Tenho o mapa de ti cá dentro
Há quem escreva por compulsão
Há quem escreva por vaidade
Há quem escreva para afastar a solidão
Há quem só escreva verdade
Há quem escreva o eu no outro
Há quem escreva o ela nele
Há quem escreva à flor da pele
Há quem não escreva nada
Há quem escreva porque sim
Há quem escreva porque não
Eu cá escrevo por gravidade
Depois do grande empurrão
Ainda caída no chão
E quase sem dar por mim
Sou impelida a verter
Com toda a acuidade
A palavra na palavra dada
O idioma do entendimento
Em cada letra teclada
Porque é muito o sentimento
Porque é nossa a maior cumplicidade
Porque tenho o mapa de ti cá dentro
E esse só fala verdade
Mentira piedosa
Abre a tua alma
Recebe o meu texto
Plana no tema
Enquadra-o no contexto
Sente a sublimação do sentimento
Vivido dia a dia
Sem nenhuma garantia
Sem somar nenhum momento
Apenas o poema estático
No monitor mostrado
Ainda que policromático
Nunca se lhe sente odor ou tacto
Mas engrandece-a mais que tudo
Deixa-lhe o ego bem lá em cima
Como “A única por quem eu luto”
Como “Aquela que mais me mima”
E esse sentimento alheio
Deixa-me a mim invejosa
Por saber da situação a meio
E ainda ser chamada de mentirosa
Se a mentira fosse piedosa
Ou não fosse unilateral o sentido
Não seria tão dolorosa
Como já antes eu havia dito.
A torto e a direito
Declara-lhe o seu amor
A direito e a torto
Enchendo-a de calor
Deixando-a no maior conforto
Diz-se da capital
A uma ponte da amada
Mas vive o sentir de Platão
Nunca se traindo pela palavra
Parece encarcerado
Impedido de consumar
Acto tão desejado
E ela em êxtase suspenso
Inspira-se a cada passo
Dedicando ao seu velho amado
Poesia e prosa em compasso
Sou dona de um raio de sol
Sou dona de um raio de sol
Que chega até mim por uma nesga
Do teu mundo sem cachecol
Que quase me deixa vesga
Manter aceso o feixe de luz
Capaz de apagar as imagens
Que à tua escrita fazem jus
Em qualquer das tuas roupagens
Poderá ser a solução
Inundar-me o coração
Desse amor que em ti brilha
E que me fará mudar de trilha
Diz-me de ti
Responde-me sem mentira piedosa
Qual o programa seleccionado
A quem deixaste saudosa
Por teres lançado longe o dardo
Por onde espraiaste tua alma
A quem estendeste teus braços
Eu manterei meu selo de calma
Ainda que me desmintam meus traços
Diz-me de ti em verdade
Conta-me o teu sabado de liberdade
Vedando o som de minh'alma
Acordei para não ver, nem o que o coração tacteia, nem o odor que me chega, vedando o som de minh’alma, para não saborear o amargo que em ti existe e que cobardemente apenas enfrentas na mão de outras gentes.
Sei que o recesso de ti se perscruta por entre os irmãos de escrita, e que também as irmãs de coração lá chegaram tal como outros chegarão.
Mas isso não impede que fechemos olhos e ouvidos, tapemos pontas de dedos, e constipemos línguas e narizes, porque o amor é maior, porque a idolatração existe e a amizade cresce entre sigilos.
duas dezenas de amigos
Tenho duas dezenas de amigos
Do melhor que pensar se possa
Uns de M outros de H
Todos vestem letra Grande
Uns maiores outros menores
Nenhum fica atrás do outro
Tacteando como mestres
Mostram tanto ou tão pouco
Que mais do que S. Tomé
É como emprenhar pelas vistas
E tudo mesmo aqui ao pé
Sem ter que procurar nas listas
E tu sabes quem são?
E sabes para onde vão?
És meu fio de prumo
És o meu fio de prumo
Quem assegura o meu percurso
Quem garante que tenha um rumo
Quem em último recurso
Endireita o meu caminho
Quem equilibra o fiel
Ainda que colocando mel
Escorrendo para o bom
Apesar de todo o fel
És meu guarda sem apito
És meu trapézio sem circo
Quem me condena Monógamo
Descobrindo-me as conquistas
Por isso também te amo
A ti e a mais umas quantas
Passador de Sonhos
Quero ser passador de sonhos
Em suas mentes penetrar
Os seus mais sentidos desejos revelar
E depois sair sem deixar lanhos
Pois posso lá querer voltar
Quero fazê-las sucumbir
Delirar no amor doente
Talvez um tanto Narcísico
Que mais que a dor de ausente
Faz de mim Metamórfico
E se no fim ainda conseguir
Aclamarei meu amor por todas
Como princesas as tratarei
Mesmo sem ter de jurar bodas
E pleno de emoção viverei
o tempo que está porvir
O que não quero
O que não quero
Fazer parte de um mesmo conjunto
ainda que com factor diferenciador,
Não deixo de estar no fundo
às escuras e sentindo a dor
Tenho que saber as linhas com que me coso
Não quero enrolar-me nelas às avessas
Não quero conhecer apenas depois do gozo
Quero decidir ainda que por linhas travessas
Se entro se saio ou se rodopio também eu no jogo
Porque a dimensão pode ser factor decisório
Quero quantificar e qualificar o demagogo
Decidir ainda que com base no contraditório
Mas conhecer a fundo o enredo
As personagens e seu carácter
Os cenários do tempo ledo
Toda a envolvente do querer
Seja dura ou leve a perfídia
É legítimo a mim conhecê-la
Sem ter que ser por insídia
Antes seres tu mesmo a confirmá-la
Que a minha mente em obsessão
Que encontra o que és
trazendo agarrado o que também não
Sendo dessa forma muito pior o revés
Jamais te podendo estender a mão