Poemas, frases e mensagens de Alemtagus

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Alemtagus

Xadrez - www.gameknot.com
Universidade Aberta - www.univ-ab.pt
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa - www.iscte-iul.pt/

Doutoramento Poético (Aos que repudiam a crítica)... continua actual

 
Sou feito de palavras...
Das que rasgam olhares,
Simpatias e traições.
Terra cheia que lavras
Se tuas letras semeares,
Tu, escritor de emoções.

Prendam-me as mãos,
Degolem-me o desejo
E bebam a tinta poeta
Escrita em vós, irmãos.
Enquanto eu versejo
Na força da caneta.

Sou feito da tua leitura
Que me engasga e esmaga,
Que me dá vida à poesia,
Faz de mim gente pura,
Que não me rasga
Ou chora hipocrisia.

Errem! Sejam meros humanos,
Aceitem que são maus actores,
Poetizem a vida canalha,
Mas não a tapem com panos,
Não a pintem sem cores
Ou a cortem à navalha.
 
Doutoramento Poético (Aos que repudiam a crítica)... continua actual

Exercício Poético (A Escritora)

 
A sensualidade da escritora
Feita da nudez da sua mão
Vira sozinha cada folha.
Desdobra-se em acentuações
Numa doce pontuação sedutora
Que diz sim, quando é não
Escolhe sem ter escolha
Amor entre dois corações.

De olhos fixos no pensamento
Em tudo o que há para lá de tudo
Olhas-me! Seduzes algo em mim
Silencias-te em sombras, no escuro
Escondes-me no firmamento
Fazes-me único, ser mudo
Lombada desse livro sem fim
Rasgo no nada, amante puro.

A sensualidade da escultura
De seios macios, pálidos, nús
Saboreia o vento em leve beijo
Uma lágrima de cheiro salgado
Que desliza por meia loucura
Pela noite, tua Lua sem luz
Ensejo esquecido, sem desejo
Lábios cantados em fado falado
 
Exercício Poético (A Escritora)

HELEN DE ROSE - O Meu Luso do Mês de... Março

 
Helen De Rose é uma personagem ímpar no contexto do Luso-Poemas, talvez por isso a tenha escolhido para dar início a estas crónicas subitamente desaparecidas da primeira página deste cantinho da escrita, pedindo desde já desculpa por me «apoderar» da ideia made in Luso-Poemas, mas considerem isto uma homenagem aos que trabalham para o dia a dia desta casa.
Dá-me enorme gozo duelar com a Helen quando se trata de fazer um dueto poético, é sempre um desafio, uma experiência nova que vou tendo o prazer de partilhar com todos. Assim, resolvi-me a fazer-lhe meia dúzia de perguntas e a deixar-lhe o desafio de procurar o Luso de Abril, alguém que será entrevistado por ela e que, por sua vez, escolherá outro e assim sucessivamente. Veremos se corre como é esperado.

- Helen, fala-me um pouco de ti e de quem te conquista.

Por incrível que pareça, sinto-me tímida ao falar de mim. Muitas vezes, resumo-me nesta frase que gosto muito: “Eu sou o que eu sou, nada mais.”
Eu nasci antes do tempo, segundo minha mãe, quando ela chegou ao médico pra fazer o meu pré-natal, eu já estava nascendo na maca, em Piracicaba-SP.
Quando menina, eu não gostava de brincar de boneca, era uma menina moleca, queria subir na minha jabuticabeira, descer as ladeiras com carrinho de rolemãs, empinar as pipas que eu mesma fazia, andar à cavalo, praticar esportes, dançar e ler meus livros de contos de fadas. Comecei a ler aos 7 anos e não parei mais. O meu primeiro livro, que guardo até hoje, chama-se “A lagostinha encantada”. Sempre gostei de fazer redações e, de tudo o que se referia à Língua Portuguesa. Durante todos os meus estudos imaginava ser, um dia, uma escritora. Adorava pesquisar e estudar, por isso, ganhei o apelido de “Caxias” na escola. Depois, formei-me em Educação Física em 1986 e desde então sempre trabalhei para a saúde do corpo, da mente e do espírito, são 23 anos fazendo exatamente o que gosto, dar aula em Academia. Depois de formada, casei-me com Luis Vitório e tive dois filhos: Marina e Luis Jr. A maternidade me ensinou muito mais do que eu poderia imaginar. Eu sou completamente apaixonada pelos meus filhos e por eles dou a minha vida....(emoção)...Marina e Jr me conquistam a cada segundo da minha existência. Agradeço ao Criador do Universo por esta confiança e oportunidade de ser mãe dos meus filhos.
Todos estes anos, depois da maternidade, pesquisei muito e li muito. Senti uma sede de buscar novos conhecimentos, abrir novos horizontes de esperança pra minha fé, para o meu entendimento evolutivo. Tudo isto, ajudou-me e ajuda a enfrentar os desafios e provações da missão que me foi confiada.
A vida em si, é um aprendizado simples, mas complexo. Estar inserido na vida, é estar consciente de tudo e de todos. Estar vivo, é estar manifesto de corpo e alma diante da Criação, desejando sempre que todos consigam viver mais um dia, só por hoje.

- És o estreito caminho entre os Lusos e os consagrados monstros da língua Portuguesa. Porquê essa vertente de pesquisa e, naturalmente, de alfabetização cultural de quem te lê?

