Poemas : 

Pousio

 
A chama do verão no outono
arrefece,

a rara visão do pavio
como a calma com que morre um rio,
cobre o escuro, cabe o mar numa prece.

O chão cai saturado, a terra em fadiga,
em desgraça,
o arado passa, a nada se obriga.
Na muda a semente ferve,
de quente.

O montanheiro lê onde o monte se estafa
e
para que se solte novo verbo,
roda
como moda, como média, contas dum colar,
que avança sem parar num terrível sem-cor.
Desde a sementeira à colheita,
à pergunta achega-se a resposta,
à procura de nova paragem nova,
perfeita.

Manda a regra que esta se quebre,
que no frio da pele gasta
basta o pousio.

E é quando revejo os teus olhos
que sei
desse fulgor.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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