanto desnudando,
Presumir o quanto é belo
O mergulho neste brando
Desenhar onde te atrelo,
Face sempre renovando.
Neste alheio desenhar
Onde outrora algum lugar
Poderia haver, decerto,
Na incerteza mais atroz
O caminho dito em nós,
Na verdade eu já deserto.

008

Nesta lentidão a vida
Esboçando alguma luz
Quando enfim eu já me opus
Provocando a despedida,
Desta cena outrora urdida
No cenário em dor e pus,
Vejo assim na contraluz
O que outrora achei perdida.
Naufragar é tão comum
Quando em dois não restando um
Esta soma se divide,
Perco o rumo e nada veio
Prosseguindo em rumo alheio
Onde a morte em paz, incide

009

Sem memória que me baste
Nem desejo onde um dia
Bem diverso poderia
Restaurando algum resgate,
Nada além do vil desgaste
Gera em nós vaga agonia,
E medonha fantasia
Onde a sorte má repaste
Ouso em tétricos pudores
Mesmo até se não mais fores
Resgatar algum anseio
Vasculhando cada parte
Do que tanto não reparte
Noutro rumo eu devaneio.

010

Quando havia a nostalgia
De momentos consonantes
Percebera que agigantes
Quanto mais amor recria
A fantástica heresia
Por desejos torturantes
Onde mesmo ou até antes
Cada passo se faria,
Sintonizo o tolo ardil
Esboçando outro gradil
E tentando ver além
Do que outrora não soubera
Na solvente primavera
Longa espera me contém.

011

Quando esta saudade traça
Com remendos o meu passo
Vejo quanto me desfaço
No vazio em luz escassa,
O cenário se ultrapassa
Ousa até noutro compasso
Resumindo cada espaço
Onde a vida gera a traça,
Esfumaça-se a verdade
Quando o medo ledo invade
E transtorna quem pudera
Conservar ou mesmo até
Procurar em vaga fé
O que outrora fora espera.

012

O presente diz passado
O passado diz futuro?
Quanto mais teimo e procuro
Novo dia anunciado,
Vejo neste enunciado
O mergulho em solo duro
E saltando a cada muro,
Volto ao mesmo passo dado.
Como fosse bumerangue
Sigo imerso neste mangue
Profusões de etéreos sonhos,
E se expões novos caminhos,
Tão erráticos, daninhos
Quanto os velhos, tais medonhos.

13

Quando esta alma se encontrasse
Com a mesma e degradante
Tenebrosa e alucinante
Realidade em mesma face,
Novamente enfim calasse
Leda voz deste farsante
Onde o traço se garante
Até quanto mergulhasse;
Sou herético e mordaz,
Com certeza tanto faz,
E se tento nova sorte,
Quem me leva e já me expões
Em diversas direções
Tendo o nada onde suporte.

14

A minha alma se perdendo
Nesta face sempre igual
Como fosse tal e qual
Outra parte do remendo
No cenário mais horrendo
O meu canto triunfal,
Menos bem quem sabe mal,
Cobre em juros, dividendo.
Narcotizo meu caminho
Neste tétrico e mesquinho
Navegar pelo eu profundo,
Desta sorte sou assim,
O prenúncio de meu fim
Onde em pus ora me inundo.

15

Aonde se percebe este bruxedo
Alquímica loucura dita a norma,
E o quanto a cada passo se deforma
E neste caminhar tento e procedo
Diverso do meu tolo, fosco enredo
Vagando sem saber onde se forma
A vida noutra vida em vã reforma,
O cálice do engano eu me concedo.
Lapido com tenaz e até vulgar
Delírio o que tanto a vasculhar
Desvendo como fosse algum reflexo
Desta alma em sordidez apodrecida,
Mudando a rotação da própria vida,
Gerando outro caminho mais complexo.

16

Quando incógnita passara
Quem no fundo fora igual
Em tortura ritual
Mesquinhez doma a seara,
E o meu carma desampara
Quando feito na total
Heresia virtual
Geradora desta escara.
Apressando o passo eu tento
Vislumbrar o sentimento
Mais comum em quem poeta
Serventia de algum verso,
Se talvez nele eu disperso
O que em nada se completa.

17

A minha alma em indolência
Ou quem sabe mais tranquila
Se inda tenta ou já desfila
Sob a lua em influência
Gera nova confluência
Na certeza que destila
Quando mesmo desopila
A diversa virulência,
Expressando em mim o quanto
Deste nada desencanto
Se eu me afasto ou continuo,
Numa audácia me resumo,
Levemente ledo sumo,
Quando em uno quis ser duo.

18

Extremando qualquer hora
Ou ousando a mesma expressa
No delírio em vã promessa
Onde o farto já se ancora
Providenciando agora
Lucidez, nada endereça
Quando muito me interessa
O que a ti sempre apavora.
Esgotando a fonte em veio
Bem diverso onde rodeio
Mariposa em holofote,
Jorro feito em gêiser quando
O meu passo sonegando
Preparando o mesmo bote.

19

Resplandece o que talvez
Já não tanto traduzisse
A verdade em tal crendice
Onde o rústico já vês,
No passado a cada vez
Onde o tempo se desdisse
O mergulho na mesmice
Trama o passo em lucidez?
Eu me engano quando o engodo
Transbordando em lama e lodo
Aventura-se no fato
Mais banal e corriqueiro
Neste errático canteiro
Quando o nada ora resgato.

20

Numa hora tão inútil quanto opaca
O manto discernido em verso e dor
Transforma com seu cálice o pudor
Aonde a realidade já se empaca,
O quanto desta vida tênue e fraca
Produz alguma luz no sonhador,
Expresso o descaminho e mato a flor
Cenário sem tormenta que me aplaca.
Neste ostracismo cismo e volto à cena
A porta escancarada ora condena
O farto caminhante ao velho estilo,
Reparo neste espelho a triste cã
Remendo de uma vida sempre vã
Que em versos costumeiros eu desfilo.

21

No impossível caminhar
No improvável tom venal
Onde adentro o mesmo tal
Como fosse algo vulgar,
Visto o passo a se moldar
No caminho bem ou mal,
Resumindo esta fatal
Mera ausência de luar.
Entranhara em mim a tese
Que deveras se despreze
Do medonho desde o início,
No produto deste meio
Outro igual eu devaneio
E me entrego ao precipício.

22

Ansiando uma resposta
Nos meus velhos ermos vãos
Expressando em toscos nãos
O que tanto me desgosta,
A verdade nua e exposta
Reproduz os tantos grãos,
Mas são áridos os chãos
Onde a sorte foi proposta.
Espalhando em mim deserto
O fantasma ora desperto
E anuncio o luto herético,
Na promessa descumprida,
A incerteza desta lida
Num caminho quase hermético.

23

Quando é nevoenta, a tarde
Noite apenas prenuncia
A saudosa galeria
Onde a sorte se resguarde,
Nada tendo e não se aguarde
Nem tormento ou poesia,
O que tange e me invernia
Novo passo já retarde.
Num frágil tola herança
Verso algum o tempo lança
Na promessa mais sutil,
Retrocessos? Já não vejo
Tão somente algum verdejo
Onde a névoa, o sonho viu.

24

Linha certa e a palavra tão torta,
Não importa, o que importa é que é minha.
Não é sozinha e no verso se aporta
Abro a porta ao sabor desta vinha

Que se aninha, me embriaga e me corta
Viva ou morta, o que penso? Advinha?
Se é rainha eu sou gato. E a bota?
Certa ou torta, história da carochinha!

Jogo a dama ao valete; ela quer rei.
Já rimei noite com meio dia,
Poesia eu te mando e te peço,

Mesmo inverso há espaço na grei...
Risquei dor e pintei alegria,
A magia sempre foi par do verso.

Josérobertopalácio

O meu verso imerso em fases
Tão diversas quanto pude
Muitas vezes a atitude
Onde o sonho tu me trazes,
No passado ou nos capazes
Caminhares, tudo ilude,
Amortalha a juventude
Ou renasce em mais audazes.
Sendo assim, disperso e unido
O caminho presumido
Vasto enquanto se concebe
Espalhando o que se quer,
Outra vida, e até sequer
Qualquer tom regendo a sebe.

25

Qualquer nota mesmo aquela
Onde nada se apresenta
Gera a paz, marca a tormenta
Vera face se revela,
Nada tendo quando a tela
Versa em luz ou violenta
Ascendendo e me apascenta
Quando em pálida se atrela
Ecos ermos entre tantos
São diversos desencantos
Divergências merencórias,
Barco em mar tão turbulento,
Novo porto ainda invento
Reunindo tais escórias.

26

Uma estéril provação
Esboçando a natureza
Ao traçar sem mais surpresa
Outros dias que verão
Mesma face desde então,
E não tendo mais certeza
Procurando esta pureza
Onde houvesse solução,
Resoluto caminhante
Nada tendo a cada instante,
Novo fato ora produz,
O poeta este indigente
Tanta vez inconseqüente
Verte a palidez em luz.

27

Indistintamente eu vejo
O meu passo rumo ao teu
E se tanto se perdeu
Nas angústias deste ensejo,
Muitas vezes no verdejo
Dos teus olhos bebo o breu,
E o que tanto se escondeu
Hoje molda o meu desejo.
Visto o traje aonde eu pude
Na mesquinha juventude
Crer em ares mais felizes,
Dos termômetros diversos
Gero em mim os controversos
Quando fúteis me desdizes.

28

Quão maligna fosse a vida
De que teima contra a sorte,
Sem saber se inda comporte
No final, mera saída,
Vejo a cena consumida
Onde nada traz um norte,
Tão somente já me corte
A certeza indefinida.
Expressando noutro fato
O demônio onde resgato
Os meus ermos mais profanos,
Reassumo estas peçonhas
E deveras nelas ponhas
Os puídos, velhos panos.

29

Destas armas virulentas
Onde mesmo trazes ermos
E se tanto dizem termos
Os que nada mais inventas
Rastreando tais tormentas
Quando muito; reavermos
O que tanto não mais sermos
No vazio representas,
Escassez ditando a regra
Minha vida desintegra
E se entrega em ar suave,
Neste pendular momento,
O que às vezes inda tento
Nada além, teimando, agrave.

30

Irreais castigos; sinto
No caminho e me situo
No delírio perpetuo
O que outrora quis extinto,
E se tanto ainda minto,
A verdade diz recuo
Neste medo eu não cultuo
O passado em vão absinto.
Entorpeço-me no sonho
Nele, vasto eu me componho
Num delírio inconseqüente,
Mas jamais isto me ilude,
Mesmo quando eu sou mais rude,
Sutileza se apresente.

31

Ao descer várias encostas
Onde outrora vicejara
A beleza intensa e rara
Sendo nunca mais repostas
Desde quando já não gostas
Do caminho que prepara
Minhas sortes; escancaras,
Em funérea face; expostas.
Nada mais resta afinal
Horizonte terminal
Sem sequer saber o rumo
Quando tento e me abandono
Do passado em desabono,
Ao descer também me esfumo.

32

Que se faz de quem procura
Mesmo em paz outra guerrilha,
Na verdade este ermo trilha
Numa vida mera e dura.
O passado na amargura
O futuro inda palmilha
Perfazendo e se estribilha
Muito aquém desta brandura.
Necessária a quem porfia
E acredita noutro dia,
Quando a sorte se fará
Discordantes tons eu vejo
Ao beber este desejo
Que bem sei e desde já.

33

No submerso mundo em mim,
Vasculhando cada ponto,
Se deveras já me apronto
O que eu vejo diz do fim,
Por princípio é sempre assim,
Nada levo nem desconto,
Na tangente não remonto
Ao cenário de onde vim.
Resumindo em verso e canto
O diverso desencanto
Tão comum dos nossos dias,
Entorpecido cometa
No vazio se arremeta,
Revela as vozes sombrias.

34

Anular o pensamento
E tentar quem sabe a sorte,
Onde o nada me deporte
E o caminho diz alento,
No final enquanto eu tento
Remeter-me ao frágil norte,
Tanto quanto eu me comporte
Explorando o pensamento,
Verticais quedas eu sinto
Resumindo o vago instinto
Nas defesas costumeiras
Perceptível face aonde
O meu mundo não responde,
Mesmo até se não me queiras.

35

Ao restituir o passo
Na incerteza de outro além
O desnível já provém
Do que em mim decerto eu traço,
Meu olhar neste ermo traço
Vaga ou busca o quanto tem,
E se entranha e volta sem
Revelando o morto espaço.
Um caminho quase esquálido
Num cenário tosco e pálido,
Reduzindo ao que provê
Esta vida sem resposta,
Quando enfim já decomposta
Sem talvez qualquer por que.

36

Sobre os crânios, vários vermes,
Subterrâneos caminhares,
Onde além não mais ousares
Em cenários quase inermes,
Decompondo as epidermes,
Roubam fartos lupanares
Mesmo assim ao te entregares
Adiposas, vastas dermes
No final restituindo
O que outrora se extraindo
Noutra forma se compõe,
Ao eterno renascer
No vibrar e apodrecer
Vida, a vida além repõe.

37

Infernais caminhos onde
O delírio eu não mais tento,
E se bebo o sortimento
Nele a vida não esconde
E perdendo o trem e o bonde,
Meu olhar mais desatento
Entregando a sorte ao vento,
O vazio me responde.
Sendo assim, quimera em bote,
Quando muito mais me esgote
A franqueza feita em luz,
Noutra face refletira
Sonegando uma mentira
Que à mentira contrapus.

38

Uma entrega interminável
Dita a ronda sobre a Terra,
No final o início encerra
Ciclo vário enquanto arável,
Reciclar o palatável
Noutra face já descerra
O delírio onde se enterra
Este ser cruel e afável.
Esgarçando a cada instante
Num cenário degradante
Vejo até maravilhado,
Do composto em pasta e pus
Nova vida ora faz jus
Devolvendo o conquistado.

39

Quando vejo em todo vão
Outro tanto se aflorando,
Na cratera deformando
O sentido e a direção,
Novos tempos mostrarão
O que um dia em contrabando
Senti mesmo me pesando
Oprimindo outra estação.
Régios dias onde pude
Mesmo sendo brusco ou rude,
Entender um pouco mais
Dos heréticos cenários,
Mesmo sendo necessários
Calmarias; vendavais.

40

Fui ninado com sangue e com melaço
Nos meus ermos vitais e redentores
Deveras entre tantos desamores
O quadro sem sentido eu ouso e faço,
O manto consagrado eu não repasso
Tampouco me entregando aos vãos pudores
Espelho minha vida aonde pores
Os olhos no futuro, mesmo escasso.
Resulto em verso e canto do que fora
A sorte sem sentindo ou traidora,
Vestindo esta diversa fantasia,
Do todo ensimesmando bala e faca,
A morte se provoca e não aplaca
Quem tanto nova sorte em paz queria.

41

Rasguei berro e valentia
Nas estradas e tocaias,
Onde mesmo se distraias
Não verás um novo dia,
Resumindo esta agonia
Entre dores, facas, saias
Quando aquém do sol desmaias
No final outra agonia,
Vicejando a morte em mim,
Não suporte algum jardim
Neste sangue exposto ao chão,
A florada quase certa
Nela a vida se desperta
Nova face em mutação.

42

O meu mar mineiro trama
Outro mar dentro de mim,
Salgo a vida desde o fim
Quando a sorte nega a flama
Espreitando o quanto se ama
Boca exposta, carmesim,
O funéreo golpe enfim
Diz do velho e tolo drama,
Nada vejo deste mar
Que aprendi mesmo a salgar
No momento, neste ensejo
Sorte alheia não contém
Nada além deste desdém
E deveras, lacrimejo.

43

Dos meus restos nada trazes
Nem sequer qualquer promessa,
Onde a sorte não começa
Nem se vêm futuras fases,
Aprendo em meras frases
Eras novas; endereça
Meu olhar ao que confessa
Ermos trágicos, vorazes.
Aprendendo a cada tombo,
Deste etéreo sonho zombo
Ou quem sabe me aconselhe.
Quanto mais o tempo engelhe
O meu carma ora desnudo
Num cenário vil, miúdo.

44

Nas laçadas desta vida
Outra sorte eu não produzo
E se tento sem abuso
Encontrar uma saída
Esta bala antes perdida
Num olhar que ora entrecruzo
Deixa o passo mais confuso
Nova história sendo urdida,
Resta em mim o desabono
De quem sabe e em paz me adono
Dos erráticos demônios,
Cerceados dentro em pouco
Se deveras me treslouco
Ou se enfrento os pandemônios

45

Tanta vida sem valia
Vida diz esta ventura
Onde a dita não perdura
Nem tampouco merecia
Outra sorte ou sintonia
Cada gole em amargura
Renegando já tortura
Remetendo à fantasia.
Expressões de vida e morte
Que o caminho não comporte
Nem traduza em verso ou canto,
Do meu ego insatisfeito
O delírio aonde eu deito
No final quieto me espanto.

46

Traquinagens de uma vida
Entre vidas desenhadas,
Outras tantas desprezadas,
O que resta já se acida,
No final a mesma urdida
Nas entranhas destes nadas,
Ou decerto destinadas
Onde a sorte é distraída.
Percebendo qualquer bote,
Mesmo assim nada denote
A palavra sanidade,
Rescaldado em tal tormenta
Quem deveras não se inventa,
No final, pois se degrade.

47

Tetas fartas, mãe e glória
Resvalando à perfeição,
Nesta face se verão
Os verões da torpe história,
Mas a vida sem memória
Esquecendo esta lição
Da provável mansidão
Outra fera em vil vanglória.
Restaurando ao menos quando
Decomposto renovando
Em sutis e delicadas
Formas várias das matérias
Entre vermes e bactérias
Tetas fartas, ofertadas.

48

Madrugada onde os orgasmos
Poderiam ser sublimes,
Na verdade em tantos crimes,
Dias mortos sempre pasmos,
No vazio dos sarcasmos
Ou deveras não estimes
O que tange e não redimes
Entre ocasos e marasmos.
Restaurando ou revelando
Na pureza desde quando
Outra sorte em concordância
Gera a sombra de outra igual,
Num caminho sensual
Ou na torpe mendicância.

49

Irreais sonhos deveras
São comuns a quem delira,
Muito mais do que a mentira
Faces várias, primaveras,
Onde tanto ou nada esperas
Do não tido se retira
A palavra que desfira
Entre luzes e quimeras.
Mero espectro do que um dia
Demonstrado em tez sombria
Esboçara algo azulejo
Sendo assim resumo o fato
Onde tento e me maltrato
Noutro tanto me prevejo.

50

Vou e nos currais do sonho
Outro fato se resume
Onde nada mais assume
Quem se fez tolo e medonho,
Vasculhando não me oponho
Mesmo quando sou estrume
E deveras de costume,
Volto ao mar, mesmo enfadonho,
O delírio em tez diversa
Molda a sorte que se versa
Entre gados, liberdade,
Dos amores e perdões
O que em sonhos tu expões
Reproduz o quanto invades.

51

Nem sei do mar, vivendo minha praia
Nas águas cristalinas das Geraes
Aonde se pudesse ou muito mais
Do quanto ao mesmo tempo nada esvaia,
No vago caminhar, o passo traia
E trace com promessas terminais
Delírios entre fartos temporais,
Ou mesmo nada surja nem retraia.
As ondas dos meus mares em marés
São fortes e bravias por quem és
E nisto se acredita quem mais sonha,
Nas âncoras do tempo, a liberdade
Ainda que tardia, já me invade,
Porquanto o meu delírio em mar se ponha.

52

Neste sol universal
Destoando em tons sombrios
Dos meus tantos desafios,
Menos bem quem sabe o mal
Estreitando o virtual
Caminhar por entre os rios,
Quando vejo em desvarios
Afluência sol e sal.
Litorais dos meus engodos,
Apresentam mangues, lodos
Charqueadas dentro da alma.
Neste pântano que entoa
A saudade diz canoa
E decerto ora me acalma…

53

Os peixes no regato
Quanto mais o tempo quis
Entre bagres, lambaris
Os meus dias eu resgato,
Quando muito não desato
Do que tento ser feliz
Esquecendo a cicatriz,
Mergulhando em pleno mato.
Nas entranhas deste rio
O meu âmago eu desvio
E provendo com ternura,
Pescador quase menino,
Velho tolo desatino,
Sempre a paz, teima e procura.

54

Onde houvesse confusão
No passado ou se apresente
Sempre além pela tangente
Novas faces mostrarão
Outras tantas na estação
Mesmo estando descontente,
Sou decerto impertinente
Quando tomo a decisão,
Esquecendo o que soubera
Antes mesmo desta espera
Numa estreita e vã viela
Casamatas da esperança
Onde a vida já se lança
E a saudade se revela.

55

Na surdina em noite vaga
Ouço vozes dentro em mim,
Vasculhando chego enfim
Ao que tanto já me alaga,
Resumindo cada adaga
Neste instante beijo o fim,
E se cirzo quando vim
A medalha dita a plaga.
Resplandece além e aponte
Onde houvera qualquer ponte
Paralelos entre nós.
Resvalando face a face
O que sei mesmo e inda grasse
Solidão expressa em voz.

56

Nos herméticos ou farto
Do que tento e não consigo,
Vejo até no desabrigo
A verdade que reparto,
Estação gerando o parto,
Novo mundo e sem amigo
Resumindo o passo antigo
No que tanto em mim descarto.
Vasculhar cada pedaço
Deste todo onde refaço
Novamente o que pudesse,
A vazão diz da torrente
Onde quer que se apresente
Já não vejo mais benesse.

57

No piano, na senzala
Noutro canto dentro eu pude
Desvendar o quanto rude
A minha alma não se cala,
Atravessa esta ante-sala
E se expondo em plenitude
Quis até a magnitude
Onde nada mais se fala.
Resplendores, realejo
Quando o tempo em mim revejo
Vejo apenas vagas formas,
E o que tento não seduz,
Falta sempre o tom e a luz
E o que tem; logo deformas.

58

Esgueirando pelos chãos
Entre espinhos e mortalhas
Tantos cortes e batalhas,
Dias ermos, mesmos vãos,
Resumindo em tantos nãos,
Os caminhos onde espalhas
Revivendo as dores, palhas
Sonhos tolos artesãos.
Particípio diz passado
Participe do legado
E verás em tom diverso,
O que agora aflora e faz
Mesmo sendo pertinaz
O cenário, eu tergiverso.

59

Engelhada fronte em cãs
Tão sombrias; verdadeiras
Nelas quando tu esgueiras
Espreitando outras manhãs
Verás sempre as mesmas, vãs
E decerto em tais ladeiras
Noutras quedas, corredeiras
Velhos dias, meu afãs.
Alpargatas entre espinhos
Olhos podres e daninhos
Ventos rugas em disfarces,
Condenando cada passo
Outro até tecendo escasso
Logo após o quanto esgarces.

60

Se na morte o meu carinho
Vez em quando faço e até
Procurando sem ter fé
No futuro qualquer ninho,
Muito embora vá sozinho
Não cansado, sigo ao pé
Da montanha e no sopé
Abandono outro caminho,
Espreitar e ver apoio
Onde a sorte sem comboio
Gera apenas outro cardo,
Seduzido em cada engano,
Onde tento e já me dano
Passo lento, ora retardo.

61

Quando no colo da serra
Outra serra se desvenda
O que tange vira lenda
E o já certo não descerra,
Violão ao longe, a terra
Onde o sonho não entenda
E o passado já se estenda
Muito aquém do quanto encerra.
Vasculhar cada momento
Por ser tanto ou não atento
Venço ou perco, mas prossigo,
O que teimo em voz igual
Ou se mostra magistral
Ou condena ao desabrigo.

62

Onde outrora quis o porto
Cada parto refugando
O momento desde quando
Na verdade semimorto
Caminhando além desporto
Nada tento ou mesmo em bando
A coragem desolando
Onde eu quis virando aborto,
Represando em mim um mar
Tão cansado de sonhar
Com a praia que não vejo,
Cismo errando bar em bar,
Até que posso ao ancorar
Refletir algum desejo.

63

Na prolixa fantasia
Resplendores e luzeiros
Dias velhos. Costumeiros?
No final o tempo adia,
E se tanto temeria
Noutro mar; mesmos cruzeiros
Resto apenas nos cinzeiros,
Qual imagem cinza e fria.
Derrapando neste fato
Onde até tento e resgato
Outros tantos, mero espelho,
Movimento em barcos, mares,
Nos caminhos se notares
O meu mar; sempre avermelho.

64

Tardes baças, mar distante
Meu olhar sem sol ou brilho,
Neste incerto vão palmilho
E decerto se adiante
Outra face a cada instante,
Como fosse um estribilho,
E deveras eu me pilho
Neste infausto degradante,
Resoluto, mas nem tanto
No que tento e me adianto
Quedas vejo e nada além,
O trajeto se repete
Quando a voz nada reflete
E a palavra não contém.

65

Dolorosa solidão
Ao mergulho em tal abismo,
Quando além ainda cismo
Não suporto os que virão,
Olho atento em precisão,
Cada passo um cataclismo,
No final em otimismo
Bebo o fim desta estação,
Visto o inverno e até procuro
Mesmo quando está maduro
Outro fato em que talvez,
Nova senda se desvende
Ou quem sabe a morta atende
O que agora já não vês.

66

O meu rio sem aporte
A nascente há tanto morta,
Assinala cada porta
Onde a vida dita a sorte,
Sem ter nada que a conforte,
Resumindo o quanto importa
Na senzala se deporta
O caminho outrora forte,
Ao carpir toda ilusão
Dias novos não verão
O que tento e não descarto,
Jogo fora e no abandono,
O final já desabono,
Mesmo até por estar farto.

67

Indeciso passo eu tento
Onde o nada em mim resiste,
Se decerto eu sigo em riste
Ausentando o pensamento,
Nada tendo em provimento
O caminho onde persiste
Ilusão já não resiste
Cai em tolo sofrimento,
Vento expressa a sensação
Deste mesmo mar de então
Sem marulhos mais diversos,
Marinheiro sem saveiro
O que resta, este vespeiro
Traduzido em poucos versos...

68

Quando agitas, coração
Sem juízo e sem fronteira
Quer a sorte traiçoeira
Ou se perde em mero não,
Navegar no mar, senão
O caminho já se esgueira
Sonegando uma bandeira
Reparando a imprecisão.
Cais ausente, mar também,
E o delírio quando vem
Transtornando este andarilho
Arco até com fúria e gozo,
Onde quis mais majestoso
O passado ainda trilho.

69

Aguardando a minha morte
Curva claras do destino,
Quanto muito eu determino
Qual será mesmo o transporte,
No final já pouco importe
Se eu pudesse ser menino
Distrair o que não mino,
Mergulhar em nova sorte.
Paralelos olhos vendo
O que fora algum remendo
E em verdade nada diz,
Ser ou não e persistir,
Jogo bruto aonde ouvir
Não me faz nem quer feliz…

70

Um comboio no deserto
Em camelos, dromedários
Outros tais itinerários
Onde mesmo me desperto
Seja longe, dentro ou perto,
Escondendo em meus armários
Dias tolos; necessários
O mergulho em mim; alerto.
Prazo acaba acaso seja
De soslaio ou de bandeja,
Servidão a cada instante,
Previsível rumo ao quando
Meu comboio desertando
Novo igual já se adiante.