Quando entrei no site Luso Poemas, fiquei encantada com tantas possibilidades de informações criadas pelo Trabis. Logo encontrei no fórum, os tópicos dos Consagrados e senti uma enorme necessidade de doar a todos os Lusos, tudo aquilo que aprendi desde menina. Depois de algum tempo, vendo meu interesse pelos Consagrados, recebi, com alegria, o convite do Trabis para moderar os Consagrados. Na verdade, esta vertente de pesquisa é bastante salutar, quando há interesse de todos os Lusos em ter conhecimento da vida e da obra de cada autor Consagrado. Todos os autores tiveram que ir tirando as pedras do caminho, até serem reconhecidos por suas obras literárias. Este conhecimento do legado, da rica herança literária que todos os Consagrados nos deixaram, contribui efetivamente para quem deseja, com vontade firme, entrar para este mundo fantástico da escrita, da manifestação individual através das palavras.
Ainda existem muitos autores que pretendo incluir nos Consagrados. Os Lusos também podem solicitar as pesquisas de autores que não existirem na lista. Sempre será bem vinda a participação de todos os Lusos, colaborando com o enriquecimento do site Luso Poemas.
Sempre serei agradecida ao Trabis, por ter me dado esta oportunidade de compartilhar os Consagrados com todos os Lusos e visitantes do site.

-De todos os autores consagrados que já aqui nos trouxeste (Drummond de Andrade, Eça, Florbela, entre outros) existe algum com quem te identifiques?

São tantos que já me identifiquei... Cada autor tem seu estilo singular. Poderia citar alguns dos meus favoritos: Machado de Assis, Manuel Bandeira, Dante Milano, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Augusto dos Anjos, Mário Quintana, Florbela, Raquel de Queiroz, Clarice Lispector, William Shakespeare são autores que já me emocionaram. Mas, um dia, fiquei extremamente emocionada com Olavo Bilac, ouvindo seus poemas serem declamados. Naquele momento, vi o quanto a literatura é uma arte não só no papel, mas na voz, o quanto os poemas ganham vida quando são declamados.
Eu me identifico com a literatura em si e com todos os autores, Consagrados ou não, que possuem o dom de fazer das palavras, uma obra de arte. Isto é Divino! Sensibilizo-me profundamente.

- Não há Lusos bons ou Lusos maus, há Lusos que se presenteiam com a escrita. Na tua opinião achas que merece a pena catalogar quem aqui escreve ou deve existir uma consciencialização das pessoas em relação ao nível da sua escrita?

A escrita é a manifestação dos nossos pensamentos, das nossas fantasias, dos nossos conhecimentos, dos nossos entendimentos, da nossa cultura, das nossas crenças, dos nossos sentimentos etc... Cada ser humano tem sua história de vida e sua maneira de ver as coisas como elas realmente são ou não são.
Eu acredito que cada Luso sabe quem de fato nos presenteia com sua escrita. De acordo com seu entendimento e sua preferência. Basta observar quem é lido. Entretanto, há quem seja, além de tudo, mais carismático e possui um dom especial de se socializar com os demais. Por isso, a integração dos participantes do site é importante, não podemos negar que estamos participando de um site de relacionamento de escritores. Somos nós que fazemos o site acontecer!
Portanto, a consciencialização em relação ao nível da escrita, deve ser estudada por todos nós, e nisto, eu me incluo. Não acredito que o aprendizado tenha um fim ou que alguém se eleve tanto, que não tenha que aprender mais nada sobre a escrita. Basta abrir qualquer dicionário e ver quantas palavras e significados existem ali. Se, alguém me disser que sabe o dicionário da Língua Portuguesa decor e salteado, então irei me curvar diante do seu nível de escrita. Se, alguém me disser que, a partir do momento que se tornou poeta ou escritor, não cometeu erros gramaticais ou ortográficos, então irei me curvar diante do seu nível de escrita. Logo agora, com esta reforma da Língua Portuguesa, ficou ainda mais difícil chegar num nível de escrita elevado.
Acredito sim, que cada escritor precisa sempre fazer a correção dos seus textos, mesmo depois que publicou no site, em livro ou em qualquer forma de comunicação vinculada com a escrita; que cada escritor precisa ter um dicionário da Língua Portuguesa e sempre buscar rever seus conhecimentos. Não tenho vergonha de dizer que faço isto sempre que preciso, sempre que recebo uma crítica ou observação dos amigos. Não nasci sabendo e morrerei aprendendo, disto eu tenho certeza.
Desejo que cada Luso olhe pra sua escrivaninha e observe bastante cada palavra dos seus textos, veja o que pode ser melhorado. Mas, quando encontrar erro na escrivaninha de outros autores, não “aponte com o dedo” o erro diante de todos. Mande uma PM, mande um email, seja educado com o escritor. Isto sim é um aprendizado salutar. Quem sabe, outro dia, este mesmo escritor não irá lhe ajudar a ver o seu erro, mesmo que seja por digitação. Isto é uma troca civilizada entre pessoas que estão aqui para aprender.

- O que é e para que serve, a numerologia?

Dentre todos os estudos que fiz, a numerologia me fascina.
Numerologia é a ciência que estuda os números e tudo que envolve sua simbologia, tais como, letras e alfabetos de várias línguas, com seu valor metafísico e significativo, formando uma vibração que atua desde o nascimento de cada pessoa, nos ciclos de vida e até o fim da sua cabala numerológica. Esse estudo está baseado nos símbolos encontrados em tempos primitivos da civilização egípcia, que até hoje auxiliam para desvendar os segredos da manifestação do Homem pela escrita.
Este estudo auxilia no autoconhecimento de cada indivíduo, beneficiando decisões da vida diária e futura.
Mas, cuidado! Existem muitas numerologias por aí, que eu não recomendo.

- Quais são os teus projectos literários?

Não gosto de falar muito de projetos, sou meio supersticiosa neste ponto. Mas, estou com dois livros em andamento, com temas diferentes. Sem previsão para serem publicados.
Por outro lado, sinto-me grávida do meu primeiro livro “Um coração no oceano”, que está sendo editado pela CBJE, com lançamento previsto para março/2009. Este livro é uma coletânea de poemas, prosas, mensagens e pensamentos que escrevi recentemente. Com a participação da minha amiga/irmã Ledalge, autora do livro “Ledalgiana”, fazendo a minha Apresentação e do escritor Ronaldo Honorio, autor do livro “Onde guardarei estes oceanos?”, prefaciando a obra. São dois autores que tenho grande estima e consideração. Para os dois, deixo aqui minha eterna gratidão, por terem aceito meu convite.

