Com os olhos completamente marejados de dor, ele se encontra perdido — tão perdido quanto os milhares de grãos de sal que se dissolvem ao tocar a água. Seu único sonho era ser feliz. Apenas uma chance. Apenas uma oportunidade.
Mas ele teve essa chance. E assim como os raios solares iluminam tudo o que tocam, dando vida e cores ao mundo, a luz também brilhou sobre ele — refletindo em sua íris, deixando-o mais belo, mais vivo.
E mesmo assim, ele estragou tudo.
Perdeu tudo o que sempre sonhou, preso aos próprios princípios, deixando tudo cinzento, desbotado, sem cor. Seus erros apagaram o brilho, e sua essência se esvaiu como as ondas que apagam as pegadas nas ilhas, levando consigo qualquer rastro de existência.
Agora, ele só deseja a morte. Só deseja acabar com tudo o que a maldita luz insiste em iluminar na sua vida.
Ele é calculista e frio. Um jogador nato de xadrez, sempre antecipando os movimentos até o xeque-mate. Não quer que a maldita luz desvende seus truques, nem suas questões arbitrárias sobre fracasso e redenção.
Toda vez que bebe, ele sussurra “Wadhaweelll” três vezes. Uma palavra estranha, quase um feitiço. Ele sonha em ser um escritor da luz, mas sabe: todos os escritores da luz não têm ideias boas, nada que os salve. Apenas a morte os reconhece, os eleva em meio ao caos.
O autor se sente fracassado, perdido no cais — porque seu livro, Ecos de um Tormento, nunca foi lido. Suas fantasias são apenas frutos de sua mente. Ele quer algo que desafie. Um livro medíocre talvez pudesse salvá-lo.
Mas… como o restante dessa história poderia salvá-lo?
Ele fechou o livro inacabado, as páginas manchadas pelas gotas que caíam dos seus próprios olhos. “Não há salvação”, sussurrou, enquanto o papel parecia encolher entre seus dedos magros.
O som da chuva batendo contra a janela parecia uma sentença. Cada gota, um veredicto. Cada trovão, um grito abafado vindo do fundo da sua consciência.
O quarto estava mergulhado na penumbra, iluminado apenas pelo brilho intermitente de um poste lá fora. O reflexo da luz filtrava-se pela cortina rasgada, riscando a parede como farpas de memória.
Ele olhou para a garrafa de whisky quase vazia. “Wadhaweelll”, repetiu, mais uma vez. Uma, duas, três vezes. Mas nada acontecia, além do gosto amargo queimando sua garganta.
O detetive sabia que estava perto do fim.
Não era o fim de um caso. Não era o fim de uma investigação. Era o próprio fim.
A mente cansada girava como um tabuleiro de xadrez em que todas as peças já haviam sido derrubadas. Xeque-mate. Mas contra quem? Contra si mesmo? Contra o mundo?
Sentou-se à mesa, pegou uma caneta. Um papel amassado ainda tinha espaço para mais algumas palavras. Com a letra trêmula, escreveu:
“Se um dia alguém ler isso… saiba que não fui derrotado. Apenas desisti de lutar.”
Mas antes de assinar, ouviu um som. Um estalo.
Alguém estava à porta.
Ele ficou imóvel. A respiração presa, o coração galopando. Quem estaria ali, àquela hora? A luz do corredor projetou uma sombra por baixo da porta — uma silhueta estranha, como se uma peça tivesse sido movida no tabuleiro sem sua permissão.
A mão foi instintivamente ao bolso. Sentiu o metal frio da pistola.
A porta bateu três vezes.
Ele respirou fundo. Levantou-se, caminhou devagar, com passos pesados, cada um ecoando como uma sentença final.
Apoiado no trinco, olhou pela fresta. Mas não havia ninguém. Apenas o som da chuva. Apenas o vazio.
No chão, um envelope. Sem remetente. Sem selo. Apenas seu nome escrito em letras vermelhas.
Ele pegou. Abriu. Dentro, uma única frase escrita à mão:
“A verdade que você procura já está dentro de você.”
E então… as luzes se apagaram.