Poemas, frases e mensagens de Antonio de Almeida

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Antonio de Almeida

Saudades

 
O tempo passa

como uma brisa
que nos afaga o rosto
entre o ermo e a ladeira
entre o abismo e a clareira

O tempo passa

como uma profetisa
que nos traz alegria
e sempre eterno desgosto
entre o efémero e a frieira
entre o aforismo e a regaleira

O tempo passa

como uma poetiza
que nos molda a gosto
entre o deísmo e a lazeira
entre o daltonismo e a
imensa cegueira

O tempo... passa...
 
Saudades

O nosso absinto

 
Escrevo em mim estas palavras
para me convencer que as penso
sem me esquecer que as sinto
neste meu longo nevoeiro imenso
o triste sabor deste nosso absinto

Escrevo o quanto a mim amavas
para ter o que a mim convenço
sem crer no que a mim só minto
neste meu mundo assim denso
a perda desse meu amor faminto

Escrevo em mim estas palavras
para me prender do meu senso
sem me abster do que pressinto
neste meu sonhar tão suspenso
que aqui assim tão breve sucinto...
 
O nosso absinto

Sobre-Viver

 
Sobrevivo às palavras
Que se perdem em meus braços
Enleadas em teus laços
Sobrevivo às estórias
Onde me prendem nestas amarras
Em estranhos cantos de cigarras
Sobrevivo aos sonhos
Pedaços vazios de memórias
Tão distantes das vitórias
Sobrevivo às ilusões
Na desilusão em teus olhos
Perdido em eternos abandonos
Sobrevivo sem querer
Pela metade de todas as divisões
Resultado final destas conclusões
Sobrevivo aqui enfim
Onde faço de mim o teu ser
Pois é em ti que desejo viver

http://palavras-ao-ocaso.blogspot.com
 
Sobre-Viver

Está aí alguém?

 
Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?

Sinto-me à deriva neste denso oceano a que chamo de vida.
O meu navio foi afundado por um estranho iceberg camuflado.
A minha confiança na rota e em mim era total esse foi e é o meu eterno mal.
Pois o perigo na noite soturno esperava e eu nem sequer com ele sonhava.
O primeiro embate não foi fatal e a destruição foi meramente parcial.
Salvar o navio era a minha ilusão que depressa se transformou em terna obsessão.
Com esforço os seus danos consegui remediar e na rota certa ele voltou por fim a navegar.
Mas era fácil de prever o que iria suceder só eu cego não o queria nem ver.
Este navio era o meu sonho mas depressa se metarmorfou em pesadelo medonho.
Nada restava da sua imponente graciosidade tudo acabou sem dó nem piedade.
Mesmo assim aquando de longe o fitava aos meus olhos sua beleza jamais findava.
Nela tinha de acreditar se bem que nada já de belo me tivesse enfim para dar.
O segundo embate foi curto e frio aguentei-o sozinho perdido no meu vazio.
Da tristeza que me esvaziou o coração encheu-se-me a cabeça de crua razão.
O que de belo no passado via só unicamente para mim no negro da noite existia.
Um náufrago assim me tornei e as costas à vida e aos amigos enfim e por fim voltei.
Sozinho agora nado no imenso mar sem esperança de uma salvação vir a encontrar.
A estes destroços vou agarrado antecipando um efémero fim por mim agora já tão desejado.
A tormentos e tempestades sobrevivi sem querer nem perceber merda! Será que cresci!
Até que um dia por fim da bruma uma luz apareceu afinal a esperança porra! Essa não morreu?
Tentei tentei com todas as minhas forças gritar para que ela a mim me viesse por fim salvar.
Como ecos na escuridão elas os meus pleitos silenciou ao meu lado a salvação essa sem demoras passou.
Só a esforço nela consegui tocar sem medos avancei senti a sua beleza e tudo o que me podia dar.
Mas ela em mim pouco ou nada reparou de um náufrago afinal não passava ela por mim não esperou.
Assim aqui fiquei para sempre aos destroços amarrado tento nadar remar esbracejar gritar coitado.
Mas no fundo sei que estou verdadeiramente e para todo o sempre já a repousar afogado realmente.
Resta-me a tonta esperança o eterno sonho uma mera triste ilusão de uma só e terna criança.
Que alguém veja para além do náufrago acabado que enfim e por fim aqui repousa já afogado.
Para que conheça sem mais não o meu o teu o seu o nosso o vosso verdadeiro coração.

Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?
 
Está aí alguém?

Palavras ao ocaso

 
O lento passar dos dias...

Perpetuando a nossa eterna e viciante nulidade, um tortuoso fervilhar de palavras gastas, numa promiscuidade de actos incoerentes, que arrasta por entre infernos labirínticos, os nossos incipientes cadáveres nauseabundos, desesperadamente tentando acreditar, no que já há muito deixou de ser credível.

O lento passar das semanas...

Laxante ideal para libertarmos o que não faz sentido ser guardado, o conhecimento vão, para quem a teoria servirá sempre para subjugar a razão. No lado mais obscuro dos nossos medos das nossas fraquezas, que bem as tentamos esconder, reprimir, camuflar, mas que tão cegamente as vemos em outros. Que tão bem apontamos a tudo e todos, com a hipocrisia de quem vomitou sem saber o que ingeriu e agora se perde no meio dos restos procurando pelos pedaços moídos, mastigados, digeridos. Na desesperada tentativa de compor algo que por não existir em nós, nunca poderá ser reconhecido.

O lento passar dos meses...

Agudiza todo um sofrimento, que por entre suaves fragrâncias de ingénuo e inebriante aroma, procuramos perfumar a nossa efémera passagem terrena. Perdidos numa mistura sintética de odor purgante, refugiamo-nos na nossa imensa e promíscua escuridão. Procurando assim, inconsequentemente, ultrapassar o que dela eternamente subsistirá em nós mesmos. Fugaz miragem de um deserto crescente, de imutáveis receios, onde o mais persistente dos oásis se dissolve nas ébrias areias do nosso omnipresente não ser.

O lento passar dos anos...

Eterno e tortuoso murmúrio de uma voz para sempre perdida na penumbra do tempo vazio. Oceanos de lágrimas temperadas por uma melancolia agridoce, banhando as praias já desertas em marés de submissos lamentos. Meros ecos que se dissipam nas arribas da mente, fortalezas centenárias edificadas pelo acumular de sonhos destroçados. Despojos de guerras vãs, para sempre guardados na salina da memória. Essa crosta que nos protege e nos molda através da erosão corrosiva de contínuas ondas de inacabadas promessas.

O lento passar de uma vida...
 
Palavras ao ocaso

Cometas ou estrelas

 
Existem pessoas estrelas. Existem pessoas cometas.

Os cometas passam. Apenas são recordados pelas datas, esquecemo-nos do dia em que os avistamos.
Os cometas são como aves migratórias, as estrelas assentam raízes e em direcção ao sol florescem.
As estrelas permanecem. Os cometas, esses, simplesmente desvanecem.
São corpos que vagueiam no vazio do universo, por eles e pena que meramente sentimos.

Existem muitas pessoas que são meros cometas, num movimento circular eterno.

Pessoas que passam pela nossa vida suavemente como fugazes errantes.
Pessoas que não prendem ninguém a elas, nem ninguém a elas se deixa prender.
Pessoas que vivem só, isoladas, sem amizade, sem companheirismo, sem amor nem saber.
Pessoas que vivem sem iluminar ninguém, sem aquecer ou presença marcar, passam por nos só por uns meros instantes.

Existem muitas pessoas que são meros cometas, num movimento elíptico eterno.

Assim são muitas pessoas, que se dizem ligadas as artes, sejam elas quais sejam.
Todos têm os seus '15 minutos de fama'(Andy Warhol), neste palco a que chamam de vida.
Com a mesma rapidez que surgem, assim também irão desaparecer, deixando o seu rasto de nada.
Desta forma subsistem Homens e Mulheres, apaixonam-se e desapaixonam-se com a maior das facilidades.
Assim são as pessoas que vivem em família, capazes de subsistir dia após dia num cemitério de verdades.
Sem notarem a presença de um ou do outro, assim permanecem, deixam que a vida por eles vá passando, somente para que outros a vejam.

Difícil mas certamente mais importante, e ser estrela, marcar presença, estar junto, ser e ter amigos.
Podem anos passar, podem distâncias surgir, mas a sua marca ficara gravada, a ferro quente, em nosso coração.
Coração esse, que não se quer apaixonar, por meros e inconsequentes comentas neste mundo perdidos.
Esses apenas atraem olhares vãos e passageiros, sem constância, sem futuro, alimentam-se da mera ilusão.
Muitas pessoas são como cometas por uns vazios e incipientes momentos vendidos.
Elas por nos passam, batemos palmas, gostamos, e depois desaparecem, esquecemo-nos delas, não passam enfim de inócua poeira deste chão.

