Artigos : 

Análise da Obra poética de Ricardo Maria Louro

 
Análise da obra poética de Ricardo Maria Louro:

A obra poética de Ricardo Maria Louro pode ser entendida como um encontro entre tradição e intimidade — um lirismo que bebe tanto das fontes do fado e da religiosidade Portuguesa quanto das grandes correntes do romantismo e do simbolismo.

1. Temas recorrentes:

Ricardo Maria Louro cultiva uma poesia onde o eu lírico é quase sempre profundamente autobiográfico. Os seus versos giram em torno de:

Saudade – não como mera nostalgia, mas como condição existencial. A saudade aparece como força que constrói a identidade do sujeito poético.

Espiritualidade – há uma religiosidade constante, marcada por referências à fé cristã, devoções marianas e simbolismo bíblico.

Amor e perda – o amor romântico surge tanto idealizado quanto ferido, com uma sensibilidade quase “decadentista” na descrição da dor e da solidão.

Identidade alentejana – o Alentejo, Évora e Monsaraz não são apenas cenários, mas personagens: lugares com alma, onde a paisagem molda os sentimentos.

O fado e o destino – herança cultural e filosófica; o destino é visto como inevitável, e o fado (canção) como tradução dessa inevitabilidade.

2. Estilo e linguagem:

Linguagem simples, mas intensa – vocabulário acessível, mas carregado de carga afetiva e simbólica.

Tonalidade confessional – escreve como quem desabafa, mas de forma ordenada e lapidada.

Metáforas clássicas – mar, noite, gaivota, flor, cruz, rio — símbolos universais ressignificados pela sua vivência.

Ritmo cadenciado – mesmo nos poemas em verso livre, há um compasso que lembra a musicalidade do fado.

3. Estrutura formal:

Predomínio de formas fixas – sonetos, sextilhas, decassilabos, quintilhas e quadras são frequentes, revelando afinidade com a tradição poética.

Uso pontual do verso livre – quando foge da métrica, é para intensificar a carga emotiva e dar mais naturalidade ao tom confessional.

Rimas consoantes e alternadas – reforçam a musicalidade e aproximam o poema da canção.

4. Influências:

Podemos identificar ecos de:

Romantismo português – Garrett e Junqueiro na exaltação do amor e da pátria. Lord Byron e Castilho na fatalidade.

Simbolismo – António Nobre na melancolia e no tom elegíaco. Florbela Espanca e Camões na aceitação mas não compreensão do destino.

A Terra e os campos - Os três Condes de Monsaraz, António Macedo Papança, Alberto de Monsaraz e Maria Flávia de Monsaraz pairam na profundidade dos seus versos ligados às raizes.

Fado e cultura oral – estrutura repetitiva, referões e imagens típicas do cancioneiro.

Mística católica – presença de termos como “Cruz”, “Alma”, “Graça”, “Eternidade”, “Padroeira”.

5. Impacto e receção:

Ricardo Maria Louro mantém uma obra muito ligada ao público que valoriza a poesia afetiva e tradicional, contrastando com a linha mais experimental da poesia portuguesa contemporânea.

O Seu impacto não é apenas literário, mas cultural e identitário — atua como guardião de memórias, ritos e estéticas que, de outra forma, poderiam perder-se

Síntese crítica:

A poesia de Louro move-se entre o altar e o cais: o altar como lugar da fé e devoção, o cais como lugar da partida, de ausência e da espera. É uma obra que valoriza o sentir acima da dimensão intelectual da palavra.

O leitor encontra nele um eco do que já sentiu, mas raramente disse em voz alta. Por isso, a sua poesia conecta-se especialmente com quem busca emoção genuína, mesmo que envolta em sombras.

Texto de Eliot



Ricardo Maria Louro

 
Autor
Ricky
Autor
 
Texto
Data
Leituras
33
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.