Pândego, a uivar para a lua, 
após resfôlego sacrílego, 
ai, eu era ele, o lobo, lobo lôbrego no limbo, 
e era eu livre, ai, mas era lúgubre e tétrico. 
Soturno, olhava para o céu só à noite, 
estroina, eu era boêmio, com um olhar alegre, 
sôfrego, ai dissipava sob  a luz brilhante da lua.
Era eu ser tristonho, ser simbólico, 
lôbrego lobo, lúdico no limbo, 
lúgubre, triste e  tétrico, 
eu era ai, o lobo, ser ávido e voraz. 
Um ser célere, ligeiro  e presto, 
aquele que andava na noite, 
sob as estrelas cintilantes. 
A criatura veloz, ente fugaz,  
seguindo adiante, confiante, 
sempre em delirante semblante.
 
 
Era eu aquele que andava na noite, 
o sóbrio, ser sombrio e soturno, 
o trôpego, pândego, o indivíduo sôfrego, 
e corria distante, ululante.  
Era um gigante dissonante, 
mesmo um farsante negligente, 
na jornada extenuante, solitária
Mas era livre das  clausuras, 
dissolutas, enlutadas, desgregadas,
era eu ai a noturna criatura, absoluta, 
e corria nas  noites escuras, 
devastadas,  sorumbáticas,
acompanhado de um raio 
do  luar que fulgurava.
Mas uma noite, sobreveio  a captura! 
Obscura era a agonia, a tortura 
que  satura a criatura,
que punge,  penaliza, atormenta 
com aflição e amargura. 
Então já  despido da ternura, 
muita angústia e a aflição 
na figura  se  aventura, 
sou agora o que vive encafuado, 
sou ser noturno, diabólico e bucólico, 
enfurnado e  ai afobado do tráfego.  
E  o  coração do lobo no martírio, 
no tormento da escura sepultura,  
desterrado num agreste árido e assolado, 
ficou no luto, como criança abandonada, 
acabrunhado, tão  perdido, desolado 
e incapaz de lidar com a dor de um amor.
                
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego  lutos e mágoas,
até um dia enganei a  morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.