Poemas : 

… ser-te!

 
Desfolhar voraz o fogo-fátuo enfebrecido
no ardor íntimo d’azeite a exaltar-se.

Roçar a palidez láctea da carne (da tua carne),
morosamente
no lento vagar d’orvalho descaído em pedra basilar.

Sem medo deslizar espinhos (libidinosa melancolia),
raspão sereno de seda em pele nua,
ou tão-somente,
bruma ascendida da mão ao antebraço da ilha,
ali, no lugar ermo
onde o luar cambaleia, tropeça mas não vacila.

Descamisar distâncias na lisura macia da hora brava,
ser da cisão, o punho erecto, a espada suportada
que deslaça nós de ventos,
d’enredos, de discórdia e de desdita.

Ser-te, sendo,
de ti, de mim (de nós) a espera coscurante,
a luz lavada, límpida e perfurante
no palmilho demarcado de um dia,
e nesta noite, amado,
nesta noite desmesurada de tão grande,
tal sovela afilada que duro couro, audaz, pungia…

… ser-te, sendo!
Por um instante, seria!



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Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/03/2008 13:51  Atualizado: 07/03/2008 13:51
 Re: … ser-te! - p/Mel de Carvalho
Querida Mel,

Ao lê-lo, sente-se que o teu Poema é surgido de bases tão poéticamente sólidas, que vai ascendendo a cada verso, sem cambalear, sem tropeçar, sem vacilar, roçando-nos o âmago como uma seda. Ser-te, sou, e serei por todos os instantes, eu, um ledor seu.

Um carinhoso beijo, Poeta.

Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 07/03/2008 14:38  Atualizado: 07/03/2008 14:38
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: … ser-te!
Ser-te, sendo, pertencendo, como um só.
E eu sou-te Mel! Eternamente grata pelo que me fazes sentir e crescer

Beijo enorme

Enviado por Tópico
Carlos Ricardo
Publicado: 07/03/2008 17:24  Atualizado: 07/03/2008 17:24
Colaborador
Usuário desde: 28/12/2007
Localidade: Penafiel
Mensagens: 1801
 Re: … ser-te!
Mel,

cheguei ao fim da leitura sem fôlego. Os teus versos agarram a minha atenção, exigem o máximo de concentração,para tentar fruí-los nos múltiplos planos das sensações, dos pensamentos, dos sentidos, mistificações... E nunca perder de audiva uma sensualidade de voz como que arfando do peito de sereia ardente. No fim, qual golpe de misericórdia, para me devolver à realidade, fico a pensar na "noite desmesurada de tão grande" e vêm-me à mente uns versos que algures escrevi, para uma canção, "A noite é longa...Longa de mais/ para estar sozinho".
Um grande abraço.