Prosas Poéticas : 

memórias de um amnésico XII

 
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Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

no meu interior sei que é mentira.a mentira do homem comum.o homem mortal.o homem feito de carne.o homem feito da pedra.do osso.depois da cinza.esse também.e o monstro.irei procriar o monstro.a constituição do homem comum.e faze-lo suar.para depois me desprender do seu choro.vou-me também,despedir das sombras.da embriaguez das mesmas.dos seus aromas e cheiros.desses outros seres.compreendo o que esta para alem da minha vontade.recordar o porque recordo.deixarei o lacrimal para um depois.e a neve dentro do meu corpo.e a neve dentro do meu corpo.só caindo inanimado consigo o retorno.todas as viagens e todas a virgens.as sombras.a sepultura e o jardim.não desejo de alguma forma este talento.a capacidade de voar entre e dentro das sombras.a construção de outros cenários e a desconstrução do espaço e do tempo.minha inquietude é este lugar.agitado.lugar onde me alimento das sombras.porque as sombras sao o vazio.vazio de um nada que arde.porque o vazio sugere o amanha.porque é da ausência que falo.tenho nauseas quando me alimento das sombras constituidas pelo arquitecto.ele também é pedra.a solidificação da agua.este corpo.esta sede do ainda.aglutinaram as carnes e sao ausências.meu espaço vazio.meu espaço comido pelo tempo.meu tempo comido pela ausência.não há mais nada neste quarto que arde.arde sozinho e com ele as sombras.os outros personagens de linho.assim, me despeço do morto.dos que ardem.dos ausentes.descalço-me desta capacidade de progredir no tempo.não há tempo no espaço ausente.não há espaço para o tempo. a pedra arde.o arquitecto sugado pelo fogo.uma porta existe agora.uma porta inventada do nada.da ausência.uma porta fechada mas não trancada.um espelho em frente da mesma.meu rosto.meu corpo aconchegado em si mesmo.espelho.e pensamento.é preciso viver para alem das coisas boas.é preciso vingar as coisas más e toma-las como boas. (fim)
 
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Caopoeta
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Enviado por Tópico
Xavier_Zarco
Publicado: 26/07/2009 15:25  Atualizado: 26/07/2009 15:25
Membro de honra
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 Re: memórias de um amnésico XII
Camarada,
Não, não vou referir-me à falta de acentos, mas ao que li e apreciei neste teu ciclo. Para além de um bom título, que é sempre um "teaser" essencial nestas coisas da leitura, o qual nos seduz pelo jogo da antítese: memória vs amnésico; é o próprio discurso. Dispersa-se quando deve e isso sente-se sobretudo pelo uso da pontuação como condicionador do ritmo de leitura. Enfim, um bom trabalho.
Um abraço
Xavier Zarco



Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 26/07/2009 17:41  Atualizado: 26/07/2009 17:41
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 Re: memórias de um amnésico XII
Teria este personagem que criaste, de uma forma tão brilhante, finalmente encontrado a paz num ponto onde o vislumbre da luz que há muito não via lhe indicasse o caminho certo do retorno à sanidade? Ou se abandonaria por completo e para sempre nas sombras de uma existência oca por si criada, talvez como concha que o isolasse de um mundo obstinado e ao qual renunciasse dessa forma?
Seja como for, penso que conseguiste dar um fim digno ao teu personagem.

Gostei imenso!

Beijo


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 28/07/2009 11:25  Atualizado: 28/07/2009 11:25
Membro de honra
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 Re: memórias de um amnésico XII
Rogério,
Nem todo o ser humano tem essa capacidade de contornar as coisas más transformando-as em boas ou menos más.
Isso já é resulatdo de uma certa evolução espiritual.
E eu acredito que a escrita é um bom veículo para o autoconhecimento e para a evolução enquanto ser humano.
Bj
Nanda


Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 28/07/2009 11:37  Atualizado: 28/07/2009 11:37
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 Re: memórias de um amnésico XII
Não sei explicar o que me seduz na tua escrita.
Talvez a irreverência a roçar a nostalgia,
negada e logo depois confirmada numa só palavra (às vezes...)
que tu empregas à laia de menino cansado dos seus próprios sonhos e questionamentos.
Gosto de te ler. Com o mesmo à vontade com que gosto de te dizer o que penso quando utilizas as palavras com uma rudeza inexplicável, já que és certamente um poço de sensibilidade.
Será uma forma de auto-defesa?
Venha daí um abraço, Poeta. E como o cão é o melhor amigo do homem, tu és duplamente amigo do amigo.
Vóny Ferreira