Poemas, frases e mensagens de NinaAraújo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de NinaAraújo

Sou poeta e compositora carioca,nascida em Botafogo.Verso com bastante influência de meus estudos pelo Cordel e as Payadas sulinas da terra materna,me alegra viver em contanto com as poesias de Manoel de Barros e Mario Quintana,sobretudo...

Distração

 
o que me distrai nos versos,
é uma certa puberdade,
o bosque de amenidades,
as folhas secas no ancinho,
a mente que versa e surta,
com o frescor das cidades.

o que me distrai nos versos,
é a palavra que buzina,
e acende um fio de pólvora,
na beleza da vindima,
só para ver a frase curta,
só para embebedar a rima.

Nina Araújo.
 
Distração

Composição

 
Composição

Para compor um poema é preciso tremer as mãos.
E ter o corpo suspenso por centelha e comichão.
E ir vasculhar na janela, algum fato barulhento,
Que seja um fato discreto, alguma gracinha do cão.
Para compor um poema é mister um vôo alto,
Um combinado de saltos e uma boa peneiração.
Poder falar de anseios, ou discorrer nos enredos
Que se infiltram na questão. Talvez tenha que gritar forte
Contar duas rezas com sorte, fazer outra ponderação.
Para compor um poema é possível estar à solta.
Fingir-se de uma boba que caminha sem razão.
E ir buscar o feito intrépido, um pote de ouro desértico
Em arcos de cores e sons. Pode até ver unicórnios,
Sentir paladares de fábulas em doces noites de festa.
Para compor um poema é preciso ter na testa
O suor da decisão, e escrever sua pinta
Coberta da tinta louca que toma qualquer direção



Nina Araújo
 
Composição

Meu Olhar É Santo

 
Meu Olhar é Santo

O meu olhar de amor
é dissonante
não sai à cata do cio,
é quase santo, macio
não sucumbe a adrenalina
das noites de pegadas
no clima está calejada
é firme nas madrugadas
porque tem a doma cansada
dos ardores vazios
dos disparos da endorfina
do vão suspiro acrobático
que parecia simpático
mas amanhece em fastios
meu olhar de amor
é bravo conquistado
é calmo das noites banais
é curado das fantasias
é safo dos ares carnais
do discurso sensualizado
o meu olhar de amor
mora longe
não vive fácil nas ruas
não faz ares de fome
nem se trai com a coruja
meu olhar de amor
não se curva
e dorme na fonte do plexo
mora onde o beija-flor sonha
mora onde a pérola é ostra
que todo o coração espera
o meu olhar de amor
é fera
que não tem porque se apressar...

Nina Araújo
 
Meu Olhar É Santo

Olhos De Jabuticaba

 
Olhos de Jabuticaba

Quando meu olho enamora
Faz um brilho que denuncia
Navega os mares sem travas
Dá choques feito uma enguia
Se destrambelha arde a calma
Nas noites não vê fidalguia
E anda perdido na sala
Como a madrugar poesia
Assim feito a febre danada
Molhando a testa na pia
Com olhos de jabuticaba
Tentando prender este dia
Em que foi capturado
Pela cor da eterna folia

Nina Araújo
 
Olhos De Jabuticaba

Sem Palavras

 
Sem Palavras

Feche logo a torneira
Que a palavra já secou
Fica sem elástico o rapel
Sem viola o cordel
Sem contorno o pincel
Sem diploma o bacharel
Sem barulho o escarcéu
Sem valor o troféu
Sem canoa o ilhéu
Sem recheio o pastel
E os homens ficam ao léu
Sem poetas para rimar
Sem cantigas para animar
O silêncio que se escora
Mas anda à cata da Babel
Que do alto solta a hora
Das letras que caem do céu.