Ser cometa significa não ser amigo, ser cometa significa ser companheiro por meros instantes ocos e vazios.
Ser cometa significa explorar sentimentos, ser cometa, significa fazer acreditar para depois ir desacreditando.
A triste solidão das pessoas, resume-se na dura realidade, de que não podemos contar com ninguém, estamos sozinhos.
Nascemos cegos de olhos fechados, crescemos em ilusões embebidos, para morrermos envoltos na escuridão, assim por ela vamos esperando.

A solidão triste e o resultado de uma vida gasta, perdia, a ser cometa num vazio eterno.

Na realidade ninguém fica, todos passam, as pessoas banalmente passam por tudo e todos assim.
E urgente parar este mundo de inconsequentes cometas e criar um eterno mundo de estrelas.
Para que sem medos, todos os dias nos as possamos sentir bem perto e certamente vê-las.
Para que sem medos, possamos contar com elas e elas saberão que nos dizemos presente.
Assim são os amigos, uma luz na vida de todos, pode-se contar com ela e com o seu brilho para sempre.
São terna presença, são aragem em momentos difíceis, são luz que ofusca a soturna escuridão, por fim.

Agora quando se olha para esses efémeros cometas, sabe bem como eles não se sentir.
Nem se desejar deixar-se ir, preso a sua cauda tenebrosa e fugaz, que tudo esmorece.
Agora quando se olha para esses cometas, sabe-se o quanto e bom se sentir e ser-se estrela, que não padece.
Alegra-nos marcar a diferença simplesmente pela presença, saber o quanto e bom existir somente para se ir fazendo sorrir.

Adaptação de:

"Cometas e Estrelas" from Dr.º Flávio Gikovate
 
Cometas ou estrelas

Iceland

 
Aurora de um sonho esquecido
Por entre os escombros da minha ilusão
Foram outrora refúgios de vão sentido
Desta boreal ilha em meu só coração

Restos fugazes de um novo mundo perdido
Odores remanescentes em estranha ebulição
Meros enxertos que arrasto entorpecido
Anelares murmúrios ofuscados na solidão
 
Iceland

Areias do tempo

 
Amo os teus olhos desflorados
Por este meu triste pensamento
De viajar nestes meus mundos
Pela mão do nosso sentimento

São meros sonhos assim desejados
Que se perdem no meu tormento
Dos tempos por nós já passados
Levados nas areias desse tempo

Restos de uma vida aos bocados
Num tão doce e terno momento
Sem mais versos aqui contados
Em palavras... não só fingimento...
 
Areias do tempo

O teu olhar

 
O teu olhar para mim sorriu
Afagou-me os cabelos tristes
Por ondas longas de caricias
Entre o querer e o não deixar
Tudo o que em mim já não existe

O teu olhar para mim sentiu
Em doces vulgares fantasias
Que outrora me ouvi ao sonhar
Numa voz suave que subsiste
Ecos fugazes em vãs tertúlias
Que aqui se ficam por enumerar

O teu olhar da minha vida saiu
Como as palavras que não viste
Essas que um dia ousei murmurar
Onde só restam pedaços de alegorias
Que ficam só em mim por partilhar

http://palavras-ao-ocaso.blogspot.com
 
O teu olhar

Triste olhar

 
Quem és tu menina de olhar triste?

Finges assim que não vês, escondes-te no teu não querer.
Acreditar nessa crua e nua realidade, que deveras existe.
Foges assim de todos, um dia, de ti mesma te irás perder.

Quem és tu menina de olhar triste?

Mas hoje sorri e vive para o presente.
Pois a amanhã ainda não existe.
E o ontem já lá foi certamente.

És assim tu, menina de olhar triste!
 
Triste olhar

Quero-te dizer

 
Que imagino o cheiro dos teus cabelos...
Como campos de jasmim sem fim...

Que imagino o toque em teu pescoço...
Como suaves caricias que guardo só para mim...

Que penso que os teus lábios sabem a morango...
Como um dia imagino prová-los... enfim...
 
