Entrego-te, ó vida, ao vento ululante,
Nesta hora sofrida de desalento,
Adeus ó sombra de arte, meu talento,
Adeus meu dom de ter perto o distante.
Cultivo-me aos céus, incerta semente,
E faço brotar na noite estrelada
O que sempre esperei na madrugada,
A doçura da minha alma doente.
Sou mestre de nenhum ensinamento
E contudo sei tanto sem saber,
Sei que pensar como gente é descrer;
Por isso abraço o sempiterno tempo
Num só gesto de lágrimas vertido,
De quem deixa no cais alguém querido.
11 de Abril de 1995