Crónicas : 

24:30

 

O relógio é um utensílio útil, e usado para quem não sabe desde tempos imemoriais. Primeiro era uma simples vara espetada ao sol e pela sombra que a vara ia fazendo ia-se calculando as horas que a terra demorava no seu lento movimento de rotação. Quando por exemplo em dias de sol se olhava e não se via sombra a hora aproximada seria de 12.00 horas ou meio-dia como sói dizer-se, altura em que o sol exerce um plano vertical sobre o ponto da terra.
Mais tarde as varas deram lugar a relógios já mais perto do que se conhece nos tempos modernos, primeiro muito grandes ostentados normalmente nas torres de igreja, depois já mais pequenos e já se podia ter um na sala, até que maravilha das maravilhas já se podia ter um no bolso do colete que abafava normalmente barrigas abastadas que faziam questão de os prender com pesadas correntes em prata e ouro.
O relógio é constituído por um ponteiro das horas, um dos minutos e um outro dos segundos, este ultimo perfeitamente adjacente e até dispensável para quem use o relógio de uma forma prática e não esteja interessado em saber o tempo que o Usein Bolt demora a completar 100 metros numa pista tartã.
E perguntam-me vocês: “está tudo muito bem, mas a que propósito vem a uma hora destas explicar essa coisa do relógio?”
(pausa para vocês fazerem a pergunta!)
O relógio sendo útil é preciso saber interpretar o que equivale a dizer que se tem de “saber as horas” para se ter um, senão chegam ás 24 horas e continuam por ali fora…24:30, 25:00, etc. neste momento já iam nuns milhões de horas. Aquela roldanazita que tem dentro torna-se implacável, muito mais agora com o uso de pilhas sendo desnecessário dar corda ao dito.
Nem tudo o que se lê é tal e qual o que se deve interpretar “ipsis-verbis”, é preciso pensar, interpretar e essa missão é não só do pateta que se acha poeta ou poetisa ou o diabo que o valha como de quem se julga detentor dos direitos do que eles escrevem e se intitula webmaster, porque o ponteiro dos segundos pode ser realmente adjacente e dispensável mas o conjunto dos ponteiros é que faz o cerne do relógio e mesmo que o ponteiro dos segundos não apareça no mostrador não haja duvidas que por baixo há uma roldana a contar esse tempo, um a um… por isso pode sim dispensá-lo como pode dispensar o dos minutos, ou o das horas e o cálculo começa a ser impreciso, ás tantas e porque está fora de moda pode retirar a bracelete e ficar só com a chapola que pode enfiar no bolsinho da calça de ganga (agora não se usa colete!). mas de repente e porque se esquece que o tem lá, no bolsinho, tem que olhar para a torre da igreja. Pronto, é um retrocesso real mesmo, não é? E já agora e para não se perder tempo porque não escolher um terreno árido e solarengo e espetar umas varas ao sol e ir espreitando de que lado lhes fica a sombra?
Mas já agora, não é preciso que lhes explique o significado de vara se falarmos em substantivos colectivos pois não?
 
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jaber
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Enviado por Tópico
Avozita
Publicado: 11/08/2010 23:07  Atualizado: 11/08/2010 23:07
Colaborador
Usuário desde: 08/07/2009
Localidade: Casal de Cambra - Lisboa
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 Re: 24:30
Gostei da sua dissertação
sobre o relogio.
Neste momento são 24 horas 07 minutos.

Antonieta

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/08/2010 22:25  Atualizado: 14/08/2010 22:25
 Re: 24:30
Ainda que este meu comentário possa estar para o texto como o ponteiro dos segundos está para o relógio, gostei desta deambulação sobre hermenêutica, apesar da última vara.
E são, se o relógio estiver certo, 23.25

DM

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 15/08/2010 11:51  Atualizado: 15/08/2010 11:51
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: 24:30
Jaber,
Digamos que qualquer hora é boa para se ler tão inteligente dissertação sobre o relógio e o ritmo das suas implacáveis e assertivas batidelas.
Beijo
Nanda

Enviado por Tópico
Epifania
Publicado: 15/08/2010 12:06  Atualizado: 15/08/2010 12:06
Super Participativo
Usuário desde: 02/07/2010
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 Re: 24:30
- Ora aqui tens um belo texto que tenta dissertar sobre as varas e varapaus, ou poderá dizer-se, varões do tempo a mergulhar no centro de uma esfera azul. Tão azul como aquele céu onde se erguia um relógio de sol esculpido em pedra dura. Lembro que ficaste horas a tentar apreciar os movimentos dos ponteiros do relógio. Como sempre o tempo anda às voltas e nós com ele

- Sim e aquela pedra era uma ligação ao sol. Lembras aquela gigante que nos fazia sombra, sempre que nos perdíamos a tentar saber as horas através da posição do sol? Pois eu penso que há tempo para tudo, desde semear a colher, e desde que tenhamos braços e força para fazer do tempo um só movimento que nos indique onde parar. Penso que parar é deixar de ter tempo, mas eu gosto de estar a par com ele e dizer-lhe que também eu sou um relógio de sol


- Gostei do seu texto, embora não tivesse tempo para o acolher no devido tempo

- Apreciei também.