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VIVENDO & ESCREVENDO - IV

 

LUTANDO CONTRA MIM MESMO, vim para a oficina ver com estão as coisas. Fazia uma semana que não abria, a poeira tomou conta do ambiente. Seu Bastos ficou de trazer uma grade para soldar uns chumbadores. Um rapaz moreno que fiz uns trabalhos veio informar-se a respeito de um orçamento de um portão. Um senhora simpática também expliquei-lhe a minha situação. Seu Bastos trouxe a grade, fiz o trabalho combinado e a coloquei em exposição na calçada, enquanto espero que ele venha busca-la. Nem tudo esta perdido, vamos devagar - esta é a minha vida e não adianta querer fugir dela. essa é o meu oficio que orgulhosamente aprendi com o meu velho Pai Bamba. Deus escreve certo por linhas tortas. A monotonia de todos os dias, lembrando uma cidadezinha do interior. O homenzinho fabuloso com seu andarzinho engraçado sempre otimista, não deixando-se abalar com nenhum obstáculo. Aleluia!Aleluia! Dez reais no bolso - Gracias, muchas gracias Señor Dios! Vielen Danken, mein Gott! Grazie Mille, mio buono Dio!больше спасибо, мои Бог! Merci beaucoup Dieu!

MEU PRÓXIMO LIVRO não serão baseados nesses cadernos, trabalharei em algo melhor por exemplo dar continuidade "Notas de uma Prisão federal" - o negocio é que sou muito cabuloso, estou digitando na marra as ultimas folhas de “Crônicas de Uma Tuberculose Anunciada". terminei "O Colecionador de Mundos” de Ilian, continuou com "Sidarta" de Hesse e acaso achei jogado sobre a televisão na sala do computador o livro "O Bispo" uma biografia autorizada do Bispo Macedo - uma figura que admiro e respeito pela sua argúcia e inteligência, que começou num coreto de uma praça em Niterói aos sábados a tarde, depois numa funerária e tornou-se líder inconteste de uma multinacional da fé, A Igreja Universal do reino de Deus - bilionário construiu um dos maiores templos evangélicos da atualidade - Templo de Salomão" no bairro do Bexiga em São Paulo - uma mega construção toda no mármore importado dos desertos de Israel com cinquentas apartamentos, onde num deles mora com a família, deixou a barba crescer, dando-lhe aparência de um velho profeta bíblico.



NADA DE NOVO nem o resultado do exame de escarro, nem a loura grandona, com suas enormes toras de pernas. Constato tristemente que não ganhei na Quina, mas continuarei tentando, ainda tenho doze semanas para sonhar. O corredor esta lotado de pacientes esperando a vez para serem atendidos. As funcionarias passam apressadas entrando e saindo das salas. Uma delas conversa com uma senhora de aparência debilitada sentado perto de mim - um senhor numa cadeira de roda empurrada por uma moreninha magrinha de bermuda curta, reclama ou quer conversar com a Assistente Social. Tusso um pouco. Concluo "Sidarta" de Hesse e empenho-me no fast-food do Bispo, algumas historias já conhecia que li no outro livro dele "Nada a perder - II" - Uma coisa é certa nunca desistiu, mesmo com todas as adversidades negativas. E como eu, penso em desisti, de sonhar, de escrever - só porque os meus livros ainda não venderam nada - pauvre de moi - A Assistente-Social que antes conversava com a senhora do meu lado, agora dar atenção para o Senhor da Cadeira de Roda que irritado discute com a doidinha que o acompanhava. A Deusa Loura Apocalíptica chega séria, acompanhada pela sua ajudante de ordem. O Senhor da Cadeira de Roda entra na sala da Assistente e doidinha sai apressada e braba - Velho nojento, quero que tu morra, seu velho desgraçado - esbraveja irritada enquanto caminha rapidamente entre as pessoas. Sem olhar para a plebe a Deusa loura Apocalíptica enfurna-se na sala sem ao mínimo dar um simples "Bom dia" ou apenas um olhar, mesmo que fosse de desprezo para a plebe amontoada no corredor. Com seus cabelos louros lisos escorrendo nas costas, sempre mastigando alguma coisa com uma garrafa térmica em uma das mãos, vai até o corredor e volta. Ao meu lado um funcionaria reclama que quer tirar umas merecidas ferias com uma amiga; - O senhor vai escrever algum livro? Pergunta-me. O enfermeiro que me atende passando fingindo que não me vê, vai até uma das portas e volta olhando para frente,penso em sauda-lo, mas recolho-me a minha emoção, nada de misturar sentimentos e nem pensar besteiras como sempre acontece. A enfermeira Dalva toca na minha perna cruzada. A garganta, o catarro que nela acumula me força a pigarrear.
Principio da noite. Decido que não vou sair para a minha ronda, optei na ultima hora pela leitura de Maigret "A Velha Senhora" - o mesmo livro que emprestei para o neto de Seu Manoel do Fogão, vizinho do lado de Cabeludo e devolveu-me de depois de ler as primeiras paginas, alegando que tinha muitas palavras que desconhecia o que dificultava a leitura. Pauvre diable. "A Velha Senhora" sacana, armara tudo, mas não contava coma astúcia e a inteligência do Comissário Maigret e desvendar o seu intrincado crime. Encantado em saber que Wood também admira o grande Dostoievski e fez-lhe uma homenagem em "O Ultimo noite de Boris Gruschengo" - Volto ao quarto depois de brincar um pouco com Adrielle simulando um discussão entre pai e a filha rebelde, assisti o telejornal da Mirante. Abro uma banda da janela. Ana Julia grita - Seu Pietro continua viajando fazendo campanha para o candidato a governador Flavio Dino. Reli algumas paginas de "Crime e Castigo" - uma saudade de Raskolnikov e de Sonia - da prosa erudita do mestre, depois de devorar dois Simenon em dois dias, para completar a biografia de Wood. Acho que vou reler com mais calma "Ulisses" do mestre irlandês que li muito ávido e apressado em concluí-lo dentro da data de entrega, desta vez mais tranquilo sem temer o tempo. Bocejo - a barriga cheia de água, a falinha infantil da pequena Adriele brincando sozinha na sala. Seu Pietro chegou e abre a porta.. Imaginado Hemingway, Allen, Miller, Kerouac, Simenon - todos leram Dostoievski, assim como ele lera Balzac. Estou cansado de não fazer nada somente deitado lendo e peidando nesse colchão. Mais uma noite de sábado. O chefe do clã deitado, vendo Tv - Larissa com os fones no ouvido, tentando cantar em voz alta. Tia Lena e minha cunhada conversam no terraço. Eu aqui no meu aposento lendo Kerouac. Nenhuma novidade apalpavel. Os mesmos encontros de sempre. Gersinho amigo de infância de Cabeludo esta trabalhando na campanha do Governador, fazendo bandeiraço. Sente-se um pouco constrangido, ganhará duzentos e quarenta reais por mês de trabalho em pé segurando à bandeira nos retornos da cidade a manhã toda

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/12/2015 11:50  Atualizado: 18/12/2015 11:50
 Re: VIVENDO & ESCREVENDO - IV
Achei pertinente a alegria do personagem com os R$ 10,00 no bolso com o serviço feito e entregue.