71

Aprendendo a navegar
Entre tantas vis tormentas
Quando até tu me apascentas
Bem maior, o imenso mar,
Procurando onde aportar
Nada encontro e não lamentas,
As procelas que acalentas
Já não posso me mergulhar,
Abissais fossas marinhas,
Onde agora tu te aninhas,
Expondo a face oculta
Do passado denegrido
Do presente presumido,
E a verdade se sepulta.

72

Arrebento estas algemas
E procuro, libertário
Um caminho imaginário
Onde nada veja ou temas,
Resumindo os meus dilemas
Neste vago itinerário,
Tantas vezes necessário
Encarar velhos problemas.
Restaurando o passo além
Do que tanto me convém
Congregando tudo em mim,
Investindo contra a fúria
Do delírio em tal penúria
Traduzindo o medo e o fim.

73

Rimas fartas onde outrora
Dissonância me diria
Quem se fez em alegria
Ou do tanto não devora,
Restaurando desde agora,
Nova face, mesmo dia,
Horizonte não traria
O que alheio desancora,
Coração coragem tem,
Mas imerso em teu desdém
Marca em duras cinzeladas
Esculpindo em alabastro
Noutro mundo em vão me alastro
E me dizes sempre nadas.

74

Quando crivas ironias
Esboçando risco em tom
Divergente traz por dom
Estas mãos somente frias,
Frágeis noites esvazias
E percebo o quanto é bom
Esgotado este neon
As dormências mais sombrias,
Lua alheia à cheia ou não
Das marés desta emoção
Desenhada em cores gris,
Retalhando esta promessa,
O vazio se confessa
Onde o tanto outrora eu quis.

75

Lapidar com precisão
Ou quem sabe em tons diversos
Os meus vários universos
Noutro rumo o mesmo não,
Vago e busco desde então
Quanto pinto em tons dispersos
Os caminhos já submersos
Desta leda sensação,
Vasculhando cada ponto
Onde nada tento e apronto
Recontando as tais estrelas,
Cabem mesmo dentro em mim
Reluzindo no jardim
Tão somente por revê-las.

76

Nada estóico quando tento
Aprender outro caminho,
Se eu persisto em tom mesquinho
Bebo a sorte em catavento
Ou divirjo num momento
Doutro tanto mais daninho
Mesmo até quando me aninho
Neste errático incremento.
Postular ao menos isto,
Quando posso e sempre insisto
Refletindo este granito.
Gelidez adentrando a alma
A certeza não acalma
Tanto quanto eu necessito.

77

Observando e bem de perto
Quem se fez tanto ou tão pouco,
Na verdade quase rouco
Quando grito em vão deserto,
Se deveras me desperto
E percebo se treslouco
Nada tenho nem tampouco
Quero o coração aberto,
Reparando agora bem
O que tanto não convém
Espalhando em tal seara,
Onde nada mais se vendo,
O meu passo algum remendo,
Noutro igual já se escancara.

78

Tais estigmas que eu carrego
São enigmas nada mais
Paradigmas entre os quais
O meu passo é sempre cego,
Na verdade não me entrego
Encarrego em vendavais
Outros ermos tão iguais
E percebo e já não nego.
Ocasiono vez em quando
Cada passo semeando
Serenando o quanto pude,
Realmente a vida trama
Com ternura medo e drama
A estupenda juventude.

79

Ao cerzir novo poema
Onde possa em poesia
Traçar minha fantasia
Sem saber corrente algema,
Nada vence quem não tema
Outra luz forte irradia
E mergulha mesmo em fria
Solidão e sem dilema.
Quando a culpa se esclarece
Redimida em nova prece
Mea culpa logo assumo,
Mas se perco algum apoio,
Novamente viro joio
Volto ao velho e tomo aprumo.

80

Aspergindo a luz aonde
Renascesse esta promessa
E se tanto ali tropeça
A verdade em vão se esconde
Nada faço onde responde
A saudade cruza e apressa
Navegando se endereça
Alameda em frágil fronde.
Respirar o quanto eu posso,
Sendo o amor diverso ao nosso,
Aspirando algum alento,
Reparando qualquer erro,
Até quando no desterro
Volto ao mesmo e velho vento.

81

Cada trago no cigarro
Alimenta o caranguejo,
Muito além do que desejo,
Mas da morte tiro um sarro,
E se tanto me desgarro
No vazio do verdejo
Onde dita o realejo
A incerteza deste escarro.
Presumindo a melhor sorte
Quando o nada me comporte
Venço os medos, tão comuns
Dos demônios que eu carrego,
Cada passo num nó cego,
Na incerteza bebo alguns.

82

Musicando a luz do canto
Neste tanto em primavera,
O meu verso não espera
E provém do desencanto,
Quero além e se; entretanto
Nada vence tal quimera,
Amanheço em nova fera
Adormeço em raro espanto.
Agonizo e não me canso,
Mesmo até se algum remanso
Encontrasse no caminho,
Passageiro aleatório
Neste mundo merencório
Sigo até quando sozinho.

83

Jorram fontes divergentes
E dos versos que alimento
Tento dar prosseguimento
Onde quer e não pressentes,
Vestimentas coerentes,
Encaminho ao vão tormento
E percebo alheamento
Dos meus olhos indigentes.
Respirando este ar profano
Onde tanto e sei que engano
Desenganos; acumulo.
Não salteio em tom suave,
Cada queda mais agrave,
Mas persisto neste pulo.

84

Redondilhas entre as ilhas
Dos meus sonhos vagam; sós,
Tento dar diversos nós
E decerto não palmilhas
Caminhares entre trilhas
Desmembrando aonde nós
Emergimos destes pós
E voltamos; armadilhas.
Prazo dado, jogo as cartas
E se logo me descartas
Agradeço e peço bis,
Morredouro a cada verso,
No final quando submerso
Terei tudo o quanto quis.

85

Já não tento em fanatismo
Obsedado pelo fato
Onde o medo eu não constato,
Nem sequer temo este abismo,
Resumindo em realismo
O de outrora não resgato,
Aguardando o pulo, o gato
Sabe inútil cataclismo.
Peçonhenta face exposta
De quem tanto sabe e aposta
Que o final será semente
Restaurando o mesmo rumo,
Quando o fim em mim resumo,
Outro início se apresente.

86

Languidez no olhar de quem
Sabe quantas quedas tendo
O princípio ou dividendo
No final tudo convém,
Mesmo até qualquer desdém
Prevenindo outro remendo,
Corte alheio e a mais desvendo
No passado perco o trem.
Apalpando o meu futuro
Qualquer cena onde procuro
Retratar a minha ausência,
Negará o simples trato
E o caminho onde maltrato
Traduziu conveniência.

87

Esperando o fim do jogo,
Muita calma desde agora,
O resumo não demora
E não ponho a mão no fogo,
Tanto amor sem ter o rogo
De quem bebe e me devora,
Incerteza me apavora
Desde quando além ou logo.
Aspirando alguma luz
O caminho eu não supus
Desta forma impenetrável,
Desejava mais plausível
O que vejo noutro nível
Tão superno e nunca arável.

88

Espreitando cada espaço
Onde pude adivinhar
A certeza do lugar
Nele o canto já desfaço,
Aproveito este bagaço
E realço o navegar
Nas entranhas deste mar,
Mesmo quando o céu é baço.
Prazo aceito; eu sigo aquém
Do delírio e quando vem
Bagunçando o meu coreto,
Desta forma reagindo
Vejo ao longe ressurgindo
Noutra forma, a de um soneto.

89

Aprender nunca é demais,
Mas saber da direção
Dos meus erros não virão
Traduzir em temporais
Quero a sorte e peço mais,
Mas cansado em promissão
Na verdade a revisão
Desalenta qualquer cais,
Sou deveras tal refugo,
E se tento ou mais verdugo
Presumindo o cadafalso,
Esperando a guilhotina
O meu passo não domina
E deveras nada calço.

90

A incerteza de quem sonha
A verdade de quem luta,
No final a sorte astuta
Pinta em tez dura e bisonha,
Revelando o que proponha
Mesmo até na força bruta,
A saudade não reluta
E deveras é medonha.
Aprendendo ou aprontando
Desde agora ou senão quando
Esta queda for maior,
Já não peço mais ajuda,
A incerteza carrancuda
Reconheço e sei de cor.

91

Violência e imprevisão
Bala solta e até perdida
Encontra morta a vida
Onde quis a precisão,
Movo o passo sem senão
E percebo a distraída
Caminhada sendo urdida
No final desta estação,
Preservando alguma messe
O meu sonho reconhece
O delírio de um poeta,
E se bebe até fartar
Salga as águas deste mar
Onde em lástimas repleta.

92

Reação em tom igual
Representa a fúria quando
Novo mundo desabando
Traz do velho este sinal,
Num instante triunfal
O demônio se assentando
Neste trono traz em bando
O sorriso ritual,
Vastidões em mim; procuro
E sabendo quão maduro
Este fruto em louco ardil,
Apressando a própria queda
O caminho onde envereda
Tal cenário já previu.

93

São meus sonhos causadores
Destes tantos ermos meus,
Entre dias mais ateus
Outros vários sonhadores,
E sequer sem mais te opores
Espalhando os velhos breus,
Tentativa em apogeus
Do cultivo de tais flores.
Cirzo em tom agrisalhado
0 meu canto desolado
Lado a lado com diverso,
Digerindo a paz enfim,
Bebo as cores do jardim,
E vomito tudo em verso.

94

São meus dias sempre iguais,
Restaurando algum sentido
Ou deixando neste olvido
Outros tantos funerais,
Quero a praia e perco o cais,
O meu barco desvalido,
Já não faz qualquer ruído
Tão puído em vendavais.
Preço caro a se pagar
Timoneiro teima em mar,
Rosa dos ventos nas mãos,
Mas depois de certo tempo
Tanta dor e contratempo
Sei que os sonhos serão vãos.

95

Nada além do pouco ou nada
Esboçasse esta verdade
Quando a vida se degrade
Prostitui a velha estrada,
Navegar nesta alvorada
Sem saber de porta ou grade
Nem tampouco quanto invade
Dos meus passos; nova estada.
Aliando assim ao quanto
O que teimo e me quebranto
Restituo os meus anseios,
E bebendo cada gole
Da incerteza que console
Adentrando os velhos veios.

96

Expressões aonde a fossa
Traduzira depressão
No passado a imprecisão
Meu presente agora adoça
Muito além do que inda possa
Ou entendo esta visão
Ou meus passos não terão
A incerteza que os destroça.
Da palhoça ou do castelo
O meu canto não revelo
Já cansado de lutar,
Visto, pois que nada entendo,
Quando quero sou remendo
Se eu consigo, sou luar.

97

Deste caos gerado quando
Percebera a mesma face
Onde o nada sempre trace
O diverso se moldando,
Remodelo o quanto brando
Fosse o dia que se passe
Noutro rumo e não embace
Novamente me nublando.
Sou assim, por vezes tento
Engrenar o pensamento
Onde existe a calmaria,
Mas que faço se concebo
Raro amor, mero placebo,
Ser feliz? É fantasia...

98

Quando resolutamente
Não soubera responder
O que tanto a se perder
Poderia novamente
Seguiria o que apresente
Com certeza a me envolver
Nestas tramas do prazer
Dominando corpo e mente.
Sou rascunho e mero esboço,
Mergulhando neste poço
Realçando esta ferida
Primavera? Já desprezo,
O que tento e teimo ileso,
Vasculhar o fim da vida.

99

Bebo até já não caber
Dentro em mim luar e sonho,
Se o meu mundo assim componho
Eu só tenho o que perder,
Resumir em desprazer
O que eu sei por si medonho,
Noutro fato mais bisonho
É deveras se embeber.
Ser ou não disperso sim
E singrar começo e fim
Desta estrada em curvas feita,
A minha alma neste ardil,
Presumindo, pois não viu,
Qualquer sonho que a deleita…

100

Terminando cada passo
Noutro passo até que possa
Conhecer a sorte, e nossa
Maravilha em novo espaço.
Realçando o que desfaço
Gero a sorte onde se apossa
Do caminho e nada roça
Senão velho e mesmo laço.
Lassos dias velhos termos,
Meus demônios seguem ermos,
Mas na espreita com sarcasmo,
Este prazo terminara
No final desta seara,
Mas persisto enquanto pasmo.

MARCOS LOURES FILHO
 
SONETOS FEITOS EM 27/07/2010

AMOR E AMIZADE

 
Amor ao conhecer, sabedoria
Trazendo o que o Budismo nos ensina,
E neste desenhar a cristalina
E mais suprema voz: filosofia,

Portanto em claridade se veria
O todo que se sabe e o que domina,
Assim a nossa história determina
E mostra o renovar a cada dia,

Enquanto dita amor e compaixão
Além da caridade, se verão
Bem mais do que se mostra noutra face,

E tendo o crescimento em amizade,
O quanto deste amor em paz invade
E a própria liberdade se mostrasse.
 
AMOR E AMIZADE

OUSAR OUTRO CAMINHO

 
A sorte que talvez não mais viesse
O vento leva o barco noutro rumo
E quando pouco a pouco em consumo
Encontro a dura, amara leda messe
E vejo que quem sabe se pudesse
Ousar noutro caminho. Mas sem prumo
Decerto a cada engodo me acostumo
E perco toda paz, tudo me esquece
E vejo tão somente o que deveras
A vida renegasse enquanto esperas
Ao menos um alento que não veio,
Mergulho no vazio da esperança
E tento acreditar quando se lança,
Meu passo sem saber qualquer receio.

2

Meu passo sem sentir o desafeto
De quem já não viera e se completo
Meu mundo no vazio sem sentido,
O canto noutro encanto resumido,
O farto desejar onde repleto
Minha alma neste tom quase deserto
Vivendo sem saber do quanto olvido
E bebo cada angústia repartido
Nos ermos de meu passo sem proveito
E quando após o tanto ora me deito
Vestindo esta ilusão de quem tentasse
Mostrar a realidade em nova face
E nada me orienta após a queda
E a própria porta agora o tempo veda.

3

Vedando cada estrada aonde um dia
Pudesse ter nas mãos o quanto quero,
O mundo se mostrasse tão sincero
Ou mesmo noutro tom, em covardia,
O tanto que pudera e não teria
E o verso se desenha aonde espero
A luta desdenhada aonde o fero
Caminho mata a leda fantasia.
Restauro com meus versos o meu mundo
E quando na verdade ora me inundo
Do tempo sem proveito e sem razão
O vento que tocando o meu telhado
Expressa do passado o seu recado
E nega os dias mansos que virão.

4

Os dias que se vendo após a porta
Jamais sei me trariam qualquer luz.
Preparo cada queda e se conduz
A luta que esperança em vão aborta,
O tempo noutro cais já não me importa
O ledo desenhar exprime a cruz
E vejo sem saber por onde pus
Meu passo nesta estrada atroz e morta.
Já não me caberia a decisão
E vejo sem temor a dimensão
Ferina da esperança em tom medonho,
Mas quando uma saída ora proponho
Os dias que eu bem sei não mudarão
Repetem cada anseio onde me enfronho.
 
OUSAR OUTRO CAMINHO

Estás em cada brilho de uma estrela

 
Estás em cada brilho de uma estrela
Reluzindo em fantástica magia.
Na mão que te acarinha a recebê-la,
Meu gesto mais suave de alegria.

Na noite que nos clama, quero vê-la,
Num misto de ilusão e fantasia.
Neste aconchego todo, minha bela,
A vida da maneira que eu queria...

Cintilantes delícias delicadas,
Refletem os meus sonhos mais risonhos.
As mãos que me acarinha, quais de fadas,

Nos olhos que me tocam, santidade,
Amor que repercute raros sonhos,
De ser feliz em plena liberdade...
 
Estás em cada brilho de uma estrela

MEU DESTINO

 
Quisera ter talvez algum momento
Em que pudesse a vida ter a paz,
E mesmo que pareça ser audaz,
Esteio de meu tolo pensamento,

Arcar com meus enganos; doce alento,
E me sinto por isto mais capaz,
Enquanto uma armadilha, o tempo paz,
Mantenho mais distante este tormento...

Cercado por diversas ilusões,
Ardis; quando os preparo dia a dia,
Envolvo meu viver nos turbilhões

Sonhando com a praia, longa espera
Por mais que a minha sorte eu não queria,
Dos meus caminhos todos, se apodera...

Marcos Loures
 
MEU DESTINO

Canteiro onde florindo esta verbena

 
Canteiro onde florindo esta verbena
Que tantas vezes quis e não sabia
Beleza em realidade e fantasia,
Moldando a raridade desta cena.

O laço feito amor, prendendo apena,
E causa no andarilho esta sangria,
Cigano coração, não poderia
Viver uma emoção completa e plena.

Montando na ilusão, seguindo errante,
Vagando por estrelas, o que faço?
Se tenho por limites este espaço

E forjo dos meus passos, caminhante
O etéreo vasculhando sem paragem,
Ao infinito sigo esta viagem...

Marcos Loures
 
Canteiro onde florindo esta verbena

HOMENAGEM A MARCOS COUTIN HO LOURES E A CARMITA LOURES COMEMORANDO TRINTA MIL SONETOS

 
Ela é flor da doçura e tão singela
Que, nada pede e não lhe falta nada!
Por ser assim, tão pura e recatada,
Dentre todas as santas, é a mais bela!

Se sofre, ninguém sabe pois, em cada
Momento de tristeza, sempre dela
Aflora uma oração e então, ao vê-la
Recolhida em seu canto, delicada,

Conversando com Deus (assim presumo)
Ela irradia a paz, só conhecida
De quem, da vida, sabe o exato rumo!

Esta mulher, enfim, é tão querida
Que, no seu nome, sinto que resumo
A mais santa mulher que vi na vida!

Seu nome,
Só podia ser Maria!
Maria, paz infinita,
Maria, também DO CARMO!
Do Carmo, também CARMITA!

MARCOS COUTINHO LOURES

1

“Ela é flor da doçura e tão singela”
Entranha-me o prazer só por poder
Estar no dia a dia e perceber
Que a plena santidade se revela.
Raríssima meiguice em mansidão
Sabendo caminhar entre espinheiros
Sorrisos tenros francos verdadeiros
Mostrando a mais segura direção
Aprendi tanta coisa nesta vida
Em meio aos arranhões, senões porquês
O quanto em falsos passos se desfez
O que jamais pensei em despedida,
Minha alma segue-a: eterna e rara estrela
E eu sou feliz somente por sabê-la!

2

“Que, nada pede e não lhe falta nada,”
Ensina que é possível ser feliz
Aonde o pedregulho contradiz
A sorte em suas mãos, iluminada.
Ao vê-la eu percebi; deveras, Deus
Assim ao percorrer tantas montanhas,
As horas doloridas, mais estranhas
Momentos preparados num adeus,
Podendo conceber a maravilha
De um cais onde pudesse ter enfim
O ancoradouro firme e de onde vim
Minha alma volta e meia em paz já trilha
Do todo que aprendi consigo eu sei
Amor feito em perdão: suprema lei!

3

“Por ser assim, tão pura e recatada,”
Transmite a transparência cristalina
Minha alma por sabê-la se fascina,
E encontra nos seus olhos a alvorada,
Assim eu conheci de perto a sorte
Na plenitude mansa de um olhar
E aprendo a cada dia mais amar
Sabendo deste bem que me conforte,
Enquanto a vida amarga em fel e medo
Palavra em mansidão aplaca a fúria
E mesmo que na vida em tanta incúria
Conhece o caminhar sem mais degredo
Um mundo sem corrente algema e grade
Na libertária força da humildade!

4

“Dentre todas as santas, é a mais bela,”
A calmaria vence os temporais
E tendo a limpidez destes cristais
Singrando mar revolto, firme vela,
E tanta vez eu pude conhecer
Inesgotável fonte de carinho
E quando sei que nunca irei sozinho
Conheço dentro em mim o amanhecer,
Pois mesmo tão distante em outra esfera
A vívida presença que me alcança
Gerindo com ternura uma esperança
E nela toda a glória que se espera.
Pudesse tê-la sempre sem adeus,
Porém; como sem anjos fica Deus?

5

“Se sofre, ninguém sabe, pois em cada”
Tormenta ensina sempre que há um porto
E quando me sentira tão absorto
Pensando no futuro, a tez fechada
Com sua mansidão no olhar mais doce
Uma palavra; ao menos, me dizia
E assim ao renovar minha alegria
Um bálsamo, deveras como fosse,
E tendo esta certeza de um momento
Aonde a vida encontra seu aporte
Ao me ensinar no amor, perdão, meu norte
Em pleno temporal eu me apascento,
Ouvindo a sua voz suave e mansa
Que mesmo hoje distante, inda me alcança.

6

“Momento de tristeza? sempre dela”
Palavra que permita novo sol,
O amor sendo na vida o meu farol
Descreve com primor superna tela,
E desta luz em forma de mulher
Eu aprendi a ter na claridade
Sobeja que decerto inda me invade
E enfrento a tempestade que vier.
Qual lua em noite imensa, sertaneja
Iluminando as trilhas de quem tenta
Vencer em calmaria uma tormenta,
Minha alma sem temor já se azuleja
E sei da eternidade em luzes tanta
Somente por sabê-la, bela e santa!

7

“Aflora uma oração e então, ao vê-la”
Rezando com seu terço, toda noite
Neste rosário a força contra o açoite
Qual fosse num deserto a guia/estrela
E quando muitas vezes em tropeços
Os dias em penumbras doloridos
Apuro num delírio meus ouvidos
E volto a minha vida aos seus começos
E sinto o seu sorriso junto a mim,
A sua voz macia e redentora,
Aquele que deveras fera fora,
Ao ver tanta doçura crê por fim
Na imensa santidade feita em luz
No amor que tanto guia e me conduz.

8

“Recolhida em seu canto, delicada,”
Presença que deveras não esqueço
O amor ao conhecer seu endereço
Percebe em suas mãos, como as de fada
A maciez e ao mesmo tempo o apoio
Que tanto ainda sinto; mesmo ausente
Carinho que decerto me apascente
Sabendo discernir trigo de joio,
E acima disto tudo, perdoar,
Nas horas mais difíceis é meu cais
Momentos tão sublimes, divinais
Na imensa claridade em luz solar,
As rosas, jasmins, lírios no canteiro
O amor eterno e puro: o verdadeiro!

9

“Conversando com Deus (assim presumo)”
Um anjo que se fez aqui, mulher
E ensinava a enfrentar o que vier
Mantendo com firmeza essência e sumo,
Assim como fizera a vida inteira
De todos os momentos, mãe e amiga
E nela esta beleza que se abriga
Da mais suprema luz, a mensageira.
Vencer as tempestades com ternura
As perdas naturais, saber vencê-las
E quando se percebem mais estrelas
O céu se engrandecendo em tal moldura,
Ao conhecer de perto tanto afeto,
Jesus com seu cordeiro predileto!

10

“Ela irradia a paz, só conhecida”
De quem com Deus conhece o Seu caminho
E quando desta luz em me avizinho
Renovo com certeza a minha vida.
E tendo a cada passo esta certeza
Não temo mais as dores nem a morte,
Sabendo ser tão claro este suporte,
Uma haste em redenção traz a firmeza
A quem ao se embrenhar em noite escura
Depois de tantas lutas vida afora
Enfrenta a fera imensa que devera
Nem mesmo a fúria insana me tortura,
Encontro do passado a claridade
Que mesmo tão distante é forte e invade.

11

“De quem, da vida, sabe o exato rumo”
E tem total controle do timão,
Por mais que estas borrascas se farão
Presentes, com seu braço eu já me aprumo
E sei do caminhar em pedregulhos,
Sem ira, sem cobiça ou vaidade
Sem nada que deveras me degrade
Tampouco me tomando os vis orgulhos,
Eu tenho em meu olhar belo horizonte
E mesmo se brumosa esta manhã
A vida não se mostra nunca vã
Ao ver esta beleza que desponte
Qual fora eterno sol ao me guiar
Com toda a mansidão deste luar...

12

“Esta mulher, enfim, é tão querida”
E tanto me faz bem só por poder
Dizer do quanto existe no meu ser
Daquela que se fez em despedida,
Mas nunca se ausentando dos meus olhos,
Na paz e na completa sensação
De ter no alvorecer a direção
Jardim pleno de rosas, sem abrolhos,
Assim ao me lembrar quando menino
Das belas tardes, noites, dias, luz...
O amor que em tanto amor se reproduz
Gerando este cenário e eu me fascino
Somente por poder ter sido enfim,
Mais uma rosa viva em seu jardim.

13

“Que, no seu nome, sinto que resumo”
A mágica beleza em humildade,
Vencendo com ternura o que degrade
E traça com doçura o sacro rumo,
Alvissareira a vida de quem ama
E sabe perdoar, isso aprendi
E trago sempre vivo, pois aqui
Daquela que se foi mantenho a chama
E chamo vez em quando por seu nome
Durante os meus tormentos tão freqüentes
Os dias que virão iridescentes
A fera dentro em mim que o amor já dome
E faça da tempesta a calmaria
Clamando por meu norte que é Maria.

14

“A mais santa mulher que vi na vida”
Razão destes meus versos e se vê
Na imensidade azul o seu por que
De tantos labirintos, a saída
A sorte foi comigo benfazeja
E pude conhecer assim de perto
Quem tendo um horizonte sempre aberto
Mesmo que tão distante inda azuleja
O rumo deste que se fez poeta
E quando a vida corta e sangra; eu tenho
Divina imagem feita em manso cenho
E toda este caminho se completa
Naquela a quem se fez sobejo mote
E assim encerro aqui neste estrambote:

“Seu nome,
Só podia ser Maria!
Maria, paz infinita,
Maria, também DO CARMO!
Do Carmo, também CARMITA!”

MARCOS LOURES
 
HOMENAGEM A MARCOS COUTIN HO LOURES E A CARMITA LOURES COMEMORANDO TRINTA MIL SONETOS

A POESIA

 
Fazer da poesia imensa ponte
Que leve-me ao fantástico ideal,
Deixando para trás o que é real,
Abrindo num segundo, este horizonte.

Usando da emoção, como uma fonte,
Traçando um novo tempo; um ritual,
Que seja vencedor e triunfal,
Aonde o amanhecer sempre desponte

Trazendo o sol que tanto nos aquece,
A poesia é como a bela prece,
Unindo-nos ao Deus maravilhoso.

Versando sobre sonho e realidade,
Traçando a dor e até felicidade,
Permite-nos sofrer com próprio gozo...

Marcos Loures
 
A POESIA

Tem pena de mim, louco e insensato

 
Tem pena de mim, louco e insensato
Que vago sem destino pela vida,
Teimando ser feliz, bebo o regato,
Na sorte muitas vezes dividida,
Comendo da esperança o raro prato,
A porta dos desejos sem saída...

Seria do poeta destino e sina?
Sonhar com impossíveis caminhares,
A mão que acaricia e que fascina
Destrói já sonegando os meus altares,
Por onde começar se o fim destina
As luzes que sonhei de teus luares?

Acordo e nada tendo, não discuto,
Eterna sensação de amargo luto...

Marcos Loures
 
Tem pena de mim, louco e insensato

SONETOS FEITOS EM 29/07/2010

 
001

A minha poesia me sustenta
No que mais de importância existe em vida
No sonho, na beleza construída
Apascentando mesmo em violenta
Esfera aonde o dia se apresenta,
Embora muitas vezes mais sofrida,
Ao ver esta palavra consumida
Na entranha de minha alma virulenta,
Eu sinto a liberdade em minhas mãos
Cevando até nos vastos, duros chãos
Nubente da ilusão neste himeneu
Meu canto em versos feito me liberta
E tendo esta certeza, a porta aberta
Resgata o quanto em vida se perdeu.

