Poemas, frases e mensagens de Ziza Saygli

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Ziza Saygli

Sou professora de Português e Literatura há 16 anos.
Amo o que faço e por isso sou feliz!!!

SÚPLICA

 
Boca que me olha a todo instante,
Me faz ver lábios por todos os lados,
Diva e musa de minh’alma ardente,
Sorriso que brota vulcão em meu peito,
Me leve embora pra esse mundo só seu.

Hei de ser fonte de néctar,
Dizer-lhe carinhos em mãos gentis,
Explodir os sonhos que guardei pra você.
Meu ombro que é cais, sorrisos de calma
Fará de seu frágil navio, porto sereno de amor.

Mas como a boca que me fita, me abarca,
Me abraça e me arrebata levando-me ao céu
É a mesma que me diz nomes alheios
Fala-me de amores e seus devaneios
Prendendo-me e soltando-me ao léu?

Estrada sinistra que conduz o meu corpo,
À procura da sombra desses lábios sutis,
Me faça em pedaços por não tê-la inteira
Pois mergulho em minh’alma e choro de dor,
Por sabê-la tão quente, sedenta e vermelha
Em outra boca abrasiva de qualquer meretriz.
 
SÚPLICA

ESTAÇÕES

 
Tento esconder o que meu rosto me escreve
Mas em mim bate um vento que marca minha face.
O tempo não é mais meu amigo e voa rapidamente.
Não me iludo e não aprendo com os furacões.

O que me resta dos sonhos eu não registro.
Recuso-me a ler as histórias que eu mesma escrevi.
Minhas folhas caem e eu não me importo.
É sempre outono em meu caderno.

Eu me projetei tronco forte, raiz profunda...
Sem medir o tempo, tentei me renovar,
Sentir-me outra com faces fabricadas
Única a cada estação que se repete.

Mas que força da natureza é essa que me tenta?
Eu me agasalho e me dispo,
Me resfrio e me acaloro
A todo instante me viro e reviro.

O sol me cobre de flores,
O inverno as folhas me tira,
E eu me aqueço nas neves.
São as estações passando por mim.
 
ESTAÇÕES

REMINISCÊNCIAS

 
Todo hoje me remete à saudade de ontem...
Os sonhos, os risos, os olhares e as vozes
São ecos perdidos num grito abafado
Que feito tufão me leva ao passado.

Estranho poder esse do tempo...
Os dias se vão e o hoje se faz
Na mesma cadência que eu tento viver
Uma grande ausência que sinto de mim.

Martela em meu peito a falta do céu
Das noites de luas, d’estrelas brilhantes
Infinitas lembranças que a volta me traz.

Saudade tem cheiro, tem pele e tem cor.
Por mais que me leve, me arraste e me queime,
Por ela eu vivo, eu sonho e eu sou.
 
REMINISCÊNCIAS

GIRASSOL

 
Seus olhos acompanham minha alma.
São os girassóis da vida,
Dos sonhos
Tão meus.

Giro em torno deles e me sinto única.
Só eu...
Só você...
Gira
O sol...
O mundo.

Num universo que gira
Dos olhos que me giram
E me fazem seu sol.
 
GIRASSOL

REVELAÇÃO

 
Minhas mãos surfam nas ondas de teus cabelos
Tua voz me embriaga e meus passos firmes
São instáveis nos caminhos que eu sabia de cor
Confesso que engasgo com tantos soluços
Minha âncora é lançada, mas meu porto é incerto.

Não entendo o que sinto e minha mente vagueia
Os meus olhos escuros desenham teu corpo
Tua boca se abre tonteando minha língua
Tudo teu cheira a mim e não sei me conter
O teu mundo é meu mundo e não tenho mais fim.

Meus pés levitam e entendo os poetas
Eles dizem o que sinto diante de ti
As palavras me faltam e o silêncio é de luz
O meu ar se confunde com o teu respirar
E eu dispo meu ser pois ser tua é minha cruz.

Ziza Saygli
 
REVELAÇÃO

DECLARAÇÃO DE AMOR

 
Declaro para os devidos fins que te amo.
Por ser verdade,
firmo a presente declaração.
 
