Poemas : 

Tanto tempo depois

 
Tanto tempo depois
É curioso ver crescer
O castelo de areia
Da história.

Estupidez brilhante,
Timidez boémia,
Existência inegável. Foi e é.
É o que foi, sem tirar nem pôr
Uma palavra que fique por dizer.

Primeiro, um abraço ao cinismo,
Meu colega de infância que nunca me abandonou,
E me ofereceu as prendas nas horas certas.

Segundo, cumprimentos à palavra.
Sem ela seria tanto quanto sou,
E a indiferença que por ela tenho
É grande demais para a ignorar.

Terceiro, o amor a gangrenar.
A podridão do afogamento é grande demais
Para lhe ligar.

Em quarto lugar, não sou doutor ou médico
De poemas.
Nem sou artesão, que são teimosos demais
Para os moldar.

Em último lugar, o primeiro.
Setecentos dias se passaram
Desde os cantos de liberdade
E as libertações da voz!
Abriram-se caminhos e portas
Para novos versos e países,
Novas formas e raízes
A crescer dentro de nós...

Depois do último, a paciência.
Um vaso de flores a ela,
Sete dias depois de estas morrerem,
E mal apresentadas
Se presentearem.
Que o tempo seja servo e não mestre
Nesta passagem!


Dois anos após o meu registo no Luso-Poemas
 
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AntonioCarvalho
 
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 06/10/2010 00:14  Atualizado: 07/10/2010 19:49
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Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: Tanto tempo depois para antonio carvalho
muito bom acompanhar um pouco o teu crescimento,a tua viagem pela escrita, as tuas sucessivas visões da vida ...é uma aprendizagem tão solitária,que bem merecemos um aceno de outros que a percorrem também, mesmo que outros caminhos tomem,mesmo que com outros olhos vejam,construam.e não faz mal que tenhamos a sensação que construimos castelos na areia apenas...a inutilidade de tudo,a fragilidade,a noção de curto prazo de validade das coisas que vamos fazendo,tentando...tudo faz parte da angústia de quem se pensa,repensa, caminha. quando olhamos para trás vemos todo o ridículo dos nossos pequenos passos cambaleantes.e prevemos que os que se seguem um dia serão também olhados assim.rs.

aceno-te,querido antónio.vai.vive.escreve,sempre.que o tempo seja servo e mestre,que pode muito bem acumular
funções.

um abraço!
alex