Poemas : 

Para a Noite de Kyiv (86ª Poesia de um Canalha)

 
A trincheira alagava-se com saudade
Aquela que te corre quente e perdida
E a carne álgida e inerte de um efebo
De pele parda e seca pela eternidade
Doía-lhe como nunca lhe doera a vida
Todo o chão rubro lhe era negro érebo

O peito cravejado de humana loucura
Escondido entre as salvas de canhões
Longe de olhos pais e das mãos mães
Estava ali só no meio de tanta tortura
Um erro sempre igual de gastas lições
Na ordem imperfeita dos teus capitães

No teu regaço adormece meio mundo
O outro meio morre lento e ignorante
Os gritos ouvem-se acolá mais curtos
Chora-te este sonho agora moribundo
Náufrago em mar de gente arrogante
Verbo sem letras nestes dias incertos


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
MÁRIO52
Publicado: 25/02/2025 15:17  Atualizado: 25/02/2025 15:17
Da casa!
Usuário desde: 24/02/2025
Localidade: PORTO-PORTUGAL
Mensagens: 279
 Re: Para a Noite de Kyiv (86ª Poesia de um Canalha)
Poema realista e bem estruturado.
Nestes tempo de convulsão, guerra, violência, morte, é uma mensagem muito oportuna.
Gostei bastante.
Abraço amigo.

Mário Margaride


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 28/02/2025 21:27  Atualizado: 28/02/2025 23:46
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2257
 Re: Para a Noite de Kyiv (86ª Poesia de um Canalha)\cheiramázedo
9 - Estará perto?


Entre rixas antigas e metais raros,
senhores que fazem negociatas,
que não são platinas, ouros, pratas,
os pobres, de tão pobres, saem caros.

Apostam as fichas todas, sem reparos,
o sangue jovem; reles sociopatas...
Metais raros como bairros de latas,
memórias, traumas tão baços e claros.

Trampa na trompeta, só arabescos,
petróleo e gás entram em todas as contas.
Afinal até Chernobyl interessa

e todos os contratos fofos e frescos
assinados a sangue e afrontas.
Com (des)interesses o fogo cessa.


in Dez Sonetos da Guerra na Crimeia por partes