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sem número

 


. façam de conta que eu não estive cá .







doem-me os olhos por dentro. a salificação das retinas constrói uma espécie de embalsamento à menina.petrifico a pele da cara, a expressão. trago a boca aberta, de espanto ou tristeza, qualquer coisa dita absurda agora a fecharia.queria saber da terra mas nos meus olhos só é nítida a água. talvez me adormeçam no peito as andorinhas e ser quase primavera me entristeça. talvez não saibas tu que o mar está triste, calmo e triste, cinzento como as ruas. por dentro ouço ainda o vento, aquele vento dos dias leves, que passa perto e leva a pele com ele, desse vento que traz histórias no berço.não sabes também tu por que ventos se perdem outras gotas, lugares de ser desperta como as casas. o espaço temporal pouco importa, está frio, está longe, está deserto hoje, está o coração todo encolhido, o meu amor está fora. queria clamar-te poemas de amor, sem nexo, sem nada, podiam ser uma palavra apenas, dita, no abrir dos braços, no fechar dos olhos, poderia ser falar assim de como o mar me come e de como o sal corrói estas entranhas. é verdade que te pertencem estas memórias de mim, formas de caçar estrelas, jeitos de abraçar saudade, que todas as árvores têm mais do que um ramo mas apenas um tronco, que vives noutra árvore, longe da praia.a menina está vazia - o mundo é semelhante a uma película transparente - o coração morre lento. queria de ti um recipiente onde o depositar - metade podre.


 
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Margarete
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