002

Do que mais necessito pra viver
O sonho se traduz em base e rumo,
Ao mesmo tempo quando eu me consumo,
Da dor e da loucura, algum prazer,
Tecendo com palavras o meu ser
Por vezes numa praia em vão me escumo,
Mas logo reanimo e tomo o prumo,
No mar que se dá mesmo a conhecer,
Seara tão fantástica e superna,
Enquanto a poesia for eterna
Também o sonho existe e nada o cala,
De tantas fantasias, os meus versos
Porquanto até nos cantos mais dispersos
Permitem com ternura dor e gala.

003

Quando busco dessa água, alma se entrega
E ri como se fosse algum infante,
O quanto da palavra é radiante
Durante a caminhada, mesmo cega,
O rumo aonde o sonho ora navega
Mudando a cada frase, num instante,
O pouco que a verdade me garante
Enquanto a fantasia além trafega,
Ousar e criar asas, no infinito,
E assim até no nada eu acredito
Tentando recriar o já criado,
Lacaio da ilusão, nada acorrenta
A vida de quem foge da tormenta
E singra no futuro o seu passado.

004

Sacia sua sede inesgotável
Quem ousa imaginar novo cenário,
Além do costumeiro itinerário
Um passo no infinito, no intocável,
O canto se mostrando mais arável
E nele o meu delírio, este corsário
Saqueia um inimigo imaginário
E passa noutro instante a ser amável,
Expresso com palavras o que eu sinto
E minto ao proteger o semi extinto
Desejo de uma nova vida em mim,
E quando a liberdade toma a cena,
A vida se envenena, mas serena
Acende imponderável estopim.

005

Na fonte maviosa e cristalina
Que a vida muitas vezes se encarrega
De ter ou não fazer a farta entrega
No quanto se permite e determina,
Uma alma quase mesmo feminina,
Tangenciando a dor onde carrega
A sorte desdenhosa e quase cega,
Mas assim dolorida se ilumina.
Arcar com meus desejos mais atrozes
Ouvir destas entranhas firmes vozes
Cercando com palavras dia a dia,
Usando da cadência destes versos
Ousando em momentos mais diversos
Cevando a cada instante a poesia.

006

Que só na poesia surge agora
A solução aonde procurada
E tantas vezes dita o mesmo nada
No qual a fonte seca e o vão devora
O quanto do não ser já me apavora,
Regendo com firmeza a leda estrada,
O dia se transforma em alvorada
A noite em lua clara se decora,
Mas quando apresentando nas brumosas
Manhãs as horas turvas, também gozas
Diversidade traz a cada passo,
E assim (asas abertas) sigo em frente
E o canto me permite que eu freqüente
Além do mero e escasso, vago espaço.

007

Quanto mais vou faminto, mais preciso,
E tento a cada instante outro caminho,
Porquanto em mais nenhum ali me aninho
A vida se acumula em prejuízo,
Mas sei do passo além e se conciso
Enfrenta com a paz o mar daninho,
E sente na pureza de um espinho
O quanto na defesa me matizo.
Acrescentar ao sonho esta crisálida
Porquanto a sorte às vezes quase esquálida
Inválida semente? Nunca. O sonho
É mais do que eu anseio e se vislumbra,
Luzeiro sem igual toma a penumbra,
E um novo e radiante sol; componho.

008

Desse maravilhoso, bel repasto,
Ousando a cada fato ou mesmo crença
Não tendo quem deveras me convença
Do mundo mais alheio ou mesmo gasto,
O quanto da verdade eu já me afasto
E tento imaginar seara imensa
E nela cada passo em recompensa
Por vezes mais profano e noutras casto
Escandalizo ou mesmo sou banal
No verso o meu destino desigual
Pintando em multicores a minha alma,
Espelho d’água toma cada verso
E nele o meu reflexo segue imerso
E a fúria provocada ora me acalma.

009

É pão, e deste tanto como e até
Procuro novamente aonde eu possa
Ousar além da queda e mera fossa
Tentando caminhar desnudo a fé,
E quando me aproximo sigo a pé
Esparso caminheiro já se apossa
Da plena solidão quando me endossa
Tal qual da cordilheira o seu sopé.
Esplêndido cenário se observando
Num mundo desabando desde quando
O sonho não sacia quem se dá
E sinto o meu caminho desde já
Noutro cenário às vezes mais cruel,
Gerando e percorrendo o imenso véu.

010

Afastando o temor procuro um canto
Aonde descansar após o gládio
E sei da pequenez de cada estádio
Gerado pela dor e desencanto.
O sonho na medida enquanto invade-o
Produz o que deveras não garanto
E quando se anuncia a dor e o pranto
É como se inda ouvisse o velho rádio,
E dele discernisse voz confusa
Enquanto o dia a dia se entrecruza
E nega o quanto o julgo paralelo,
E assim ao me mostrar inteiramente
Assusto, mas também já se pressente
Além do que deveras te revelo.

11

De sentir, madrugada afora a luz
Que emanas quando em sonhos mais audazes
E assim ao perceber quanto me trazes
Imagem noutra imagem reproduz,
A velha ansiedade em contraluz
Os passos mais felizes, belas frases,
E o risco de viver entre os mordazes
Delírios quando a sorte dita a cruz.
Renasço nos teus braços e me vejo
Além de meramente algum desejo
Um prisioneiro em pleno paraíso,
E assim das tantas fontes e holofotes
Aonde com ternura tu denotes
No mesmo claro instante eu me matizo.

12

Poesia-banquete há tantos anos
Vencendo os preconceitos mais banais
Gerando estes momentos triunfais
E mesmo quando puem fartos panos,
Os dias sobrepujam aos vis danos
E seguem mesmo após os vendavais
Já tanto preparam funerais
E a poesia em ares soberanos.
Uma iguaria rara e se presume
Além da magnitude de algum cume,
Fazendo da palavra o seu cinzel,
Poeta ousa mesmo em tecer telas
E nelas os delírios que revelas
Transcendem ao superno e etéreo céu.

13

Ar que respiro, base para a vida,
O sonho não se cala e nem consente
Ainda que deveras já se tente
Realidade nele vê saída,
E quando a face escusa é sempre urdida
E o passo se tornara inconseqüente
No vasto deste campo a vida sente
E bebe sem pensar em despedida,
Atravessar fronteiras, tempo/espaço
E assim o novo em mim decerto eu traço
Lavrando com cuidado, este campônio
Audaz e ao mesmo tempo frágil, pois
Tentando adivinhar o que há depois
Matando a cada verso outro demônio.

14

Sem ela; a poesia, eu me sufoco
E tento imaginar a solução
Seguindo meu caminho desde então
Ousando mergulhar até in loco,
E sei do quanto posso e me provoco
Gerando após o verso a precisão
De tempos que inda mesmo não virão
E até neste vazio eu me desloco,
Esgarço e renascendo após a queda
O passo no futuro o tempo seda
E gerencio enfim o que jamais
Pudera imaginar ou mesmo ter
A poesia emana este poder
De gerar calmaria em temporais.

15

Força mantenedora da esperança
O sonho é necessário e dele eu bebo
Porquanto mesmo sendo algum placebo
Permite cada passo onde se avança
E gera após a queda a confiança
E tanta luz assim sorvo e recebo
E quanto mais liberto eu me percebo
Neste apogeu a vida em aliança;
Maturidade enquanto traz o outono
A vida em tons diversos se matiza
E a poesia assim já pereniza
E tenta ultrapassar ao próprio abono
E gesta o meu inverno em mansidão
Ou mesmo renascendo outro verão.

16

Nos meus versos, amores e carícias
E ao mesmo tempo dores, perdição,
A vida vê na vida a solução
E sabe das diversas vãs notícias
E quando muitas vezes em sevícias
Os ares se transformam, ilusão.
Os cantos se aproximam e trarão
Diversas magnitudes em delícias.
Assim ao me entregar ao sonho eu creio
No quanto dos meus medos siga alheio
Sobejamente o tempo se anuncia,
Acalentando a messe aonde um dia
O tempo se mostrara mais instável
Na poesia o sonho é sustentável.

17

Eu pergunto-te então, como seria,
A vida de quem tenta acreditar
Sem ter onde deveras se apoiar
Perdendo a correnteza dia a dia,
E tantas vezes vendo esta sombria
Loucura noutro fato a se moldar
Gestando dentro em mim um raro altar
Enquanto se prepara em heresia,
A sórdida presença, a redenção
Os dias mais doridos que virão
E esta bonança em sonhos delicados,
Se eu sou ou não feliz, já pouco importa,
O verso abre o caminho e sem a porta
Os dias bem mais plenos desnudados.

18

Se não houvesse enfim o sonho, a vida
Seria de tal forma insuportável
Jamais algum terreno então arável
A dor sem direção nem mais saída.
Uma alma mais venal embrutecida
Também deseja o belo, e mais notável
Caminho entre tanto imaginável
Seara pelo encanto; percebida,
As deusas e os cometas, meus parceiros
Em versos ou nos sonhos costumeiros
Preparam novas asas e me dão
Além num quixotesco, mas liberto
Delírio a própria vida ora deserto
E atinjo num segundo esta amplidão.

19

Vieste, em favor divino
Para quem tanto te quis
Coração já por um triz
Nas entranhas do destino,
Mas agora esmeraldino
Caminhar em raro bis,
O delírio tanto diz
Do que agora mal domino,
E talvez melhor assim,
Entranhar o bom em mim
Desvendando cada passo,
Onde o mundo se alimente
Deste sonho onde envolvente
Nova cena além eu traço.

20

Para um velho sonhador,
Que se fez além de tudo
No caminho onde transmudo
Passo feito em raro amor,
O meu canto trama a flor
E se tanto não me iludo,
Na verdade enfim me mudo
Para além da própria dor.
Esboçar um novo dia
Onde tanto poderia
E talvez já não quisesse,
Mas amor tanto redime
E decreta a mais sublime
Devoção sobeja em prece.

21

Na fumaça do cigarro
Jogo além minha esperança
E se quando a vida alcança
O cenário onde me agarro,
Da saudade tiro um sarro
E ao vazio o passo lança
Ao traçar esta aliança
Nela todo dia esbarro,
E o meu canto mais tranqüilo
Nele o sonho; em paz, desfilo
Desenhando com firmeza
Cada cena representa
O final desta tormenta
Aplacando a correnteza.

22

Tanto quanto a vida tece
Em palavras, gestos medos
Entre vários arremedos
Outro passo se obedece
E gerando o quanto esquece
Noutros dias quase ledos
Enveredo por enredos
Onde a vida busca a messe,
E não fosse desta forma
O caminho nos transforma
E redime qualquer queda,
Antevejo o fim da história
Bebo a sorte merencória
Quando o sonho além se veda.

23

Quando o rumo não se vendo
Noutra estrada em afluência,
A maior clarividência
Gera apenas este emendo,
O meu tanto percebendo
Claramente esta anuência
O temor de uma impotência
Gera o medo mais horrendo.
Revitalizar o sonho,
Na verdade o que proponho
E desvendo em todo engodo,
Movediço solo aonde
O meu mundo agora esconde
E transpassa então tal lodo.

24

Das ausentes claridades
Onde o mundo quis bem mais,
Outra sorte onde jamais
Com certeza ainda invades,
No final as qualidades
Expressões fenomenais
Entre tantas, tão normais
Jorram frágeis claridades,
Libertário sonhador
O poeta diz da flor
Com essência bem diversa
Da que a vida traça quando
Outra vida ali gerando
Num etéreo passo versa.

25

Apresento a cada instante
O que tanto aprendi quando
O meu canto resvalando
No caminho aonde encante
Com ternura um provocante
Delirar ora tomando
Quem deseja novo bando
Ou mergulha em diamante;
Resumindo o fato assim,
Abissais encontro em mim
E desvendo o meu segredo
Quando à lua sem defesas
Envolvido em tais clarezas
Noite em paz, eu me concedo.

26

Digo a todos em bom dia
O que o coração lamenta
A verdade me alimenta
Somente ela livraria
Quem da mansa poesia
Enfrenta a violenta
Decisão onde se tenta
Revelar o que podia
Coração em ledo sonho
Mesmo quando mais risonho
Não tem mais juízo algum,
E se tanto quero além
No final o que inda vem,
Traduzindo por nenhum.

27

Caminhando sem patrão
Sem paragem vida afora
O luar quando decora
Trago em mim esta emoção
E tomando a direção
Desta vida vou embora
Na incerteza que devora
Outros tempos não virão,
Esquecido nalgum canto
Bebo a sorte em desencanto
E procuro algum sinal
Do que tanto desejava,
Mas a vida em tanta trava
Nada deixa no final.

28

O meu peito esta mobília
Da emoção envolta em luz,
Quantas vezes eu me pus
Nos delírios de família,
A verdade não traduz
O que esta alma maltrapilha
Por vontade já não trilha
O desejo é que a conduz,
Sendo assim o mais distante
Apresento neste instante
Onde a vida se faz tanta,
E o meu passo se adiante
E mostrando galopante
A canção que esta alma canta.

29

Há tanto que aqui cheguei
Na procura de quem quero
O meu canto mais sincero
Transformando o sonho em lei,
E se o rumo; agora errei
Na vontade o quanto espero
De quem teimo enquanto gero
O desejo onde eu criei,
Venço os medos e percorro
Sem um verso por socorro
As veredas de um amor,
Onde a vida não traduz
E sequer sabe da luz
Noutra luz a se propor.

30

A cidade, a capital
O meu canto de um roceiro
Coração aventureiro
Busca ali amor igual,
Na verdade é sempre igual
Já não tendo mais canteiro
O meu sonho derradeiro
Não percebe o meu final,
Venço os medos, mas sozinho
Cantoria vira espinho
Madrugada à bala e medo,
O luar já se escondeu
E o que um dia fora meu
Noutro rumo não procedo.

31

O meu canto em serenata
No sertão da minha terra,
A vontade logo encerra
O que o coração maltrata,
No sorriso desta ingrata
A verdade se desterra,
Olho além e vejo a serra
Inda cheia em plena mata,
Lua vendo esta beleza
Derramando uma clareza
Onde havia escuridão,
Mas calado resta o peito
De quem ama deste jeito
Só restando o violão.

32

Já não vou nem me gabar
Das histórias que inda trago
De outros tempos, pois afago
Dentro em mim qualquer luar,
E sem ter sequer lugar
Onde o sonho doce e mago
Procurando um manso lago
Pra mineiro fosse o mar,
Esbarrando na aridez
Do meu canto onde se fez
Solitário sabiá,
O meu dia se perdendo,
O meu peito agora horrendo
Sei que nunca cantará.

33

O meu canto verdadeiro
Trovador e repentista
Quando o sonho mais assista
Acordando o violeiro
Enfrentando o mundo inteiro
Com certeza não desista
Mesmo quando não se avista
O luar deste canteiro.
Vestimenta de poeta
No luar já se completa
E traduz a claridade,
Mas sozinho sem ninguém
A minha alma nunca tem
Nem sequer quem mais a agrade.

34

Do sertão lá das Gerais
Onde um dia quis a sorte
Do carinho que conforte
E não tive nunca mais,
O meu canto em temporais
No meu peito bate forte
A saudade não suporte
Quem procura os seus cristais,
Em verdade eu reconheço
Cada passo outro tropeço
E a viola se calando,
Meu amor é mais que tudo
E se assim eu não me iludo
Não pergunto aonde e quando.

35

Quando falo em minha terra
O meu peito enche em luz
E o meu passo reproduz
O que o coração descerra,
Novamente o peito encerra
O cenário que o produz,
E cansado desta cruz
A saudade volta e berra,
Cantador sem esperança
A minha alma já se cansa
De querer sem ser amada,
E vagando a noite fria
Sem saber da cantoria
Volta sempre abandonada.

36

Aonde toa a viola
E se faz felicidade
O meu sonho logo invade
E a saudade já me assola,
Pensamento enfim decola
E procura na cidade
Um sinal, tranqüilidade
Libertado da gaiola
O meu peito passarinho
Já não quer ser mais sozinho
E se aninha aonde quer,
Nos olhares mais bonitos
Percorrendo os infinitos
Dos anseios da mulher.

37

Já não vejo nascer dia
Onde quis antigamente
Um caminho mais contente
Feito em luz e em alegria,
O meu canto não sabia
Coração decerto mente
E se planta esta semente
Rega sempre em fantasia,
Pois senão a vida leva
E trazendo então a treva
Solidão tomando tudo,
Mas meu peito não se cansa
E procura uma esperança
Onde quero e enfim me iludo.

38

O gemido mais chorado
E quem tanto quis amor
E sem ter o seu calor
No final foi derrotado,
O meu canto desolado
No canteiro sem a flor,
E sem ter aonde pôr
Sigo assim velho e cansado,
Resumindo o canto em sonho,
O meu mundo eu já proponho
A quem tanto eu quero bem,
No final a noite volta,
Coração traz a revolta
De quem sabe ninguém vem.

39

A nascente deste rio
Fonte sempre cristalina
Traz no olhar desta menina
O que tanto desafio,
O meu canto acerta o fio
E a vontade determina
O calor que nos domina
E um lugar em paz eu crio.
Sinto a voz mais empolgada
De quem sabe a madrugada
Na viola de quem ama,
O luar deitando o claro
O meu sonho em paz; declaro
Seu olhar acende a chama.

40

Da semente cultivada
Com amor e com carinho
Nasce a flor e nasce espinho,
Outra vida revelada,
Ao buscar na madrugada
Nos teus braços o meu ninho,
Quem se fez sempre sozinho,
Encontrando a sua estrada,
O luar dentro do peito
Quando ali, contigo deito
Claridade toma o quarto,
De manhã o sol imenso,
No teu corpo ainda penso,
Deste amor jamais me farto.

41

O meu peito prometia
Novo sol em lua cheia
A vontade me rodeia
E trazendo esta alegria
Bebo cada fantasia
Onde a sorte não se anseia
Vou tecendo então a teia
Nela enfim me prenderia,
Venço os dias mais doídos
E meus cantos esquecidos
Nas promessas mais sutis,
Onde tanto amor eu quis
No final a solidão
Tange as cordas, coração.

42

Quando o amor ainda crê
Neste sonho mais feliz,
O meu mundo nada quis
Minha vida sem por que
No casebre de sapê
Onde o canto em paz eu fiz
Não ouvindo por um triz
O meu peito não mais vê
Quem se fez a inspiração
Do plangente violão
E do peito enamorado,
Minha noite sem luar
Como é duro caminhar
Sem ninguém sempre ao meu lado.

43

Já não faz conta das horas
Quem no coração se esquece
Deste amor que é feito em prece
E no sonho me decoras,
Sem saber das tais demoras
Nem do sonho onde se tece
Minha vida se enlouquece
Quando perde assim escoras.
E no fundo do meu peito
Solidão quando eu me deito
Derramando numa enchente
Tanta mágoa do passado,
Deste dia desolado
Novo dia se apresente.

44

Ao pensar nesta incerteza
Do meu sonho em lua e sol,
Busco em ti o meu farol,
Dos teus sonhos sou a presa
Coração com tal destreza
Toma este arrebol,
E o meu canto, um girassol
Procurando esta beleza
Feita em luz e claridade,
Que decerto quando invade
Entornando em mim a glória
No riacho da saudade
Água farta em qualidade,
Não me larga na memória.

45

Um caboclo sonhador
Não se cansa de tentar
Encontrar quem tanto amar
Já não trague medo e dor,
Num caminho sem se opor
Bebe tanto a se fartar
Das belezas do lugar,
Canta o peito trovador,
Mas se chega uma saudade
E o meu passo se degrade,
O meu rumo eu já perdi,
Tudo aquilo que eu procuro,
Mesmo tendo o céu escuro
Encontrei amor em ti.

46

Muito pelo contrário eu quero a sorte
Que tantas vezes teima em não fulgir
E quando vejo o tempo a dividir
Meu canto na verdade sem suporte,
Não vejo e nem decerto verei norte
Vagando sem saber deste elixir
Do amor que tanto quero e ao te pedir
Não posso em solidão, ser nobre e forte,
Resumos de promessas onde um dia
Deitando dentro em mim esta alegria
Gerara tão somente a solidão,
Do todo que decerto eu poderia
O medo se apresenta e não traria
Senão caminho tosco, rude e vão.

47

Supunha indiferente quem um dia
Vestida de ilusões não mais viera,
E o tempo se perdendo a cada espera
O nada na verdade mostraria
O quanto se deseja em fantasia
E o caminhar desvenda ali a fera
Atocaiada e brusca, destempera
Marcando o meu caminho com sangria,
A voz de uma sofrível emoção
Perdendo novos rumos que trarão
Ao velho caminhante, apenas paz,
Meu canto se transforma em tal tristeza
E a vida acompanhando a correnteza
A cada nova curva é mais voraz.

48

Adentra o coração de um sonhador
A pálida promessa de outra vida,
E quando a sorte a vejo aquém urdida
O que resta somente é dissabor
Semente sonegando qualquer flor,
A manta há tanto tempo destruída,
O corte se aprofunda e a despedida
Aos poucos noutro rumo a se compor,
Deste estuário torpe, solitário,
O canto tão sutil de algum canário
Já não se escuta mais, somente ecoa
A voz de quem sofrendo diz lamento
E assim neste terror não me apascento
O barco se adernando, inútil proa.

49

O quanto se é decente o amor enquanto
Traduz felicidade e confiança
A vida neste instante ali se lança
E mata qualquer dor, temor quebranto
O passo noutro rumo eu adianto
E bebo com ternura esta esperança
De um dia mais feliz em temperança
Tramando em tal brandura novo canto,
Espreito cada passo aonde eu possa
Pensar na vida imensa sendo nossa
E nada mais cerzindo senão isto
O cálice que o tempo traduzisse
Além desta tortura em vã mesmice
Razões para sonhar, e assim resisto.

50

Pintando com severas cores vejo
O sonho desolado de um poeta,
Aonde a solidão não diz da meta
Nem mesmo traduzisse algum desejo,
E quando se percebe noutro ensejo
A vida que na vida se repleta
O todo se apresenta e desta seta
O amor entranha além do que prevejo.
Revelo com ternura este desenho
E quantas vezes; tento e mesmo venho
Atrás da imaginária fantasia,
Que há tanto anunciada não continha
A sorte sendo ausente e jamais minha
A morte com certeza não se adia.

51

Parece-me impossível caminhar
Sem ter a mesma força que se vira
Além do que desenha uma mentira
Quem sabe algum nuance do sonhar.
Encontro a cada passo este lugar
Aonde o caminho já se atira
E bebe da certeza onde prefira
O canto se mostrando a divagar,
Vencer as intempéries costumeiras
E crer que na verdade tu me queiras
E tenha a cada passo esta certeza,
Da vida noutra vida resumindo
Um tempo abençoado, calmo e lindo
Seguindo com ternura a correnteza.

52

Se a vida consentisse novo rumo
A quem se fez ausente da esperança
O passo noutro tanto agora avança
E sei quanto deveras me acostumo
E neste navegar acerto o prumo,
Vencendo a mais dorida e fria lança
Com toda esta ternura e com pujança
Ao longe do vazio não me esfumo,
Escuto a voz do mar e nisto eu vejo
Além da imensidão, raro azulejo
O tanto que a Natura se oferece,
E traz a redenção de quem procura
Das dores e temores mansa cura
É como a louvação em bela prece.

53

Só peço não me ocultes este passo
Aonde a vida trama nova senda,
E quando a realidade já se estenda
Além deste caminho duro e baço,
Resumo o meu sonhar a cada espaço
E nele com certeza além desvenda
O manto que o caminho traz por prenda
Depois de tanto tempo em vão cansaço,
Resulto deste encanto quando tento
Beber a claridade e num alento
Vestir a fantasia de quem ama,
Mantendo com ternura esta emoção
Os dias mais felizes mostrarão
O quanto se eterniza em nós a chama.

54

Nada do que te disse a vida em guerras
Traduz o meu anseio mais audaz,
O amor quando no amor em luz se faz
Desvenda a maravilha onde descerras
Sobejas ilusões tomando as terras,
O canto se mostrara pertinaz,
Enquanto a realidade se desfaz
E o pranto noutro intento logo enterras.
Vasculho cada ponto e te anuncio
O quanto deste amor em desafio
Permite novamente ao velho, o dia.
E aonde se pensara em duro inverno
Encanto sem igual, suave e terno,
De novo neste tanto se veria.

55

Ouvindo da senhora a voz suave
E disto me fazendo tão somente
Aquele que se mostra plenamente
E nega qualquer dor que ainda entrave,
O manto consagrado diz desta ave
Vagando pelos céus, incontinente
E a cada novo fato se apresente
Brandura neste dia outrora grave.
Resisto aos dissabores e ciúmes
E quando além dos mares, também rumes
Navego pareado junto a ti,
Cerzindo muito além deste horizonte
O sol quando sobejo nos aponte
O quanto em tais raios percebi.

56

Sinceramente a digo neste verso
Das tão supernas noites onde eu pude
Reacender em paz a juventude
Aonde cada dia não disperso
Nos antros mais suaves vou imerso
E bebo assim enfim a magnitude
Não deixo qualquer luz que em vão ilude
Vagando a cada instante este universo.
Ecléticos momentos do passado
Um sonho tão somente desejado
O risco de um naufrágio a cada instante,
E o marco traduzindo em tanta messe
Do amargo desvario a vida tece
Um dia sem igual, tão fascinante

57

Enquanto tu não amas o que trago
Demarco com angústias os meus cantos
E gero novamente os ledos prantos
Na busca insaciável por afago,
Retiro o meu caminho e se me alago
Os ermos na verdade são quebrantos
E os dias onde a quis, se foram tantos
Prenunciando um raro canto, mago.
Expresso em poesia o quanto a vida
Transcende à dor atroz tanto temida,
Numa expressão aonde se esperança
E sinto a cada dia bem mais forte,
E quando a confiança diz aporte
O olhar antes calado traz pujança.

58

Tanto estima o perigo quem se dá
Sem nada mais sentir além da espera
E a vida noutro fato não tempera
O sol que na verdade não virá,
E sinto este temor e desde já
Marcando a cada passo esta quimera,
O manto se denigre aonde a fera
Decerto num momento saltará,
Restando do meu sonho, quase nada,
O fátuo caminhar marcando a estada
Prediz ausência quando mais queria
Seguir em força e fúria o dia a dia,
Gerando dentro em nós esta alvorada
Que além do próprio sol nos tomaria.

59

Se na tua alma vejo refletida
Especular imagem desta que
Ao menos te encontrando sabe e vê
A sorte tantas vezes esquecida,
Reinando sem temores sobre a vida,
O marco demonstrando onde se crê
No amor quando a verdade, pois revê
A paz que um dia vira vã, perdida.
Alvoroçando assim o dia quando
O tempo noutro rumo se tomando,
Pudesse saciar cada vontade,
A força geratriz de quem mais sonha
Permite uma alegria onde risonha
A messe de viver tomando invade.

