Alma de Puta
Nunca darei a você
amor que sacie
a sua alma de puta
sua fome de rua
e sede de vinho
que você tem
na garganta
que me cospe
quando me ingere
e rejeita
se me prova
em delírio
por engano
como cicuta
Nunca darei a você
Amor sem pecados
Que engane
sua alma de santa
Nem terei em mim
o desejo da pureza
que você precisa
na sua saliva
quando engole
e me janta
como castigo
Jeito bobo de amar
Sempre fui assim, singular.
com um jeito bobo de amar
sem habilidade pra sonhar.
...tenho sapatos pra passear
E uma certeza na valsa:
-Vivo só.
Sempre fui assim, fácil de chorar
com um encanto matinal no espelho
Que me faz pensar ser atriz.
...um prosseguir descalço,
Coisa doida de entender:
Ter vontade de fingir ser feliz
- sendo só.
Sempre morei sem mim,
Vestida de chuva
Hóspede de um inverno triste.
...vida dura de passar!
Uma vontade de esquecer seu nome
Que não mais existe.
me esparramar no capim
- morrer só.
Sons
Meus porões guardam alucinações.
Desço para espantá-las no inverno.
Tenho medo de tocar as feridas que ainda secam,
Coisas que nem sei mais por que senti,
Vejo fotos, bilhetes, aromas de perfume.
Um relicário cheio de pingentes quebrados.
Lembranças que já perdi.
Que nunca pude enfrentar.
As marcas do tempo tem cheiro nas paredes,
Emitem sons da casa quando dorme,
Ranger dos portões no resvalar do vento,
Sons que a tristeza impede ouvir.
Saudades de ouvir as chuvas sob nosso cobertor.
Vendo as gotas deslizarem pela janela.
Saudades de vestir nossas fantasias
Esquecidas no fundo do armário.
O som da minha dor vem destoar
O silencio da casa vazia,
O sussurro de uma lágrima que cai,
Endurecida por ainda, não saber perdoar.
Anáguas
Esse homem é meu mal,
já me deixou pelas vielas.
Ele vagabunda pelas ruas,
some a noite e me falta
Ele carece de lucidez.
É meu bem, meu algoz.
Minha estupidez.
Minha silhueta triste.
Ele me esvazia, me dilui.
Vive de mim, da minha sina.
Se cala quando surto,
me ingere quando uivo.
Ele me veste com anáguas,
remenda minhas falas, meu medo
Me aquece com zelo e mágoa...
-Por eu ser o seu segredo
Eu lhe sirvo, canto nua,
cuido da sua ferida quando ferve,
Ele me sua, me come crua,
Por eu curar a sua febre
A verdade não pode ser dita
Escondam as verdadeiras escrituras
A verdade não pode ser dita.
Mantenha o medo e a culpa.
Deixe lobos e ratos entre eles
Mandem rezar,
ajoelhar
jejuar,
depois definhar
osso por osso
dia após dia
cada gota de sangue
que escorrer
mandar chorar
Deixem sonhar,
Se embriagar,
Poder querer o poder
Querer poder pensar
Pensar poder querer
Depois deixem morrer
Um a um
-Acidentalmente.
Mantenha nas grades
os loucos,
os que não sabem
guardar segredos;
retire ventre por ventre
os que conhecem o vento
e podem voar,
depois enterrem as palavras
silaba por silaba
da linguagem suspeita
que restar.
Crimes que carrego
Meu olho na janela
nem expressa sentimentos,
ao longe vejo luzes
que não revelam de onde eu vim.
Eu não sei o que procuro,
nem mesmo se perdi,
me desfiz dos meus caminhos
para não saber voltar depois..
Já não sei do que eu peno
nem os crimes que carrego
eu só tenho este punhal,
Que me rasga enquanto eu vivo.
A chuva me conforta,
Entre as veias da cidade
Eu só tenho este destino,
Que me leva enquanto eu morro
Paisagem dos sonhos
Esse dia é um vazio sem tristeza,
um ardume vão,
um trem de partida,
sem paisagem subterrânea,
sem nada poder dizer
até onde vai:
-a janela dos meus olhos
que carrega com ele
como premio.
Esse dia é uma tristeza vazia,
uma encenação de existir
que não vai revelar
o motivo sórdido de querer fugir
nem o destino incógnito
que traça em mim,
sem nada poder sentir,
até onde dói:
-a paisagem de sonhos
que passa por mim
como vento.
Chaga desconhecida
Isso não é dor é só miséria,
não é vida é só matéria,
consciência vibrando a forma,
demência gerando normas.
Não é crime, é só uma morbidez
que me degusta,
não é desespero é só um berro,
que me assusta.
Uma incerteza que eu me apego,
que revira meu vespeiro.
Não é muito, é o que me cabe.
Não é pouco, é o que preciso,
uma chaga desconhecida,
que não mata e não diz
porque me move,
nem me deixa prosseguir.
Isso não é lodo, é o mesmo caminho,
que insisto percorrer.
Não é mofo nem é triste,
é só o passado que resiste
em não partir.
Não tem vida nem respira,
acontece onde nada havia,
(agride sem cessar).
Não é a fome, é só comida que não sacia,
não se mostra nem me diz
porque me anima.