Luto pelo afogamento das palavras não-ditas
Escapa-me a lucidez
nesse oceano de palavras não-ditas:
rosas indomáveis querem transbordar de mim;
o superego soberano as afoga; eu choro minha perda...
Nado em luto nos vãos estreitos
entre meus pensamentos paradoxais;
preciso respirar um instante de sanidade oxigênica.
Vislumbro o céu, refúgio das estrelas;
a lua, rainha dos amantes, brilha.
Enfim um pouco de ar...
Eco
A voz rouca
ecoa
da
inevitável
disfonia
do meu
atrevimento...
acaricia
a parede
que você
tão
ar-duo-arma-mente
construiu.
Ou porventura
será você
a parede,
e eu
pre-tem-cios-a-mente
de repente
o azulejo?
VOAR CAIR VOAR
Fiz algumas coisas por você; outras, minúsculas, eu criei só pra você, mas você não me via, não as lia, ou fingia não as perceber. Ainda há coisas que eu não sei dizer.
No pain, no gain.
Nunca gostei de doer muito, ou por muito tempo. Nunca precisei muito de alguém. Acho que nasci pra precisar de pouco; pra precisar somente de mim talvez, mesmo que eu saiba que tudo o que eu possa chamar de meu me pertença por direito ou dever ou decreto de deus ou somente por sentimento.
Assim vim ao mundo: independente. Independentemente das quedas que ele viesse a me oferecer; sempre preferi cair em solo sozinha... Assim não se machuca ninguém. Lembro-me bem dos sonhos que soltávamos como pipas daquelas janelas perdidas e tão achadas! Eles eram pequenos grandes sonhos, e ainda não tinham sido sonhados ou roubados por ninguém...
Aqueles nossos sonhos que sonhávamos em segredo{segredo: eles eram um pouco mais seus do que meus} eram milhares de minúsculas e delicadas estrelinhas que conseguiriam iluminar um bairro inteiro! Ou pelo menos um lar... Nós mesmos os construíamos, lembra-se? Naqueles momentos, não se colocava o sonho de nenhuma outra pessoa em risco... A não ser nós mesmos. Minto, quero dizer: os nossos sonhos.
Lembro-me bem das nossas palavras... Como dói criar minúsculos sonhos e depois, mais ainda, ter de diluí-los com as lágrimas invisíveis vindas dos nossos próprios silêncios, das eternas saudades do que ainda viveríamos...
Você tentou fazer algumas coisas por mim. Tentou me ensinar algumas vezes o que bem mais tarde eu vim a aprender.
No try, no fly.
Sem perceber, aprendi a voar e a doer.
Voo e doo, doo e voo.
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VISÃO
lado a lado
a mente e o sonho
que ela soltalado
talvez
algum dia
se encontrem
nem sempre
a mente voa
e vê de cima
ou se esconde
embaixo
das asas
do sonhalado
às vezes
a mente mora
atrás de duas colinas
a mente demora
entre duas sinas
na frente
do morro
moram um olho
o outro
e suas meninas
faróis da mente e do sonho
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DANDO À LUZ (a um poema com alma de mãe)
vinha muito bem vinda
a vida vivida
vi bem que vivia muito
com vida
vinha que vinha
a vida minha
a vida vinha muito
a vida vivia bem
como a vinha
para o vinho
e o venha
para o venho
à vida,
à vida, vim
a vida muito bem vinha
a vinda e a vida
vinham vindo bem
a vida e a vinda
vivem muito bem
Fonte original do poema: http://sarahkundalini.blogspot.com.br ... oema-com-alma-de-mae.html
Tempo x Memória
Invejo o poder do tempo,
que faz do espaço, palco,
e da vida, mero entretenimento:
após terno momento, apressando-se parte;
não diz adeus, sequer acena um alento.
Tempo, amante inconstante,
que quando o sofrimento se estabelece,
então me acompanha,
lenta e prazerosamente se apresenta,
em artimanha desacelera...
Invejo o poder do tempo,
mas nesse jogo carrego um trunfo:
minha memória, doce domínio,
ao tempo nunca se submeterá.
Pobre poderoso tempo,
há tempo escondes um secreto tormento,
teu único sentimento:
a inveja que tens da atemporal beleza
da memória no meu pensamento.
Devir
esqueço das várias que fui aos poucos
o devir vem brutalmente
sem nitidez
rasgando os espectros entorpecentes
das possibilidades
do infinito
sinto meu corpo desvanecer e reintegrar-se
e lembro que
o espaço
é só uma questão de tempo
um detalhe...
minha mente existe
já imaginei que pudesse brincar com os anjos
e tocar a placidez dos planetas
com um sorriso
e trazer a luz de um metal precioso
nos gametas
e declamar um poema incandescente
com um só beijo...
como um tapa na cara
da morte
e nos relógios atômicos que desenham as linhas
de nossa humana
imperfeição
houve um tempo que
acreditei na indecência
do céu e das estrelas...
com tantas constelações
não poderia haver tanta
solidão e violência
desvencilhei-me de amarras
e armadilhas
escalei um poço escuro arrebentando as vísceras
do tempo
e deixando seus pedaços pelas pedras escorregadias...
