Poemas : 

,noites, porque não dias inacabados?

 
 
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(I)

,lava-me as mãos
como as de um judas,
ou satanás que seja,

mas deixa os meus lábios secos, gretados,
como a terra que hoje calco,

fala-me da voz em gritos, da praia que se perde
pela foz,
a sul,

neste nordeste de hoje, à míngua, à fome,

reduz-me, sem inspiração, ou tino,

ou verve,

à vista um farol que não existe, que definha,
e que se esconde pelo mar,
cousas assim,

negações, tantas tormentas, alguns sonhos
encrespados,
suores,
noites, porque não dias inacabados?

,e relembro-me das cinzas, dos incensos,

das vertigens em pétalas vermelhas,
sangue,
das palavras que fogem, morrem
ainda no ventre,
afogadas, pisadas por outras maiores,
e fui por aí, ultrapassando horizontes como um cometa louco,
símile a um cavalo

com o freio nos dentes, rangendo,

repara nos nadas que cercam as margens,
tanta a inundação, as vísceras
inchadas,
os visos enrrugados sem unções, sem viços,

que os vícios não resistam, nem se acobardem,
promete-me,
a oliveira, a mirta, o alecrim,

o verbo,

mas rasga-me os fragmentos
desta rododáctila saciada
de regressos sem trevas,

sem as porras das sombras enfileiradas,

reconstruo o outro que não me larga.

E canso-me do páramo, do firmamento,
do ocaso,

destes círculos cortados pela metade,
das viagens que se prometem sem finais,
tantas as miçangas guardadas
tantas as cores que me acorrentam,

que depois fogem sem deixar traço,
perenes as peregrinações,

não há viagens sem final,
nem provectos começos,

perguntar-te-ei por um mar de sargaços,
por um adamastor escondido, em fuga
dirás,

ou pelos crepúsculos que me ardem
a memória,
quão perto dos pássaros que regressam,

senti-los-ei sem carícias,
enquanto a sica me penetra no silêncio.

Digo-te, lava-me apenas as mãos,

e deixa-me sonhar com as sílfides
que me empurram,

assim,

tão perto de tão longe.

(II)

,nós mesmos, no dia acabado, gasto,
nós mesmos distantes de um qualquer
cabo de tormentas,
[apenas, nós mesmos].





"Forfante de incha e de maninconia,
gualdido parafusa testaçudo.
Mas trefo e sengo nos vindima tudo
focinho rechaçando e galasia.
Anadiómena Afrodite? Não:"

("Afrodite? Não" Jorge de Sena)







apenas fui por aí afora


Textos de Francisco Duarte
 
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F.Duarte
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/04/2013 09:33  Atualizado: 06/04/2013 09:33
 Re: ,noites, porque não dias inacabados?
continuas a encantar nessas viagens sem fim. parabéns.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/04/2013 10:22  Atualizado: 06/04/2013 10:22
 Re: ,noites, porque não dias inacabados?
Uma metáfora, um encanto de poema


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/04/2013 17:31  Atualizado: 06/04/2013 17:31
 Re: ,noites, porque não dias inacabados?
alongada
seja a carícia que te procura nas mãos
suave
seja o perfume que as lava

[magnólia, escolha minha
jasmim, dirás
... não sei]

num beijo
o fim do tempo que as torna agreste

e a seguir ...
a seguir a Alma
assim
nas mãos que escolheres
de sedas a vistam
de carícias a cubram
de si também
para que não conheçam

[mais]

o frio

__________________mas esquece
as sombras
o vento
as tormentas que habitam os cabos
os adamastores que as habitaram
que as areias são já claras
as praias desertas
e o horizonte vesti-o de doirado
para q nunca falte a luz

[arrasta-me até ao abrigo
desse porto
do farol que sonhes
que mais nada
ou ninguém saberá da magia
que é sermos assim como somos]

Obrigada pelos momentos de ressurreição que
assim
me ofereces
pelas palavras
com elas

Sorriso d'Alma