O menino pobrezinho
Naquela aldeia velhinha,
Numa casa degredada,
Nasceu uma criancinha,
Da fortuna, deserdada.
Fazia pena ver o menino
Tão pobre como ninguém,
Desde o dia em que o destino
Lhe deu a vida sem vintém.
Em Dezembro, por sinal,
Uma carta quis escrever,
Para o velho Pai Natal
Uma prenda lhe trazer.
Feliz nos seus devaneios,
Até dava gosto vê-lo,
Saltitando prós correios
Sem ter dinheiro pró selo.
Mas de lá voltou chorando
Sem a carta poder mandar
E no caminho foi pensando
Pedir a Deus pró ajudar.
Entrando em casa rezou
Uma oração de esperança
E uma luz divina entrou
No seu peito de criança.
O milagre veio a surgir
Nessa noite celestial;
Bateram à porta, foi abrir,
Estava lá o Pai Natal!...
RAMA LYON
A capelinha do monte
A capelinha do monte
Lá no alto, tão branquinha,
No esplendor da serrania,
Brilha aquela capelinha
Onde nós fomos um dia.
Decorria a procissão,
Quando eu te abordei
E ao bater do coração
Meu amor te declarei.
Lembro ainda com saudade
O vermelho do teu rosto,
A corar de f’licidade
Nesse lindo mês d’Agosto.
Com a nossa timidez,
Num beijinho doce e terno,
Fizemos com sensatez
Uma jura d’amor eterno.
Na romaria do monte,
Enlaçados mão na mão,
Como a água lá na fonte
Nasceu a nossa paixão.
E cresceu cada vez mais,
Ao longo de muitos anos,
Sem nunca haver temporais,
Decepções ou desenganos.
Louvada seja a Senhora
Que mora naquele altar,
Pela ideia protetora
Que teve em nos juntar.
Rama Lyon
Rainha Santa Isabel
Dando ouvidos ao coração
Ansioso p'ra ser feliz,
Partiste um dia d'Aragão
P'ra viver noutro país.
E Portugal foi o teu ninho
Onde espalhaste o calor,
Entre o rei e o pobrezinho
Numa cruzada de amor.
Os teus gestos foram nobres
E o povo reconheceu,
O que fizeste pelos pobres
Foi uma bênção de Deus.
Uma das lendas famosas
Saíu um dia do teu regaço,
Quando o pão se fez em rosas
P'ra te livrar dum embaraço.
Foste uma alma boazinha
A fazer bem neste país,
Foste Santa, foste rainha,
Foste esposa de D. Dinis.
Foste alguém que aqui ficou
Consagrada uma jóia rara,
Junto de quem sempre te amou
Em Coimbra, Santa Clara.
RAMA LYON
PORTO SANTO
A Ilha de Porto Santo
Foi por Deus engalanada,
Coberta com fino manto
Feito de renda dourada.
Tem imensa galhardia
Apesar do solo agreste,
É um mundo de poesia
Num paraíso terrestre.
Encontrei nos seus cantinhos
Toda a minha inspiração
E os versos vieram sozinhos
Deslumbrar meu coração.
Como é linda a sua praia
D'areia fina, solta ao vento,
Que ela nunca mais me saia
Do fundo do pensamento.
E o seu povo tão gentil
Sorridente, hospitaleiro,
Que retraça o seu perfil
Copiado dum marinheiro.
Essa ilha maravilhosa
Guardada no meu peito,
Não é cravo nem é rosa
Mas é um...amor-perfeito.
Por ser terra abençoada
Eis a razão porque canto
À formosa ilha dourada,
Meu amado Porto Santo.
RAMA LYON
Mais um São Martinho
Mais um São Martinho
Corre o sol pró poente
E do pipo corre o vinho
Vamos lá ó minha gente
Hoje é dia de São Martinho
A ventania vai soprando
Na rama do castanheiro
E a castanha vai tombando
Diretamente pró braseiro
Mais tarde toda contente
Salta prá boca do povo
E porque está muito quente
Rega-se com vinho novo
Assim se afina a garganta
Desta malta entusiasmada
Que mal ou bem ainda canta
Até chegar a madrugada
Desculpe lá a vizinhança
Que esta noite está de pé
Vamos beber com pujança
Mais um copo de água-pé
Juntem-se a nós no arraial
Mostrem o peito à reinação
Hoje o ruído não faz mal
E nós temos a explicação
Se a noite é barulhenta
Não há problema nenhum
Quando a castanha rebenta
Já se sabe… que faz pum
Rama Lyon
Inês de Castro
INÊS de CASTRO
Certa noite um camponês
No Mondego ouviu cantar
Era a alma de Dona Inês
Que voltou pra nos saudar
Montemor breve acordou
Ao ouvir canto tão belo
E uma estrela iluminou
As muralhas do castelo
Cantava a noite d’outrora
Em que o rei lhe traçou a sorte
Que a partir daquela hora
Seria condenada à morte
Vieram príncipes e princesas
E nobres de todo o lado
Para escutar a subtileza
Deste canto tão magoado
Falava com ansiedade
De Pedro que tanto adorou
E da Corte sem piedade
Que à morte a condenou
Lembra a noite malfadada
E todos aqueles horrores
Quando foi assassinada
Junto à Fonte dos Amores
Mas no fim o que a conforta
É o amor que Pedro lhe tinha
Que mesmo depois de morta
A distinguiu como rainha
Rama Lyon
Homenagem ao bombeiro
HOMENAGEM AO BOMBEIRO
Vejo chamas, sinto o calor
Que abrasa o país inteiro.
Vejo o esforço, sinto o ardor
Com que luta o bombeiro.
Com a agulheta na mão
Pelas vertentes da serra
Combatendo esse dragão
Que pôs fogo à nossa terra.
Não tem horas de trabalho
Nem cama para dormir.
Faz da vida um atalho
Para o seu dever cumprir.
Como é triste o que ele vê
Num Portugal chamuscado
Onde tudo está à mercê
Deste fogo tresloucado.
Ouve os gritos d’aflição
Do povo em cada aldeia
Onde aquela destruição
Junto às casas serpenteia.
Apesar de andar cansado
Com o suor a correr do rosto
Vai lutando como um soldado
Que nunca abandona o posto.
Ele merece nosso respeito
Pela sua grande coragem
E por isso tem o direito
A esta simples homenagem.
Rama Lyon
HOMENAGEM AO BOMBEIRO
Dezasseis de Outubro
DEZASSEIS DE OUTUBRO
Nesta data que hoje vou
Recordar uma vez mais,
Uma cegonha pousou
No telhado dos meus pais.
Deslizou devagarinho
Como quem vinha por bem
E foi pôr-me com carinho
Nos braços da minha mãe.
Foi um correio especial
Que acabava de chegar,
Uma prenda filial
P´ra dar vida àquele lar.
Como é que isto pode ser,
Ninguém pára o progresso,
A encomenda veio cá ter
Sem ter selo nem endereço.
Foram instantes d’alegria
Vividos naquela hora,
Que lembramos dia a dia
Pela nossa vida fora.
Tantos anos já passaram
Desde a minha meninice,
Que ao longo me deixaram
Caminhando prá velhice.
Mas não quero hoje chorar
Sobre as folhas do calendário
E feliz…vou festejar
Mais um dia d’aniversário.
Rama Lyon
O cravo e a rosa
O CRAVO E A ROSA
Eras rosa de jardim
E eu cravo de pôr ao peito
Juntou-nos S. Valentim,
Hoje somos amor-perfeito.
Nesse laço de paixão
Com que o santo nos uniu
Ficou tamanha junção
Que até hoje não partiu.
Mas muito, pelo contrário,
Na roda da nossa sorte,
Esse amor incendiário
Cada vez está mais forte.
É chama que nos aquece
Quer de noite, quer de dia,
Linda estrela que merece
Toda a nossa simpatia.
Ilumina os nossos passos
Pela estrada da doçura
Deitando nos nossos braços
Uma luz…feita ternura.
Amar é nosso destino
Nas horas boas e horas más,
É um tal poder divino
Que tudo por nós ele faz.
Que a história carinhosa
Que o nosso amor bendiz,
Dê ao cravo e à rosa
Um final muito feliz
Rama Lyon
O calor da fogueira
O CALOR DA FOGUEIRA
Cai a neve de mansinho
Produzindo branca teia,
A cobrir da cor do linho
As casas da minha aldeia.
Como sendo seu costume
A velhinha cá da Beira,
Vai à lenha, acende o lume,
Faz vibrar uma fogueira.
Depois vai saboreando
O calor zeloso e terno,
Lá fora o vento uivando
Mede forças com o Inverno.
Como ela fica contente
À volta desta braseira,
Cortejada docemente
Por tão nobre companheira.
Se os netinhos lá estão
Ainda sente mais alegria,
Palpita-lhe o coração
No passar de cada dia.
Oh que bom ter o conforto
Debaixo deste telhado,
Onde o ramo mesmo torto
Nos dá fogo redobrado.
Brilha a brasa na lareira
Sempre, sempre a crepitar,
Louvada seja a fogueira
Que aquece o nosso lar.
RAMA LYON