Nesta mão que ora escreve o mundo pára,
Condensado, aprisionado e morto,
Reduzido ao átomo, cara a cara,
Ele, essa coisa, comigo, o aborto.
Um de nós é o dia, o outro a noite,
Um de nós é o sonho, o outro o gelo,
Um de nós o prazer, o outro o açoite,
Mas duas pontas do mesmo novelo.
É uma indefinição definida,
Como dois corpos que no amor se fundem,
Quando na traição do amor se desunem.
Cumprimentamo-nos, não nos falamos,
Nesse castigo mútuo e suicida,
No ridículo a que chamaram vida.
12 de Dezembro de 2003