Não cobres paradeiro, hora exata
Ou cifra alta quando o abraço falta
Me fere assim, me sufoca e laça
Com ciúme que já virou desgraça
És luz do sol, é mar e mente clara
Mas a maré no peito o barco vira
E viras fiscal do dia, do meu passo
E no querer, me chuta ao espaço
A inteligência que há de nos salvar
Não calcula, mas sabe bem amar
Não há ciência exata, meu amor
É a arte simples de nos dar calor.
Teus olhos são farol, mas falta luz
Tenebrosa tempestade te conduz
Troca a paz por guerra que é incerta
Depois fecha a porta antes aberta
Seu castelo é de sonhos, de finura
Mesmo longe se vê alta cultura
Sentimento sem remédio, sem pudor
Se converte em ódio a qualquer rumor
A inteligência que há de nos salvar
Não calcula, mas sabe bem amar
Não há ciência exata, meu amor
É a arte simples de nos dar calor.
Não me vigies o verso, o porto, a roupa
Decifra antes o medo que faz louca
A chave não está em meu percalço
Mas no monstro que devora meus pedaços
[Que se alimenta da nossa distância]
O ciúme que corrói também te cega
Uma fera à solta que ninguém nega
Sem cercas, grades, sombra, medo
Mas que vive a vida em mil segredos
A inteligência que há de nos salvar
Não calcula, mas sabe bem amar
Onde falta o encontro, sobra espanto
Que se esvai sem jeito nesse canto.
Souza Cruz