DECLARAÇÃO DE AMOR

INQUIETUDES

 
Minha alma quer ser livre,
No entanto não é.

Existe um querer que não é seu querer.

Voa por toda parte.
Conhece galhos
E por isso já se viu presa.

Está viciada.

Tantas gaiolas se abrem
Mas ela insiste em ser prisioneira.

O querer não é seu querer.

Que azul é esse que a ofusca
Num horizonte que a enquadra?

Tenta um vôo rasante
E seu bico se encolhe.

É um querer sem querer.

Suas fantasias
Onde estão?

Sente dor.

Não é a mesma porque mudei
Não é a mesma porque tudo mudou.

Meu querer não é seu querer.

Quer ver o azul novamente
E mergulha no rasante de uma dor
Que é fria e a congela.

Pensa num céu que a aprisiona
E se lembra de qualquer acalanto.

Seu querer é realmente um querer?

Tenho insônia.
Finjo fechar os olhos.

Disfarço.

Rolo na cama.
Sinto culpa!
Aprisiono essa alma alada.

Alma sem querer.

Não é de seu direito ter asas.
É alma feminina
Não tem querer.

Esfrego os olhos
Não tento querer.

Mas o céu a acolhe
Não tem forças.

Sem culpa,
Sem querer.
 
INQUIETUDES

FOTOGRAFIA

 
Hoje sou eu quem me olha
Vejo e vivo o tempo sem tempo
As horas de outrora
Sem chuvas, sem ventos.
Não leio o presente,
O que penso me fita
E eu de mim me ausento.

Tal como fumaça
Vou à frente de um trem
Revendo os trilhos
Que eu um dia tracei.
Não decido voltar,
Meu passado na vida
Foi inferno e altar.

Meu futuro se vai
Sinto em mim o que sou.
Fecho os olhos nas curvas,
Sigo em frente nas retas,
Nas avessas ou nas luzes
Vivo a magia dos sonhos.
Sou no fundo um poeta.
 
FOTOGRAFIA

DOR DE POETA

 
Não!
Não quero ser poeta.
Minha sensibilidade grita
Mas agora isso me irrita.
Estou surda e muda.
Cansei de ter dores,
De fingir amores.
Não!
Não quero mais acreditar.
As noites de insônias
Devem ser de parcimônias.
Felicidade é coisa da idade
E dos santos milagreiros
Deixo isso pros boêmios e cachaceiros.

Ser poeta é árduo, é ser incompreendido.
Já ouvi que todo poeta é viado,
Que tem um nó atravessado
E que grita sem ter voz.
Que para ser poeta é preciso muito uísque
E há quem pense e arrisque
Que poeta é ourives, de profissão de dinheiro.
Outros pensam que é preciso ser índio,
Nativo, negro de sangue ou amar fevereiro.

Ser poeta é ser supremo,
É abraçar com as mãos os sonhos
E fazer deles o espasmo
De uma grande convulsão.
É ser só em multidão,
É se achar bobo, incompreendido,
Falar o que pensa e ser perseguido
E mesmo assim prosseguir.
Porque para o poeta Deus sopra,
As mãos escrevem em horas bem ditas.
O poeta ouve, reflete, sente e medita,
Escreve o que lhe gritam,
Sussurram ou acreditam.

Não!
É fardo!
Não sou.
Não quero.
Cansei de fingir.
Cansei de sentir.

Não.
Tenho mãos de quem é inquieta.
Meu peito dói.
Dói de dor, dor de quem é poeta.
 
DOR DE POETA

METAMORFOSE

 
Há um bicho enorme dentro mim.
Por vezes quero que saia e por vezes quero que fique.
Não sei como mas, domadora que sou,
Sinto que em várias situações sou domada por ele.
Um bicho esperto, que tenta me dobrar,
Me deixa louca e ao mesmo tempo, ao sair
(ou ao ficar), traz uma calmaria indescritível.
São vários e ao mesmo tempo é um.
Entra dentro de mim sem ao menos eu perceber
E do meu eu se torna dono.

Não sei que bicho é.
O danado assume cada forma, tem cada cor!
Outro dia um dormiu e pensei que fosse para sempre,
Mas quando eu menos imaginei, cá estava ele novamente.
Cresceu, cresceu e resolveu tomar conta deste ser.
Foi assim, “de repente, não mais que de repente”
Eu me vi um bicho-leão, dos bravos, assustador.
Briguei como mulher mundana.
Descarreguei minhas neuroses e voltei a trilhar
Na selva da qual me sentia absoluta,
Dona de mim, dona de todos.

Um dia senti-me uma ovelha.
Um lobo enorme, com dentes afiados se aproximou.
Ficou me observando (e eu morrendo de medo)-
Não queria me expor.
Mesmo com o medo que eu sentia, inexplicavelmente eu queria ficar.
Eu me sentia desejada, era como se ele me despisse.
Um lobo... E com qual idade!
Experiente, másculo.
E eu olhando.
Eu me sentia frágil.
De sua saliva caía algo branco que me fascinava.

Depois que derramou tudo o que sabia,
Entrei no cio.
E ele me devorou.
Deixou marcas sob minha pele.
Marcou o meu mundo como se eu fosse um mapa.
Deixou-me em lágrimas.
Senti-me uma ovelha sem pastor.
Desgarrada, assustada...
Desacreditei nos lobos.

Derrubei estabanada, todos os meus sonhos.
Sonho de ser gente - sonho de bicho.
Nem sei que bicho sou, para que sirvo e nem para onde vou.
Sou bicho, sou gente.
Às vezes bicho-gente, às vezes gente-bicho.
Às vezes presa...às vezes predador.
Mas um bicho...
Aranha a tecer as teias da vida
A tentar ser gente quando o bicho reclama.
A tentar ser bicho quando me sinto gente.
Não importa.
Bicho que sou...
Gente que tento ser,
Das cinzas espero renascer.
Ser gente ou ser bicho...
Camaleão...
Bicho-homem?
Bicho-mulher?

Bicho...
bicho sim...
Gente...
Gente também...
Mas em constante metamorfose.
 
METAMORFOSE

PERSONAGENS

 
Meus prazeres são distantes
Meu pulsar é bem contido.
Minha carcaça sem vontades
Numa vida de sentidos.

Sou guerreira que resiste
A um tempo em que me dispo

Teimosa, sou feita de imagens
De romances e histórias sofridas
Do mundo repleto de personagens
Que me carregam pela vida.

Sou exemplo que sonha
E em cada canto existo

Minhas histórias-bengalas
Andam bem juntas de mim
Talvez as engano e por vezes
Não as desejo num fim.

Sou poeta que escreve.
Sou história e resisto
 
PERSONAGENS

ÊXTASE

 
Ondas de beijos...
Marés de calmarias e tufões.
Os mistérios da vida se revelam nos lábios,
Nos olhos que miram outros olhos
E nas palmas que tateiam o mundo

No bailado das línguas,
Os mistérios do sal - tempero do céu
Em sincronia com movimentos dos corpos,
Suspiros e sussurros correm soltos no ar

Fluxos e refluxos de paixões e de sonhos
Que vão e vêm...
Que vêm e vão...
Revelam duas almas gêmeas
No carinho sublime ao qual se rende o impetuoso desejo

Percorrendo o trajeto do oceano,
O peito, em êxtase, qual maré numa pedra, explode,
Transformando em espumas
Os destinos que se encontram e tudo podem.
 
ÊXTASE

VÔO ÍNFIMO

 
A hora é de revoada
Mas vôo sozinho
Num céu tão pequeno
Que nuvens são pós.
Eu não vejo nem sinto
Pois meu mundo vazio
É de pranto e de dor.

Meu horizonte se desfaz
E a solidão me acompanha
No meu vôo rasante,
Sem pressa,
Sem presa
E sem sonho.

A saudade não há
Já que a história não veio
Minhas asas se fecham,
O meu peito adormece
E eu me nego a voar
Pra essa fonte tão seca,
Pra esse espaço alheio.
 
VÔO ÍNFIMO

Ziza Saygli