- O teu Brasil e o teu Portugal.

O meu Brasil mistura-se com meu Portugal, numa simbiose trazida por laços hereditários dos meus antepassados. São nações que se encontram no meu sangue, fazendo pulsar meu coração diante deste oceano Atlântico.
O meu Brasil sonha em conhecer o meu Portugal, e sentir a sensação de estar do outro lado desse mesmo oceano Atlântico, encontrando todos os amigos do Luso Poemas. O sotaque português faz meus olhos brasileiros brilharem e meus lábios portugueses sorrirem...

- O teu mais que tudo.

Sentir que estou aqui, agora, viva! Dizendo tudo isto pra todos vocês!

- Quem é o teu Luso do mês?

Meu querido José Silveira

Obrigada Helen
 
HELEN DE ROSE - O Meu Luso do Mês de... Março

Ainda os Pássaros Voavam (7ª Poesia de um Canalha)

 
Julgas que não sei ler o tamanho dos teus gritos
Estridentes ecos dessa loucura escrita em branco
E o azul do céu a trespassar-te o peito que abres
Que não digo quanto devo por te saciar os mitos
Urbanos de olhos fechados na vida só que tranco
Portas e almas do corpo fatiado por esses sabres

O teu tempo é o outro que não me traz o inferno
Do dia a dia a consumir o chão doente que olhei
Para ti como se foras de mais alguém outra vida
Alheia ao acaso de ter sido filho do lado materno
Seio que me deu num aconchego mãe que amei
Tanto o momento onde a coragem foi esquecida

Serve-te destas mãos que se escrevem absurdas
As palavras perfiladas em direcção a um abismo
Que se precipita depois da forca sem mais nada
Por esse mar fora em segredos de gentes surdas
Notas de pauta enroladas num breve eufemismo
Barato que contorce a nossa língua assassinada
 
Ainda os Pássaros Voavam (7ª Poesia de um Canalha)

Levemente (33ª Poesia de um Canalha)

 
Se um dia quiseres passar ali pelos meus olhos
Ler cada um deles como se lesses um bom livro
Sonhar como se ainda fosses aquela tal criança
Vai, encosta-te a um canto de letras aos molhos
Folheia-me da vida as páginas de que me livro
Daquelas que não te cruzaram com a esperança

Se espreitares pela sombra da tua janela aberta
Entre as ramas das árvores que sós te abraçam
Vires a minha alegria perdida assim porque sim
E chorares a última lágrima que o sorriso liberta
Não te esqueças destes que um dia te sonharam
E que este amanhã nunca mais terá a cor do fim
 
Levemente (33ª Poesia de um Canalha)

Desacordo Ortográfico

 
1945, 1973, 1990, 2008... São muitos os países que adoptaram o novo acordo ortográfico e que, provavelmente, pouco o irão usar à semelhança do que aconteceu com os três acordos anteriores - cujas datas estão em epígrafe. Estarei eu errado ou, mediante tanta discussão sobre o assunto, este acordo é puramente político? A Língua Portuguesa é apenas uma, com variantes normais, mercê da expansão que foi desenvolvida pelos Portugueses durante os descobrimentos nos quatro cantos do mundo. Mas, sendo só uma, pretende-se que também seja una, indissociável para os povos que a conservam como sua. A disparidade de conceitos aclamada por ambas as partes que discutem a sanidade deste acordo, deixa-me a pensar nos acordos de 45, 73 ou 90... para que serviram? Dizem que para aproximar os PLOP - Países de Língua Oficial Portuguesa -, mas resiste a dúvida: aproximar, como? Como se tiveram de fazer novos acordos ortográficos (matematicamente teremos o próximo em 2014)? A língua Portuguesa não se desviou assim tanto desde os anteriores acordos, aquilo que se está fazer - note-se que nada tenho contra os PLOP - é uma cedência cultural em que todos perdem um pouco da sua cultura linguística. Nunca vi, por exemplo, os Espanhóis discutirem com as nações liguisticamente congéneres sobre tal assunto e são bem mais do que nós. Por isso afirmo: Para que, culturalmente, nos possamos lembrar do passado, deixem cada um falar como lhe é ensinado a falar.
Imagine-se o que aconteceria se agora fizessem um acordo ortográfico que abrangesse as técnicas de sms dos telemóveis, sim porque até isso já destruiu parte da Língua Portuguesa e poucos se importam com tal infame acção.
Tanto quanto sei, Portugal - assim como outros - rejeitou o Esperanto como Língua Universal... porquê se agora quer, dentro dos PLOP, universalizar o Português?
Delapida-se assim este património de indubitável riqueza em prol de, politicamente, poupar tostões?
Tantas são as questões que se podem fazer sem que, alguma vez, venham a obter uma resposta relevante.
Seria interessante referendar o Acordo Ortográfico e ver quem realmente defendia os vários estilos culturais de cada país. Chegar ao Brasil e ouvir o Brasileiro a falar o seu Português, chegar a Cabo Verde e deliciarmo-nos como Português de lá e lembrar que essas Línguas irmãs nasceram dos mesmos antepassados.
Senão vejamos, eu sou filho dos meus pais - lógico - e deles herdei certas e determinadas características, meus filhos herdarão as minhas características e as de sua mãe, será, também aqui, necessário elaborar um acordo ortográfico genético para que as diferentes gerações se entwendam na sua evolução ou paramos de evoluir para não divergirmos tanto das nossas origens?

Quem tiver coragem que reflita.
 
Desacordo Ortográfico

Entre Noites

 
A palavra doce feita desejo
É como as flores do campo
Sabor leve de simples beijo
A colorir o teu encanto

De mãos soltas e entrelaçadas
Seguem os corpos seu caminho
Enrolados de lençóis e almofadas
Desdobram-se livres neste cantinho

Sobe a Lua no céu escuro
Que me pergunta por ti
Respondi que coração puro
É o teu amor que perdi
 
Entre Noites

José Silveira

 
Joguei a vida na sorte
Onde semeei cada passo
Só para esquecer a morte
Enganada em tudo que faço.