60

Sentira estes sinais aonde há tanto
Meu barco poderia imaginar
Um cais bem mais tranqüilo e se ancorar
Nas ânsias deste sonho em raro canto,
Bebendo cada gole já me encanto
E brindo à raridade deste mar,
Imenso e num sobejo azulejar
Deitado sob o céu, um claro manto.
E vejo na amplidão que agora sinto
O amor como se fosse além do instinto
Iridescente senda a nos tocar,
Eflúvios delicados da emoção
Permitem antever que inda virão
Momentos sem igual, vida em par.

61

O mundo por preceito dita as leis
E quando se mostrassem mais cruéis
Vagando sem destino carrosséis
Gerando o que deveras não vereis,
O quanto percebeste e sabereis
Percorre o pensamento quais tropéis
E neles os meus dias em seus papéis
Redimem o que tanto não tereis.
Expressos entre noites solitárias
Vagões, locomotiva, escuridão,
O marco se transforma em solução
Imerso em tantas horas temerárias
E quando se aproxima o novo dia,
A velha norma o tempo esqueceria.

62

O quanto corresponde ao tanto eu quis
Cerzir com a palavra em tais momentos
E neles bebo enfim os meus alentos
Regendo um caminhante mais feliz,
O passo noutro rumo outrora gris
Trouxera tão somente sofrimentos
E quando realçando os pensamentos
Um novo amanhecer em paz eu fiz,
Resulto deste fato e não sonego
A vida se aproxima e num nó cego
Transgride o que pudera ser vital,
O velho timoneiro encontra um cais
Das brumas e dos medos virtuais
Encontra o que procura no final.

63

Que bom se houve decerto um belo dia
Após as tempestades de uma vida
Há tanto noutra face destruída
E agora tão somente ressurgia
Gerando dentro em nós a poesia
Por vezes desejada e consumida
No quanto se percebe sendo urdida
Numa expressão suave em calmaria,
Verdugos do passado, nunca mais,
Os dias entre tantos divinais
Expressam realidades mais felizes,
E nelas entranhando cada verso
Espalho minha voz quando disperso
Tomando em claridade estes matizes.

64

Ambos são dignos deste sonho além
De um mero caminhar por sobre espinhos
E quando os dias fossem mais daninhos
A poesia em paz imensa vem,
E nada com certeza; ali detém
O passo rumo aos novos belos ninhos
Após os dias tétricos, mesquinhos
A vida nova face agora tem,
E o canto se tornando quase um hino
E nele a sorte em mim; já determino
Galgando a cordilheira da esperança
E o passo sem sequer ter um percalço
Enquanto esta emoção imensa eu alço
Meu rumo para o teu em paz se avança.

65

Do sangue mais fiel onde eu pudera
Erguer um raro brinde à fantasia,
O tanto quanto ilude ou mais queria
Gestando dentro em nós a imensa fera
Depois do desafeto, destempera
A vida noutra imensa alegoria
E o quanto mais tentara em alegria
Marcando com fineza esta quimera,
Aprazo-me ao sentir em ti a messe
Do sonho quando em sonho; sonho tece
E transcendendo à noite, neste albor
Iridescente toma este arrebol,
E gera muito além do próprio sol
Na clara providência de um amor.

66

No ilustre caminhar por onde o sonho
Adentra e nos conquista passo a passo
O quanto do destino assim enlaço
E tramo novo dia aonde o ponho
E sei do meu caminho e não me oponho
Mesmo quando se vê no olhar cansaço
A vida ocupa em paz o imenso espaço
De um dia tão cruel quanto enfadonho,
E gera noutro encanto esta promessa
Do amor que na verdade se confessa
No olhar extasiado, em voz serena,
E quando nada aquieta o coração
Bebendo destas sortes que virão
A vida se desnuda, agora é plena.

67

Olhos quaisquer nos fazem sonhadores
Se neles há reflexos de momentos
Aonde se bebendo calmos ventos
Prenunciando o dia enquanto fores,
Cevando com carinho tantas flores
E delas os diversos, bons alentos
O mundo anunciado em sofrimentos
Transcende aos mais doridos dissabores,
Restauro com candura este cenário
E nele vejo em paz raro estuário
Procuro a cada instante desvendar
Belezas onde outrora houvera trevas
E assim ao paraíso tu me levas
Nas asas deste belo e bom sonhar.

68

As ínclitas belezas deste olhar
Domando o que jamais se domaria
Trazendo à própria vida a fantasia
Tomando pouco a pouco o seu lugar
Vestindo em alegria o caminhar
Por vezes se espalhando à cercania
Invade com mais força o dia a dia
E traz a imensa luz, rara e solar,
Trazendo com ternura esta vontade
Que tanto nos aclara quando invade
E molda uma esperança mais tenaz,
Assim ao me envolver a cada passo,
O rumo no teu rumo agora grasso
E bebo inconfundível, rara paz.

69

Dos claros ascendentes da ilusão
Aos mais supernos brilhos percebendo
A vida como um raro dividendo
Traduz nos novos dias que virão,
E sinto desta imensa provisão
O manto novamente se tecendo
E quando no passado houve remendo
Agora a sorte trama a solução.
Agindo com firmeza e com ternura
O quanto deste encanto já perdura
E traz a quem deseja este caminho,
Vagando sem destino bebo à sorte
E tendo amor que tanto me conforte,
Eu sei; já não serei tão mais sozinho.

70

O aspecto deste sonho aonde eu pude
Vencer os meus rancores onde outrora
A sorte sem remédio desancora
E mata o quanto resta em juventude,
Bem antes quando a vida tudo mude
O parto se aproxima e sem demora
O todo imaginário desde agora
Promete a mais sensata magnitude.
O amor por ser amor e nada além
Enquanto a divindade em si contém
Expressa a mais sublime sensação
Vestir esta insensata maravilha
Aonde esta emoção gera e palmilha
Do todo mais feliz, a tradução.

71

Deixo a doce morada aonde um dia
Pudesse ser feliz e mesmo assim
O mundo desviando trouxe ao fim
A dor de uma terrível agonia,
O quanto deste sonho geraria
Um novo amanhecer em meu jardim,
Vibrando de emoção encontro enfim
O todo que decerto mais queria,
Revivo esta vivenda do passado
E tendo junto a mim o ser amado,
Já nada mais impede o meu sorriso,
E quando me perdera, rumo e meta,
A vida noutro tom, pois se completa,
Vislumbro agora em ti, meu paraíso.

72

Na dorida incerteza de um futuro
Aonde tantas vezes procurara
A sorte noutro rumo, outra seara
O canto em guerra e medo eu asseguro,
Mas quando encontraria o que procuro
O amor quando em verdade se escancara
E o passo com firmeza então ampara
Adentro a fantasia, invado o muro.
E resto em paz ainda que ilusória
Ao renascer em mim a vaga história
De quem na juventude tanto quis,
Ao menos neste inverno, por instantes,
Ainda que deveras não garantes
Eu posso até dizer que sou feliz.

73

Verdes aonde outrora fora gris
Apresentando o sonho em novos tons
Os dias com certeza têm os dons
De transcender ao tanto quanto eu quis,
E sendo assim decerto mais feliz,
Momentos desenhados, ora bons
Ouvindo da emoção sobejos sons,
Do encanto insofismável quero bis.
Ascendo num instante ao mais sublime
E o canto doravante me redime
Dos antros dolorosos do passado,
O vento na janela traz teu nome,
E o quanto do medonho em mim se dome
Permite um novo dia, abençoado.

74

À Musa se entregando o coração
Transforma a vida e gera noutro fato
Um canto mais suave onde resgato
A vida que perdera a direção,
E tendo deste encanto a provisão,
No manto delicado me retrato
E bebo sem saber qualquer maltrato
Os dias que decerto mudarão
O rumo em discordância, tão venal,
Ousando apresentar novo degrau
E nele se estendendo ao infinito,
Da sórdida figura em amargor
À plena consciência de um amor,
Que tanto quanto quero, necessito.

75

Tornando a aparecer em sonhos vis
Angustiadamente vejo a cena
Da sorte que deveras se envenena
E o canto se perdendo aonde o quis,
Expresso com terror este infeliz
Momento aonde a vida não acena
Tampouco outro caminho me serena
E roubo do vazio o seu matiz.
Escancarando a vida noutro rosto,
Do todo imaginário este desgosto
Expondo a mais cruel caricatura
Da vida em turbulência e tão somente
O vago do meu sonho se apresente
E negue o que minha alma mais procura.

76

Começa dos meus ócios o sofrer
Estende-se ao ingrato dia a dia,
E o quanto noutro tom já poderia
Ao menos paz em mim enfim tecer
O amor necessitando o merecer
Regendo com ternura ou agonia
O passo que decerto a vida cria
E nele se adivinha o amanhecer,
Encontro em ti o quanto mais quisera
E bebo da alegria sem espera
Gerando outro caminho após a queda;
Porém um novo engodo e tão somente
Assim a minha vida se apresente
E o meu destino aos poucos tudo veda.

77

A dura experiência de uma vida
Exposta aos mais diversos dissabores
Trazendo mais espinhos que estas flores
Há tanto sem saber qualquer saída,
A imagem que ora vejo distorcida
Esconde dentro da alma os refletores
E neles se percebem multicores
Desenhos noutra face mais ungida,
O mergulhar insano sem respostas
Enquanto estas veredas são expostas
Transcendem ao que tanto desejara,
O amor quando se entranha e nos domina
Gerando com certeza a rara mina
Clareia em magnitude esta seara.

78

Corpo entregue aos cães onde pudesse
Haver apenas sonho e nada mais,
Os dias se preparam tão iguais
Sonegam a quem tenta uma benesse,
A vida tendo o fim que ora merece
E gera dentro em si seus funerais,
Resíduos dos diversos vendavais
História natural, pois se obedece.
Resisto o mais que posso, mas bem sei
Da dura e tão sofrida mera lei
E nela não discuto e só lamento,
O risco que eu assumo a cada dia,
Transborda no final e não traria
Senão este terror, ledo alimento.

79

Viu; das emoções diversas faces
E ao perceber a dor numa constância
Aonde imaginara a calma estância
Somente este delírio e nele grasses
Vagando sem descanso, logo traces
Os rumos mais cruéis até que; trance-a,
A vida com total vil discrepância
Trazendo a quem sonhara tais impasses,
E nada do que tento ou mesmo quis,
Quem viu este momento poderia
Acreditar num dia mais feliz,
E neste mergulhar insanamente,
Ao ver já desvairada a fantasia
O todo que inda resta, volta e mente.

80

Seres imaginários tomam tudo
E bebem cada gota desde quando
O dia noutro caos anunciando
O medo; aonde imerso, eu não me iludo,
A sorte se transcende, mas, contudo
O peso novamente me envergando
Trazendo este ar sofrível e nefando
E neste ser cruel eu me transmudo,
A fera que entre feras se transforma
E injeta na sua alma a fria forma,
Expressa o pandemônio mais temido,
Assaz já caricata face exposta
No quanto a própria vida nos desgosta
Legando às ilusões o torpe olvido.

81

Outrora tu me enchias de ilusões
E nelas outras tantas desenhadas
Gerando no final em mim estradas
Aonde com ternura me compões,
Porém por vários rumos, direções
As sortes noutras faces desdenhadas
Abortam sensações imaginadas
E deixam sem sentido os meus verões,
O pântano que invade movediço
Negando este caminho onde cobiço
A sorte sem igual de quem delira,
O amor imaginado apenas traça
A leda fantasia e a fria traça
Transforma todo o sonho em vã mentira.

82

Ignoro algum destino aonde um dia
O mar que existe em mim inda pudera
Traçar além da dura e vã quimera
O quanto ainda resta em fantasia,
O mundo a cada passo discernia
O rústico ventar onde esta fera
Sonega cada passo e destempera
A vida numa forma de heresia,
Mas quando a noite chega e traz além
Do quanto a realidade em si contém
Mergulho no oceano feito em luz,
E um novo amanhecer, mesmo distante
A sorte neste sonho enfim garante
Delírio onde meu barco agora eu pus.

83

Como não tem sequer igual caminho
Quem tenta adivinhar o seu futuro,
Apenas o meu sonho, eu te asseguro
E nele com certeza eu já me alinho
Cerzindo cada passo com carinho
Encontro a mansidão que inda procuro
E sei do quanto além do sonho escuro
O amor gerando em nós flor entre espinho.
Escassas luzes; vejo à minha frente,
Mas quanto mais audaz eu me apresente
Eu tenho alguma chance de encontrar
Em meio às tantas brumas desta vida,
A sorte imaginada e merecida
Bebendo um raio imenso do luar.

84

Aonde ateia o sonho em fogo e fúria,
O velho coração não se apascenta
E bebe com fervor esta tormenta
Embora no final reste a penúria,
O quanto do viver gestasse a incúria
E o medo de volver já se apresenta
E quando o sonho apenas aposenta
Resulta no final, triste lamúria,
Enquanto enfim sonhar estarei vivo
De toda esta beleza não me privo
E crivo-me de tantas ilusões
O barco mesmo alheio a qualquer porto
Aonde imaginara semimorto
Revolve e bebe em gozo mil tufões.

85

Dos transes padecera quem sonhara
Com toda a insensatez de um raro brilho
E quando sem destino me polvilho
Tomando imensamente esta seara,
O olhar em tanta luz hoje declara
O canto aonde tento; cismo e trilho
Ousando na emoção, doce estribilho
Tornando a minha vida bem mais clara,
O quanto imaginasse e não podia
Cerzindo esta ilusão, a fantasia
Esboça alabastrina e imaginária
Beleza aonde a sorte solidária
Transcende à própria luz e num segundo
Produz este oceano onde eu me inundo.

86

Meus olhos visionários tentam ver
Os ermos de minha alma mais sombria
E quando muitas vezes poderia
Apenas revelar um torpe ser,
Encontram nos teus olhos o saber
Do raro e mais perfeito em sincronia
Gerando novamente esta alegria
E nela vejo o mundo amanhecer
Apenas ilusão? Não sei, mas tento
Enquanto bebo o farto e raro alento
Vestindo o meu olhar em tal clareza,
Deslumbro nos teus dias os meus cantos
E envolto pelas luzes dos encantos
Entrego-me à sonhada correnteza.

87

Enquanto houver torturas dentro da alma
De quem se entrega mesmo sem sentir
Qualquer realidade num porvir
Envolto pelo medo de outro trauma,
Seara imaginada, sempre calma
Transcende ao que pudesse mais pedir
E traz com tanta luz este elixir
E nele o meu caminho em paz se acalma,
Resisto aos mais incríveis sonhos, mas
Eu sei que a maravilha já se faz
Apenas por saber desta existência,
Meu canto se apercebe da sutil
Beleza aonde o nada se previu,
E nisto segue em paz, sem penitência.

88

Separado de um cais por mar imenso,
Revolto em tais procelas costumeiras,
Aonde na verdade não mais queiras
Deveras noutro instante teimo e penso,
E quanto mais do amor bebo e convenço
Enfrento com ternura estas ladeiras
As sortes de outras tantas mensageiras
Traduzem um cenário claro e intenso,
Esboço de um provável Paraíso,
Edênico caminho mais preciso,
Vagando por teus braços, doce encanto,
E quando mais além eu me fascino,
O mundo que buscara cristalino,
Ao próprio caminhar ora adianto.

89

Aborto eu já não temo quando vejo
O amor enaltecendo cada passo,
E aonde percebera o meu cansaço
A sorte se aproxima em raro ensejo,
E bebo cada gole do desejo
Sabendo quanto posso e não desfaço
Meu mundo ocupa em paz imenso espaço
Porquanto no passado fora andejo,
E agora ao mergulhar sem mais defesas
Encontro mesmo em grandes profundezas
Belezas onde a dita me levara
E incrível que pareça em tal abismo,
Do amor ao respirar, tranqüilo eu cismo
E sorvo cada imagem bela e rara.

90

Remindo com teus dons a minha vida,
O quanto no passado nada tinha,
A sorte na verdade jamais minha
A morte a cada instante sendo urdida,
O tempo se perdendo e sem saída
O manto a cada esgarce desalinha
E o vento traz apenas a daninha
Aonde a messe nunca é presumida,
Assim durante a vida fora até
O amor saber deveras por quem é
E tendo esta visão maravilhosa,
O tanto que mergulho neste encanto
E sinto pulular em cada canto
Traçando nova estrada majestosa.

91

Que me disseste ó vida sobre o amor?
A cada tentativa um novo não
E acordas outra vez o coração
Depois de tanta queda e dissabor?
Espero novamente e nada a pôr
Somente a mesma velha solidão
E tantas noites turvas se verão
Neste verão espúrio e sem calor.
O quanto acreditar no imponderável
Presume o nada além e inadiável
A morte se aproxima e vejo o fim.
Do amor que imaginara sequer sombra,
Imagem fantasmal ainda assombra
E o túmulo florindo em meu jardim.

92

Temo esta novidade mesmo enquanto
O manto se tecendo deixa ver
As marcas indiscretas do querer
E neste caminhar delírio tanto,
Ainda mesmo assim nada garanto,
Somente as velhas tramas e a tecer
No todo imaginário um novo ser,
Mas sei quando ao final o velho espanto;
Resulto desta louca incoerência
E tento um ar de mansa transparência,
Porém a turbulência não permite,
Herético desenho profanado
E nele o meu delírio e; desolado,
O tempo vai chegando ao seu limite.

93

Minha alma turbulenta nada sente
Senão a mesma angústia contumaz,
E quando à realidade o mundo traz
A dor se apresentando plenamente,
O pouco quando resta tão somente
Levando para alhures minha paz,
O corte na verdade satisfaz
Embora alma se mostre vã, demente.
Restando quase nada desta vida
Minando a cada passo ou despedida,
Resumo os meus temores neste fato
Aonde sem saída nada vejo
Senão a mera sombra de um desejo
E nela o meu caminho em vão, retrato.

94

Metade do caminho em dor e pranto
Resumos de uma vida intolerável,
Aonde qualquer sonho imaginável
Embrenha nas torturas, desencanto.
E quanta vez eu pude vejo o manto
Puído pelas mãos do incontrolável
Delírio enquanto quis um tempo afável
Marcando com as garras tal quebranto.
Assiduamente busco a paz em mim,
E sinto que afinal, chegando ao fim
Outra metade traça o mesmo rumo,
E o quanto inda pudesse acreditar
No sol além sobejo a desfilar,
Decerto e sem saída eu me acostumo.

95

Conheço a já perdida sensação
De um novo amanhecer em mansa luz,
A cada turbulência se produz
A mesma face escusa: negação.
O tempo diz das dores que virão
E nelas o meu canto em contraluz
Gerando a cada ausência o medo e o pus
Os sonhos em dorida arribação.
Nefastos dias trazem novamente
O quanto da verdade se apresente
Nas curvas do caminho que há por vir.
E quando capotando sem defesa
Levado pela incúria, a correnteza
Imagem do não ser, reproduzir.

96

A face da fortuna eu desconheço,
Apenas a diversa e vã quimera,
A vida noutro esgar se destempera
O sonho, meramente um adereço,
Revejo cada queda e a sei, mereço
O marco entranha como fria fera
E doma o meu caminho e nada espera
Sequer imaginável recomeço.
Esgoto as minhas forças nesta luta
E quando ainda tento e já reluta
Meus trilhos trazem medo e nada além.
Enquanto desejava pelo menos
Momentos terminais bem mais amenos
Somente este vazio me contém.

97

Mudando num momento a minha sorte,
Galgando qualquer monte aonde eu veja
Ainda que talvez não benfazeja
A imagem de uma luz que me conforte.
Cansado de lutar, buscar um norte
O corte a cada passo se preveja
E a morte muito embora inda não seja
O rumo preferido; entoa forte.
E traz a negação de qualquer sonho,
E ao nada quando muito eu me proponho,
Residualmente apenas o vazio.
Durante a minha vida tanta vez
O canto noutro canto se desfez
Cada segundo além, eu desafio.

98

Presságios entre medos mais constantes
Os dias não se tornam solução,
Os medos tomam toda a direção
E nada além dos ermos me garantes.
Pudesse acreditar em diamantes
Aonde vejo o fim desta estação,
Negando a tão sonhada provisão
Erráticos demônios degradantes.
Estúpido fantoche e nada mais,
Escuto na distância este eco quando
A voz num novo tom se derramando,
Reflete sem sentir meus vendavais.

99

O meu abatimento é costumeiro
Sinal deste outonal envelhecer,
O quanto pude mesmo até não ver
E neste pouco ou nada não me inteiro,
O risco de sonhar, cevar canteiro
Sem nada que pudesse oferecer
Senão este esgarçar de um torpe ser
Num canto talvez mesmo o derradeiro.
Augúrios entre quedas e tormentas
Assim a cada passo me alimentas
E domas o que resta de um sombrio
Destroço aonde uma alma perambula
O tempo sem limites, pois ondula
E nele tão somente me desfio.

100

Encontro com terror a face escusa
De quem se acreditara muito além
Do quanto na verdade não contém
Enquanto a própria vida se entrecruza
E gera noutra face mais confusa
O mesmo caminhar em tal desdém,
Meu passo prosseguindo muito aquém
Porquanto a fantasia já me abduza
Levando para aonde poderia
Singrar o canto em paz, farta alegria,
Edênico caminho desenhado
Nas ânsias e louvores. Nada resta,
Nem mesmo a menor, mínima fresta
A morte em solidão é meu legado.

