Trago dentro do peito uma navalha,
Que me espeta e mui dói, mas não faz chaga,
Até porque é dos versos acendalha,
Sendo também da vida grave draga.
Trago dentro da alma uma voz grisalha,
Que sempre me guiou na sua saga,
E louca diz-me que é entre a gentalha,
Que a minha onda encontrará a sua vaga.
Trago dentro de mim um sentimento,
Secreto como um dogma em gestação,
Que do nada desta gente é fragmento…
Trago dentro da boca o coração,
Qual verdade encerrada num convento,
Que ao altar da pena sempre diz não.
03 de Janeiro de 1996