Nina Araújo
 
Sem Palavras

As Amizades

 
As Amizades

Carlão sabia como ninguém conquistar amigos nos moldes atuais de mercado.
Sem dúvida, em primeiro lugar era preciso ter uma inteligência competitiva em sua opinião de expert, depois investir corretamente nos amigos em potencial, agir com sutileza, de forma utilitarista e fria.
Só abordar os amigos que possuíssem altos investimentos, gerenciar a concorrência e jamais aceitar perder tempo com gente sem grana, afinal, um amigo leva tempo para conquistar e laços duradouros só valem a pena se forem compensatórios.
Tudo isso era real em sua vida, até o dia que caiu doente no hospital caro, e foi gastando toda a grana que tinha acumulado.
Pobre e sozinho já que seus amigos também pensavam como ele, chegou ao ponto de ficar à mercê do velho e bom tio Davi, aquele mesmo que o sobrinho desprezava por ser pescador.
Hoje mais humilde, e se recuperando enquanto olha a janela, vislumbra dias melhores e pensa em comprar um barco de sociedade com o tio, aprender a conviver com aquelas pessoas simples que lhe deram caldo quente, maças e carinho verdadeiro, como jamais recebera na vida, e também quer tentar o caminho inverso, ou seja; saber como funciona o conquistar amigos nos moldes da verdade e do coração.
Nada como deixar de ser mercadoria para se tornar gente!

Nina Araújo
 
As Amizades

Nada na mão

 
Nem sucesso que ofusca
Nem fugir à luz do dia
Nem o desistir da busca
Nem o medo de água fria
Nem sintética alegria
Nem o pranto da cotovia
Nem diagnóstico sem cura

Nem perder na loteria
Nem deixar de ser tão tua
Nem bater na rodovia
Nem viver sem compostura
Nem desperdiçar na fartura
Nem ter a falsa euforia
Nem sabotar a utopia

Pois a vida tem começo
Meio e fim com certo apreço
Para brindar a boa energia.

Nina Araújo
 
Nada na mão

Serena Williams

 
Músculos belos força insana
Drive esquerdo tez africana
Solta um slice bacana
Quando a oponente se engana
És a pérola negra urbana
Esguia com rubra bandana
Pusestes o mundo aos teus pés
No tênis ninguém domina
Este revés de mão divina
Faz spins maior que dez
Ganhou novos dólares em conta
Brilhou onde a quadra desponta
Ninguém viu a cor do saque
Porque teu forehand é craque
Desde pequena és incentivada
Pelo pai que é treinador
Agora voltas doce rainha
Serena Williams esta linha
Onde a bola faz tum tum
Ganha sets extasiada
Faz de ti guerreira encantada
Num ranking de número um!


Nina Araújo
 
Serena Williams

Antes Do Pôr Do Sol

 
Antes Do Pôr Do Sol

Antes do pôr do sol
Uma brisa cai molhada
E rega os versos do mundo
E pisa a terra molhada
E patina entre as janelas
E aguarda pelas estrelas
E conversa com as flores
E conta umas duas asneiras
E disfarça uma neblina
E diz que já foi um vento
E fala que era um tormento
E se contradiz com a chuva
E acaba vestindo uma blusa
Onde mira no horizonte
A tarde que vai morrendo
“Para a noite nascer feliz.”

Nina Araújo
 
Antes Do Pôr Do Sol

O Fogo

 
Dona Lina estava muito arrependida, mas não o suficiente para confessar diante daquele sargento que lhe falava com veemência enquanto os bombeiros controlavam o incêndio causado no mato. Ele dizia do trabalho que tinham diariamente com aqueles fatos e que a maioria era ocasionado pelos moleques que botavam fogo no mato de propósito e saiam correndo, que se ele pegasse um, levaria imediatamente para o abrigo, ou se fosse o caso para a delegacia.
No íntimo a senhora aflita prometia nunca mais tacar fogo no matinho ao lado de casa. Mas como imaginar que o vento forte lambesse o fogo para todos os lados? E se chegasse à fábrica de barcos próxima, com tantos materiais inflamáveis pensou alto – Ai, meu Deus- repetia diversas vezes baixinho.
Será que seu Afrânio ali do bar viu quando ela começou o fogo para limpar o lixo, e será que a denunciaria, ou por outra, lhe faria alguma chantagem- pensou.
A coitada passou horas de sufoco chegando quase a esquecer o compromisso da tardinha, um culto na casa da vizinha evangélica em comemoração ao aniversário dela. Dona Lina, mulher católica não se importava nenhum pouco em marcar presença na casa da amiga de quem gostava muito, de modo que se arrumou pegou o presente comprado e foi para a festa ainda com o coração ruminando.
Quando chegou o pastor já havia iniciado o sermão e justo ali falou dos pecados que devemos confessar uns aos outros em união, para não sermos condenados e a senhora ouvia aquilo e a cabeça dava um turbilhão outra vez, coisas de culpa recente...volta e meia algo lhe acusava durante as pregações que se alongavam, até que uma turma começou naquelas orações em voz alta e dona Lina, sem agüentar mais, extravasou:
-Eu queimei, eu taquei fogo, eu queimei sim...mas não foi minha...
No instante em que ia falar outros se levantaram e lhe deram apoio imediato
-Isso minha irmã, queima , queima porque nós queimamos também todos os males porque somos filhos de Deus e entregamos nossas dores.
A situação foi ficando cada vez mais complicada, dona Augusta cantava hinos de alegria pela “conversão” da amiga justo no dia do seu aniversário, ela que já vinha tentando ganhar esta alma por diversos meses... seu Afrânio, o do bar também resolveu se converter já que dona Lina foi, e ninguém ali estava entendendo que ela falava do acontecimento da tarde.
Quando voltou para casa ainda tonta de tanta emoção, dona Lina achou que aquele dia fora muito confuso e resolveu dormir mais cedo na esperança de amanhecer melhor, quem sabe...

Nina Araújo
 
O Fogo

Desejo E Arte

 
Desejo E Arte

Ah...

Quantos desejos

Darão passos neste dia ?

Capas nos sonhos

Impermeabilizar a dicotomia

E muitas canções dirão coisas

De combinar com a alegria

E muitas decisões fluirão

Belas conversações

Nada contra a melancolia mas,

Meu objetivo final,é o jambo

O pé de samambaia

A orquídea vasta que descambo

Sujando outra vez a saia

O sucesso deste dia

É o fim da tarde

Bolo de cenoura e arte

Que vasculha e parte

No íntimo da poesia...


Nina Araújo
 
Desejo E Arte

Dia de Fazer Amigo

 
Dia de Fazer Amigo

O senhor andava com o olhar absorto, perdido nos pensamentos esperando o meio dia. O banco da praça reluzia à luz do sol, o jornal estava ali encostado como se ninguém o tivesse tocado, olhou para os lados não viu ninguém, esperou quase dez minutos e por fim resolveu folhear. As notícias se agastavam- pensou- alguém lutando por mais poder, alguém matando um inocente, alguém roubando, a seleção nacional enfim, melhorando....
Outro senhor aproximou-se e com ar curioso sentou ao lado.
-Tudo igual por esse mundo, nada muda...
-Sim senhor. Às vezes, penso que muda...
-Digo que pouco vejo melhoras nas notícias do jornal.
-Na verdade saiba o senhor, que eu vejo novidades por aqui...
-O senhor vê?
-Sim.
-Aqui em Niterói?
-Sim senhor, aqui neste Campo.
-O senhor podia me agraciar contando essa novidade, pois ando cético há muito tempo...
-Antigamente o senhor deve saber, por aqui ficava um jornal no banco, e até que o dono voltasse outra pessoa não o lia.
-Ora essa, mil perdões, meu senhor!!! Eu, de fato, bem que olhei para os lados mas não vi “viva alma” e então...
-Não se preocupe eu também não sou o dono... mas vi quando o senhor chegou.
-O senhor viu? Decerto o dono foi embora, não é?
-Sim ele foi. Na verdade, eu sei bem porque faz isso.
-Deixar um jornal no banco?
-Exato. Eu o conheço, ele compra o jornal e deixa aí no banco displicentemente até encontrar um amigo em potencial, depois chega perto, deixa o coitado embaraçado e inicia um papo que se surtir resultado, como ele pensa, acaba em um bom papo na padaria. Assim ele faz um grande amigo por dia...
O homem não pôde conter o riso e indagou àquele senhor simpático,como podia ficar sabendo daquela prática.
-Ora o que não sabe um homem só, meu amigo! Escute eu estou indo para casa o senhor aceitaria tomar alguma coisa ali na esquina com este esfomeado?
-Mas claro que sim, o amigo mora por perto?
-Ali na praia há trinta e cinco anos...
-Ah, por isso o senhor me pareceu tão familiar...
Era um sábado de muito sol quando dois homens, um cético e um sonhador, iniciaram uma nova amizade.

