Poemas : 

A Quem Matou a Rima

 
Sois vós escritores de pena em riste
Que traís a poesia dos pais da palavra
Daqueles que vos ensinaram a leitura
Olhai esses poemas de cara tão triste
Na alva folha que a alma não lavra
Por ser cega a rima outrora pura

Criais vós, poetas sem juízo, tantas letras
Que coseis entre si sem nada para dizer
Ao incauto leitor e lerdo ouvinte
Essas analfabetas gentes neutras
Ignóbil povo, pouco mais poderá fazer
Que se abeirar da língua qual pedinte

Tirais assim a outra vista a Camões
O panamá já vincado de Pessoa
O desejo profundo de Florbela
Os nove séculos de tantas lições
Desta nobre língua que não perdoa
O esquecimento da poesia mais bela


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
benjamin
Publicado: 31/05/2022 13:47  Atualizado: 31/05/2022 13:49
Administrador
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 Re: A Quem Matou a Rima
Convém não esquecer que a métrica e a rima, como a conhecemos, não existia, por exemplo, na poesia grega clássica.

Além disso, o verso solto e a irregularidade métrica não são bem características exclusivas da "poesia atual". Pelo menos nos últimos cem anos, ganharam adeptos entre poetas como Pessoa, Sophia ou Eugénio de Andrade, paradigmas da musicalidade poética. Parece-me, portanto, que esse debate já tem umas boas barbas :)

A melodia e harmonia são fenómenos complexos e subjetivos, que proporcionam prazer de tantas formas diferentes...

Entre uma orquestra compassada e o canto de um pássaro, espontâneo e livre, o que escolheria?




Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 01/06/2022 07:20  Atualizado: 05/06/2022 22:09
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: A Quem Matou a Rima
O ónus da "...beleza...".

Eu para ter juízo tenho de ir ao Continente.
No entanto, quando ando com falta de inspiração, tenho a rima sempre à mão.
A verdade é que, até algumas décadas atrás, a rima era poema.
Isso iria-nos levar à poética. O que é um texto ser poético?
As aliterações dão cor e ritmo. Se nos focarmos mais na oralidade, seja no fim dos versos, ou mais a meio, capta o ouvido do leitor.
Não é difícil de constatar que das músicas que têm letra, a maioria rima.
Comigo, a rima pode desenferrujar alguma saudade de escrever.
Sou bastante aceitável em sextetos ao decassílabo, rima interpolada.
Mas é um formato que se esgota muito rapidamente. Afinal, o número de palavras que rimam é finito. E se há essa obrigação, ela pode-nos levar a caminhos que não seriam a ideia inicial. Basta não haver assim tantas palavras para rimar com Rogério.
Admito que, para fazer com qualidade, exija engenho e trabalho. E se não derrotar a ideia, ou o mote, têm-se resultados finais fabulosos.
Mas, voltamos à Beleza.
A questão é o formato, ou a qualidade?
Convenhamos que aos quinze anos fiz umas rimas, e fiz-me poeta. Foi assim que comecei, confesso.
Existem muitos textos que são fracos a todos os níveis, com erros ortográficos, sintáticos, gramaticais, ideológicos e que, com umas rimas em "ar e ade", são poemas.
Poucos pés e cabeça. Que parecem anúncios de televisão ao papel higiénico (tipo, da Renova)
O que diria Camões?

Eu tenho um fraquinho por versos que me façam ficar. Que me obriguem a rele-los. Que me façam pensar, puxar pela cabeça. Que me façam rir e chorar, ou sonhar.
Existem, no verso livre de prisões, alguns autores que me maravilham. Consagrados e neste site.
Versos desconcertantes, cheios de metáforas que me obrigam a ir à wikipédia, ou ao Priberam, tentar perceber se o que está escrito é só aquilo, ou pode ser algo mais, ou outra coisa qualquer.
Quando eu entro por essa escrita, tenho muita dificuldade em explicar como me surgiram certos versos...
Mas, voltamos à Beleza.
Também é fácil ler textos que parecem prosa, sem a qualidade dos diários das meninas em crise. Fazem um enter, quando lhes dá na telha e (a)parece um verso. Bastam dois.
O que diria Sophia de Mello Breyner Andresen?

Aqui (devo concordar com algumas declarações) alterna-se entre o mau e o péssimo, a começar por mim.
Muitos só procuram um pouco de atenção e validação.

Mas que outra forma de crescer?

Abraços para o Além