Poemas : 

A Água pelo Avesso

 
Eu disse que entrei,
e vou entrar todas as vezes,
mesmo depois,
mesmo sabendo.
(E quem sabe?)

O corpo desaprende o ar,
e aprende a água pelo avesso.

Do mar eu voltei;
de outra água, não.

De vez em quando, voltar
é ensaio,
para ir —
é mergulho.

 
Autor
Aline Lima
 
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 31/08/2025 12:10  Atualizado: 31/08/2025 12:10
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 A Água pelo Avesso p/ Aline Lima
.
O ar e a água: elementos naturais que, desde os primórdios do pensamento até à mais atual astrofísica, fizeram parte do estudo e do sonho do ser humano.

Ambos são fonte de vida, ambos têm o poder de a tirar. Ambos são metáforas eternas da descoberta, do arrojo humano, da imensidão e do Além.

Neste poema, cruzam-se os estados líquido e gasoso destes elementos com o estado sólido do corpo humano, que os invade, primeiro com a hesitação do "ensaio"; depois com a certeza do "mergulho".

É uma aprendizagem, essa ousadia de os "aprender", que liberta o "eu" para os ver de frente e do avesso. Como se aprender, numa etimologia alternativa, fosse a ausência de prisão, a certeza de uma comunhão com o Universo assumida como vontade e não apenas circunstância.


Enviado por Tópico
Levant
Publicado: 31/08/2025 20:57  Atualizado: 31/08/2025 22:56
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 Re: A Água pelo Avesso
Como em Beckett: falhar de novo, falhar melhor. Aqui: mergulhar de novo, mergulhar melhor. Nem sempre melhor, ainda assim mergulhar. Um grande mergulho, este.