Segredei às musas de meu amor,
Inquieto sentir de velho jovem,
Luzentes olhares de menino
Vestido de letras e canções,
Eternizando em tamanho fulgor
Iguais sonhos de novo Homem
Revejo agora pequenino
Aquele miúdo das recordações
 
José Silveira

Mel - Um Ano de Luso

 
Muitas palavras misturadas
Em escritas tão aperaltadas,
Letras em papel misturadas.

Devaneios lúcidos de poeta,
Encantos dessa mão selecta.

Cantam-se os teus pensamentos
Aqui, neste mundo nosso,
Recordando os belos momentos
Vividos em tão grande espaço.
A ti menina de olhos mel
Luz dos escuros dias,
Humana forma de papel
Ou rima de muitas alegrias.
 
Mel - Um Ano de Luso

Exercício Poético (De Outra Paixão)

 
Escreves de ti tanta paixão
Letras soltas em solidão
Que voam livres em bando
Sem saber como e quando
Pequeno raio de luz, caminho
Olhos meninos, doce carinho

Danças entre os meus passos
Uma valsa para dois abraços
Um toque de lábios, desejo
Para uma rima de gracejo
Limão agri-doce, amora
Que minha vida devora

Cantas teu sol, minha lua
Em duas mãos sós, nua
As folhas ao vento
Num tempo lento
Amanhã
Sempre amanhã
 
Exercício Poético (De Outra Paixão)

A Ridícula Ridicularidade do Ridicularismo Poético

 
Verso estranhamente ridículo
Este que arrebatei de seu pedúnculo,
É de amor que fala ou escreve, ou lê!
Um poema feio, qual furúnculo,
De ridicularismo... ridículo.

Nasceu corcunda e ridicularizado
De verruga asquerosa no ponto final
Armado em bom, triunfante excremento,
Caído do alto de seu pedestal,
Inconsequente rabisco amantizado.

O ridicularismo do seu riso
É algo... inigualável, impensável,
De grotescos arrotos saídos em harmonia
Flatulência bárbara e intratável
Pior que dor em dente de siso.

Consporcado na ridicularização das pessoas,
Gente de bem que não fala de amor...
Gente de gabardina sebenta e cabelo oleoso,
Atira-se feliz para a sarjeta sem pudor
Esperando poesias melhores, ou mesmo boas.
 
A Ridícula Ridicularidade do Ridicularismo Poético

Exercício Poético (Da Velha Dor)

 
Quanto mais te conheço...
Mais te estranho
Desconfio do teu contorno
A suavidade da tua voz
Tua vontade que obedeço
Cada palavra que entranho
Corpo frio, chão morno
Dor aguda e atroz

Desmembro a vida
Dia após dia
Desenho-te os lábios
Nos meus sós
Beijo-te de seguida
Nesse olhar que se perdia
Pensamentos sábios
Deste amor entre nós
 
Exercício Poético (Da Velha Dor)

Condenado (reedição)

 
Sempre esta mesma cela
Tijolos velhos de igual prisão,
Sempre o mesmo velho Sol
Entre a ferrugem das grades,
Laivos de outras liberdades
Um farrapo que se revela
Num pequeno pedaço de chão
A pele seca, gasta e mole

Sempre este rosto sem olhar
Junto da cegueira da memória
Uma folha de papel inventada
Sombras. Lágrimas e um desejo
Saudade que já não te vejo
Nas eternas canções de teu mar
Afogadas no tempo, vida inglória
De nada vale mais nada

Balança a corda que me espera
O frio que invade cada pensamento
Tu! Que sempre me esqueces
A dor trepadeira nos ossos
Como a água no fundo dos poços
A vida vida, a vida quimera
O meu último momento
A despedida que não mereces
 
Condenado (reedição)

Júlio Saraiva (34ª Poesia de um Canalha)

 
Copo e meio cheio de conversa minha gente boa
Partida em estrofes canhotas na revolta do povo
E gritos de guerra que traziam num verbo a paz
Júlio que desta arte nos deu poesia de fina coroa
Entre rimas de morte e vida e tanto mundo novo
Nos deu aquele velho louco abraço de bom rapaz

Cantas ainda aqui um fado de voz rouca e tosca
Dobrado em sambas petizes de olhos malandros
Mãos atrevidas ou tremidas nesse gozo tão puro
Desse bom cavaleiro da távola de sua vida fosca
Esconjurada nas bocas desses poetas calhandros
Vestidos de facto, fato e gravata e negro ar duro

Tu que de gente pouca e muita mais vês o infinito
Tocas ao de leve nas mãos do silêncio que choras
E vives aqui imortal em cada palavra que te deixo
Aceita o que te escrevo neste dia de chuva bonito
E aqui no fim do chão em que me contas as horas
Faças de mim poeta, Pessoa, Drummond e Aleixo
 
Júlio Saraiva (34ª Poesia de um Canalha)

Conversas Para Um Corpo Só

 
Sabes mão!
És tu quem me aplaca a dor,
O isolamento
Nesta cadeia de solidão.
Sentes o frio, o calor,
Agarras-te à vida em pensamento,

És tu quem afaga os seios,
Os olhos da mulher desejada,
Os cabelos espreguiçados ao vento.
Apertas os mais íntimos receios
Do amanhã que não tarda nada,
No bater deste coração, tão lento.

Pegas com delicadeza a flor,
A criança que daí brotou,
Vives nua, ao relento,
Abres-te na ironia do amor,
Qual asas de pássaro que voou,
Flor mãe e seu rebento.

Trocas palavras com outras mãos,
Entrelaças com nós seus dedos
Na agonia de um momento,
Na alegria de dois irmãos,
Nesta purga dos nossos medos,
Neste chão em que me sento.
 
Conversas Para Um Corpo Só

O Meu Luso do Mês de Janeiro de 2010 é... Antónia Ruivo - «alentejana»

 
Nasci no dia 25 de Janeiro de 1961, pelas 17h20, na cidade de Évora, capital do Alto Alentejo, conta a minha mãe que foi num dia chuvoso e frio, filha de pai incógnito e mãe solteira, embora o meu pai morasse na mesma rua que a minha mãe. O meu pai quando soube que a minha mãe estava grávida fugiu para Espanha regressando anos mais tarde com o intuito de casar e dar o nome à filha, tal não aconteceu porque a minha mãe entretanto tinha casado, um casamento meio arranjado pela família, naquele tempo não se podia ser mãe solteira.
Aos seis meses de idade fui com a minha mãe viver para casa de uns tios avós sem filhos, que moravam numa quinta nos arredores de Montemor-o-Novo acabando por ficar com eles até aos 12 anos de idade. Foram esses meus tios que incutiram em mim os valores que carrego até aos dias de hoje, o amor pela terra, pela liberdade, e pela tolerância, também me ensinaram a defender sempre as minhas convicções, desde que não esmague ninguém à minha passagem.
A minha tia apesar de analfabeta era uma pessoa extremamente esclarecida para a época, o meu tio antifascista de primeira linha, lia-me o Jornal Avante, unico jornal regular da oposição, aos serões frente á lareira, recordo que nesse tempo o Jornal Avante era distribuindo pelas valetas das estradas secundárias, e a recomendação constante era de nunca apanhar o jornal, fingir que não via, a nossa casa era frequentada por malteses ( como se dizia por aqui no Alentejo ) que pediam abrigo e que dormiam na cocheira, ou no palheiro, aos quais eram dadas as refeições por caridade, só depois do 25 de Abril de 1974 é que soube que eram na sua maioria membros do partido comunista, e a maior parte fugidos à PIDE, ( policia politica ). Foram esses meus tios que cultivaram o meu dom para a escrita e para a poesia, recordo que fazia quadras á desgarrada tanto com um, como com outro, a eles agradeço tudo o que hoje sou, apesar de viver apenas doze anos na sua companhia, incutiram em mim a moral e o respeito necessário para ter uma sã convivência com o espaço e as pessoas que me rodeiam, o meu tio era ateu, a minha tia católica praticante, mas conseguiam gerir as diferenças sem grandes atritos, um ensinava-me o Credo e as Ave Marias o outro alargava-me os horizontes, ensinava-me que o mundo era muito maior do que aquilo que me ensinavam na escola, o meu tio um narrador nato, inventava historias fantásticas mas sempre com uma mensagem humanitária outras vezes politica, tudo com uma subtileza incrível, só passados muitos anos cheguei a essa conclusão.
Aos doze anos, porque a minha tia era uma pessoa doente e debilitada, de idade muito avançada fui viver para casa da minha mãe. Aí a minha vida de pequena princesa modificou-se e ficou bem mais escura e sombria. O meu tio morreu passado pouco tempo num acidente de viação e a minha tia entrou em depressão profunda, nunca mais se restabeleceu, morreu em 1986. Assim me vi quase sozinha enfrentando o mundo, acabando por crescer antes do tempo.
Sempre fui uma criança traquina e irrequieta, mas com sentido de responsabilidade, ao ir viver com a minha mãe tinha terminado o então ciclo preparatório, e como o dinheiro lá por casa não abundava, era só o meu padrasto que trabalhava e havia os meus dois irmãos eram mais novos que eu, achei por bem sair da escola e ganhar o meu próprio sustento, ( tanto a minha mãe como o meu padrasto não se opuseram acho que até adoraram a ideia) na altura principalmente na província, as meninas tinham de ser boas donas de casa, e aprender a costura ou os bordados, como eu tinha imenso jeito para a costura e até já fazia algumas sais e blusas que acabava por vestir, o meu destino foi uma alfaiataria em Montemor, assim passei dois anos entre a alfaiataria e os livros que requisitava na biblioteca itinerante da Gulbenkian e que lia compulsivamente, chegava a passar noites em claro a ler, hábito que mantive até à bem pouco tempo. Agora escrevo e espero que me leiam.

Quando se deu o vinte e cinco de Abril de 1974 ( a queda da ditadura que governava Portugal à cerca de quarenta anos,) tinha eu treze anos, foram tempos conturbados esses, principalmente no Alentejo, recordo que de manhã quando ia trabalhar alguém gritava na rua a ditadura caiu, morte aos fascistas, deu-se um clique na minha cabeça e recordei algumas coisas que ouvia em casa dos meus tios. Assim aos treze anos de idade vi-me militante de uma organização política, os meus amigos inscreveram-se na organização juvenil, mas eu não, achava-me uma grande mulher queria participar, tinha uma sede imensa pela descoberta pelo aprender queria assimilar de uma só vez toda aquela confusão que se gerou no país, e principalmente achava que o meu tio onde quer que estivesse iria adorar, assim ingressei directamente na organização principal. Hoje recordo com nostalgia, eu uma criança, a discutir com homens e mulheres os rumos e as directrizes dum partido politico, imaginem.
No verão de 1974 abandonei a costura e fui uma das fundadoras da Cooperativa Agrícola Montemorense, na qual trabalhei durante quatro anos e meio e onde conheci o homem com quem me viria a casar com 16 anos de idade, do qual tive três filhos e um casamento de quase trinta anos, que acabou por sucumbir, foi nessa altura que recomecei a escrever, durante muitas décadas tudo o que escrevia acabava por destruir, o meu marido lia o jornal a Bola e pouco mais, e eu se queria viver em paz, tive que esquecer que gostava de escrever. ( costumo dizer que me castraram sem castrar mas enfim. Já passou, e os meus filhos valeram o sacrifício. Aos catorze anos retomei os estudos, ( trabalhava a terra de dia e de noite estudava ) por essa altura fiz um curso de alfabetização de adultos era preciso alfabetizar as pessoas que pertenciam à cooperativa , a taxa de analfabetos no país era enorme , aliás ainda hoje o é. Fiz um curso de três semanas com professores formadores, que vieram administrar esses cursos pelo Alentejo, faziam entrevistas com os voluntários que soubessem ler e escrever correctamente e depois escolhiam aqueles que achavam mais capacitados. Assim me vi professora sem ser, não sei se fui eu que ensinei, ou se foram os meus alunos que me ensinaram a mim, as secções de alfabetização terminavam sempre em quadras e cantigas à desgarrada.
Com vinte e dois anos um marido, um filho, e um casamento tremido, que apenas sobreviveu porque já era mãe, não queria que o meu filho passasse pelo mesmo que eu , que crescesse sem pai, ou com pai de passagem, ( fui mãe aos dezoito anos ) rumei para Lisboa , O Alentejo era pequeno demais para mim.
Já em Lisboa tive uma breve passagem pela industria hoteleira, enquanto tirei o curso de designer de moda. Foi essa passagem pela hotelaria que me valeu na altura de trocar de profissão, coisa que aconteceu recentemente. Com a globalização, o negócio dos têxteis no geral sucumbiu, as grandes marcas importam os produtos da Ásia, e a chamada alta costura, área em que trabalhava passou a ser uma miragem.
Fui filiada nessa organização política, mantendo-me no activo até 1989, ano da queda do Muro de Berlim, senti-me então mais esclarecida e mesmo defraudada e corrompida em alguns dos meus ideais, incutiram-me toda uma doutrina que se revelou uma enorme fraude, como eu muitos abandonaram. Eu para que não me convidassem saí pelas minhas pernas. Nunca mais me filiei fosse no que fosse, embora na anterior legislatura, tenha sido cabeça de lista por outra organização política, à junta de Freguesia de Santiago do Escoural.
Fui durante quatro mandatos consecutivos, como independente e democrata, presidente da S.R.G.U.E.(Sociedade Recreativa Grupo União Escouralense) onde desenvolvi em parceria com a Câmara Municipal de Montemor e a Junta de Freguesia de Santiago do Escoural um trabalho direccionado para a comunidade, principalmente para os mais pequenos, implementando um centro lúdico, numa terra onde existia um campo de terra batida para jogarem futebol e nada mais, centro lúdico esse, que conta com uma biblioteca e um espaço onde se desenvolvem as mais diversas actividades viradas para as crianças dos quatro aos doze anos. Aos poucos consegui dar vida a uma sociedade recreativa moribunda, e reavivar algumas tradições existentes e criar alguma animação local, festas populares, MotoCross, marchas populares, encontros e saraus musicais.
A minha vida profissional neste momento ocupa-me muito tempo e achei por bem sair, se não posso dar o meu melhor dou o lugar a outros, penso que assim é que deve ser.
Desenvolvi em paralelo com a minha passagem pela S.R.G.U.E uma rubrica mensal no jornal Local o Montemorense.
Fiz ainda teatro amador, na sociedade recreativa a Carlista em Montemor, e fui uma das fundadoras do rancho etnográfico os Fazendeiros de Montemor.
Faço parte de uma associação de artesãos, a Ciranda.
Nos tempos livres pinto, principalmente pintura a óleo, gosto de nus e de paisagens. Já participei em algumas exposições e feiras entre elas na FIA ( Feira Internacional de Artesanato na FIL em Lisboa)

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1- Quem é a «alentejana» Designer, escritora, mãe, filha e amiga?

- Uma mulher igual a tantas outras, não querendo ser banal direi, amiga do meu amigo, extremamente teimosa e objectiva, acho que o meu maior defeito é chamar as coisas pelos nomes, e isso por vezes incomoda, as pessoas hoje em dia preferem camuflar as situações, ou imaginar que não existem só porque não se fala nelas, a vida tornou-se tão complicada a nível geral que fingir que se é cego, surdo e mudo por vezes é mais fácil. Mas quanto a mim isso não é viver é esperar que a vida passe.

Como mãe, sempre fui e sou extremamente exigente, reconheço, faço tudo pelos meus filhos, mas eles tem que fazer a partes deles, ou seja, aprenderem a ser homens responsáveis e independentes, com os dois mais velhos um de trinta anos e outro de vinte e dois não me dei mal, agora com a casula que só tem oito anos, o tempo o dirá.
Enfim sou uma mãe babada, isso eu sou, tenho muito orgulho na minha prol. Posso dizer que fui pai e mãe dos meus filhos, fui casada com um marido ausente. ( Devido à sua profissão )

A designer essa era uma chata, refilona quando as coisas não saíam como queria, no meu trabalho o profissionalismo e a qualidade estão na primeira linha, e exijo que quem trabalhe comigo faça o mesmo.
Foi esse profissionalismo que fez com que trabalhasse para alguns nomes a nível nacional. Nos dezoito anos que me dediquei à moda, oito a trabalhar por conta de outrem e dez como empresária.
Actualmente virei-me para os cozinhados e voltou a ser esse profissionalismo e exigência que me abriu as portas e que me vai conduzir ao sucesso, acreditem se quiserem. Especializei-me na cozinha tradicional Alentejana, mantendo o sabor e os segredos na confecção que me foram ensinados pela minha tia que era uma cozinheira de mão cheia, e pela minha avó paterna que tinha uma taberna na Rua do Raimundo na cidade de Évora, onde se comiam as melhores pataniscas com arroz de feijão de todo o Alentejo. Trabalho actualmente no Évora Hotel.

A filha, essa é um tanto ou quanto fria e solitária, não gosto nada de falar sobre isso, e não vou falar.

A escritora vocês já conhecem, é aqui no Luso que tenho desenvolvido a minha escrita.

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2- Montemor está para ti como está para mim, parte de um Alentejo esquecido e escondido. Que belezas se escondem no teu Montemor? Que memórias?

Montemor. Montemor é a minha casa, o meu chão, recordo que quando morava em Lisboa tinha alturas que me cheirava a Montemor, ao Alentejo, à terra molhada nas primeiras chuvas, ao calor tórrido no Verão, ao cheiro dos pastos no Outono
A cidade de hoje é muito diferente da vila de então, mas a sua essência essa permanece, as gentes simples, mas de convicções fortes, que não se dobram facilmente, a força que vem das muralhas do castelo, e que só quem nasceu aqui sabe do que falo. Uns poucos anos da minha curta meninice foram passados a calcorrear as pedras do castelo. É ele o castelo, que guarda os meus segredos, as minhas mágoas e as alegrias também.
O esquecimento de que o Alentejo é votado, em parte é por culpa nossa, os Alentejanos, que não damos valor ao que temos e ao que somos, por mim falo, virei as costas à terra e fui para Lisboa, regressei, mas os melhores anos os mais fortes dei-os a uma terra que não era minha.

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3- Se pudesses voltar atrás no tempo que mudarias na tua vida ou o que acrescentarias?

O que mudaria, acho que não casava com dezasseis anos, sei lá, por um lado os meus filhos valeram isso, por outro a minha vida estagnou não fiz muitas coisas que gostaria de ter feito. Não vivi com quem compreendesse o meu lado poético, vivi sempre com a água eu era o azeite, ou talvez fosse o contrario. Acho que não sei responder a essa pergunta.

Acrescentar, acrescentava coragem para começar a escrever mais cedo. Perdi muito tempo. Talvez me tivesse separado mais cedo porque cheguei à conclusão que os meus filhos se teriam criado sem grandes atritos, eu e o pai estivemos presos a uma relação a pensar nos filhos, quando a mais nova nasceu, o casamento tinha-se deteriorado de tal ordem, que passado algum tempo tanto eu, como os meus filhos mais velhos achamos que o melhor era a separação, que o ambiente não era o mais saudável para criar uma criança, o pai não achou muita graça na altura estava acomodado, tinha tido em casa uma mãe, governanta e mulher, porque eu não tive três filhos, durante o meu casamento tive quatro só que a um chamava marido. Felizmente conseguimos gerir as coisas, sempre com o pensamento virado para a minha filha, ela é uma menina equilibrada e descontraída apesar de ter passado pela separação dos pais, a diferença é que em vez de ter uma casa passou a ter duas, está no terceiro ano e consegue ser uma das melhores alunas da sala.

4- A cada dia que passa, no Luso, entram sempre novos rostos, jovens que perdem o medo de mostrar o valor da sua escrita ao mundo e que esperam aprender com aqueles que já por cá estão, assim como nós aprendemos com eles. Que conselho lhes darias?

O mesmo que já tenho dado algumas vezes, se a escrita faz parte de vocês, se acordam de noite e vão a correr escrever um texto ou um poema, se deixam de comer para escrever, então escrevam sempre, não se ralem se forem pouco lidos de inicio, e se tiverem poucos comentários, com o tempo vão saber quem são os vossos leitores fieis, aqui dentro do Luso, e vão saber quem são os leitores de ocasião, aqueles que comentam e nem leram o que vocês escrevem, força, e não desanimem nem se inibam de escrever com a alma. E o mais importante, nunca deixem de escrever só porque alguém acha que vocês não o sabem fazer, ou porque quem está ao lado tem medo do que possam escrever, nunca se deve esconder um dom, ninguém vale os nossos sonhos.
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5- Para quando um livro da Antónia Ruivo?

Não sei, tem alturas que acho que a minha poesia já ganhou a maturidade suficiente para ser editada, tem outras que acho que não, escrevo, e só muito raramente leio o que escrevi, quase sempre ponho defeitos nessa escrita, mas como não gosto de corrigir nada e penso que uma obra poética seja boa ou má tem que perdurar como nasceu, ( é o que chamo escrever por impulso, com alma ) isso para mim é ser poeta, já se for prosa tem que ser trabalhada, corrigida e só depois pode ser mostrada. Escrever poesia e corrigir passado tempo, não tenho nada contra, mas comigo não resulta. Comecei a escrever um romance, mas o tempo tem sido tão limitado que não sei quando vai estar pronto, aí, vamos ver se alguma editora se interessa.
Depois, acho que uma pessoa que publica tem que sentir que não engana os possíveis leitores, tem que sentir que a obra perdurará, mesmo de nível baixo tem que perdurar, e quem sabe passados uns séculos não se vire poeta ou escritor famoso. Nestas coisas da escrita o que hoje não presta amanhã vira literatura, sempre assim foi ao longo dos séculos ( isto sou eu a sonhar alto. )
Publicar… um dia publicarei, contem com isso. Espero uma proposta tentadora de alguma editora.

6- Para leitura... prosa ou poesia?

Prosa, as Vinhas da Ira de John Steinbeck, li esse livro pela primeira tinha talvez uns catorze anos e já perdi a conta ás vezes que o li, sempre que sonho com castelos no ar, leio, recomendo que o façam e vão aprender que na maioria das vezes trocar o certo pelo incerto é um fracasso. O que não quer dizer que não arregace as mangas e não parta para luta, mas nunca sem colocar na balança os prós e os contras, quem me conhece diz que demoro algum tempo a tomar decisões e a por os planos em prática. E esse livro tem é um pouco o culpado disso.
Poesia, leiam Bocage, e vão ver o poeta sensível, muito à frente do seu tempo que se esconde por detrás desse nome.

7- O que representa para ti o Luso e, enfim, a escrita?

O Luso faz parte do meu dia a dia, mesmo que não publique diariamente é a pensar em publicar aqui, e no meu Blogue que escrevo, como disse, aqui exercitei a minha escrita. Agradeço ao Trabis que me deu essa oportunidade ao criar este espaço. Agradeço a vocês por me aturarem e lerem.
A escrita é a minha hóstia, é com ela que comungo, diariamente, é a minha paixão, o meu pecado, o meu lado louco e ao mesmo tempo lúcido.

8- A tua viagem de sonho, o teu maior medo e o teu maior desejo.

Viagem de sonho, num sitio qualquer no meio da selva.Com verde por todos os lados.
Nessa viagem levaria um amigo muito querido e que muito me tem incentivado e apoiado nesta etapa da minha vida.

O maior medo, morrer, e que o mundo cada vez esteja pior, queria pelo menos que os meus netos vivessem num mundo igual ao que eu vivi, para melhor, mas prevejo que isso não vai acontecer, nós os do mundo de hoje não o sabemos preservar, só destruímos o que herdamos.

O meu maior desejo, viver...

9- Apesar da chuva todos os Encontros do Luso se pautaram por sã convivência. Qual a necessidade e que poder ganha a escrita e a cultura lusófonas nestes encontros?

Os encontros do Luso são a peça essencial para que este site marque a diferença que já consegue marcar, é nesses encontros mesmo que sejamos poucos, que nos olhamos olhos nos olhos, que damos as mãos e deixamos de ser virtuais, esta coisa da virtualidade, acarreta muitos perigos, principalmente leva-nos a um maior isolamento, embora todos sejamos amigos e amigas, a verdade é que cada vez nos isolamos mais, é nesses encontros que o Luso respira.
Não fui ao ultimo encontro, com muita pena minha, acho que ficou provado a sua importância e a união gerada entre escritores lusófonos, com a vinda de uma grande escritora deste site, e que veio do outro lado do Atlântico ( Ibernise ) querem maior prova que essa, de que este site tem força para atravessar oceanos.

10- Que mensagem queres deixar a todos os Luso-Poetas?

Como estamos no inicio de mais um ano, desejo a todos muita força para vencer as curvas da vida, acreditem sempre que quando uma porta se fecha logo se abre uma janela, nós por vezes é que demoramos a ver.

11- Por fim, quem será o teu Luso do Mês de Fevereiro de 2010?

O meu Luso do mês de Fevereiro é o Carlos Carpinteiro.

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O Meu Luso do Mês de Janeiro de 2010 é... Antónia Ruivo - «alentejana»

30º Soneto

 
Nada de meu caminho é importante
Nada excepto este chão que piso
A mão que abro e dou a quem passa
Ou o beijo que inocente me pedes

Tudo é coisa de tua estrela brilhante
Do mel, de tudo que em ti mais preciso
Do tempo em nós que faz a vida escassa
Empurra-me para ti quando te despedes

Nada é beijo que foi tudo para mim
Verso feito do teu corpo esculpido
Guitarra que em nós toca e silencia

Tudo é nada num teu beijo sem fim
Cavalgado na minha boca destemido
Por saber que a ninguém pertencia
 
30º Soneto

Última Valsa de um Poeta Menor

 
Nem todo o fado é fado
Quando o choras a cantar
Qual triste e teimoso brado
Que tu cantas sem chorar
Querer dum mundo mal amado
Que mais não tens para amar

Nem toda a vida é vida
Quando a pões a bailar
Qual terra que vai perdida
Entre céus azuis a sonhar
Entre pedras, falecida
Que desagua sem mar

Nem essas mães são mães
Quando beijam teu olhar
Sarna de malditos cães
Que não param de ladrar
Padeiro que amassa os pães
Deste corpo sempre a gritar

Nem esses pais são pais
Quando matam por matar
Animais como outros demais
Que nem sabem falar
Animais, maus animais
Que nem sabem rosnar

Nem eu sou teu por ser teu
Quando nem a valsa dançar
Se fores mais que amor meu
Quando este corpo te tocar
Te concebeu e não esqueceu
Seremos de nós, um só mar
 
Última Valsa de um Poeta Menor

Alma Alentejana [Alemtagus & alentejana]

 
Alma alentejana
Mulher de lábios de mel
Papoila solta no campo
Envolta em vermelho burel

Ceara que danças ao vento
Doirada em olhos de menina
Embelezas a cada momento
Esta vida pequenina

Sempre que elevas o canto
Dissipas os tons pastel
Das melodias de terno encanto
Talhadas em pedra insana

Planície de olhar perdido
Pintada em azul de mar
És ruga e suor sofrido
Estrela no céu, luar
 
Alma Alentejana [Alemtagus & alentejana]

Tributo a Camões (Volume 2, Estrofe 36)

 
Sobraram na lusa coragem de corpos soldados
Os que de nome incógnito caíram nas batalhas
Bravos erguidos dos túmulos por boa memória
Resta nas palavras de iguais poetas cantados
Este Portugal que a alguns heróis dá migalhas
A outros láurea grinalda sem história ou glória

Sucumbiu uma só vida em réstia de esperança
Cativa de vontades que tais conquistas tinham
O sonho lá longe fugia aos olhos lacrimejantes
Usurpado nestes nevoeiros de lusa venturança
Seu capitão clamava vitória aos que aí vinham
Armas empunhadas caídas em terras atlantes

Sua dor que em verbo se conjugara por paixão
Fria e rubra como esta que viu lusitano oriente
Unia no desejo esse sonho de bom sul a norte
Teria tanto tempo vivido tempo a mais em vão
Usado gente e gente por ali nascer impaciente
Roubando ao mundo a alma que dava à sorte

Às mãos viciosas do grão-duque caía no pleito
Sua senhoria Dom Diogo que de vida pereceu
Dando graças de haver nascido de luso berço
O corpo molestado que da cabeça saiu o peito
Ostentado lá na cidadela também ali feneceu
Recordando intrépido e quão valioso universo

Imortal ânimo que deu ao reino grande império
E desse gente como nenhuma outra aí houvera
Notável sentimento tão maior que o mero amor
Tido pelo desejo de ser mais que uma quimera
E assim ser dono e senhor deste luso mistério
 
Tributo a Camões (Volume 2, Estrofe 36)

A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma