Poemas : 

Só a árvore e o homem levam o mundo por dentro

 



Um dia muito longe, sempre
perto de um tempo absorto, entre
gestos e passos.
Sob as árvores, com raízes
que teimam estar sós,
como os dias de cada ano.

Leva-se o olhar, que olha
as múltiplas arestas e frestas,
com um solitário silencioso silêncio.
Olhares das manhãs e das tardes,
em anonimato, de ombro a ombro.
As casas levam o mundo por dentro.

Nunca se conhecem todos os rostos
nem todas as palavras, por
se adensarem esquinas e caminhos.
Nos passos, nos gestos em conspiração.
Tão longe como se fosse perto.
Só a árvore e o homem levam o mundo por dentro.








Zita Viegas















 
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atizviegas68
 
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 05/07/2023 20:18  Atualizado: 05/07/2023 20:18
Membro de honra
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Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3101
 Re: Só a árvore e o homem levam o mundo por dentro p/ Zita
O eco que dás às palavras em certas alturas do texto acrescenta um sabor especial às imagens que acompanham a escrita. Arrisco desafiar-te a continuares com este estilo algo abstrato de escrever e a fazê-lo evoluir. As palavras crescem por elas próprias, têm vida.


Enviado por Tópico
idália
Publicado: 06/07/2023 14:59  Atualizado: 06/07/2023 14:59
Membro de honra
Usuário desde: 08/06/2023
Localidade:
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 Re: Só a árvore e o homem levam o mundo por dentro
Olá, Zita.

Não me foi dedicado, claro que não:)
Mas leio-me nele.
A última estrofe é, para mim, a chave de ouro.
Gostei imenso.
Obrigada.

Abraço


Enviado por Tópico
benjamin
Publicado: 06/07/2023 17:04  Atualizado: 06/07/2023 17:04
Administrador
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 Re: Só a árvore e o homem levam o mundo por dentro
.
Gosto muito de árvores. Tento conhecer os nomes delas -- pelo menos aquelas que vivem perto de mim. Na minha rua, tenho carvalhos americanos e bordos negundo. No outono, há lá coisa mais bonita...

Com o seu texto, lembrei-me também de um documentário que, de vez em quando, repete na RTP2. Chama-se "A Minha Paixão por Árvores" e é apresentado pela atriz Judi Dench. Ela tem um jardim cheio de árvores, e cada uma delas tem o nome de um dos seus amigos que entretanto tenha falecido.

Obrigado pelos seus poemas, Zita. Gosto muito, como sabe.

Fica aqui um excerto do documentário: