Poemas, frases e mensagens de Sansone

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Sansone

Alexandre Sansone Guilherme nasceu em Santos,SP, filho de Concheta Sansone Guilherme e de Roberto Herculano Guilherme. No dia 04 de julho de 1970 se uniu à Ângela Maria Trigueiros. Filhos Gustavo e Maurício. Vitor, neto único.

Painho Vespasiano

 
Painho Vespasiano

Amanhecer diferente.
Chuva molhando a aridez.
Fato raro naquele cenário.
Dulcinéia sentou-se.
O café estava forte.
“ Ótimo”.
Na parede, o retrato descorado parecia falar.
Eram os jovens noivos Lindalva e Vespasiano.
Companheiros inseparáveis.
Saudade molhou o pão amanhecido.
Mainha e painho, simples e sinceros.
Exigiam honestidade e respeito.
Emoldurados pela existência analfabética tornaram-se sábios.
Assim foram por toda a vida, curta para um.
Rápida demais.
“Não sei ler, mas alcanço longe os pensamentos”, dizia Vespasiano.
“Filho meu será dotô”, repetia sempre a todos.
O destino porém não realizou seu desejo.
Partiu cedo.
Restou saudade e muita luta sertaneja.
Estudo! Perdeu-se na lida do tempo.
Parou de chover.
Dulcinéia saiu em direção à roça.

Alexandre Sansone
09/08/2022
 
Painho Vespasiano

Meninângela

 
Meninângela

Olhos verdes
Penetrantes
Cabelos curtos
Lisos
Adornados por borboletas que não voam
Só encantam
Seu semblante angelical
Transformando vivência em esperança
Saudade em amanheceres reluzentes
Tampos não passados
Relembrados, apenas
...”Pega Pega”...
...”Amarelinha”...
Rodopios cantadores
Sorrisos inocentes
Olhos verdes
Meigos
Cabelos trançados
Lisos
Enfeitados por fitas coloridas
Moradias futuras
Das borboletas que não voam
Só encantam seu semblante angelical
Transformando esperança em vivência
E reluzentes amanheceres em saudade.

Alexandre Sansone
2007
 
Meninângela

Amanhecer

 
O dia nascera diferente.
Sentia um roçar espinhento.
Examinou sua pele.
Nada.
Apenas ossos e secura.
Café pronto.
Ralo.
Tomou de um gole.
A cozinha, iluminada pelo sol, estava triste.
Vazia.
Porta permanecera aberta.
Fechar? Não precisava.
Para quê? Pensava Dulcineia.
Acenou para Veredas, o jumento.
Parecia sorrir.
Em instantes, carregaria suas parcas verduras.
Com a venda, voltaria a mastigar.
Assim entenderia o porquê do amanhecer diferente de um dia igual.

Alexandre Sansone
19.09.2024
 
Amanhecer

Um ponto

 
Um ponto

Um ponto raras vezes representa somente um ponto.
Brilhante refletido no abraço e no olhar amigo dizendo: - Olá! Emoldurado no sorriso acolhedor.
Pintado na memória afetiva.
Quase sempre muito próximo da indesejada distância.

Um ponto perto embora longe.
Emociona ternura calada nas palavras surdas.
Sábio em seu aceno de reencontros.

Um ponto fugitivo.
Voador em seu adeus.
Partindo, costurou triste vazio.

Perdi esse ponto. Por enquanto…

Alexandre Sansone

2016/9.5.2017
 
Um ponto

União

 
União

Pétala perambula no ar. Pensa estar só.
Brisa chicoteia o som. Acredita ser surda.
Luz escurece o dia. Pensar está cega.
Escuridão brilha o vidro. Acredita ser feia.

Ar chicoteia a pétala.
Som perambula só.
Dia acredita ser escuridão.
Luz pensa estar cega.

Folha cai no chão. Está acompanhada.
Vento derruba a árvore. Ri um choro compulsivo.
Noite dança no espaço.
Está desacompanhada.
Claridade apaga o reflexo. Grita um murmúrio incompreensível.

Chão chicoteia a folha.
Árvore perambula no vento.
Espaço acredita no choro.
Reflexo ri de seu semblante.

Pétala, som, brisa, vento, luz, noite, claridade de unem para dançar uma dança que chicoteia o reflexo.

Alexandre Sansone
25.06.2008
 
União

Vozes

 
Vozes

De longe e de perto vento espalha sentimento inebriante.

Marielle!! Presente.
Anderson!! Presente.
Moral!! Integrante.
Vida!! Ausente.
Família!! Dilacerante.
Social!! Descrente.
Amor!! Distante.
Fé!! Perseverante.
Crença!! Inquietante.
Marielle!! Presente.
Anderson!!. Presente.
Justiça??

Alexandre Sansone
15.03.2021
 
Vozes

Dulcineia

 
Dulcineia

Caminho era o mesmo desde o tempo de menina.
Rosto agora enrugado escondido debaixo da sombrinha.
Olhos presos no horizonte dos pensamentos.
Mão direita conduzia a carroça com mercadorias.
Mais uma semana modorrenta se iniciava.
Vestido de chita estampado de minúsculas flores.
Vermelho esmaecido se perdia no fundo amarelo vibrante.
Cabelos molhados espalhavam alfazema pelo ar.
Nos pés, alpargatas de couro cobriam cansaço da lida.
Assim ia Dulcineia vender suas verduras na feira central.
Gostava muito de seu nome.
Sua mãe Lindalva um dia encontrou um velho livro.
Na capa havia desenho de três pessoas.
Homem alto e magro montado em um cavalo.
Levava uma espada, dizia.
Ao lado estava outro baixo e gordo.
Engraçado, relatava para ela.
Com destaque via-se a figura de bela mulher.
“Chama-se Dulcineia”, alguém disse para sua mãe, analfabeta.
“ Será o nome da filha que trago no ventre”, disse.
Essa história ouviu inúmeras vezes.
De repente um preá distraiu a atenção de Veredas.
Dulcineia se assustou.
Carroça balançou.
Algumas verduras se perderam.
Firme, dominou o acontecido.
Seguiu seu trajeto.
“Ande rápido, Veredas”. Temos pressa.
Sorriu do nada. Pensara algo.
Ao comprar o jumento, não sabia como chamá-lo.
Após dias, lembrou-se do livro que avistara na feira.
Pediu para o vendedor ler o que estava ali escrito.
Gostou. Apenas memorizou “ Veredas”.

Alexandre Sansone
21.05.2022
 
Dulcineia

Estranha figura

 
Estranha figura

A rua não estava deserta.
Era dia de muito sol.
No meio de tanta gente, alguém se destacava.
Da janela de seu quarto, Alaíde observava aquela senhora.
Passos lentos deixavam o chão salpicado de mágoas.
Braços estendidos ao longo do corpo lembravam nódoas.
Cabeça erguida no ar ostentava cabelos tristemente opacos.
Nas mãos agarrava sacolas corrompidas de sentimentos fracos
Seu semblante transportava oceanos de amargura.
O rosto enrugado não possuía loucura.
Transmitia silêncio e prosseguia seu caminhar.
Quem seria?
Absorta e muda, Alaíde a analisava.
Horas se passaram.
Os ponteiros do relógio da sala avisaram que a tarde se findara.
Vagarosamente, Alaíde se retirou do quarto.
Ao entrar na sala avistou no espelho a estranha figura.
Chorou.
Alexandre Sansone
02.11. 2024.
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Estranha figura

Indigência

 
Indigência

Ventre rasgado.
Filho engolido.
Arroto explodido num riso sarcástico.

Dentes limados.
Boca enlameada.
Cuspida arrebatada num choro convulsivo.

Dor no peito: saudade
Nó na alma: remorso
Consciência negra: nojo.

Mistura de odores que penetra nas narinas alargadas.
Chorando, espinhos caem das pálpebras.

Tristeza perseguindo a trajetória vazia de ser apenas um inútil, perdido na trilha.

Alexandre Sansone
1982
 
Indigência

Um gesto, simplesmente

 
Um gesto, simplesmente

Dedos
---céu azul---
mão
---espaço branco---
aceno
---vento vazio---.

Sentimento alado, largado, solto, retido no ar azul.
Cena imóvel, fotografada, incolor, dolorida, perdida no olhar vazio.

Aceno de mão.
Gesto de despedida.

Coração lacrimoso.
Aceno de mão.

Tempo agora.
Saudade, simplesmente.

Alexandre Sansone

26.05.2008
 
Um gesto, simplesmente

Um forte abraço

 
Um forte abraço

Não estava dormindo.
Nem acordado.
Apenas estava a pensar.
Quanta beleza há naquela nuvem branca
Que me espreita com ligeiro sorriso.

Parece dizer-me: Ande. Existe felicidade.
Não se abandone nos tortuosos trilhos do pensamento.
Venha comigo viajar. Alcance a esperança
Ria. De tudo. De todos. Até de mim.
Tenha pressa. O vento está aqui. Ele não espera.
Não sabe.

Meus olhos perderam a noção do tempo.
Este talvez ainda esteja no ontem, no passado.
Inexistentes
Minha companhia é o presente.

Não sorria.
Nem pensava.
Chorava.
Quanta saudade há naquela nuvem agora quase cinzenta
Que me aconselha com um forte abraço.

Alexandre Sansone
30.11.09
 
Um forte abraço

Casimira

 
Casimira

Era quase noite quando Jorenilo partiu.
Sequer disse adeus.
Com os filhos pendurados em seu corpo, Dulcineia chorou.
Viu-se só.
Completamente vazia.
Nem arrependimento presenciou.
Restou mágoa entranhada em sua alma.
Sentimento que até hoje subsiste apoiado no tempo morrento.
Correndo pela casa viu Teodorino, Marcolino e Casimira.
Crianças que cresceram.
Gotas salgadas pingaram no café morno.
Avistava Rino e Lino, agora casados, durante os festejos de São João.
Apenas.
Há dezenas de meses não sabia de Casimira.
Mora na Capital!
É professora!
Soube pelo dono da venda.

Alexandre Sansone
11.10.2024
 
Casimira

A ponte

 
A ponte

Contemple o horizonte.
Sopre a bruma.
Apure a visão.
Enxergará comprida ponte.
Pise na seca lama.
Amaldiçoe a solidão.
Verá longo caminho.
Pise em cada tábua.
Sinta o balanço do vão.
Ouvirá agudo vento.
Relembre. Chore. Reze. Olhe.
Enxergará comprida ponte.
Ela aguarda sua travessia.
Debocha da hesitação.
Sabe quais temores o afligem.
Conhece sua alma fraca.
Silêncio absurdo domina o instante.
Espaço temporal interrompe o momento.
Horizonte se abre.
Não há mais nebulosidades.
Sol ofusca.
Pensamentos sombrios se ocultam.
Ainda há tempo.
Refaça a trajetória vivida.
Perdoe clamando perdão.
Abrace pedindo abraços.
Ame alegrando amores.
Sorria doando sorrisos.
Doe perpetuando doações.
Saberá que valeu a pena.
Enxergará outra comprida ponte.
Viverá vivendo o correto viver.

Alexandre Sansone
11.07.2021
 
A ponte

O amor está de luto

 
O amor está de luto

Nação brasileira chora seu luto negro.
Lamenta a presença asquerosa do ódio.
Reprime com fervor os braços da violência.
Grita sua indignação diante do clamor popular.
Cobre florestas, cidades, mares e rios por vergonha.
Busca um abrigo que garanta proteção.
Procura algum vestígio da perdida humanidade.
Clama pela presença do respeito a todos os cidadãos.
Exige dignidade e paz sem separação de raças.
Implora competência para correta justiça.
Pede luz para trazer de volta a compreensão.
Nação brasileira orando se ajoelha e pede perdão.
Em momento triste acaricia o amor.
Silenciosamente respeita seu luto.

Alexandre Sansone
21.11.2020
 
O amor está de luto

Carícia

 
Carícia

Espanto! Surpresa! Temor!
Sensações presas à tristeza.
Perplexidade! Indignação! Desamor!
Cotidianos amarrados à incerteza.
Desumanidade! Ódio! Ignorância!
Cresceram arrebatando a violência.
Medo! Dúvida! Incompreensões!
Afastaram amizades dos corações.
Isolamento! Solidão! Saudade!
Formaram miscelânea de confusas correntes.
Descompassaram opiniões divergentes.
Misturaram ideologias com rancores.
Trouxeram feridas não cicatrizantes.
Embeberam lágrimas com amargos suores.
Esqueceram que somos humanos.
Deletaram o necessário respeito.
Atiraram na alma rotos panos.
Deixaram o amor sem jeito.
Luz! Esperança! Amizade!
Surgiram com o preparo salvador da ciência.
Avançaram com um terremoto de sapiência.
Objetivaram doce carícia para nos trazer de volta à vida.

Alexandre Sansone
19.01.2021
 
Carícia

Cozinha

 
Cozinha

Amanhecera terrivelmente quente.
Muito cedo sol invadira a cozinha.
Da vidraça quebrada avistava-se velha cortina.
Azul tinha sido um dia.
Engordurada, não balançava.
Pia bastante gasta abrigava copos e talheres
Abandonados na modorrenta madrugada.
Paredes ligeiramente limpas.
Não tinha mais forças.
Perdera a mocidade.
Azulejos partidos aqui e ali.
Geladeira pequena e antiga quase nada abrigava.
Toalha xadrez de plástico cobria a tosca mesa ladeada por dois bancos.
Nela repousava tristemente velho açucareiro.
De pé, a mulher olhava e suspirava.
Vestido estampado cobria corpo franzino.
Cabelos brancos e desalinhados escondiam rosto cansado.
Não tinha hábito de se lastimar.
Colocou chaleira no fogão de duas bocas.
Escondido entre rugas do rosto surgira um largo sorriso.
Estava viva.
Água para o café fervia no compasso de seu canto.
Gostava de saudar a vinda do luminoso sol quente entrar sem permissão na sua simples e boa cozinha.

Alexandre Sansone
23.11.2021
 
Cozinha

Noite

 
Noite vem. Não está só. Prefere o frio morno das estrelas. Parceiras. Absorve o tremor das sombras. Aliadas. Canta o lamento das cigarras. Companheiras. Perambula pelas avenidas, ruas e ruelas. Flerta com árvores e postes desnudos. Vagueia com seres errantes.. Penetra nos olhares atrevidos. Zomba dos abraços esquecidos. Esquece alegrias repetitivas. Busca gestos inexistentes. Escuridão reduz. Noite vai. Alexandre Sansone. 15.09.2024
 
Noite

Ser Mãe

 
À Gé, meu amor

Ser Mãe

O Ser Mãe, de maneira sobrenatural e única, encontra no espaço trevoso miúda claridade que resguarda sua eterna razão do viver: seu filho.

Alexandre Sansone
05.05.2020
 
Ser Mãe

Gela

 
Gela

Gélida manhã de sol outonal
Estamos a alimentar nossa paz
Límpida e doce a cair do orvalho
Amorosamente envolvido de corações.

Alexandre Sansone
27.05.2020
 
Gela

Luzes

 
Luzes

Há luzes que jamais se apagam. Iluminam sempre.
Existem escuridões que nunca se acendem. Tentam sem sucesso.
Sentimentos bons perduram. Enaltecem existências.
Maus até se espalham. Morrem no esquecimento.
Amores coabitam almas das mais variadas formas. Permanecem.
Rancores buscam aliar ódios às dores alheias. Entristecem.
Crer no raciocínio lógico é sabedoria. Enaltece a lealdade.
Buscar poeira jogada na água é encontrar lama. Escurece o pensar.
Planeta quer viver livre, alegre e feliz. Entenda seu momento.
Encontrem palavras honestas e corretas nas frases cotidianas. Pensem.
Reflitam. Analisem. Somente assim perceberão porquê há luzes que não se apagam.

Alexandre Sansone
13.03.2021
 
Luzes