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Textos de Quarentena 26

 
A mentira infiltrou-se-lhe no corpo como se de um verme se tratasse, revolveu-lhe as entranhas, alimentou-lhe a loucura. Instalara-se o caos. O desnorte que parecia mover-se em si, acometia-se de outras loucuras como os olhares transviados que deitava às damas da alta sociedade ou a mão atrevida que deslizava pelos bolsos dos empertigados lordes que se passeavam descuidados.
Era uma alma perdida, audaz, mas perdida. Nas raras vezes que invadia a grande cidade, camuflado numa enorme gabardina e com a cabeça enfiada num velho e gasto bowler, que só lhe deixava de fora os restos de cabelo oleoso que lhe restavam, tornava-se na inveja de muitos, talvez a larga maioria, por ter mais espaço que todos os outros na via pública ou em alguns apinhados cafés da moda, havia uma distância de segurança de cerca de dois ou três metros, o cheiro que emanava de si e da sua roupa era de tal modo repelente que nem os polícias de giro ousavam interpelá-lo. Chegava a ter piada o asco que tinham dele, queimava.
Não gastava um tostão e tinha tudo o que exigia, sabia-lhe bem a vida assim, era um comodista aproveitador que sabia usar a língua viperina conjugada com os piores atributos de uma doninha fedorenta. Mas que ninguém se deixasse enganar, ele era mau, rude e asqueroso no pior sentido que cada um desses adjectivos possa conter. Um animal perigoso que por entre a trafulhice e a capacidade atabalhoada de orador, governava e liderava os mais temidos e destemidos assassinos, violadores e ladrões que paravam diariamente no tal parque que outrora tivera música, poesia, flores... tudo morria agora, mesmo o silêncio da noite.


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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