MARCOS LOURES FILHO
 
SONETOS FEITOS EM 29/07/2010

SONETOS FEITOS EM 13/08/2010

 
1
Permita-me Senhor além de ouvir
Tua palavra feita em pleno amor
Abrindo meus ouvidos num louvor
Tentando cada frase discernir
E crendo ter assim o meu porvir
Ousando neste tom libertador
Bem mais do que somente redentor
Caminho para além do quanto eu vir.
Permita-me saber quem em Ti existe
A voz de quem supera o instante triste
Traçando novos dias que virão
E neste fato além de Te escutar
Sem tréguas, sem ter nada a duvidar
Usar além razão; do coração!
2
Verdade tão somente nos liberta
E traça um bom caminho pelo qual
A vida se transforma e sem igual
Desenho traz palavra sempre certa.
Minha alma a cada instante em paz desperta
Bem mais que um rito tosco e até banal,
Usando a transparência de um cristal
De Ti se aproximando, a dor deserta;
Somente esta certeza move o passo
Aonde o meu futuro agora eu traço
Ousando ser feliz por tanto amar.
Num ato libertário e sem perguntas
Sabendo que somente as almas juntas
Conseguem com firmeza o caminhar.
3
Palavra, o vento leva e se perdendo
Já não traduz decerto o sentimento,
E quando noutra face; a paz eu tento
Sem ser tão simplesmente algum remendo.
Assim a plenitude em Ti; desvendo
Recebo em troca além de algum alento
Capacitando em mim discernimento
E um novo amanhecer já se tecendo.
Não quero me atrelar somente ao sonho,
Resgato-me deveras se eu componho
Com atos e com gestos; liberdade.
E tanto posso além do que imagino
Enquanto em Ti me entrego e, cristalino
Conheço realmente a divindade.
4
Somente o conhecer-Te libertando
Das tantas heresias que este mundo
Trazendo a cada instante e sendo imundo
Aonde deveria manso e brando.
A cada novo dia transformando
E neste desenhar tanto profundo
Desvendo o meu caminho e em Ti me inundo
Deixando para trás meu ar infando.
Libertação é feita em pleno amor
Além de acreditar vivo o perdão
E nele reconheço a redenção
Num novo caminhar a se propor
Deixando para trás o vão desejo,
Um mundo sem igual, agora eu vejo.
5
Já não se faz a vida em vão confronto,
Apenas tão somente na verdade
E sei quando ela toca e nos invade
Deixando o coração tranqüilo e pronto.
Amar sem ter promessas, sem desconto,
É conhecer inteira a LIBERDADE
E nesta perceber a claridade
Tocando inteiro o SER em cada ponto.
Vencer sem porfiar, enquanto existo
No amor que me ensinaste; amigo Cristo
E nada além verei senão a glória.
A liça que perfaço é com engodos
E sei e reconheço em mim, pois todos
Pequena criatura sem vanglória.
6
Louvar a persistência de quem Cria
E ama cada ser da mesma forma,
E quando noutra imagem se transforma
Traçando em mansidão soberania.
Deixando para trás a alegoria
Mantendo em coerência cada norma
Aonde a mãe Natura nos informa
Do Pai que se desnuda a cada dia
No irmão e nas diversas criaturas
Aonde em equilíbrios; Asseguras
Perfeita sincronia e traz à vida
Bem mais do que decerto eu necessito,
E sei do quanto em Ti é tão bonito
O amor que não conhece uma medida.
7
O universo é menor que qualquer alma,
E nela se traduz a divindade
Ao desnudar ciência em liberdade
Verdade se conhece em cada palma.
Vencer o turbilhão, a imensa calma
Enquanto noutro lado a voz já brade,
Suavidade em Luz enquanto invade
O vórtice da insânia logo acalma.
Não vejo nas vitórias o ufanismo
Somente em coerência tento e cismo
Sabendo deste equânime caminho
Que leva à redenção; um Magno Amor
Bem mais do que promessa e até louvor
Se for feito no anseio mais mesquinho.
8
A cólera transforma o ser supremo
Na fera mais atroz e insana quando
O olhar em fúria torpe se tomando
Recende na verdade além do Demo.
E quando em ira espúria nada temo
Também sou igualmente tão nefando,
Permita-me decerto ser mais brando
Num equilíbrio sem qualquer extremo.
Assim ao perceber a divindade
No ser que insanamente e em vão não brade
Deixando para trás este ar fanático.
O Amor não é somente, pois verbal
E deve ser; portanto essencial
Jamais ledo e teórico ou temático.
9
Não vejo um heroísmo em quem porfia
Ao enfrentar irmãos, é torpe fera,
E quando outro delírio também gera
Reinando sobre a tosca hipocrisia.
É desta forma então que redimia?
Matando em nascedouro a primavera
A súcia se atocaia e vã quimera
Ainda se transcende em galhardia...
Irônicos satânicos bufões
Expondo a face espúria dos leões
Num sanguinário rumo sobre a Terra.
A mão se dessedenta assim na morte?
Hercúleo na verdade é quem conforte
E dentro em si, o Amor claro se encerra.
10
Ao despreza o irmão, também o faz
Ao próprio Criador, e não percebe.
Depois caminha em faustos pela sebe
Qual fosse um ser suave ou mais, audaz?
Somente quem lutando pela paz
A paz em conseqüência já recebe,
Do quanto se oferece é o quanto bebe
O todo que se leva é o que se traz.
Não podes e tu vês sob teus olhos
Cultivar flor e ter em troca abrolhos,
Assim como o contrário também é.
Ao respeitar inteira a mãe Natura
Reflexo deste Pai na criatura
É onde se percebe a vera fé.
11
Liberte-me Meu Pai dos meus anseios
Desejos que dominam minha mente
E fazem do meu passo este inclemente
Delírio entre medos, devaneios.
Liberte-me, portanto dos receios
E trace novo tempo iridescente
Trazendo o Amor mais pleno e se apresente
Então para os Teus passos, mansos veios.
Sabendo quanto o Amor tudo redime
Desde que seja claro e enfim sublime
Sem ter qualquer medida ou empecilho.
Ousando libertário pensamento
Sem preconceitos, medo e desalento
Assim para os Teus braços, eu palmilho.
12
Permita-me o total discernimento
Sem prejulgar ou mesmo sem pensar,
Apenas por ouvir e não tentar
Sentir esta verdade em provimento
Do quanto mais conheço e me alimento
A dúvida; estou certo, há de tomar
Maior espaço em mim e em tal lugar
Não haja tão somente o pensamento.
Ao aliar com o quanto hei de sentir
Talvez eu me aproxime da verdade,
Mas sei o quanto o amor em liberdade
Permite o bem estar e o bom porvir,
Só sei que honestidade te liberta
Quem aja desta forma mais acerta.
13
O pensamento rege cada passo
Por onde te encaminhas vida afora,
Embora o sentimento; aonde ancora
Tantas vezes ocupa, inteiro o espaço.
E quando o meu caminho assim eu traço
Nas ânsias onde a fúria me devora,
A paz que com certeza vai embora
Impede o prosseguir em manso traço.
Não me deixe Senhor agir somente
Tomado pela angústia onde apresente
Qualquer entrave ou mesmo alguma dor.
Ousando em ter liberto o pensamento,
Terei, tenho a certeza, o olhar atento
Mais próximo de Ti, meu Redentor.
14
A paz é uma conquista que verás
Dentro de ti somente e nada mais,
Nas cercanias tantos vendavais
Além deste desejo mais audaz.
Perceba a sordidez que a vida traz
E os homens em seus ritos ancestrais
Deveras com os atos vis, venais
Moldando um mundo torpe e até mordaz.
Por isto ao procurares dentro da alma
Terás a sensação que ora te acalma
Podendo; desta forma, superar
Os gládios tão comuns de uma existência
Bastando; deste fato, a ter ciência
A paz irá tomar o seu lugar.
15
Ao atirares pedras, leda fúria
As mãos que as arremessam já se ferem
E assim quando deveras interferem
Agindo com torpeza e com incúria
Trazendo a quem desfere a senda inglória
Marcando com as chagas mais profundas,
E quando em tais calúnias tu te inundas
A face que demonstras: merencória.
Ao prejulgar deveras és julgado
E tens o teu caminho em tom diverso
Traçado por um ato vil, perverso,
No fundo és; tu mesmo, o apedrejado,
Portanto não se perca em aparências
Verdade é quem liberta as consciências.
16
O amor, semente clara aonde a vida
Permite-se e renova em gerações
Os dias desde o gênese. Compões
No teu caminho a história resumida.
E quando a liberdade em ti, ungida
Permite conhecer raros perdões
Em meio aos mais diversos turbilhões.
Na flor em fruto agora enternecida.
O manto consagrado é feito em luz,
Diverso do que vês preso na cruz,
Pois dele a liberdade se irradia.
Invés de tanto pânico e agonia
A morte na verdade, raro FAUSTO
Traduz o inevitável holocausto.
17
Amar sem cobrar nada nem sequer
Pensar nas recompensas passageiras,
Somente o bem de outrem; portanto queiras
Sem nada nem anseios, se o puder.
A mão que atormentando; nega um passo
A quem deseja livre caminhar
Jamais se traduzindo por amar,
Traçando um sentimento mero e escasso.
Na força deste Pai, da Mãe Natura
A vida noutra vida se refaz
E neste caminhar em plena paz
A eternidade enfim, já se assegura.
Quem ceva com cuidado desde já
Decerto melhor sorte colherá.
18
As mãos que acariciam esta fera
Domando um sentimento mais agreste,
Demonstram o motivo em que vieste
A paz na própria vida enfim se gera.
Permita-te saber que a primavera
Eternamente feita em voz celeste
Supera uma estiagem, turva peste
Enquanto a história em si se recupera.
Não foste, pois criado para ser
Além do que mereces. E por crer
Em falsas luzes nesta noite escura
É que soberbo ser a espécie humana
Aos poucos destruindo já profana
A esplêndida e perfeita Mãe Natura.
19
Também foste criado para ser
Mais uma peça nesta imensidão
O mundo novos dias mostrarão
E neles um sutil amanhecer;
Mas quando vejo a rédea se perder
E sinto em desalento aberto o chão,
Vislumbro a noite em pleno turbilhão
E a vida pouco a pouco esvaecer.
Em cada ser está o mesmo Pai
E quando esta verdade o mundo trai
No fundo preparando uma mortalha.
Orando em gestos claros, coerentes
Mais próximo deveras tu te sentes
Enquanto tanto amor ganhas e espalhas.
20
Pudesse ser além de um sonhador.
Mas quando a vida traz em atitude
O quanto na verdade se transmude
Ao aceitar as tramas de um Amor.
E sendo este poder libertador,
Quem ama com certeza não se ilude,
Pouco importando até se o fato mude
O ser amado e trace nova cor.
Ao espalhar o pólen em pleno ar,
A flor ensina assim o que é o amar,
Reproduzindo ao léu esta esperança,
Mal importando quem receba a luz
Somente neste encanto se produz
O passo que decerto além avança.
21
A vida quando feita em tanto não
Deixando muito além qualquer promessa
No fundo a cada passo se endereça
Sem mesmo qualquer rumo ou direção,
Os dias são diversos e verão
Além do quanto à dita se endereça
Traçando com angústia onde tropeça
O rústico desenho; imperfeição.
Servindo para tal o meu caminho
Que é feito em tom atroz, tosco e mesquinho
E nele sou talvez um mero traste.
Porém sou o resumo de quem és
Iguais ao perceber mesmo viés
Traduzo o que decerto em vão negaste.
22
Enquanto este silêncio tanto fale
Traduzo no vazio o pensamento
E quando se percebe ou mesmo tento
Viver o quanto resta e me avassale,
Minha alma noutro instante não se cale
Deixando para trás o sentimento,
A voz ao percorrer já solta ao vento
Ultrapassando monte, cerro e vale
Expressa o meu delírio em liberdade,
Na justa providência aonde brade
O coração suave e guerrilheiro.
Ousando propagar um canto em viço
Bem mais do quanto quero ou mais cobiço
Cevando com carinho algum canteiro.
23
Não deixe que se entranhe outro ninguém
Nesta alma muitas vezes incompleta,
A fonte aonde a vida se repleta
Deveras quase nada mais contém.
Olhando para os lados, sigo aquém
Do quanto eu desejava. Noutra meta
A vida se perfaz, face concreta
Do encanto aonde sou mero refém.
Espalho o sentimento e sei que um dia
Quem sabe noutro encanto florescia
A sorte de tentar e prosseguir
Vencendo os meus anseios e vontades,
Ainda que deveras tu te enfades,
Galgar outra ilusão inda por vir.
24
O pranto se transforma em alegria
Nas sendas de um amor correspondido,
Mas quando noutro enfado diz olvido
Tormenta tão somente se veria.
E o fato de viver tal ironia
Gerada pela insânia, ao ser cumprido
Prenunciando o fim, toma o sentido
Do todo que pudesse nalgum dia.
Ausenta-se esperança quando tento
Vencer com calmaria este tormento
Bebido numa angústia incontrolável.
Mas quando se aproxima além o brilho
Dos sonhos onde em paz tento e palmilho
O mundo vai além do imaginável.
25
Disforme criatura; eu sigo alheio
Ao quanto poderia ser diverso
E tento outro destino e mesmo verso
Enquanto me liberto em devaneio.
O olhar ensimesmado não receio
Tampouco sei do mundo mais perverso
E quando sigo aquém, encaro imerso
Na angústia mais atroz, buscando um veio.
Etereamente a vida traça em nãos
Os dias variáveis e malsãos
Espúrio caricato, morro aquém
Do quanto quis ou mesmo prometia,
E a senda aonde o sonho em agonia
Derradeiro comparsa, ainda vem...
26
Dilacerando a face desditosa
De quem se fez alheio aos temporais
E neste desenhar sem ter jamais
Vencer esta torrente caprichosa.
O olhar entorpecido ora antegoza
Os dias derradeiros, funerais
E vejo nestes tantos magistrais
Anseios numa vida majestosa.
Aprendo a me encarar e vendo à frente
Somente um ser espúrio e um vão descrente
Não tendo outro cenário senão isto,
Aos poucos me entregando sem mais luta,
A morte redimindo e não reluta,
Traduz por que deveras inda existo.
27
Das navalhas penetrantes
Cortes tantos noite afora,
Incerteza que apavora
Traz bem mais do que vi antes
Os meus passos; adiantes
Rumo ao fim aonde ancora
A certeza e nela aflora
Esperanças fascinantes.
A mortalha ora se empresta,
Numa vida; se indigesta
Solução. Decerto eu vejo.
Muito aquém do velho fato
Onde em nada me retrato,
Meu derradeiro desejo...
28
Abortando os vis amores
Onde um dia quis o brilho
Bem diverso de onde eu trilho
Lado oposto ao que tu fores,
Na verdade sem albores
Os meus ritos no empecilho
Costumeiro ao andarilho
Coletando dissabores.
Resto aquém do quanto pude
Na mortalha a magnitude
Libertária companhia.
E o cenário putrefato
Onde o sonho enfim resgato
Tudo enfim, quanto eu queria.
29
Por saber que não me queres
E também ou mesmo assim
Vou chegado ao ledo fim
Meu banquete sem talheres
E se tanto inda quiseres
Outro errático estopim
Eclodindo dentro em mim
Onde ainda, tosca, imperes.
Renegar um passo quando
O meu sonho se escoando
Nos esgotos de minha alma,
Nada vejo além do vago
E se nele ora me alago,
Nem assim a dor se acalma…
30
Destes trapos que carrego
Dentro da alma; veja bem
O passado nos contém
E alimenta só teu ego.
Mares turvos, pois navego
E percebo o teu desdém
A colheita não mais vem
E o meu rumo sempre é cego.
Vasculhando esta gaveta
Nela o nada me arremeta
E traçando outro momento
Procurara alguma messe
Onde a vida já me esquece;
Solidão tomando assento...
31
Noutro tempo se eu pudesse
Num caminho mais diverso
Quando além do sonho eu verso
Encontrando esta benesse
O meu rumo estabelece
Dentro em mim novo universo
E se tanto sigo imerso
O cenário me entorpece.
Régios dias, noites claras
E deveras me escancaras
A alegria em cada olhar.
Depois disso eu me alimento
Do suave pensamento
Aprendendo em paz, a amar.
32
Se não fosse a solidão
Outro tanto poderia
Transformar o dia a dia
E trazer a redenção,
Mas os sonhos moldarão
Um sorriso em utopia
Na seara mais sombria
Vejo enfim algum clarão.
Siga em frente e nada tema
Quem rompendo a velha algema
Sem dilemas abre o peito,
Neste encanto onde me entranho,
Todo passo um novo ganho
Bebo a paz quando me deito.
33
Sendo a vida mesmo ingrata
A quem tanto em paz se dera
Outro olhar tramando a espera
E esta face me retrata
A certeza se insensata
Já não deixa a primavera
Reflorir aonde gera
A esperança que resgata
Restaurando um passo quando
O meu tempo desnudando
Novo olhar sobre o futuro,
Caminheiro sem destino
Quando além me determino,
Sei decerto o que eu procuro.
34
Já não posso me calar
Nem tampouco isto seria
Um momento em rebeldia,
Tão somente a desnudar
Farsa antiga a se mostrar
Onde fiz minha utopia
O cenário não traria
Sendo incerto o meu lugar.
Aprazíveis paisagens
Entre tantas abordagens
São decerto as mais audazes.
Tendo em mim esta incerteza
Bebo aquém do quanto é tesa
A minha alma em várias fases.
35
No cinzel do pensamento
Ao urdir novo cenário
Mesmo sendo temporário
O meu rumo eu reinvento
E se bebo o sentimento
De um caminho necessário,
Outro tanto temerário
Solto alhures pelo vento.
Revelando a minha sina
Onde o nada determina
O bem pouco que virá,
Sei da fúria em desabrigo
E se tanto inda prossigo
O futuro é desde já.
36
Nas vertentes deste rio
Outro tanto pude ver
E se posso renascer
Onde quero já desfio
Venço o medo deste estio
E talvez amanhecer
Nos cenários de um prazer
Muito além do desvario.
Resultando deste fato
O caminho onde resgato
A beleza de seguir
Rumo ao farto Paraíso
E num passo mais preciso
Embrenhando no por vir.
37
Tanta luz já poderia
Ter em mim após a luta
Onde a sorte mais astuta
Na verdade rege o dia.
Morta a minha fantasia
Esta estrada é sempre bruta
E o meu passo não reluta
Procurando uma alegria.
Muito embora eu saiba bem
Quando messe já não vem
Deixa o sonho para trás.
Desvendar cada segredo
Onde inteiro eu me concedo,
Sendo até bem mais audaz.
38
O reverso da medalha
Traz a imagem do que fora
Alma tanto sonhadora
Onde o nada já se espalha
Neste fio da navalha
A palavra redentora
Noutro rumo; promissora
Na verdade dita a falha
E seguir sem ter parada
Mesmo quando é dura a estrada
Perseguindo um velho sonho.
Muito embora seja fato
O caminho eu não resgato,
Mas um novo; enfim, componho.
39
Presumindo o fim da história
Esperando alguma chance
Onde o passo não avance
Nem sequer trague a vitória
Reviver farta memória
E num derradeiro lance
Outra tez, novo nuance
Mesma face merencória.
Sendo a vida desta forma
Cada passo ora deforma
O que um dia quis além.
Faca tendo enfim dois gumes
Para além teimas e rumes
No final, nada contém.
40
Sortilégios eu conheço
E sei bem da farsa quando
Outro tempo se entornando
Não revela o meu tropeço;
E deveras sei, mereço
Este olhar duro e nefando,
Mas pudesse ser mais brando;
Vem virando-me do avesso.
Aprender com as lições
E deveras tu me expões
Com a faca no pescoço,
O meu mundo desarvora
Desde quando eu sei agora,
Recomeça este alvoroço.
41
Precedem meu caminho, as tempestades
Degenerando o rumo aonde um dia
Tentara sem qualquer hipocrisia,
Porém a cada ausência mais me enfades
E sei quando se mostrem mesmas grades
E nelas muito pouco eu poderia
Viver aquém do sonho, uma utopia
Gerada pelo medo e falsidades.
Mergulho no meu âmago e pereço
Enquanto sei o quanto em adereço
Esqueço qualquer rumo e sigo alheio
Ao manto putrefato e sem destino,
E quando mesmo olhar; já determino
Vagando sem saber em devaneio.
42
Já não me resta mais uma esperança
O tempo se escasseia e vejo apenas
As velhas duras faces; concatenas
E a morte a cada ausência mais avança.
Não pude controlar, e da lembrança
Jogado pelos cantos, não serenas
Uma alma quando a vês logo apequenas
Os rumos onde tanto aquém se lança;
Eu sei dos sortilégios mais atrozes
Também destes cenários onde as fozes
Trazendo discordância a cada olhar.
Pudesse ter apenas a certeza
De ter sob controle a correnteza,
Mas nada, tão somente irei buscar.
43
Entorpecido vejo este cenário
E nele me entranhara. Imprecisão.
Traçando desde o início o vago não
No qual e pelo qual desnecessário.
Resumo a minha vida neste vário
Desenho em total medo e sei que é vão
O risco de sonhar, mas mostrarão
Os dias outro enfado imaginário
Delírios; os conheço até de cor
E sei do quanto é fútil meu suor
Jogado pelas tramas sem segredos.
Apodrecendo em vida tão somente
No quanto ainda posso e se apresente
Os dias com certeza serão ledos...
44
Já não suporto mais o olhar sombrio
E dele me esquivando a cada instante,
Mas sei também do quanto é degradante
E o nada a cada verso mais desfio,
A imensa correnteza deste rio
Produz o quanto em vaga se garante
O olhar sem ter sequer a mais constante
Vontade de vencer tal desafio.
Esqueço de mim mesmo e sigo ao fim
Resumos destes erros vida afora,
Espelho na verdade me apavora
E espero não demore a morte e enfim
Eu possa descansar e ver a paz
Agora tão distante e tão mordaz.
45
Ensimesmado quase sem um norte
E sei que no passado quis bem pouco
E agora o quanto resta deste louco
Desenho onde nada mais comporte,
Restauro o meu delírio em leda sorte,
E a cada imprecisão eu me treslouco,
Também não quero o riso nem tampouco
Quem possa num momento e me conforte.
Erguendo o meu olhar sem horizontes,
Apenas os desníveis tu me apontes
E deixes que eu prossiga sem temor.
O quanto resta em mim e nada mais
Que os dias entre fúrias, funerais
Preparo tão somente o meu sol-pôr.
46
Inúteis versos tento quando busco
Vencer os meus terríveis temporais
E sei dos dias meros, terminais
E neles com ternura já me ofusco,
O mundo sempre vário em lusco fusco
Derrama a cada vez diversos sais
E bebo destes últimos venais
Um sórdido bufão, mero e velhusco.
Ultriz a vida trama a morte e traz
Ali a sensação da imensa paz
Que um dia procurara inutilmente.
Quem sabe após o fim, o recomeço
Em outro caminhar já sem tropeço
Ao mesmo isto enfim ainda alente.
47
Jazigos perfilados no meu sonho,
E bebo esta tragédia a cada instante
Tramando o meu delírio em inconstante
Desenho onde sou pasmo e medonho.
Apenas cada vez me decomponho
E sei do quanto espero doravante
Morrendo sem sentir o deslumbrante
Momento aonde eu tento e não me ponho.
Satânica figura em tez atroz,
A vida se desmembra e busca a foz
Aonde se apascente este demônio.
Quem sabe ali em face mais brumosa
A cena tantas vezes pedregosa
Aplaque o meu temível pandemônio.
48
Esgoto a cada instante esta esperança
Escombro do que fora um ser humano,
E nesta escória atroz quando me dano,
À fúria do vazio a alma se lança,
Aonde quis talvez a temperança
Puindo em incertezas cada plano,
O mundo desdenhoso e quase insano,
Porquanto penetrasse em mim tal lança
Vencido pela angústia do não ser,
Tateio e busco além qualquer prazer
E infaustamente a vida me sonega.
Quem sabe na mortalha em doce entrega
Eu posso pelo menos conhecer
O mar onde tranqüilo se navega...
49
Cerzindo cada passo com a dor
Numa constante face desmedida,
Marcando a ferro e fogo a podre vida
Tentando noutro rumo já me pôr.
Vencido sem saber sequer da cor
Da sorte onde esperança entorpecida
Vestira a face escusa e carcomida
De um manto feito em tétrico pavor.
Escárnio tão somente; eu mal prossigo
E vejo a cada passo o desabrigo
Gerando novamente outro veneno
E quando vejo a face neste espelho
Nas cãs já tão profusas me aconselho
E ali também deveras me apequeno.
50
Arrasto os meus grilhões e no final
Apenas o vazio ainda eu vejo
No olhar imerso em dor, horror e pejo
A morte se desenha triunfal.
Buscasse coerente qualquer nau,
Quem sabe pelo menos num lampejo...
Mas quando renegando este azulejo
Mergulho no meu antro funeral
No tumular caminho, o meu esquife
Enquanto cada sonho se espatife
Gerando o pesadelo de um viver
Imerso no negrume da existência
O olha impiedoso em inclemência
Expõe em podridão, farto prazer...
51
Os restos que laceras do meu eu
Traduzem a mortalha que me deste
Num tétrico caminho mais agreste
O quanto havia em mim já se perdeu,
Meu canto noutro instante em apogeu
Tocando o mais audaz, quase celeste
Desejo e quando à sorte não se empreste
Expressa o quanto espúrio ora teceu.
Não posso mais sequer ouvir teu nome,
A vida pouco a pouco se consome
E traça em tempestades, descaminho.
Do quanto imaginara; nada resta
Senão esta figura assaz funesta
Num ermo tão vulgar quanto mesquinho.
52
Disforme face exposta em podridão,
Não tendo mais sequer uma alegria
Aonde imaginara novo dia,
De tantos velhos, vã repetição.
Os sonhos com certeza não verão
Nem mesmo o quanto esta alma fantasia,
E morto em plena vida, não teria
Além da própria senda, a redenção.
Escassos dias restam a quem tanto
Mergulha num imenso desencanto
E sorve todo o charco, lodo e lama.
A carcomida face decomposta,
Encontra no vazio uma resposta
E apenas o final, em paz, já trama.
53
Penetram dentro da alma as vis adagas
Dilacerando o resto que inda existe
De um ermo caminheiro amargo e triste
Expondo a cada dia as fundas chagas.
E embora algum alento; ainda tragas
A inexistência assoma e aqui persiste
Aponta o meu destino torpe em riste
E as horas que inda restam, toscas, vagas...
Escória tão somente e nada mais,
Aguardo a redenção nos funerais
Brumosa vida em paz se encontraria.
Na noite nevoenta, o fim precoce
Quem sabe finalmente ali me aposse
Do que me sonegara o claro dia.
54
Aborto os meus caminhos rumo ao tanto
E sei quando se perde o nexo e o rumo,
Reflexo dos erros que ora assumo
E neste desenhar eu me quebranto.
Mergulho neste esgoto e ali garanto
A pútrida verdade, e sei do sumo
Aonde a cada dia me consumo
A morte me abraçando; escuso manto...
Vestindo o meu olhar em trevas vejo
Bem mais do que o delírio num sobejo
Caminho aonde tudo em paz termina,
A morte redimindo meus engodos,
Voltando a me entranhar nestes vis lodos
Ao menos de outra vida, serei mina.
55
O quanto não me queres, sei-o bem.
E até pudesse em vão ter outro olhar,
Mas quando me percebo a relutar
Apenas o vazio me provém.
E quantas noites vagas sempre vêm
E nelas não se tendo outro lugar
Aonde pelo menos ancorar,
A marca se desenha em tal desdém.
Afasto-me da vida e bebo a morte,
Assim quem sabe enfim eu me conforte
Depois de tantos anos, solidão...
Marcando a cada instante a cicatriz
Expondo o que esta vida já me diz
Alerta para os outros que a verão.
56
Nos trapos, meus farrapos dentro da alma
A virulência toma cada passo,
E quando noutro tanto eu me desfaço
Somente a morte após tudo traz calma.
Vestígios de esperança? Mais nenhum,
O herético caminho se tecendo
Deixando-se antever tosco remendo
Jogado nas sarjetas. Sou mais um...
E sinto se esgarçando a todo instante
O quanto imaginara redimisse
E vendo a cada passo esta mesmice
Apenas o vazio me agigante.
Retaliações da vida em farto gozo,
Gerando este caminho tenebroso.
57
Naufrago a cada instante, ledo barco
Jogado entre as procelas sem timão,
As horas mais atrozes tomarão
O quanto já se mostra agora parco,
E quando nalgum sonho vão embarco
Apenas no vazio a direção
Gerada pelas tramas deste não
E a morte com prazer imenso abarco.
Esgoto minhas forças; nada tenho
Senão este temor duro e ferrenho
Da vida e tão somente, nada mais.
A glória redentora se aproxima
Brumoso, mas suave sinto o clima
Propício para os ritos funerais...
58
Entregue aos vermes, carne apodrecida
Bendita esta hora enfim chegando agora
Enquanto a própria vida me devora
O que fazer senão a despedida?
A leda caminhada em dor urdida,
O risco de viver já me apavora,
E sinto a poesia que se aflora
Da vida renovada noutra vida.
Escória, mero escombro, mas no fim,
Redimo em holocausto o quanto rude
Desenho desta trama, mais que pude
Vicejo após a morte num jardim,
E assim ao me mostrar em serventia,
Quem sabe a alma afinal se salvaria?
59
Só peço que me deixe agora em paz,
Já não comporta em mim a fantasia
Sequer esta ilusão me tomaria
No quanto nada mais me satisfaz.
Por vezes me imagino mais tenaz,
Mas logo vejo ser a hipocrisia
Do instinto aonde em luta tentaria
Vencer o que a verdade enfim me traz.
Apresentando a face espúria e vaga
Uma esperança espúria agora alaga
Esta alma em cicatrizes tatuada.
E mesmo que após isto não exista
Sequer de outro caminho, a menor pista,
É bem melhor até não haver nada...
60
Ao menos pude em vida acreditar
Num ato mais tranqüilo feito em glória,
Carrego algum resquício na memória
De um templo onde um dia quis amar.
Embora tão longínquo tal lugar,
Ali não fui apenas mera escória
A vida se mostrando merencória
Aos poucos destruíra o vago altar.
Restando esta lembrança em preto e branco
E agora no final, sendo mais franco
Esta única paisagem valeu tanto
Mantendo mesmo frágil, leda chama
No instante aonde o fim decerto trama,
Algum momento em paz; assim garanto...
61
Amor entre senzalas, facas riscos
Olhando de soslaio ainda creio
No quanto além do mero devaneio
Embora eu sinta os passos mais ariscos.
A vida se tramando em vãos confiscos
Esbarra noutro rumo, perde o veio
E quando me percebo além e alheio
Exposto às tempestades e chuviscos.
Esgarço esta esperança e pouco resta
A face mais atroz, mesmo indigesta
Ditame de uma vida em dor e mágoa.
E quando qualquer luz; percebo aonde
Apenas solidão inda responde
Meu sonho no vazio enfim deságua...
62
Arcando com as quedas costumeiras
Já não consigo mais viver em paz
E quando a noite chega apenas traz
Imensidão em torpes cordilheiras
E as quedas podem ser as derradeiras
De quem se fez outrora mais audaz,
E agora ao fim da vida se desfaz
Em ânsias doloridas, carpideiras.
Nefasto olhar encontra este horizonte
Aonde em nevoenta tarde eu vejo
Anoitecendo em morte o meu desejo
Sem ter uma esperança que me aponte
Senão este vazio dentro em mim
Traçando em mansidão, pois o meu fim...
63
Os rios nas vazantes de um estio
Traduzem os meus dias fielmente
E quando o fim decerto se apresente
Olhando para trás nada recrio,
Vestindo a mesma face em tom sombrio,
Apenas trago o enredo onde lamente
O canto quando fora impertinente
E o fato de sonhar em desvario.
Sedento de esperança. Que tolice!
É como se o passado permitisse
A luz aonde a treva reina eterna.
O amor que poderia ser talvez
No quanto a vida outrora se desfez,
Jamais seria enfim uma lanterna.
64
Olhando levemente para trás
Eu sigo estas pegadas e percebo
O quanto deste sonho foi placebo
Enquanto o meu vazio a vida traz.
Esgoto o pensamento noutro audaz
E morro; aonde estendo e não concebo
O canto em sordidez enquanto embebo
Minha alma desta incúria contumaz.
Meu barco se estraçalha sobre as rocas
E quando alguma luz tu me provocas
A fátua fantasia se esvaíra
Jogado feito um trapo nalgum canto,
A paz que na mortalha enfim garanto,
Ao menos permitindo leve pira.
65
Loucuras entre tanta hipocrisia
Cenários divergentes, mas talvez
Eu possa mergulhar aonde vês
Apenas esta face mais sombria,
Das trevas e do nada, a fantasia
Perdida em ar atroz e sordidez
Enquanto o meu caminho se desfez
Somente esta lembrança eu levaria.
O risco se aproxima de seu fim,
E o quanto inda persiste vivo em mim
Aguarda finalmente algum alento.
E sito meu desejo neste ocaso,
Andando pelas ruas ao acaso,
Da minha insanidade eu me alimento.
66
As mãos procuram mãos e nada sinto,
Os vãos caminhos traçam meu futuro,
E neste desenhar tão inseguro
O quanto de esperança eu vejo extinto.
Arisco sonhador onde me tinto
Nas tramas mais venais, mas não perduro
Agora já cansado eu me enclausuro
E sobrevivo apenas por instinto.
Um verme caminhando sobre o nada
A imagem tão somente destroçada
Impede qualquer luz onde não há
Sequer alguma chama, e deste pouco
Desenho o delirar espúrio louco
Traçando o que jamais encontrará...
67
O quanto deste fel adentra o senso
E bebo e me sacio neste amaro
Caminho aonde tanto desamparo
Traduz toda a verdade e me compenso.
A cada novo dia mais convenço
E nisto o meu desejo eu escancaro
Sabendo quanto amor se fez tão raro
Deixando este vazio, agora imenso...
Respaldos; nunca os tive, e sei tão bem
Sevícia a cada instante sempre vem
E desnudando esta alma em dor e tédio,
Apenas meu cansaço traduzindo
O quanto imaginara ser infindo
E a morte se transforma em bom remédio...
68
Há quanto que procuro e nada vindo
Somente o mesmo passo rumo ao caos,
Procuro e até tentando outros degraus
Qualquer momento em paz será bem-vindo.
Mas sei deste tormento quase infindo
E nele as esperanças ledas naus
Encontram em variáveis tons e graus
Apenas o não ser que ora deslindo.
Acossa-me a vontade de lutar,
Mas sei que independente do lugar
A queda inevitável se faria,
E neste delirar, encontro apenas
Os olhos onde tanto me envenenas
Matando qualquer sonho ou fantasia...
69
Adentro rios, fozes, oceanos
E morro a cada instante sem um cais,
Aonde desejara muito mais
Somente conhecera perdas, danos...
E os riscos aumentando desenganos
Refaço o meu caminho e sei, jamais
Eu poderia crer nestes cristais
Jogados entre engodos desumanos.
Profana realidade toma a cena,
Enquanto uma esperança me condena
O risco de sonhar me atordoando,
Irônico demônio eu trago em mim,
E bebo deste infausto e de onde vim
Já trago o meu olhar, perdido, infando...
70
Olhando para baixo estes penhascos
Traduzem um abrigo ao suicida,
A sorte já selada e percebida
No quanto caminhar traduz mais ascos,
Os dias meramente vis fiascos
Enquanto a própria luz ora trucida
A senda noutra face resumida
Moldando alma pequena em frágeis frascos.
Escassos sonhos ditam o meu passo
E quando noutro enredo eu me desfaço
Apenas mergulhando neste enfado,
O risco de viver; não mais suporto
E a cada novo instante eu me reporto
Ao velho e ledo canto. Desolado...
71
Deserto magistral adentrando ora
E nele não vislumbro mais oásis
A vida se permite nestas fases
E quando a seca chega e se demora,
O sonho sem proveito se apavora
E neste desenhar também desfazes
Em fúrias tão venais e contumazes
Enquanto a própria vida me devora.
Esbarro nos meus erros e desvendo
O quanto de minha alma neste horrendo
Desenho se mostrara inteira e nua
Nas teias entre os ermos, mera súcia
A morte com terror, ardor e astúcia
Aos poucos se enredando enfim atua...
72
Há quanto sepultara esta criança
Que um dia imaginara renascida,
A sorte noutra face sendo urdida
À fúria do vazio ora me lança.
Não resta nem sequer uma lembrança
Memória se desnuda e apodrecida
Traçando a mesma imagem carcomida
Enquanto ao cadafalso o passo avança;
Já nada mais resiste neste peito
E quando solitário em vão eu deito
Mergulho neste lodo, charqueada.
A face se desnuda e nela vejo
Apenas o degrade de um desejo
Que ao fim não me traria mesmo nada...
73
Olor adocicado em podridão
Adentrando as narinas da esperança
E quando no vazio a vida trança
Os passos onde os dias morrerão,
Talvez se anunciando a solução
Seria alguma forma de vingança
Gerando dentro em mim esta mudança
Na face mais sutil: putrefação.
Cadáveres já trago vida afora
E apenas esta angústia ainda ancora
O barco neste espúrio cais nefasto.
E quando me percebo, torpe estorvo
Entrego-me à rapina deste corvo
E aos poucos desta vida enfim me afasto.
74
Preparo o funeral como previsse
O fim da dura etapa necessária
E nesta insensatez que é temporária
Apenas entranhara tal mesmice.
O quanto do vazio se predisse
Na imagem desta torpe procelária
Já não vislumbro além a luminária
Meu verso se resume em tal tolice.
Apodrecido em vida e tão somente
Entregue ao tenebroso mar que sente
Rondando em treva e bruma cada dia.
Enquanto a morte tece a rara teia
Minha alma, sem sentido devaneia
E a solução final, já não se adia.
75
Emanam-se diversos ares onde
O fétido caminho se prepara,
Amaldiçôo então leda seara
E nela o meu delírio em vão se esconde.
Apenas o vazio inda responde
À voz que o peito amargo ora escancara
E quanto mais com tédio a vida arara
O solo com certeza o corresponde.
Sem pontes, horizontes, fontes. Nada...
Imagem percebida é desolada
E o fato de existir não alimenta
Somente este vazio se anuncia
E a cada ausência bebo esta agonia
Na face mais atroz, turva e sangrenta.
76
As lágrimas redimem? Ledo engano.
A vida não permite alguma paz
A quem deseja mais do que é capaz
E sente já puindo cada pano.
E quando pouco a pouco enfim me dano
O olhar que poderia mais audaz,
Agora tão somente gera o antraz
E o passo para além se faz profano.
Acreditar no quanto ainda pude
Vencer o meu caminho atroz e rude,
Tolice tão somente e nada mais.
Depois da derrocada em ar sombrio
Apenas o meu mundo ora desfio
Ditames tão comuns quanto boçais.
77
Fantasmas de esperanças torpes, mortas
Adentram cada parte desta casa,
Enquanto a morte vem e já se atrasa
Aos riscos mais mordazes tu me exortas.
Não posso resumir em frágeis portas
O quanto do vazio em mim abrasa
E o passo noutro enredo se defasa
Enquanto qualquer sorte em paz abortas.
Agônico fantoche ora se esvai
E o passo a todo instante teima e trai
Gerando tão somente outro tropeço.
E sei que errôneo caos em vida apenas,
No quanto tu me enredas e envenenas
Trazendo o que em verdade eu sei, mereço.
78
Presença anunciada de quem tanto
Pudera acreditar ser mais que o vago
Martírio aonde o mundo inteiro eu trago
E a cada novo instante mais me espanto.
Por vezes me ensandeço enquanto canto
E em ânsias dolorosas já me alago,
Procuro qualquer cais, ou mero afago
E nada percebendo em vão me espanto.
Restauro vez em quando qualquer brio
E mesmo num cenário tão sombrio
Sarcástico eu sorrio, e nada faço
Em solilóquio vago pelas sendas
Diversas onde as farpas tu estendas
Tomando dentro em mim qualquer espaço.
79
Em sortilégios tantos vi a vida
Marcada a ferro e fogo, fúria e medo
E quando alguma luz; teimo e concedo
A história já de há muito está perdida.
Ultriz rapina bebe a apodrecida
Carcaça que se mostra desde cedo
E neste desenhar escasso enredo
Transcende ao que pudesse despedida.
Um Prometeu no nada acorrentado,
Destino insofismável, pois traçado
Nos ermos de uma história sem sentido.
Só peço no final, em testamento
Que ainda imerso em tétrico tormento
Eu seja em tom atroz, ora esquecido.
80
Já não comporto mais uma ilusão
Nem mesmo poderia visto que
O quanto da mortalha já se vê
Traçando sem sentido a direção,
E sei dos dias turvos e verão
Corbelha como fosse algum buquê
E neste fátuo mundo em nada crê
Quem sabe discernir sonho e razão.
Ao esgarçar meu verso em tom venal
Eu subo para a morte outro degrau
E sei quanto deveras me redime,
Um ato derradeiro em ar sutil,
Além do que decerto se previu,
Num paradoxo o vejo mais sublime.
81
Ausente dos meus sonhos na verdade,
Não vejo qualquer luz após a treva
E quando este caminho ao nada leva
Já não terei qualquer posteridade
Apenas a visão do que degrade
Aonde desde já deveras neva,
Meu corpo dessedenta então a ceva
Na decomposição; realidade.
Matéria organizada e até pensante
Mutável toma a forma degradante
E gera ou alimenta outras diversas.
No renascer eterno sob a terra,
A história com certeza não se encerra,
Somente noutras tantas sempre versas.
82
Já não me importa além do quanto tive
E neste pouco ou nada eu me resumo,
Esvaecendo em leve bruma ou fumo,
Além do quanto fora eu não contive.
O nome por um tempo sobrevive
Depois desaparece e ao fim, pois rumo
Neste zero absoluto enfim o prumo
E nada mais restando, não revive.
Esqueço qualquer messe e se aprofundo
Nos ermos solitários deste mundo,
Isso já não traria sofrimento.
Somente algum ser cativo dos anseios
Ousando vez em quando em devaneios,
Nos quais eu me sacio ou mais me alento.
83
Não posso me furtar ao dia a dia
Imerso nos meus erros costumeiros
E quando tento além dos corriqueiros
Caminhos; nada resta ou fantasia.
O pouco ou quase nada onde teria
Cevado esta esperança em pés ligeiros
Adentra por instantes derradeiros
O quanto se perdera em agonia.
Já não comporto mais uma esperança
E enquanto no vazio o sonho trança
Gerando outro vazio dentro em mim,
Redemoinho farto aonde eu sinto
O olhar outrora atento agora extinto,
Trazendo em recompensa além; o fim...
84
Fartar-me enquanto vivo de um prazer
Que possa me alentar após a queda
E o passo aonde em nada ele se enreda
Condena-se afinal a se perder.
Esboço reações e adentro o ser
Cujo caminho a vida mesmo veda
E tento reverter o que degreda
Meu sonho num etéreo esvaecer.
Quem dera se eu pudesse, mas eu vejo
Que a cada novo intento, um vago ensejo
Neste mutável ser inconseqüente,
E ao fim do descaminho onde me entrego
Apenas alimento um frágil ego
Enquanto uma saída não mais tente.
85
Tivesse qualquer nova alternativa
Pudesse ser diverso da real
Fatalidade em ar torrencial
Ainda quando um pouco sobreviva;
Arcando com cenário onde se priva
Procuro ser talvez mais racional,
E sigo a pressentir um desigual
Caminho aonde a sorte não cativa.
Esbarro nos meus erros e presumo
Ao fim de certo tempo o ledo fumo
Do qual e pelo qual sou oriundo.
E vago sem destino, leda imagem
Um barco sem caminho ou ancoragem,
Inerme ser atroz e vagabundo...
86
Jamais faria em verso que agradasse
Somente por sobeja simpatia,
O mundo não sonega a poesia
Nem esta nega ao mundo a sua face.
E assim porquanto ao nada ainda grasse
Enquanto o meu caminho se desvia
E bebo o sortilégio da agonia,
Meu ser a cada instante ora se trace.
Um verme perambula entre os engodos
E os erros; reconheço; tenho-os todos
Somente me desnudo e nada mais.
Fatídico futuro me rondando
Num ar tempestuoso e até nefando,
Dos sonhos não restaram nem sinais.
87
Não sou mero protótipo de um sonho
Nem mesmo quero aqui acalentar,
A vida é tão complexa e me inventar
É necessário quando recomponho.
Mas traduzindo em verso não me oponho
Ao quanto pude até não assentar,
Mas verso sobre o quanto hei de enfrentar
Porquanto cada passo é mais medonho.
Afasto-me deveras deste ser
Imerso nos desmandos do prazer
E tento a redenção, mas caricato
Somente em face escusa me desnude
E quando me imagino menos rude,
Demônio que ocultara; enfim resgato.
88
A turba vai sedenta em fúria e fogo
E quando se aproxima deste vão
Adentra sem pudor a escuridão
Não adianta mais pedido ou rogo,
Espúria súcia segue cada passo
Num vórtice venal e costumeiro,
O quanto se desnuda em acre cheiro
Ao mesmo tempo eu sinto e me desfaço
Entregue ao linchamento, apodrecido
Mergulho nesta insânia coletiva
Minha alma aos poucos foge e já se priva
E o resto ora não faz qualquer sentido.
Esfacelado em vida, simplesmente,
Rapina saciada enfim contente...
89
Ainda que buscasse noutros passos
Caminho para além do quanto pude
Vencida há tanto tempo a juventude
Deixando os pensamentos turvos, lassos.
Os olhos se os percebo então mais baços,
O coração aos poucos desilude
E quando me percebo em amiúde
Delírio eu volto aos velhos, tolos traços.
E esbarro numa eterna insegurança,
A vida na verdade me afiança
Do fim e tão somente. Nada mais,
Enquanto me convenço deste engodo
Chafurdo o sentimento neste lodo
Envolto pelos mesmos lamaçais.
90
Aonde quis a glória e nada vinha
Somente a mesma face em tez boçal,
O mundo num eterno ritual
Traduz uma alma torpe e mais sozinha.
O quanto imaginei que fosse minha,
Num fosso se transforma e como tal
Reflete uma alma turva e a pá de cal
Recende ao meu futuro em tez daninha.
Augúrios tão diversos; dita a sorte
E quando se percebe e já comporte
Apenas o silêncio e a calmaria
Da turbulenta noite solitária,
Ainda que pareça procelária
A morte em paz é tudo o que eu queria...
91
Já não resistiria ao sonho quando
A vida noutra face esgarça o canto
E neste desenhar mal me garanto
Morrendo no vazio e o desejando.
Esperas tão sofridas e rondando
O meu martírio a diva em desencanto
Restara muito pouco além do pranto
No olhar a cada instante desenhando.
Desdéns entre loucuras e terrores,
Seguindo cada passo e sem te opores
Vislumbro solitária noite e enfim
Esboço reações? Mas, nada tendo
Somente este final atroz e horrendo,
Aos poucos acendendo este estopim...
92
Desejo se perdera sem um nexo
Sequer e a vida ultrapassando cercas
Enquanto dos meus passos tu te percas
O meu olhar não tem qualquer reflexo.
Destino desenhado pelas Parcas
As sortes se vislumbram turbulentas
E quando qualquer luz; inda apresentas
Com meus anseios tantos já não arcas.
Esdrúxulos delírios de um poeta?
Somente retratando aqui meu eu
Que há tanto sem destino se perdeu
A morte neste instante me completa.
Angustiadamente eu me converto
No quanto pode a vida em desconcerto.
93
Há tanto o canto espera uma resposta
E ao fim já se percebe inutilmente
Ainda que outro sonho se freqüente
A morte noutra face sendo exposta
A vida a cada instante vem e aposta
Na farsa me tomando plenamente
E a queda quando o olhar mal a pressente
Prenunciando a cada nova encosta.
Qual mar bravio eu quebro nestas rocas
E mais em turbulências tu provocas
Ao vértice das dores, o apogeu.
Um náufrago sem tábua em salvação
O mundo de meu eu repetição
Ao canto ninguém mesmo, o respondeu...
94
A voz ao invadir o quarto traz
Somente amortalhada realidade
Traduz o quanto viva esta saudade
Ainda latejante e mais tenaz.
Espúrio navegante eu busco a paz,
Meu todo por sutil tranqüilidade,
Mas quanto mais o tempo em vão degrade
O sonho se transforma. É mais mordaz.
Amordaçando esta alma aonde um dia
Pudesse acreditar onde haveria
Apenas mero cais e nada além.
Aos poucos consumido pela incúria
Esta alma embrenha as sendas da penúria
Rapinas derradeiras logo vêm...
95
Dominas todo o sonho e no final
Escapa-me das mãos, leda paisagem
Esfuma-se e decerto em tal viagem
Meu passo se perdendo, sempre igual.
Ainda pude além do tão banal
Martírio, mas vazia esta bagagem
Trazia do passado uma ancoragem
Às pressas dos anseios; leda nau.
À parte do que possa ainda ter
Mergulho nas entranhas do meu ser
E bebo a contragosto este amargor.
Fatídicas imagens degradantes
E nelas tão somente ainda espantes
O que pudesse um dia, redentor...
96
Pudesse simplesmente navegar
Sem ter estas borrascas onde danas
As sortes mais sutis, cotidianas
E nada resta em paz no seu lugar.
Ausente dos meus olhos, teu olhar
E mesmo assim imagens soberanas
Desenham caricatas e profanas
Vontades de partir, de não ficar.
Esgoto-me à medida onde componho
Meu mundo deste imundo e vão cenário.
Embora saiba até ser temporário.
E quando me percebo e sou medonho,
Apenas tão somente algum esboço,
A vida preparando em paz, meu fosso.
97
Escondo dentro da alma a cicatriz
Medonha tatuada em carne viva
E quanto mais da vida o passo priva
Maior o desencontro onde me fiz.
E tanto aprendo e sei ser por um triz
A sorte noutra face mais cativa,
Esboça a realidade e já me criva
Em novos cortes fundos, cena gris.
Arcar com os enganos de quem tanto
Buscara qualquer paz, mas não garanto
Sequer um dia a mais nesta existência
Marcada pela angústia e desalento,
E quando alguma luz escassa eu tento,
Apenas vagos tons; fosforescência...
98
Recolho no caminho os espinheiros
E os guardo quais relíquias dentro da alma,
A sorte se desmancha e nada acalma
Quem sabe dos seus dias derradeiros.
E quanto mais procuro nada vejo
Somente a mesma face em farta incúria
A dita sem mais nada enfim; depure-a
Talvez ainda trace o benfazejo.
Mas sei quanto é disperso o passo quando
O mundo noutro tanto se transborda
Vivendo neste abismo sempre à borda,
A queda a cada instante desenhando.
Restaurasse os anseios juvenis,
Talvez pudesse ser algo feliz.
99
Arremessando o passo rumo ao nada
Esgoto a sorte e vejo em tez sombria
O quanto na verdade não se adia
Imagem pela vida degradada...
Resulto deste vão e nesta estrada
Apenas a mortalha caberia
A quem se fez suave em frágil dia
E agora morre aquém desta alvorada.
Não mais me cabe então qualquer sonhar,
Ao fim desta viagem, um lugar
Aonde eu possa ao menos ter a paz.
Depois de tantos anos, despedida,
A sorte traiçoeira e desmedida
Traduz o quanto a vida ora desfaz...
100
Refaço com os sonhos a aliança
E tento renovar meu canto quando
O mundo mesmo aos poucos sonegando
Meu passo claramente ainda avança.
Um ser sujeito à guerra ou temperança
Ao mesmo tempo amargo enquanto brando
Espalha-se e decerto transmudando
Jamais busca um refúgio e em paz descansa.
Mutante e variável me desnudo
Por vezes mais suave, ou tão agudo
Bebendo em discordância mel e fel,
Alento-me no verso em desabafo
Ou quando as minhas luzes eu abafo
Transcrevo-me ou renego no papel.

