Poemas, frases e mensagens de anareis

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de anareis

e tu, para sempre, tu.

 
eras novo ainda, penso enquanto rasgo a tua foto,
querendo que fosses tu a rasgar-me por dentro,
não onde me rasgavas, mas de onde não te apago.

apagar a luz,
voltar a ouvir o motor sorrateiro,
pensar em ver o fogo do teu olhar,
faz com que me cresça a fome entre as pernas.

escassas horas que ficaram na eternidade morta do meu corpo,
que treme como tu tremias, quando os meus lábios se queimavam ao sol.

e o teu sorriso,
as sedas a dançar na praia,
os morangos no mel do teu quintal,
como apagar?

são tudo fotografias de um mar de memórias, bem sei.
mas pegar nas crianças, sair à rua,ver os jardins,
é matar-me, matar-me mais, como se ainda fosse possível
matar toda a vida que fizeste nascer dentro de mim.

e agora, vou fazer o jantar para o meu marido?
acariciar-lhe a impotência?
comprar a amizade das empregadas?
eram estes os sonhos que me escrevias todos os dias?

eras novo ainda, bem sei.
chegaste descalço, vestido com a cumplicidade dos gatos,
a lamber as janelas da noite da minha vida e foste o homem,
o príncipe que nunca tive.

fizeste de mim a adolescente que esquecera
e que agora voltara às tardes de paixão da secundária de cascais.

dias a contar os minutos da exacta hora do teu estacionamento
em frente ao quarto do meu corpo, encheste-o de lua cheia e partiste,
para onde as estrelas se despenham, mas continuaste a brilhar,
penso que pelo prazer de me ofuscar.

eu fugi, fugi de mim, subi ao primeiro andar e fugi para longe, durante três meses,
mas cansada de inventar ausências, procurei-te em todas as ruas, atravessei dois oceanos
só para ver os teus olhos rodeados de corpos nus e palmas, muitas palmas.

eras novo ainda, mas quando foste, levaste contigo a minha vida quase toda,
não fossem os pequenos que dormem lá em cima, o resto dela é este fogo
que vai morrendo à minha frente e só ficam, só ficaram as cinzas, e tu, para sempre, tu.
 
e tu, para sempre, tu.

alvo

 
um alvo nas mãos desertas o frio
faz lugar é nómada a vontade de ficar fazer
desenhos com fumo acender a noite ou morrer outra vez
hei de te devolver a seta mas deixa-te ficar aí
gosto da proximidade essa distância que nos junta
ao fumo que desaparece
 
alvo

que mais verbos haverão?

 
que mais verbos haverão? tudo se conjuga. nada se conjuga.
nada se conjuga a ti. tudo me conjuga. de ti ser os verbos.
de que verbos precisarei? o silêncio ... é a voz.
de que corpo este? das mãos é calor que se fala.
que se fala no presente que indica a distância do inatingível?
do inatingível é aqui. aqui a um centímetro da pele. e dos músculos
é inexplicável a força de baixar os braços. e ganhar. ganhar e não precisar ver.
ora longe, ora perto. de ti ser. ora perto, ora longe, ser de ti.

conhecer os símbolos, a sinalização densa, a floresta despida.
e dos corpos, que viver? crateras que se abrem. feridas que se beijam.
e o toque, a música da derme. as gotas ora salgadas, ora doces,
o sabor dos verbos. e deles que dizer? o militarismo. o poder.
que mais direi? se não que dizer, de ti amor, nada saberei escrever.
 
que mais verbos haverão?

preferiria

 
preferiria o silêncio dirá mais tarde aquando
da íngreme passagem pela sala e eu falsamente
desamparada fingindo limpar as lágrimas que não chorarei
- lamento
mas concordo
comigo seria melhor o silêncio penso ansiosa
para que se feche a porta e em uníssono juntar-me-ei
à voz do james brown terei pizza ao jantar não tocarei
na loiça e poderei até mijar fora da sanita
 
preferiria

quatro letras

 
disse-me do frio não lhe
respondi passarão alguns
minutos e ele entrará aqui
com uma voz insegura e
timidamente esquecerá elipses
cuidadosamente mal articuladas
até eclipsar a temperatura
os quilómetros que nos separam
contrariamente às quatro letras
que tenho medo de dizer à minha
voz
 
quatro letras

chama-me puta outra vez

 
está fria, queria uma torrada
ofereces-me uma laranjada
anda besunta os lábios no meu sexo
chama-me puta outra vez
come-me os gomos um a um
 
chama-me puta outra vez