Nina Araújo
 
Dia de Fazer Amigo

O Menino

 
Na minha rua tinha um menino que vivia na janela rindo.
Ria quando o carro passava e ria quando chovia, e se a bicicleta atolava também ele ria.
Era cuidado pela mãe, uma mulher pequena e aguerrida que não media esforços para vê-lo feliz já que ambos foram abandonados pelo chefe da casa, assim que este soube da doença do filho. Para amenizar sua dor dizia ele, resolveu morar no interior do estado, de onde poderia visitá-los vez ou outra, o que nunca fez...
Apesar de tudo, a vida deles era preenchida por uma constante disposição de viver, recurso eles tinham algum, pois a senhora era filha de militar e recebia a pensão do pai já falecido, assim viviam sem grandes apertos.
A vizinhança toda se acostumou a ver o menino sorridente que tomava sol na cadeira de rodas, e conversava com os passarinhos, os cachorros, e gostava das crianças, embora uma boa parte do dia ficasse na janela se comunicando através do riso que dava para o tintureiro, o açougueiro, e a moça do banco, especialmente.
Quem passava para o trabalho, olhava aquele menino ali com um ar fresco de alegria e mesmo quem se mudava, uma hora retrocedia para dar um aceno.
Por quinze anos aquela cena se repetia na rua, até que numa tarde linda de primavera aquela criança amanheceu morta, e sua mãe triste, porém consolada, velou e enterrou o seu raio de luz acompanhada por um número grande de pessoas que fizeram questão de comparecer ao cemitério, e prestar a última homenagem ao vizinho sorridente que marcara de certa forma, os seus dias corridos entre o trabalho e a casa.
Ao contrário do que se pensava, aquela mãe continuou uma mulher disposta, e tão logo pode, voltou firme aos trabalhos em movimentos sociais das igrejas e instituições de amparo aos animais, sempre muito querida por todos, outro dia soube-se que ela arranjou um novo pretendente e vai se casar mas vai morar perto, no mesmo bairro, para sentir-se envolvida dos ares de seu lindo menino, que ria para as flores e ria para os barcos e ria para as estrelas, que agora riem com ele lá do céu...

Nina Araújo
 
O Menino

Tantos Sonhos

 
Tantos Sonhos

Meus sonhos são eriçados
São feito os cães de Pavlov
São como as obras de Tchecov
São belas praias de Barbados
E são blindados Couraçados
E são gritados à la Leminski
São olhos de Natassja Kinski
São “capitães” de Jorge Amado
São gergelins no pão torrado
Que O Vento levou para mim

Meus sonhos são pernoitados
São feito cartas para Neruda
São como a Beauvoir sisuda
São Vargas Llosas apaixonados
E são timbrados em pau de rosa
E são verões Guimarães Rosa
São Saramagos bem entrosados
São vôos altos lá nos costados
São corpos nus soltando flechas
Que enfim, são sonhos querubins

Nina Araújo
 
Tantos Sonhos

O Zé Fez Um Samba

 
O Zé Fez Um Samba

‘Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir...
Nem deixar eu me apaixonar...” *

-Tomé, hoje eu quase fiz um samba rasgado.
-E por que não fez homem?
-Pois é , hora e meia no dentista e um dente encapado. Mas já fizeram o samba que eu queria fazer...
-Ora, deixa de conversa fiada, faz outro. Um daqueles de dor de cotovelo, isso faz muito sucesso.
-Mas já fizeram o que eu queria, cara. Eu vou fazer algo novo, é só a cabeça esfriar e o dente parar de incomodar.
-Por falar nisso, o que você decidiu lá com o doutor?
-Ah, tá limpeza, eu disse pra ele que vou fazer um samba que vai arrebentar.
-É ? E ele acreditou?
-Bem, se acreditou não sei, mas disse que espera quinze dias.
-Luis, olha,eu tenho uma coisa pra conversar contigo.Mas tenha calma...
-Fala Tomé, não enrola.
-A Ritinha...Bem, tu ia saber mesmo.A Ritinha foi embora pra São Paulo com aquele coroa,patrão da tua irmã...
-Como é que é?? Ela dormiu aqui comigo esta noite?
-Pois é, pois é. Todo mundo tá sabendo.
-Caramba,Tomé! Que mundo cão!!! Que isso cara!! Que isso!
O rapaz saiu cambaleante, pegou os documentos, mão na boca, o dente doendo.E quase não deu tempo de Tomé perguntar:
-Ô Zé,onde você vai rapaz,não faça asneira!!
-Vou encher a cara Tomé, vou encher a cara e fazer um samba rasgado, do fundo do peito, do fundo do peito...
Assim se foi...

Nina Araújo.