MARCOS LOURES FILHO
 
SONETOS FEITOS EM 13/08/2010

UMA SEXTA FEIRA EM LUA CHEIA

 
Pode ser até verdade,
Mas num posso assegurar,
Outro rumo em realidade
Esta vida irá buscar,
No caminho da cidade,
Ou na roça a se mostrar
Quando em lua a claridade
Sexta feira a desnudar,
Em beleza sem igual,
Clareando este sertão,
Um momento em ritual,
Toma nova dimensão,
Outros mesmos, bem ou mal,
Novas faces mostrarão.

2

Diz o povo de Brejeiro
Nas entranhas das Gerais
Que deveras corriqueiro
Muito além e muito mais,
No caminho mais ligeiro,
Em luares magistrais,
Na clareza do luzeiro
Entre passos divinais,
Outra face se apresenta
Com diversa dimensão,
E sequer já se apascenta
Com furor e em sedução,
Na desgraça violenta
Outro rumo e direção.

3

Quem passeia pelo campo,
Entre luzes constelares
Vendo em cada pirilampo
A certeza dos milhares
De desejos; não acampo,
Mas se tu queres; notares
A beleza dos altares
Onde o mundo; em luz destampo,
Deixando que se preveja
Com astúcia e mesmo medo,
A vontade sem peleja
Outro rumo em arremedo,
Vou falar embora seja
Mesmo até algum segredo.

4

Nas mocinhas desejadas
Cada olhar com fome vem,
E durante as madrugadas,
Nestas ruas sem ninguém,
Atravessam nas estradas
Outras faces e se tem
Impressões já desenhadas
Do que tanto quer um bem.
Nuas belas ninfas; sonho?
Na verdade já nem sei,
Onde quer e me proponho
Incerteza vira lei,
E num tempo mais bisonho,
Outro rumo eu desvendei.

5

No puteiro da cidade
Descarregas o desejo,
Quando tendo a liberdade
O cenário tão sobejo,
Onde em plena claridade
Outro rumo agora eu vejo,
Trazendo felicidade,
Mesmo em falso e vão traquejo.
Nas pelejas desta vida,
Solitárias emoções,
A verdade consumida
Onde quer que tu a expões
No final a mais sofrida
Entre tantas ilusões.

6

Um momento de prazer,
Pago sempre, amigo à vista,
Sem vontade e sem querer,
Nada mais que enfim se assista,
O montante a se perder
Já não deixa qualquer pista,
Se este amor tem merecer,
Ninguém sabe nem avista,
Depois volta para casa,
Satisfeito e tão cansado,
Cinco minutos de brasa
Deixa o besta extasiado,
E decerto quando atrasa,
Ouve um gozo resmungado.

7

Novo dia de trabalho,
Nova semana em batalha
Deste fogo em plena palha,
Muito mais que quebra-galho
Solitário mundo falho,
Neste fio da navalha
A vontade que se espalha
No puteiro tendo atalho.
Como é dura a adolescência
E também a juventude,
Noutro passo em inclemência
O prazer decerto ilude,
Mas até na imprevidência
Da velhice nada mude.

8

Quando chega novo gado
Na casa da luz vermelha
O momento desejado
Acendendo esta centelha,
Um fileiro desenhado
Nem o padre que aconselha
Acredita no pecado
Salta sempre pela telha.
E assim Brejeiro dorme
Todo final de semana,
No desejo tão enorme
Que deveras tanto engana,
A vontade se conforme
Com o tempo onde se dana.

9

De uma velha cafetina,
Ouvindo a reclamação
Que esta merda se alucina
Vez em quando no sertão,
Clientela não domina,
E não faz baldeação,
A verdade cristalina
Traz a mesma sensação
De uma sorte traiçoeira
E sem nada por fazer
Vez em quando sexta feira
Ninguém quase eu posso ver,
Na certeza costumeira,
Nesta fila do prazer.

10

Tanta coisa poderia
Ser a culpa disto tudo,
Mas decerto esta agonia
Deixa o sonho quase mudo,
Promovendo até orgia
Na verdade não me iludo,
Sendo grande a putaria
O dinheiro é tão miúdo.
Mas o sábado chegando
Tudo volta ao seu normal,
Meninada chega em bando,
Volta ao mesmo ritual,
Qualquer coisa desenhando
A desculpa mais banal.

11

A Maria Milongueira
A rainha do bordel,
Mulher rude e fuxiqueira
Que conhece o seu papel,
E decerto não se esgueira
E enfrentando este cruel
Mistério da sexta feira
Planejando, isto é fiel,
Procurar a explicação
Para o costumeiro fato,
Noutro tempo em sensação
Que deveras mal constato
Fazendo averiguação
Desenhando este retrato.

12

Demorando quase um mês,
Na tocaia esta vadia,
Que não serve pra freguês,
Mas trazendo a garantia
Do que tanto em sensatez
Promovesse em galhardia,
Outra féria que ora vês
Muito além do que teria,
Quando organizava a fila
Dos meninos mais afoitos
A verdade já desfila
Em diversos, vários coitos,
A vontade desopila,
Ao molharem os biscoitos.

13

Procurando com certeza
Chifre em crina de cavalo
Noutro passo sem firmeza
Ou decerto quando calo,
Nada mais que uma surpresa
Expressando o quanto falo,
E decerto na grandeza
Coletando jovem falo,
A danada na tocaia,
Toda noite numa espreita
A verdade já não traia
Quem decerto não aceita
De tanto levantar saia,
Tendo nada por colheita.

14

Quando a noite se apontava
Sexta feira em belo céu,
A danada sem ter trava,
Vai coberta em tom fiel,
No momento aonde agrava
O caminho em carrossel,
Outro sonho, mesma lava
Num cenário mais cruel.
Com certeza neste bote
Ela tendo a dimensão,
Do que tanto já se note
Com suprema precisão,
Sem mais nada que derrote
Encontrando a solução.

15

Meia noite, lua clara
Num momento sem igual,
A verdade se escancara
Num cortejo sensual,
A danada já repara
Neste estranho ritual,
Com olhar exposto em tara
Fila imensa e magistral,
O que falo e aqui relato
Dita o quanto eu escutei
Se é mentira ou vero fato,
Nem sequer confirmarei,
Já de quatro neste mato,
Foi flagrado o lobisgay.

Soneto acordelado

Observação: não sou e nunca seria homofóbico, o fato de ter colocado o lobisgay como protagonista deste cordel é tão segregatório quanto o próprio lobisOMEM ou se fosse Lobisfêmea por exemplo.
Abraços e viva a liberdade.
 
UMA SEXTA FEIRA EM LUA CHEIA

MEU CANSAÇO

 
O quanto receaste cada queda
Após o tanto tempo sem sentido
E o verso noutro tom já dilapido
Embora se pagasse em tal moeda,
No fundo mesmo quando a vida seda
O transitar sem rumo agora olvido
E bebo do cenário desprovido
Do tanto aonde o pouco ora se enreda,
Não tento acreditar no que não sinto
Sequer o mesmo engodo ora desminto
E vivo sem saber o que teria,
Ainda que se queira novo passo
A luta traduzindo o meu cansaço
Expressa o que jamais trouxe alegria.
 
MEU CANSAÇO

ALMA MORTA

 
Envelhecendo o corpo uma alma há muito morta
Expondo em podridão aquilo que foi vida
Na decomposição a sorte adormecida
O quanto que inda resta; eu sei; já não importa.

Apenas o terror, ainda me conforta
Espero pela glória há tanto em vão, perdida,
Quem crê numa esperança e disto inda duvida
Num mar em calmaria aguarda um manso porto.

Etérea fantasia, o canto em doces tons,
A sorte se mostrando envolta nos neons
Mas sei que nada disso expressa a realidade;

Procuro em negro céu, o brilho de uma estrela
Não consigo jamais, embora busque vê-la.
Descobrir soluções, pergunto em vão, quem há de?

Marcos Loures
 
ALMA MORTA

MEUS SONETOS VOLUME 039

 
1

Buscando tão somente por alguém,
Mineiro coração faz a colheita
A claridade em sonhos sendo feita
Esconde a tempestade que inda vem.

Atrás daquele monte a negra nuvem
Enquanto o sol ainda não se deita
Parece que em tocaia, numa espreita
O dom de destruir, percebo, tem.

Na falsa calmaria desta tarde
O gozo da ilusão que eu sei inda arde
Depois de certo tempo em alto brado

Trará a tempestade mais cruel,
Porém a sensação de um calmo céu
Retrata o que vivemos no passado.