Quero-te dizer

Aceitar

 
Aceita este meu passado
Somente meu e por inteiro
Esquecido de ti irá repousar
Numa sombra dum outro mundo
Tão estranho como o primeiro
Que o tempo apagou ao soprar

Aceita este meu presente
Assim tão só e verdadeiro
Que me faz em nós sonhar
Acreditando que se sente
Desde do momento primeiro
O que o verso deixou apagar

Aceita este nosso futuro
Num odor que ainda cheiro
Na vontade de nos procurar
Onde só a mim ainda torturo
Como esse doce brigadeiro
Que num dia te fui dar...

http://palavras-ao-ocaso.blogspot.com
 
Aceitar

Palavras às cores

 
Ah! Dá-me essas tuas palavras às cores.

Para alegrar este meu mundo a preto e branco.
Leva-me para o teu secreto paraíso de sabores.
Sem medo assim nele me perder,
Sabendo que nele assim me perco.

Ah! Dá-me essas tuas palavras às cores.

Para esquecer dos cinzentos que teimam em ficar.
São meras ilhas em oceanos de esquecidos temores.
Ternos sonhos em fria tela pintados,
Que ninguém nunca ousará terminar.

Ah! Dá-me essas tuas palavras às cores.
 
Palavras às cores

Um olhar

 
Um olhar disfarçado
Passou ao meu lado
Nada me, nos disse apenas
Nas minhas, suas novenas
Em silencio abafado
Passou ao meu lado

Um olhar incessante
Passou tao distante
No vazio parco de mecenas
Em certezas tao terrenas
Como so um errante
Passou tão distante

Um olhar embaraçado
Partiu já sem passado
Por ventos e chuvas amenas
Com frio de sois às dezenas
Por mim assim acossado
Partiu ja sem passado

Um olhar sibilante
Envolveu-me sepultante
Como nos medos assim condenas
Entre os choros das nazarenas
Neste fim brilhante
Envolveu-me sepultante

António de Almeida
 
Um olhar

Prazer

 
Voando, pairando por aqui à toa…
Alienado do que mais me faz sofrer...
Chocando enfim com o que me magoa...
Assim é a vida! Assim é que me dá prazer!
 
Prazer

O louco

 
Gostava de viver a dormir...
Nem que fosse só por um pouco...
Acordado! Passo o tempo de mim a fugir...
Ah! Como é bom saber-se assim ser-se louco!
 
O louco

Sonhos inacabados

 
Viajo para dentro de mim aqui sentado
Por recordações torpes de outros tempos
Distantes memórias de sonhos inacabados
Eras longínquas para lá do céu estrelado

Parto pela escuridão contigo ao meu lado
Entre o frio da noite e o terno calor da "paixão"
Numa busca do que só de mim foi renegado
Avançamos ao som da sempre mesma canção

Sigo pelos trilhos do incerto os teus passos
Envolto em maresia que me encobre do medo
Tenebroso nevoeiro de meu só triste degredo
Suave exílio da certeza vã de teus abraços

Divago na fantasia composta em terraços
Sob o luar descrente da lua nunca ausente
Na escuridão que encobre os meus fracassos
Esse futuro fingido de um passado...

sempre presente
 
Sonhos inacabados

Mero olhar

 
Sonhei não mais te ver
Aqui onde sempre nos vimos
Onde tu e eu nos sentimos
No vazio de te perder
Sem nada para falar
Sem ninguém para amar
Sonhei não mais te ter
Aqui onde nós nos perdemos
Onde eu e tu nos conhecemos
Que nos voltemos a encontrar
Num amor digno de se amar
Sonhei hoje num dia
Ter quem me sentia
Para além do mero olhar

http://palavras-ao-ocaso.blogspot.com
 
Mero olhar

Assim serás

 
Amei até te perder de vista
Num sonho feito de areia
Sem sentimento que resista
A ventos amenos de saudade
Ao escuro desta nossa claridade
Amei até me perder de vista
Nesse sentimento que rareia
D'um medo que não persista
A toda esta tua tempestade
Ao passar da nossa verdade
Assim serás
Nunca a minha
A...

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Assim serás

Amor aos pedaços

 
Morro no imenso vazio de teus braços...
Suave ilusão da razão do não ser...
Renasço, em fragmentos de mim mesmo, aos pedaços...
Vontades decompostas do vão entender...
Cresço, em mim, de mim, para mim, sem saber que o faço...
Em estórias olvidadas, num distante e perdido esquecer...
Assim vivo, no imenso vazio de teus abraços...
Suave desilusão da razão do efectivamente ser...
 
Amor aos pedaços

António de Almeida