não tive medo do desfalecimento
do ser
solucei de saber-me só em trilhas
que pensara que só eu conhecia
reli linhas escritas
displicentemente largadas no lodo
como se valessem todos
os choros
como cartas indesejáveis sem destinatários
pelas horas infatigáveis que impõem o seu próprio fim
temi perder meus pensamentos que fugiam
não os tinha seguros
quando tinha pensamentos demais
enamorei-me da paz do silêncio
que mostra nuances invisíveis
do impossível
enquanto decifrava imagens em mim
indecifráveis
vasculhava meu coração e sangrava
aquela coragem absurda
de acreditar
e de sentir-se
completamente minha...
sentir é um pequeno momento
de lucidez
amar é sorver-se e reencontrar-se
no caos de ser várias
ao mesmo tempo...
de sermos nós
no tempo que há
minha mente ainda resiste
ao nada...
meu coração ainda insiste
em fazer morada
no templo do infinito...
Santa Insanidade -- ( inspirado no poema" Estou fora de mim" de Vóny Ferreira)
Há muito mais em você
que eu possa ver...
Fecharei meus olhos,
fugirei de mim,
e por um instante
entrarei em você
pra respirar
o ar que passa pela sua boca.
- Estou fora de mim...
Livra-me dessa escuridão silenciosa...
Permita-me ouvir seus pensamentos
com a minha mente.
Deixa-me contemplar
a minha santa insanidade
com os seus olhos,
veja-se com os meus.
Deixa-me entrar no seu mar
e achar as pérolas
que você se esqueceu
de encontrar,
e devolvê-las a você,
com as suas próprias mãos.
Sinta-me nas suas veias,
enquanto eu deixo
você roubar uma doce memória
do meu sangue.
Prometo deixar o perfume
da minha passagem
nas flores que eu
beijar nas esquinas
da sua mente.
Voltando a mim,
à minha santa insanidade,
agora menos cega,
terei visto você...
Talvez eu volte a ser eu.
Talvez eu volte...
Terei me visto através dos seus olhos...
Há muito mais em mim
que você possa ver...
Kibernan-Colere - Cibercultura ( breve investigação etimológica e reflexões sobre o conceito)
kybernan
kybernetes
cybernétique
cybernetics
cyber
cibercultura
cyberculture
culture
cultura
colere
Kibernan vem do grego e significa guiar, sendo a raiz da palavra governo. Colere vem do latim e significa cultivar. O neo-prefixo cyber, utilizado em palavras como cyberpunk, cybersex, cyberspace e cyberculture, não possui significado no inglês, nem tampouco nos neologismos correspondentes no português. Isso ocorre pelo fato de cyber ter sido retirado de cybernétique do francês, palavra a qual não possui na sua morfologia uma união de radicais.
O homem controla as linguagens. O homem controla o homem e a natureza. Talvez finalmente a "natureza" do homem queira se libertar do "homem". O homem procura escapar da sua natureza, numa tentativa desesperada de fugir da mortalidade, da imperfeição e da vulnerabilidade inerentes à sua existência. Então se pensa "o super homem" de Nietzsche. Porém posteriormente, consciente de suas limitações, inventa o computador na ilusão que a máquina possa ser o "super homem". Nada podemos fazer sozinhos, seres humanos ou máquinas; tudo o que temos hoje é o resultado do que já foi pensado e feito, e que, felizmente, foi compartilhado.
Penso que o conceito cyber signifique uma transformação. Não tem a ver com a parafernália microeletrônica que vem sendo sugerida no momento. Cyber significa compartilhar. Sendo assim, cibercultura significa compartilhar cultura, e tudo o que esta última sugere: informação, conhecimento e ideias. O "homem" no futuro não controlará mais. Todos colaborarão com todos, pois quando não há mais controle do "cultivo" e compartilhamento de ideias, todos controlam, então todos deverão colaborar. Em relação à "fabricação" do homem, Norbert Wiener (matemático norte-americano conhecido como o pai da cibernética) diz: "O homem faz o homem à sua imagem e semelhança". Sendo assim, se o homem repensar a sua natureza social e coletiva, talvez ele possa se fazer melhor.
Meu blog:
http://samanthabeduschi.blogspot.com/
VIRÓTICA
viro aquilo
ou
viro isso
qualquer dia desses
viro árvore
a sorrir um quilômetro
de só isso
ou de aquiles
e viro o virar
da maçã à raiz
da raiz aos quilates
de perigos
vou e volto
de mercúrio
no mercúrio
do meu termômetro
sem precisão
nem aviso
virar a virada
para o lado
contrário do ar
do chão à marte
da lua refletida no mar
à sorte de plutão
viro só riso a voar
viro semente
de presente
pra terra
viro tudo
que pressente
a atmosfera
de estar
virando
viro risco
que nada
em água corrente
viro riso
viro nada
viro serpente
que alimenta
a fera e o juízo
viro terra viva quente
viro gente
qualquer dia desses
viro paraíso
viro porta aberta
do piso
à aorta
se descoberta
puro prejuízo
e se for preciso
viro a mão
que o coração
comporta
viro sim
viro não
viro sorriso
pois o meu vício
é virar o aquilo
ou o isso
nisso
Meu blog: sarahkundalini.blogspot.com