* “Me deixa deixa em paz”-composição:Monsueto e Aírton Amorim
 
O Zé Fez Um Samba

Cirandei

 
Cirandei

Ô Zé ,como é que é ?
Tem catira no salão
Eu já estou pra decidir
Se fico cá na quadrilha
Esperando o São João
Ou então cutuco a velha
E vou dançar pé de serra
O xaxado com baião
Zé,você viu a Mãe D’Água
Volteando o rio Negro ?
Ó meu Deus, que bela Iara !
Sereia de água rara
Que Boitatá entonteia
Me chame aí os meninos
Sei que foram na ciranda
Itamaracá e Lia
Ali, a coisa assovia
Ali a coisa comanda...
Pai Francisco entrou na moda
Quando o jongo entrou na roda
Eu jogava capoeira
Zé,olhe esta mata em festa
Pois o coração atesta
Um folclore à brasileira.



Nina Araújo
 
Cirandei

Por que se versa tanto o desamor,o abandono?

 
Embora eu saiba que o desamor,o abandono,a decepção sejam matérias-primas sedentas de poesia me dá muita má vontade ler ou fazer algo nesse sentido.
Para mim a dor precisa ter dignidade.Ter um caráter de dor,ser sentida sozinha a mais não poder.
Ah,por que se vê tantos versos assim...
Eu faço o inverso quando caio nas malhas da infidelidade,do falso amor.
Por dois dias fico indignada,por dois dias fico chorosa,por dois dias fico me sentindo vítima e por dois segundos vivo a gritar para mim, assim:
-Ainda bem...não fui eu que traiu!!!
Ah, vou falar dos pássaros porque minha sina é ser poeta!

Nina Araújo

Em Tempo:...é só uma opinião pessoal....
 
Por que se versa tanto o desamor,o abandono?

Aquele velho

 
Aquele velho

Quando chegou, o avô estava lá, de ponta a cabeça fazendo aquela pose difícil do yoga.
Precisava lembrar que era yôga com o ô exatamente assim, fechado.
Não sabia o que o velho aprontaria hoje na cozinha, mas viver eternamente sem comer carne, para um rapaz gaúcho era absurdo, pensou.
Adorava aquele seu avô, ele sempre foi seu herói, antes de tudo, porque era do contra e, tinha personalidade zen, desses que dizem: -levem suas ambições, que eu sigo leve...
Homem digno, criou três filhos muito bem, todos se tornaram homens fortes. Um deles era o seu pai Augusto, grande professor de Física Quântica.
Mas aquele avô? Era um caso à parte.
Tinha sabido pelo médico que o seu tempo estava escasso, era o tal problema antigo, que ninguém ousava tocar, exceto ele; com a doçura de quem é eterno.
Num dia quente de verão lá no sul, Robinho soube do passamento do avô, e lamentou muito não ter estado ao seu lado, para ver o último suspiro sereno que sua avó descreveu tão bem.
Naquela mesma tarde depois do enterro,virou-se para Isabel ,sua amada, e disse:
-Bel, não sei se você será a minha sorte, mas ser for, saiba que o nosso primeiro filho se chamará Pedro!
A morena assentiu chorosa. E Robinho sentiu uma brisa de avô lhe sorrindo, do alto da amendoeira farta.
Naquele dia soube que também seria um homem forte!

Nina Araújo
 
Aquele velho

Auto-Retrato?

 
Auto-Retrato?

Às vezes me embalo em fados
De xale pelos ombros, vasta
De mares que atravesso à nados
E histórias onde puxo a hasta
Bambeio em bares, peito à vista
Envolta em alma de fadista
Em violões de timbres claros
Guitarras e emoções à risca

Ás vezes me embalo em choros
De bandolins serenos, casta
De pautas que me trazem coros
E brotam o coração entusiasta
Escuto o som que desce os morros
Chorona em alma de sambista
Finjo que sou poeta que sou artista
E que um minuto apenas me basta...

Nina Araújo
 
Auto-Retrato?

Opostos

 
Opostos

Quando ele era Pascal,
Ela era Carmem Miranda
Ele fala em Schopenhauer
Ela, em Elvis e sua banda
Ele releu o Zarastruta
Ela diz que ali tem truta
Ele acha Nietzche legal
Ela diz que ele é biruta
O que dizer de Confúcio ?
Se ela diz : melhor é o Lúcio
Ele então foi devagar
Perguntou de Kierkgaard
Ela foi rumo à janela
Fitou o verde do mar
E disse ; eu prefiro o Edgar!
Poe????*

Nina Araújo

*Poe eu introduzi como uma citação de Edgar Poe da querida Karla Bardanza,divina!!!
 
Opostos

O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...