2

Buscando ter sossego, certo dia,
Entranho meu desejo numa mata
Aberta nos meus sonhos de alegria
Deitado numa pedra, uma cascata

Roncando maviosa melodia,
Que invade traz a paz e me arrebata
Formando o fundo para a sinfonia
Dos pássaros. Trancado em casamata

Levando minha vida sem descanso,
Somente desta forma uma ventura
Depois de tanto tempo; sinto, alcanço...

Tua presença amada no aconchego
Aumenta muito a chance de uma cura
Mas, nua como estás... Cadê sossego?

3

Buscando tua sombra em noite clara
Vagando sem destino por aí,
O quanto; no passado, amor; sofri
O verso que ora faço já declara.

Quando tua presença tudo aclara,
Sabendo desta luz que existe em ti,
Valeu a pena; a dor que conheci,
E sei que este sorriso, cura, sara...

Abrindo o coração, sendo sincero,
Tu tens toda a loucura que eu espero
Num misto de ternura e insanidade

Na doce fantasia que me encanta,
A deusa sem pudor e sacra, santa
Malícia com sutil ingenuidade...

4

Buscando uma alegria, bebe um trago
Do fel que recebera como herança.
Numa macabra insana e louca dança,
Procura em desconsolo algum afago.

O sonho muitas vezes qual um mago
Engana e até promete uma esperança.
Farrapos do que fora uma criança
Jogados das janelas neste lago

Que em tez tão poluída não disfarça.
Repete a tão useira e antiga farsa
Criada em noite insone e mais sombria.

Gargalho sobre os restos que carrego,
Fingindo ser estúpido, vou cego
Forrando a minha noite em ironia.

5

Buscando uma guarida no teu peito,
Amiga, minha eterna companheira,
Tomado pelo grito insatisfeito
Da dor que se mostrou bem mais inteira.
Persigo, neste mundo o meu direito
De ter felicidade verdadeira...

Quem fora plenitude de ternura
Agora sem ninguém vai tão sozinho.
A vida se pintando em amargura,
Maltrata me deixando sem carinho.
A noite sem estrelas morre escura,
Um pássaro se perde sem seu ninho...

Por isso te procuro e na verdade,
Eu creio em toda a força da amizade...

6

Buscando, da fortuna, o meu direito
Encontro meus pedaços pelo chão.
O manto que cobria contrafeito
Embala tantos sonhos de perdão.

Vencer que me fizera satisfeito
E dar o meu recado, rente ao chão,
Vertendo meu amor, insatisfeito,
Tocando bem de leve o coração,

Permita te fazer um novo filho
E saibas que com isso, maravilho.
Não deixe que o destino nos afaste.

Amor que sempre teve o sentimento
De desabar assim, cada momento.
Não sabe que o futuro nos deu a haste.

7

Buscar a claridade em cada noite...
Ser vão e companheiro da verdade.
A noite perspicaz me traz açoite
O vento de meus sonhos, u’a saudade...

Não posso conviver com tanto engano,
Nem posso me deixar ao desatino...
O medo renovando torpe plano,
O canto da sereia é meu destino...

A minha alma procura por saída,
Nos teus braços remansos e delícias...
Venerando total e leda vida,

Já busquei por teus passos, nada encontro...
Desfrutei liberdades e malícias,
Nossa vida é completo desencontro...

8

Buscar a plenitude na aliança
Que possa permitir um novo dia.
Saber qual a importância da alegria
Movendo com firmeza uma esperança;

Quem luta com vigor, o amor alcança
E um templo ao Deus Eterno, em si, já cria,
Deixando para trás, terra sombria,
Tornando assim a vida, calma e mansa.

Vivi tantas mentiras; só restando
De tudo o que sonhara, medo e dor.
Ao conhecer palavras do Senhor,

O mundo se transforma. Em passo brando,
Caminho sem temores pela senda
Que Amor pleno e sereno, já desvenda...

9

Buscava meu caminho em senda quase escura,
Os rios, bela fonte, em doce melodia.
O rumo desta estrada, incerto, eu não sabia.
Só sei que caminhava, a trilha tão bela e dura.

Na fonte cristalina, o frescor d’água pura,
Entretanto estranhava, estava sempre fria.
Por mais forte esse sol, mais e mais se resfria.
Na senda maviosa, estranha criatura.

O meu olhar, curioso, embalde se detinha;
A senda que segui, decerto não é minha!
Um olho mais atento observa e não se engana...

O meu caminho é leve, as fontes são risonhas...
Não tem nenhuma dor, não tem águas medonhas.
Mas, logo que acordei, o adeus de Mariana...

10

Busco em cada sinal, em cada esquina
A sombra de quem foi morte e começo.
Qualquer sinal chegando me alucina
E nos meus pés, teus rastros, eu tropeço.

Corto meus pulsos, sangro; cego a sina
Que muda todo instante de endereço.
A lua penetrando esta cortina
Servindo de consolo e de adereço.

Como o Rio de Janeiro me inebria!
Teu nome repercute como um eco.
A noite tropical depressa esfria

Esguia esta cidade é muito pouca.
Entrando num cortiço ou num boteco
A corda em meu pescoço abrindo a boca
Marcos Loures

11

Busquei a vida inteira, nunca nego,
Uma pessoa amiga que pudesse,
Amenizar a dor que assim carrego,
Sem que sequer cobrança me trouxesse

Poder compartilhar os meus problemas,
Ouvir-me, tão somente ou me alertar,
Alegria e conforto sendo os lemas
De quem já sabe, enfim, nos apoiar.

Por mais que isto pareça ser bem fácil,
Garanto ser imensa raridade.
Um coração gentil, por vezes grácil

Que traga tanto alento para a vida
Nos laços bem mais firmes da amizade,
Só encontrei em ti, minha querida...

12

Bye bye, adeus, so long, já fui,galera;
Não guardo mais as fotos nem recados,
Os quadros esquecidos, pois mofados,
Depois de certo tempo, enfado e espera.

Quem sabe reconhece e até tempera
A vida com desejos malcriados,
Em outras direções, olhos focados,
Desleixo, a solidão, aos poucos gera.

No quarto as bandeirolas, velhas flâmulas
Futuro de fumante diz das cânulas
Traqueotomia à vista, morte a prazo.

Se eu tenho enfim por mim, tanto descaso,
A culpa é deste inferno que hoje piso
Teimando ver após, o Paraíso...

13

Cabeça decepada na bandeja
Servida com pimenta, azeite e sal.
Banquete que esta corja já deseja
Em rito bem sacana e sensual.

Fartura em que a vida, assim preveja
Delírios desta gente canibal
Em nome de um amor que sempre almeja
Prazer tão imbecil quanto carnal.

Nas gargalhadas sinto que esta festa
Um dia não terá prosseguimento;
Cadáver que em cadáver já se gesta

Depois de certo tempo, vira fera.
Nas armas, cocaína, condimento
No qual fino festejo se tempera...

14

Cabeça tá coçando? Fique de olho
Aberto; meu querido companheiro.
Pois pode ser a peste do piolho
Um bicho sem vergonha e bem matreiro.
Ataca jovem, velho até pimpolho
Passeia no cabelo e travesseiro.

Já tive esse bichinho aqui comigo
E foi um osso duro de roer,
Parece na verdade até castigo,
Passando um pente fino pude ver
O quanto de piolho fez abrigo
É coisa bem difícil de esquecer.

Pequenino, mas coça assim à beça
Andando com os pés sobre a cabeça...

15

Cabeça vai girando qual piorra
Rodando bar em bar, bocas e seios,
A sorte lamentada, uma cachorra
Usando sem limites podres meios,

Procuro que alguém que me socorra
Não importando quais sejam os meios
Cansado desta merda, dessa porra
Que se danem juízos ou receios.

Eu quero navegar em mansos mares,
E o gozo da amizade que inda venha.
Revejo velhas caras, seus altares

Halteres tão inúteis, força insana,
Assando minha vida e pondo lenha
Na força em babaquice que me engana.

16

Cabelos desmanchados pelo vento,
Sorrisos estampados nesta face,
Vontade de sentir cada momento,
A vida sem sequer qualquer disfarce.

Eu sinto cada toque desejoso
Qual fosse uma explosão imensurável
Depois de tudo vem o gozo
Imensidão de estrelas incontável.

A mão tão delicada vira garra,
Entranha no meu peito, dilacera,
O coração exposto vem, agarra,
Os dentes da princesa são de fera...

Vontade de sentir cada detalhe
Da força que penetra em cada entalhe...

17

Cabelos tão dourados quanto os teus
Roubando deste sol, a claridade.
Não posso permitir, de novo, adeus,
Nem quero mais saber de uma saudade...

Bem sei que o sol te vendo não nunca esquece
Dos raios que roubaste na manhã.
O deus enamorado se enlouquece
Se esconde em tantas nuvens, triste afã...

Bem sei que quando andavas pelas praias,
O vento em teus cabelos, mil carinhos...
Beijava tuas pernas, coxas, saias...
Buscava sem juízo, doces ninhos...

Inveja que causamos á natura,
Fazendo em pleno dia, noite escura...

18

Cabem mil universos no meu peito,
Embora tantas vezes siga só.
Dos passos não deixando nem o pó
O sonho não se afasta do meu leito.

Um velho coração insatisfeito
Procura desvendar sem medo ou dó.
Porém realidade, amarga mó
Destrói o que em delírios fora feito.

O mundo sendo vasto é tão pequeno,
Dos versos há quem sabe algum aceno,
Mas nada se movendo sobre a Terra,

Poética ilusão, frágil paisagem,
Efêmera e sublime esta viagem,
Transpõe num vôo audaz montanha e serra...

19

Caçando o que não tive, vou sozinho
Na inglória caminhada pela vida,
Às vezes percebendo uma saída,
Engano, então retorno ao velho ninho.

O peito aberto imita um passarinho
Que voa em liberdade, construída
A cada amanhecer e concebida
Ao perceber aberto o seu caminho.

Porém na flor da minha mocidade,
Imerso na total iniqüidade
Não tive, na verdade, quase nada.

Agora que o outono rouba a cena
E a vida cruelmente já me apena,
Aguardo que inda tenha uma guinada,

20

Caçando os meus fantasmas pela casa
Que sei mal assombrada, dos meus sonhos.
Os ritos corriqueiros são medonhos,
Tristonho coração já não se atrasa.

Chegando de manhã, nada mais tendo,
A falsa plenitude vira arroto,
Movido por controle mais remoto,
Segredos do que fomos não desvendo.

Quis chácara, mas xícaras, trouxeste,
Os chacras, tolos mantras, mantas ânsias...
Confusas expressões mostram ganâncias

Plantando neste solo mais agreste
Minha boca esfaimada se sacia
Nos resíduos banais da fantasia...

21

Caçando, devoramos nossa caça
E dela em regozijo faço a festa
Amor que sutilmente ganha a praça
Ternura em fantasia sempre gesta.

Arestas que podamos no passado
Permitem que pensemos no futuro
De um jeito mais feliz, anunciado
Dourando em alegria um céu escuro.

A mão de uma ventura sem igual
Pressente com firmeza, amanhecer,
Bebendo tua pele sensual,
Amor que se transforma quer prazer

A vida estende encanto que deseja
No peito uma alvorada benfazeja.

22

Caçando-te querida sou a presa
Que sabe do poder desta pantera,
Mantendo amor em chama sempre acesa
Jamais outro caminho, assim, me espera.

Tu trazes nestas mãos, a primavera
E mostras com carinho esta certeza
De tudo o que sonhei. Ah! Quem me dera
Não perderia nunca esta princesa

Que é maga nas carícias e nos beijos,
Treslouca minha vida, e faz feliz.
Cumprindo o que diziam realejos

Encontro nos teus braços o que eu quis.
Certeza de poder ser devorado,
Num sonho assim bendito, iluminado...

23

Cacarejando festas por aí
Decifras as baroas e os barões
De todas as medalhas que sofri
Pelejas são apenas mergulhões.

Metáfora demais que me perdi
Fazendo dos enredos, turbilhões.
As bocas que entre trevas percebi
Estrelas entre céus viram bilhões.

Pacotes e coiotes, alquimias
Se mias não humilhas quem seria
São sérias estas séries, certos dias

As sondas feita em línguas não se cansam,
Enquanto provocando hemorragia
O gozo das festanças logo alcançam...

24

Cachorro que se perde do seu dono
Vagando pelas ruas sem licença
Vivendo a sensação de um abandono
Na vida perpetua uma descrença.

Tentando descansar, esquece o sono,
Um osso sem valor é recompensa,
Um beijo apodrecido vira abono,
A noite sem ninguém, passando imensa.

Uivando de saudade se lembrando
Do tempo em que podia até sonhar
Castelos de ilusões se desabando.

O frio desta noite me enregela,
Preciso urgentemente te encontrar,
Mesmo que seja sempre uma cadela!

25

Caço-te nos lençóis de nossa cama,
Não encontrando nada, a noite passa,
No que se fora assim, intensa chama
Sobrando tão somente esta fumaça

Em mil gracejos tolos, sutil trama
Se mostra sem motivo, uma chalaça
Apenas minha voz inda reclama,
Ausência que se fez,a minha alma esgarça.

Errante te procuro e nada vejo,
Mas mesmo assim valeu o nosso amor.
Talvez pra ser feliz, outro traquejo

Que nunca mais teria quem sonhou.
Buscando o teu carinho redentor,
Esqueço tanta vez quem mesmo sou...

26

Cada dia renovando uma esperança
De ter essa alegria que buscara,
Sabendo que esta noite é qual criança;
É pedra preciosa; jóia rara...

Nas horas imprecisas, minha amiga;
Que bom saber que posso te encontrar.
Por vezes nossa vida já periga
Qual barca que teima em naufragar.

Meus versos são meu canto de amizade
Em busca da verdade desta vida.
Eu sei que sempre dói uma saudade,
Da luz que se passou, está perdida...

Por isso, minha amiga te agradeço,
E todo o teu carinho, reconheço...

27

Cada macaco sabe do seu galho
E desta forma a vida é mais suave,
Quando compartilhamos nossa nave
É certo que teremos mais trabalho.

Se ao teu lado, querida, eu me atrapalho,
Eu vejo agora nisto um grande entrave,
Para evitar que a dor assim se agrave,
Eu mostro esta carranca de espantalho.

Cada um no seu quadrado; estou na minha,
Seguindo o meu destino nesta linha
Depois de certo tempo; estou sozinho.

Um pássaro procura companhia,
Mas não suporto mais tanta agonia
Ao ver outro canário no meu ninho...

28

Cada qual com seu cada qual, dizia
Um velho amigo lá das Minas Gerais
Assim também se faz a poesia
Que tem os seus segredos, rituais.

Soneto necessita de harmonia,
Por mais que as rimas sejam tão banais,
Sem métrica soneto não se cria,
A roupa só se quara nos varais.

Não vejo porque tanta discussão.
A criança conhece a redondilha
Dançando na ciranda. É tradição

Do povo brasileiro e lusitano,
Depois do que aprendeu se desvencilha
Cravo fugiu da rosa? Desengano...

29

Cadáver de um romântico, passeia
Entre as estrelas tolas da ilusão.
Celestes armadilhas da expressão,
A lua não seria, assim tão cheia.

Hipérboles, metáfora incendeia
Andinas maravilhas, rés do chão.
Das almas andarilhas, negação,
Realidade mata aranha e teia...

A poesia, agora, perde a tinta,
Desta aquarela, poucos os matizes,
Mulheres tão distantes, más atrizes

A peça há tanto tempo vai extinta,
Meu passo quase trôpego se esconde
Aonde a fantasia perde o bonde...

30

Cadáver insepulto que carrego;
De um tempo que passou, deixou resquícios...
Não sei bem se eu afirmo enquanto nego
Embora saiba bem destes indícios...

Depois de tantos mares que navego
As asas decolando em precipícios,
Distante do que fosse esse meu ego,
Se sigo, talvez sejam só meus vícios.

Os nomes, muitas vezes sepultados,
Volta e meia pululam e renascem.
Diversos, os caminhos, nossos fados,

São mais do que retratos na parede.
Falar neles é como se voassem
Em busca de outras fontes, matar sede...

31

Cadáver putrefeito da esperança
Algoz que tantas vezes me iludiu,
Sorriso em face estúpida, imbecil
Cravando na ilusão espada e lança.

Arcana das paixões, a morte avança
Dos cárceres dos sonhos, mãe gentil,
Enquanto a fantasia, serva vil
Espalha as suas garras por vingança.

Acorrentando as mãos de quem resiste,
Ao fim verei num ato tolo e triste
A cena derradeira desta peça.

Sem ter sequer a chance de sonhar,
A morte devorando devagar
Sem nada, nem ninguém que ainda a impeça.

32

Cadáveres carrego, bem pesados...
Amores e saudades sempre voltam
Nos sonhos, pesadelos, sinas, fados...
Tantas horas perdidas me revoltam

Pés cansados, imersos, afogados
Em plena comunhão, vultos escoltam...
Nas mantas, meus temores abrigados
Precisam de tais nuvens que se envoltam.

A vida foi passando de viés,
Saudades e esperanças; o que eu trago.
O mundo que pensei atou meus pés

Carrego minhas dores – turbilhões...
Todos os meus cadáveres; afago.
Cansaço de quem leva multidões!

33

Cadáveres dos sonhos vão à toa,
Devoram cada parte do que fui,
Se o tempo como insano ainda flui
A voz do meu passado vem e ecoa

Adorna uma ilusão, cevando o nada
E quando me surpreende está vazio.
Alheio ao que tivemos, não adio
Inverno de minha alma, destroçada.

As marcas de teus lábios em meu rosto,
O beijo apodrecido da pantera,
A vida que em teus braços degenera

Deixando o cerne frio, amargo; exposto.
Esposo da esperança, a realidade
Devasta provocando mortandade...

34

Cadáveres que trago do passado
Entranham nos meus versos, degeneram.
O quanto que pensara fosse um brado
Agora os sons diversos desesperam.

Carcaças espalhadas pelas ruas,
Na mendicância crua, esparramada.
Enquanto mansamente continuas,
Não resta dos meus sonhos quase nada.

Apenas um sepulcro dentro da alma,
Vestígios do que fomos, vãos carinhos.
Colecionando dores, vivo o trauma
Da solidão imensa em nossos ninhos.

Assídua tempestade não se vai,
A tela ao fim da peça nunca cai...

35

Cadê minha Tereza? Foi pro mar...
Quem era ventania, virou brisa,
A morte traz medida mais precisa.
Quem fora majestade? Sem altar...

Depois dessa viagem, foi parar
Onde toda maré se torna lisa...
Tereza, bem distante, o mar avisa,
Que nunca poderei mais te encontrar...

Perdoe se não pude nem sentir
O que pensei doesse. Vou pedir
A Netuno que nunca mais te veja...

É tudo que minh’alma mais deseja,
Tua cabeça traga na bandeja;
Nem quero teu cadáver prá carpir...

36

Cadê teus olhos tristes que não vejo?
Cadê a poesia que fizeste?
A noite se engalana sem desejo
E a sorte quase sempre não me veste...

Vento que balançando essas palmeiras
Nas praias deste amor que nunca tive.
As horas sem amor são verdadeiras
O resto do que penso não contive...

Agora não me venha com certezas
Que sabes que não é o meu direito,
Vivendo sem sequer sentir tristezas,
Do nada sempre ao nada, satisfeito...

Porém eu jamais nego que eu te amei
Em versos e metáforas fui rei...

37

Cadeias da tristeza, me livraste...
Deixando meus pés livres para a vida...
Das dores infinitas, me abjuraste.
Deixando essa mãos livres... Esquecida

Da proteção divina, me negaste...
Então mãos e pés, trazem despedida.
Quebraste sem saber toda fina haste
Que mantinha meus pés. Foste bandida!

Cadeias de tristezas, teu legado...
Preâmbulos mortais, velhas cantigas...
Um coração que fora apaixonado

Percebe velhas dores, tão antigas...
Um coração que bate, vai de lado...
Te imploro, vou tristonho, mas nem ligas!

38

Caia por cima de mim,
Nas danças e nos folguedos
Meu amor tão grande assim
Vai em busca dos segredos,

Tua boca carmesim,
Tua língua, lábios, dedos,
Tanto amor que não tem fim,
Aplacando os velhos medos.

Nos meus braços, tua pele,
Silhueta mais esguia
O teu corpo me compele

A fazer estripulia.
Antes que a noite congele
Aqueçamos a alegria.

39

Caindo a noite, pântanos brilhando...
As almas subiriam para o espaço.
Azuis com as tristezas carregando,
Não deixam testemunhas nem um laço...

As horas enlutadas vão passando...
A solidão e o medo, meu cansaço...
As almas ao subirem, já deixando
A noite onde mergulho e me disfarço...

As luzes azuladas trazem medo.
A morte se refaz nesse segredo,
Quem são? Por quê? Ninguém responderá!

Mistérios d’existência ficam lá,
Nas almas que fugiram do degredo...
Meu amor, porventura, onde estará?

40

Caindo sobre os sonhos, pesadelos...
Nos seios desta amada que não ama...
Meus mundos não permitem revivê-los
Nas lavas dos vulcões percorro chama.

Nos brotos das abóboras, seus grelos,
Quem dera reviver amor sem lama.
Envolto nos meus sonhos qual novelos
Que trazem meus destinos. Velha trama...

Adormeci nos braços desta lua...
Balançando, deitei na mansa rede.
Mulher que nunca veio, estava nua...

Nos desertos, meu corpo mata a sede.
A boca que silvava, continua.
Um grande amor que nunca tive, atua...

41

Caiu um aguaceiro dos meus olhos
No dia que a morena foi embora,
Tristeza eu colhi em tantos molhos,
Meu peito foi sozinho e chora, chora...

Saudade é como um trem desgovernado
Não deixa mais a gente nem dormir,
Lembrando do seu beijo tão molhado,
Perdão, morena, agora, vou pedir...

Eu sei quanto que errei; morena linda,
Fiz tanta bobageira pela vida...
Meu coração, morena, é seu ainda,
Sem você, minha estrada vai perdida...

Não deixe que a saudade matadeira
Acabe com paixão tão verdadeira!

42

Calado pelo encanto – amor harmônico,
O verso que se fez em pessimismo.
O brado em solidão morrendo afônico,
Amor causando em nós um cataclismo.

Furores sem limites, fogaréu,
Ardências e calores, jogo feito.
Aladas fantasias, risco e céu.
Floradas de esperança no meu peito

Alcanço o que queria e desejava
Embora a lava queime nossos pés,
O quanto tantas vezes procurava,
Em sonhos, catedrais, altares, sés

Debulho os nossos ritos, faço a festa
O quanto ser feliz é o que nos resta.

43

Calados passarinhos, ninho morto...
Nas vibrações etéreas, vento manso.
Meu pensamento frágil voa absorto
Em meio a mansidão deste remanso...

Nos áditos perdidos, rumo torto,
Embalde tantas ruas, eu me canso...
Amar sem ter alguém, é meu aborto,
Procuro pela guia e não avanço!

Espedaçado, pávido, indeciso...
Caminhos inauditos e ferozes.
Edênico desejo, paraíso,

Conglobam-se velórios e quimeras...
Nos meus escuros sonhos, ouço vozes
Distantes. Dos amores d’outras eras!

44

Calando as mais temíveis penitências,
O amor abriu as portas da alegria,
Não vejo tão somente coincidências
Percebo este poder feito alquimia.
Espalha assim o amor, benevolências
Trazendo a luz intensa a cada dia.

Impávidos olhares no horizonte,
Traduzem claras nuvens- esperanças.
No quanto o meu desejo sempre aponte
O riso prometido nas festanças,
Marcado por franqueza, viva fonte,
Na plena fortaleza em alianças.

Arcando com meus erros, sou feliz,
Um velho sonhador, vero aprendiz...

45

Calando o canto amargo do passado,
Lúgubre cantochão em ladainha,
Amor em nosso peito emoldurado
Permite uma colheita em rara vinha.

Se eu vinha de um destino traiçoeiro,
Agora em tom maior, a melodia
Adentra e modifica o cancioneiro
Perfaz pura emoção, nova harmonia.

A voz que se mostrara quase agônica
Expressa a fantasia de um tenor.
Mudando em alegria, antiga tônica
Recobre este cenário em farto amor.

Homérico caminho que deságua
No gozo do desejo, aborta a mágoa...

46

Calando o coração tão andarilho
A voz do amor se fez inquestionável.
Na fonte do prazer inesgotável
Derramo o quanto quero e maravilho.

Não vejo mais qualquer um empecilho
E sigo percorrendo o passo amável,
No mar do amor imenso, navegável
Eu traço com certeza o bem que trilho.

Por mais que tantas vezes enganado,
Andando por caminho torto, errado,
Eu inda tinha um resto de esperança

De ter após a dura tempestade
Algum caminho solto, em liberdade
Trazendo enfim um pouco de bonança.

47

Calando para sempre os meus deslizes
Jamais esquecerei o que vivemos
Por mais que noutras sanhas nos perdemos
Amor já superando velhas crises.

As dores se despedem, más atrizes
Do gozo mais profano que bebemos
Decerto navegar exige remos
Vontades que decerto queres, bises.

Melancolia é coisa do passado,
Jamais imaginei o que me trazes,
A vida se permite em várias fases

Porém ao ter alguém sempre ao meu lado
Não vejo mais problemas nem terrores,
Entregue à mansidão nego pudores...

48

Calando sobre o quanto não sabia
Rugindo sobre o quase que perdi
Remorso colorindo a noite fria,
Vencido pelo quadro que esqueci

Rolando pela velha escadaria
Da casa que matei quando nasci.
Talvez inda me reste uma alegria
Despida em noite boa. Vem pra aqui.

Remédios para quê? Já basta o tédio.
Maldito este luar em seu assédio
No orgasmo que chamei, mas que não veio.

Problemas acumulo; mas sem seio;
Sem coxa de morena ou de mulata
Caleidoscópio cego me retrata...

49

Calaram já faz tempo nossas vozes
Deitando sobre todos; a amargura
De tantas esperanças vis algozes
Aos quais nem mesmo a morte, enfim, depura.

Enquanto o manso amor aqui floria
Espinhos espalhados pelos ventos,
Matando em nascedouro a poesia
Gerando em triste aborto estes tormentos

Na podridão dos olhos da pantera
O vício no hemorrágico banquete
Recobrem com mortalha a primavera
Fazendo de minha alma atroz joguete

Esparramando a dor tão simplesmente
O desamor sorri; cruel serpente...

50

Caldo de cana, mel, ou rapadura.
Doçura se tornou, querida, um saco,
O amor se confundiu, foi pro buraco,
Matando qualquer forma de ternura.

Amor errado, trama em noite escura,
Confere solidão, ingênuo e fraco.
Recolho os cacarecos num só taco
Cortando em minha carne, vejo a cura.

É carne de pescoço, eu te garanto,
Causada pelo tédio e desencanto,
Atrás da solução, quebrei a cara.

Enroscas tuas pernas noutras pernas,
Em plena primavera, o amor invernas,
Mas deixe-me sozinho, vê se pára...

51

Caleidoscópio diverso,
Amor muda seu matiz.
Cantando assim cada verso
Procurando ser feliz...

Porém no fundo, o poeta,
Finge mais que se imagina.
Mesmo quando se alucina
Ou Cupido acerta a seta

A palavra é feiticeira
Pouco a pouco nos invade
Mentirosa é verdadeira.

Amar é mais que vontade.
Dor é também companheira,
Se juntar vira saudade...

52

Caleidoscópio, eu vejo em tantas flores
Mostrando uma beleza interminável,
Por onde tu seguires, onde fores
Reflexos de um prazer inesgotável.

Ditando sobre nós a redenção
Teus passos me servindo como guias
A vida transportando em turbilhão
Eterna maravilha em melodias.

Nas ilhas que deveras foram tantas
Durante minha dura caminhada,
Agora que em verdade tu me encantas
Não temo nem soçobro em derrocada.

Deixando bem distante o meu calvário
Encontro o paraíso imaginário...

53

Calor enlanguescente que desperta
Não deixa quem amava mais dormir.
Amor um sentinela sempre alerta
Embora na distância, hei de te ouvir...

Palavras que soltamos, mais dispersas,
Não cabem nos meus versos enfadonhos,
De tanto que esperamos nas conversas
Agora quê que faço com meus sonhos?

Jogados sobre a cama, sem sentido,
Não deixam os meus olhos mais fechados,
Perdendo-me nos braços deste olvido,
Os sonhos se tornaram duros fados...

Amada não permita que isso ocorra,
Amor tão delicado: me socorra!

54

Calor vai consumindo e tão confusa
A deusa se perdendo no suor,
O mundo talvez fosse bem melhor
Se a moça levantasse a sua blusa...

Talvez inda tivesse num nuance
Visão do mais sublime paraíso,
Porém a chuva chega sem aviso
E rouba da ilusão última chance.

Apenas sou mais um que se perdeu
Tentando receber o que foi meu
E agora não pertence a ninguém mais.

Recibo já rasgado, o que fazer?
Se teimo e nada tendo a receber
Arranco o que sobrou dos meus varais.

55

Calor vai me tomando esta manhã
Ao ver deitada aqui tua beleza,
Vontade me domina em louco afã
De ter entre meus braços tal princesa.

Teu seio no formato de romã
Na boca maravilha em framboesa.
A febre me tocando, mais louçã;
Querer-te toda minha, uma certeza...

Sorris e nisto excitas-me bem mais.
Sussurros meus desejos, devagar.
Tremores e ternuras já me traz

Olhar de uma menina apaixonada.
Na chama em que me sinto fervilhar,
Amando sem parar, fazer mais nada...

56

Camaleão audaz mudo de cores.
Em tardes eu vou blue, negro noturno.
Carrego inda comigo meus amores.
Meu passo numa espreita sói soturno

Levando como cargas,dissabores.
A vida transtornando cada turno
Plantei felicidade colhi dores,
Nos porões de minha alma eu já me enfurno.

Coração tão vira-lata rebate
Nas madrugadas frias, triste, late.
Uivando em dissonância, a noite traz

Um pesadelo enorme, mata a paz
Amores sem vergonhas ou verdades
Transparecendo cedo as veleidades...

57

Caminhando busquei novas manhãs.
Os ventos tempestades me queimaram...
As mãos se esfarraparam, foram vãs,
Os tiros e canhões dilapidaram...

Nas tentações profanas das maçãs
Dos sonhos, pesadelos me sangravam
As noites solitárias são malsãs
Meus sonhos – liberdade - já calaram...

Os dias que se mostram mais saudáveis
Rapinas, tentam loucas; destruir.
As dores se tornando insuportáveis,

Vorazes, as tristezas não disfarçam
E querem nosso amor já destruir...
Bicos esfomeados, tudo caçam...

58

Caminhando comigo, lado a lado,
Aladas esperanças vêm à tona,
Atadas minhas mãos em outro prado,
Calado; o sentimento inda ressona.

Abandonado, eu tento um novo curso,
De tudo o que já tive; nada resta.
Mudando novamente o meu percurso
Adentro a ventania que se empresta

À sorte de quem fora e não voltou,
Partícipe de um duro pesadelo.
Saudade em minha pele se entranhou,
Deixando ao coração, o frio e o gelo.

Dos elos que se quebram, liberdade?
Apenas tão somente esta saudade...

59

“Caminhando e cantando e seguindo a lição”
Que a cada novo dia aprendemos bem mais.
Mais forte do que o medo, e o vento da paixão
Além do que se mostra em longínquo e bom cais

Demonstra uma alegria em força e sedução
Unindo em diferença a derrota jamais
Virá para quem sabe e tem plena noção
De um mundo bem melhor que é feito em plena paz

A partir deste sonho, um mar em calmaria
Na placidez do canto, a brisa soberana
Que faz de cada noite a promessa de um dia

Sem lutas e sem fome, assim felicidade
Da qual sempre quem ama em versos já se ufana
Virá tendo por lastro, a força da amizade...

60

Caminhando por aí, pelas esquinas,
Teus passos flutuantes, vou seguindo...
Sem saber, nunca sai destas retinas;
Que tanto,um só carinho, vão pedindo...

Caminhando por aí, sequer percebes,
Meus versos se perdendo, sem sentido.
Transmites mansos ventos que recebes,
Enquanto eu...Nos teus passos, vou perdido...

Quem sabe encontrarei o meu caminho?
Quem sabe... Me perdoe mas eu te amo,
Não sei se nos teus braços eu me alinho,

Decerto sem saber que te reclamo
Desfilas pelas ruas, galerias...
Enquanto eu... Me sobraram poesias...

61

Caminhando por ruas tão vazias,
Somente a minha sombra me acompanha.
Luar adormecido na montanha
Deixando estas calçadas mais sombrias.

Sonhando com prazeres; fantasias
Um mundo mais feliz. Terrível sanha.
Apenas solidão ainda entranha
Matando pouco a pouco as alegrias...

Eu te procuro e nada tendo
O dia novamente amanhecendo,
Caminhos paralelos, infinitos...

Há tanto que eu queria te dizer
Do amor que ainda sinto. Sem te ver,
Os versos são somente sons aflitos...

62

Caminhando sem cansaço
Pelo sertão das Gerais,
Procurando um forte abraço
Da amizade feita em cais.

Esperança eu logo traço,
Pois sei que isto é bom demais,
Estreitando cada laço,
Sem eu me esquecer jamais

De uma amiga que carrego,
Dentro do peito em abrigo,
Sem seu brilho fico cego,

Sem a sorte que persigo,
À amizade eu já me entrego,
Deixe-me ser teu amigo.

63

Caminhante perdido sem ter trilhos,
Desconforto gigante em impotentes
Passos que se fazem andarilhos
Buscando outro caminho, outras vertentes.

Encontro na verdade os empecilhos
Comuns da miopia que sem lentes
Confunde seus amigos com caudilhos
E rosna pra quem ama, unhas, dentes...

A sonda que lancei, sem ter resposta
Sonares se perderam neste mar.
Porém pele curtida cria crosta

E aos poucos se transforma na couraça
Que penso proteger do que encontrar...
Só resta uma saudade e a vida passa...

64

Caminhas entre luzes, na calçada
Néons acompanhando cada passo.
A lua se embebeu de madrugada
E vaga sem destino pelo espaço.

Os sons se misturando na balada,
Nos olhos a vitória diz fracasso,
Imagem distorcida não diz nada.
O rito de esperança então devasso

E caço cada parte do que fomos,
Na múltipla visão dos mesmos gomos
Flutuas pelos bares, ruas, becos.

Da música de outrora ouvindo os ecos,
Eternamente jovem. Quem me dera.
Inverna em noite clara, a primavera...

65

Caminhas pela casa toda nua,
Beleza sem igual já se acentua
Ventura incomparável, gozo e festa
Calando com ternura uma tempesta.

A sanha sem pudores continua,
Na cama, no motel, em plena rua.
Na fúria inesgotável que se atesta
Fartura que o desejo nos empresta.

E quando penetrando em cada gruta,
A fêmea insaciável determina
O andar da carruagem. Sempre astuta

Abrindo suas coxas, minha lança
Invadindo as entranhas da menina
Que engole tão voraz e não se cansa...

66

Caminhas sutilmente pela praia
Requebros entre as ondas, sol e areia
Enquanto o teu olhar já me incendeia
O vento levantando a tua saia

Permite que se vejam belas pernas
Morenas e roliças, fogo e chama,
O meu desejo agora te reclama
E quer nossas venturas, doces, ternas.

Tua nudez; prevejo num momento,
E quero sempre e tanto, sem juízo,
Chegando num galope ao paraíso,

Liberto o meu sedento pensamento,
Querendo, toda noite muito mais,
Trejeitos e vontades sensuais...

67

Caminheiro, as estradas do sertão
Desabando o vazio das andanças
Desaguando no mar do coração
Sem força sem pecado e confiança
No resto do que fora uma canção
Guardado em algum canto uma lembrança.

Um gosto de saudade sangra a boca
Deixando bem distante a juventude
Que foi-se em agonia quase louca,
Vontade de sentir nova atitude
Mas força que restou parece pouca,
Morrendo sem ter gana ou ter saúde.

Caminheiro; em teu passo eu já prossigo,
E posso te dizer, és meu amigo...

68

Caminho cabisbaixo, vou cismando
Buscando teu retrato, bem guardado
A vida pouco a pouco vai passando,
Meu peito em sofrimento, torturado...

Meus males são reféns do nosso amor
De tantas amarguras que carrego.
Dizendo que te encontro em cada dor
Que tento e não consigo, nunca nego.

Desdéns colecionados pela vida,
Nos temporais ferozes que enfrentei,
Minha alma sem sonhar segue sofrida
Por campos e montanhas que nevei

Com lágrimas e frio, vento forte,
Sentindo esse bafio, minha morte!

69

Caminho em noite vaga, tolo, insano
Navego pelos bares e caladas.
Jogado pelos cantos e calçadas
Amor feito saudade é tão tirano.

Quem dera reviver cotidiano
Palavras entre sinas bem traçadas,
Porém as luas sempre disfarçadas
Demoram transtornando cada plano.

Queria a cor do mundo em meu olhar
O brilho esmeraldino da floresta.
Se apenas solidão é o que me resta

Apenas solidão; vou encontrar;
Amor porta-estandarte do vazio,
Promete em carnaval somente o frio...

70

Caminho em pedregulhos; perco a linha
O trem de minha vida descarrila
As dores vão fechando e fazem fila,
A noite que congela é toda minha.

Buscando uma alegria que não vinha
O sangue em agonia já destila
Em goles gigantescos de tequila,
Uma esperança aos poucos se definha.

Amigo, na verdade me liberto
Das pedras que encontrei estrada afora.
A bosta que estercara revigora

E deixa até florir neste deserto.
Bebendo deste sonho em conta-gotas
As roupas que eu vesti ficaram rotas...

71

Caminho em tempestade, devagar
Mineiramente venço os vendavais
Chegando calmamente em cada cais
Vejo o melhor momento de ancorar.

Na praia dos meus sonhos céu e mar
Em tons maravilhosos, sensuais
Fazendo desse todo um pouco mais
Num gozo esmeraldino azulejar...

Jogado pelas ondas barco segue
Sem blague, sem mentiras, peito aberto,
Aos braços e carinhos vou entregue

Vogando por errantes caminhares
Nos ventos, sem temores me liberto
Amor bem junto a mim, nos calcanhares...

72

Caminho feito em glória, meu tesouro.
Florida senda exposta dentro da alma,
Do verdejante sonho, ancoradouro,
Dos louros e vitórias, luz que acalma.

Encontros entre as almas que se buscam,
Verdades infinitas que nos guiam
Sem trevas nem neblinas, não se ofuscam,
E tantas maravilhas fantasiam.

Passando pelas noites sem temor.
Tremulam esperanças nos seus passos,
Cenário divinal a se compor,
Tomando num momento estes espaços.

Delírios virginais em claros tons,
Espalham pelas terras, belos sons...

73

Caminho feito em luz glorificou
Porém o meu destino é ser sozinho
Saudade de quem foi e não voltou
Deixando simples sombra sem carinho.

De tudo o que eu pensei nada restou,
Somente esta saudade onde me aninho.
O canto deste sonho me chamou
De volta a percorrer velho caminho

Que leva, num instante à mesma cama
Aonde em toda noite ardia em chama.
Amor que com loucuras se verteu

Em mágicas palavras, sonho breve
Felicidade, agora não se atreve
Matando o que pensara ser só meu...

74

Caminho junto a ti a vida inteira
Com passos bem mais firmes, dia a dia...
A vida se mostrando feiticeira
Encanta-nos com força e com magia...

Colhendo cada flor desta roseira
Que traz em seu perfume a garantia
Da paz tão delicada e verdadeira
Do amor que mais que tudo, sempre queria..

Amada, seguiremos nossa vida
Em toda a primavera da esperança.
Deixando a solidão bem esquecida

Num canto abandonado, tão distante...
Em nosso amor, querida uma fiança
Do dia que virá, mais deslumbrante...

75

Caminho numa praia junto a ti,
A noite traz a lua como guia.
Espraio nos meus olhos alegria
Depois de tudo aquilo que vivi

Saber que enfim consigo o que pedi
Amor que seja intenso em fantasia
E mate, de uma vez toda a agonia
Que um dia em falsos beijos conheci.

Reflexos do luar por sobre as águas
Convite para um louco mergulhar.
Agora um coração que não tem mágoas

Encontra seu destino mais sereno,
E a noite vai passando, devagar,
O amor que a gente faz, sincero e pleno...

76

Caminho passo a passo com quem amo
Enveredando espaços infinitos.
Versejo e com força amor eu chamo
E venço a solidão em claros ritos.

Meus olhos que já foram tão aflitos
Agora neste sonho em que amor tramo
Reféns de uma alegria, vão benditos
Somente em teu olhar encontram amo.

A vida em perfeição com plenitude
Remoça no teu canto em juventude
Amando-te demais, vou amiúde

Na busca sertaneja por açude
Assim como é preciso ter saúde
Amar é sempre um gesto de atitude!

77

Caminho pela vida, simplesmente,
Na semi-morta luz de uma esperança
Aguardo em fantasia a nova dança
Que um dia prometida, qual demente

Escapa entre meus dedos, novamente.
Guardando o que já fui, leda lembrança
Quem dera se eu pudesse ser criança
Recuperar a vida totalmente.

Porém um tédio imenso, uma tristeza
Deitando em minha cama, põe a mesa
Deixando uma vontade de morrer.

Quem teve uma alegria, pelo menos,
Recorda de outros dias mais amenos,
Numa ânsia de sonhar e de viver...

78

Caminho pelas ruas do passado...
Meu lago placidez, já se secou.
Meu mundo sem vergonhas, destroçado,
Mostrando que quem vinha já passou.

Recebo, da saudade esse recado:
Esqueça nessa vida quem te amou...
Não posso conviver com tal pecado,
As brasas dos seus olhos me queimou...

Viver é percorrer imenso tédio.
Não posso conceber tanta frieza.
Procuro para a dor, falso remédio.

Espero seu amor, eternamente,
No vento, procurei a natureza
Encontrei triste lago, novamente...

79

Caminho pelas ruas lado a lado
Com bela estrela viva e deslumbrante,
Fazendo de meu canto enamorado
O rumo que procuro a cada instante.

Depois de padecer, muito cansado
Do tanto que sofri, estar diante
Do bem por tanto tempo procurado,
A vida se ilumina, radiante.

Na tua companhia não me canso
E avanço a noite inteira, dança e festa,
Vagando qual cometa as pernas tranço

Inebriado em olhos tão bonitos.
Amar-te em mil delírios, o que resta
Senão felicidade em doces ritos...

80

Caminho pelas ruas sem destino...
Os olhos que me vêm me torturam...
As noites que não tive me asseguram
O resto que sobrou desse menino,

Que as dores tão cruéis em desatino,
No verme que passeia; transmudaram
A minha morte em vida asseguraram.
Onde estará teu olhar? Já me alucino!

Completa a minha cota de tristeza,
Nas ruas que caminho, sem beleza,
A certeza absoluta deste nada,

Que me acompanhará eternamente...
O tempo vai passando. Eu, de repente,
Sentado aqui - sozinho- na calçada...

81

Caminho pelas ruas sem ninguém
Apenas a saudade é companheira
O frio da lembrança quando vem
Deixando para trás qualquer bandeira,

Aguardo em desespero por alguém
Que trague uma esperança costumeira,
Mas olho para o espelho e nada tem
Nem mesmo uma palavra corriqueira

Que fale de um amor ou da amizade
Que mostre uma alegria em meu caminho,
Vivendo tão somente sem carinho

Eu perco meu destino e liberdade,
No peito uma ilusão em desalinho
Repete este estribilho: uma saudade!

82

Caminho pelas trevas mais obscuras
Em busca do clarão que me negaste.
Vivendo nessas tramas da loucura
Aos poucos percebendo tal desgaste.

Não minto sobre os medos que inda tenho,
São tantos que não cabem num poema.
Porém a cada dia sempre venho
Mudando lentamente um velho lema...

A timidez que impede que eu reclame
À lua tanto brilho que desejo,
Por vezes tanto fogo que me inflame
Espero e não consigo, nem um beijo...

É fácil compreender por que reclamo,
Que faço deste amor se não te chamo?

83

Caminho por estrelas quando vejo
Os olhos divinais que tanto quis.
Sabendo que vertido meu desejo
Na boca que me fez ser tão feliz...

Montanhas escaladas nos mistérios
Das noites que passamos acordados,
Amores envolvidos sem critérios
Demonstram velhos sonhos decorados...

Amada que me trouxe liberdade
Das fontes que percebo inigualáveis,
Vasculho pelos becos da cidade
Os olhos divinais inalcançáveis...

Divinos sentimentos são capazes
De penetrar amores mais vorazes...

84

Caminho quando traz tanta aspereza
Que impede a mais tranqüila caminhada,
Moldado nos teares da incerteza
Não deixam nesta vida quase nada.

Quem sabe, num momento de beleza
A vida se mostrando transformada
Com toda uma alegria e com leveza
Ressurja em esperança, qual florada

Que traz a primavera em nossos olhos
Colhendo as alegrias quase em molhos
Deixando uma amargura para trás.

Assim, querida amiga, na verdade,
Se a vida é feita em paz, viva amizade,
Talvez até sonhar seja capaz...

85

Caminho que me leva à sedução
Meu canto é lírico, eu bem sei, mas tento
Usando da palavra como ungüento
Focar na fantasia esta emoção.

Por tantas vezes tão somente o não
Tomava o meu destino, sofrimento,
E quando escuto a tua voz então
Amor vai entranhando o pensamento.

A marca do teu beijo em minha boca
A força deste amor que já nos toca
Permite uma alegria sem limite.

Tristeza perde uma razão de ser
Enquanto vejo em nosso amor prazer
Estrela sensual não mais evite...

86

Caminho que nos leva, todo de ouro,
Aonde as esperanças já florescem
Os sonhos e desejos sempre crescem
Tomando nossa vida em tanto louro.

Tu és, neste caminho, o meu tesouro;
Teus versos carinhosos enobrecem
Amor que se faz fonte, nascedouro
De um tempo divinal que luzes tecem.

Tomado por teus passos, caminhando
Em trêmulas vontades, te tocando
Sorvendo em tua boca um doce vinho.

Amor que se espalhasse pela Terra
Cessaria com toda estupidez da guerra
Trocando estes obuses por carinho...

87

Caminho Santiago, Compostela,
Nas rotas dos romeiros Juazeiro.
Nos raios deste sol, ventos e vela.
No mundo dos migrantes, um luzeiro...

Nas rezas nas oradas, na capela,
Amor que se derrama verdadeiro.
Esperança que sangra se revela,
No pátio deste mundo sorrateiro...

Aparecida traz seu santuário,
Os homens agradecem, procissão...
Nas rias das urgências estuário...

No medo se comprova a devoção.
As tristezas guardadas num armário,
Esperança acalenta um coração...

88

Caminho sob a Lua de São Jorge
Bebendo cada rastro que deixaste
Saudade vai enchendo meu alforje
Lágrima com sorrisos, num contraste

Fazendo da esperança um alimento
Minha alma numa espreita, de tocaia
Aguarda que tu chegues num momento
O vento levantando a tua saia...

Jamais te deixarei, esteja certa
Por mais que sejam duros os caminhos.
Porteira da ilusão pra sempre aberta
Teu cheiro prometendo mais carinhos

O prumo desalinha, não desisto.
Enquanto houver amor, mais eu resisto...

89

Caminho sobre as mágoas que carrego,
De tempos que não foram mais felizes.
Amor que em tanto amor sempre navego,
Mostrando meu futuro sem deslizes.

Não posso permitir a despedida,
Seria tão cruel com quem deseja
Viver o que se resta duma vida
Na brisa em que me amanso e que me areja...

Pois saibas, meu amor; tão obstinado,
Deseja teu amor todos os dias.
Amor quando te vejo, sou guiado
Por lindas, delicadas; melodias...

Amor que reproduz todo o meu céu,
Na boca destilando vinho e mel...

90

Caminho sobre urtigas, urze, erica...
Meus passos se perdendo neste pasto.
Fulvos, os meus desejos, vida rica,
Nos peitos delirantes, sonho casto...

Não posso nem pedir, mas sei que fica
O gosto da saudade, amor bem gasto
As luvas dos meus sonhos, sei pelica,
Nos versos, minha vida já contrasto...

Nas pedras, corredeiras, seixo e lodo...
Os caules dos arbustos espinhosos;
Pairando sobre mim, um triste engodo...

Nas fontes exauridas, mato a sede...
Perfumes que pensei ter; olorosos,
Meu sonho? Estar deitado em uma rede...

91

Caminhos doloridos, percorrera
Aquele que buscara rara luz.
Nas pedras encontradas; percebera,
Que a vida maltratando reproduz

As urzes nos destinos. Toda fera
Ao mesmo tempo assusta e já seduz
Princesa disfarçada na quimera
Que mostra num sorriso, a dura cruz.

Da mesma forma amor que fundo toca
Rasgando a minha pele, não permite
Que tenha uma alegria que se enfoca

No sonho que falseio p’ra mim mesmo.
Não ouço nem sequer sei quem admite
Que amar é como andar bem junto e a esmo...

92

Caminhos em loucura percorridos
Seguindo esta jangada mar adentro,
Cervejas e prazeres embebidos,
Temperos em dendê mel e coentro

No centro do cenário a moça nua,
Rodando sobre a mesa dos meus sonhos,
O corpo ensolarado, agora sua
Encantos entre cantos tão risonhos.

Na praia, areia, gozos de sereia
Acendendo a fogueira no lual,
O fogo do desejo a lua ateia
Andança nesta dança sensual.

Balançando os seus seios e cabelos,
Das coxas a promessa de novelos...

93

Caminhos mais floridos te desejo
Embora tanto espinho nos caminhos.
Na sorte que te quero e que prevejo
As flores se misturam com espinhos.

O céu que traz o sol, nos dá trovejo,
Às vezes no inimigo bons carinhos,
Na boca que não quero, tanto beijo;
Na que mais que necessito, os escarninhos...

A vida é mesmo assim, amada dor.
É flor, espinho e pedras, solidão.
No frio valoriza-se o calor.

Do medo é que se mostra uma coragem,
A liberdade nasce em podridão,
Na mão que nos açoita, nasce o pajem...

94

Caminhos que nos levem mundo afora
Além destas notícias dos jornais.
As dores e maldades jogo fora
O mundo se mostrando muito mais
Que toda a sensação que tenho agora,
Do medo que nos toma e mata a paz.

Passando pelos mares, ilhas, rios
Ardendo nas queimadas da ilusão.
Tocando nestes nervos, olhos, fios
Dizendo da amizade e do perdão.
Povôo os corações que sei vazios,
Com todos os sentidos da emoção.

Os passos prometidos, liberdade,
Os laços bem mais firmes da amizade.

95

Caminhos que percorro em lágrimas marcado
Deixando que se aflore a dor e o sofrimento.
O medo de viver, há tempos entranhado,
Explode vez em quando e invade o pensamento.

No verso que hoje invento, um derradeiro brado.
A dor da solidão no peito toma assento
Matando o que pensara, um dia, no passado
Ser da alegria plena, o forte e belo vento.

Encharco-me do vinho amargo, avinagrando,
O tempo não ignora e segue deformando
Imagem refletida e agônica, num lago.

Amor amortalhado, imensa distorção,
Na quase conseguida, estúpida ilusão,
No espelho da água, a morte, enfim faz seu afago...

96

Caminhos que seguimos mais unidos
São largos sem ter pedras ou espinhos.
Os ventos da esperança são sentidos
Batendo nas janelas, abrem ninhos.

Os pós destas estradas; revolvidos,
Polvilham tais angústias nos sozinhos,
Porém quem tem os sonhos divididos
Recebem tão somente bons carinhos.

Os cardos arrancados, urzes, pedras
Nas mãos do amor; querida, eu sei não medras
E vences qualquer muro, vai liberta.

Palavra que encontrei pra traduzir
O bem que tantas vezes vi surgir,
Felicidade assim, em alma aberta.

97

Caminhos que senti profusamente
Em várias cercanias que eu trilhava.
Vestido deste sol tão inclemente
Por certo em cada passo mais suava
A mão já tão cansada quão tremente
Carinho em outra mão bem sei, buscava.

Tropeça, cai, machuca, mas se ri
E mostra em gargalhadas ser matreira
Depois que novo rumo, assim, perdi
A mão que desejei tão companheira
Encontro, finalmente por aqui
Depois de vasculhar a terra inteira;

Nas ânsias por amor bem mais sincero
Encontro em ti, querida, o que mais quero...

98

Caminhos tão diversos que percorro
Demonstram quanto a vida vale a pena.
Enquanto a solidão ao longe acena
Nos braços de quem amo, eu me socorro.

Depois de cada vale encontro um morro
E após um outro vale toma a cena
Se alma for inteira e não pequena
A vida traz o frio e mostra o gorro.

Assim entre os espinhos e as floradas,
Estrelas tão distantes alcançadas
E o verso me servindo como alento.

No eterno vai e vem, ondas do mar,
Aprendo a cada dia, mais amar,
Libertando afinal meu pensamento...

99

Caminhos tortuosos enfrentamos,
Neste desejo simples, mas audaz.
Dizer que simplesmente nos amamos,
Talvez sangrar a dor que a vida traz.

Nos versos onde em sonho nos beijamos
Com fúria e com ternura tão voraz
Mas saiba que no amor nos encontramos
Um sentimento vivo, manso, em paz...

Se sinto tua falta a cada dia,
Espero tua voz me acalentando,
Tua presença em forma de alegria

Denota quanto bem por ti já tenho.
Por isso é que aos poucos digo, venho
Neste crescendo raro, estou te amando...
Marcos Loures

3900

Camões em seus sonetos qual Vinícius
Faziam do Amor, motes perfeitos,
Às vezes verdadeiros ou fictícios,
Porém por quase todos, bem aceitos

Amar e ter coragem de assumir
Num tempo em que a discórdia já domina,
Talvez garantirá melhor porvir,
Jamais deixe que seque a fonte, a mina...

Por mais que a vida mostre-se macabra,
Fomente esta emoção, nada ela custa.
O peito ao deus erótico, pois, abra
Não creio ter o Amor, medida justa.

“Amar sem ter medidas”, é saber
Olhando para Deus, O conceber...
 
MEUS SONETOS VOLUME 039