
Nas ruas antigas da velha Cáceres,
Onde o sol se deita pesado sobre o rio
E o tempo anda descalço pelas calçadas rachadas,
Há um doce inconformismo
Que respira entre os casarões em ruínas.
As paredes descascadas guardam nomes
Que ninguém mais chama,
Cartas nunca enviadas,
Promessas que envelheceram antes de cumprir-se.
Cada janela quebrada é um olho que se recusa a fechar,
Vigiando o presente com a memória do que foi.
O inconformismo ali não grita,
Ele sussurra.
Mistura-se ao cheiro de poeira, mofo e rio,
Ao rangido das portas que insistem em abrir sozinhas,
Como se a casa ainda esperasse alguém voltar.
Há uma triste beleza na decadência,
Uma doçura sombria em ver o tempo falhar.
Os casarões, tortos e cansados,
Não pedem apenas restauração:
Pedem escuta.
Cáceres envelhece sem pedir desculpas.
E quem caminha por suas sombras
Aprende que resistir não é permanecer inteiro,
Mas continuar de pé, mesmo em ruínas,
Com o coração aberto
Para o que ainda insiste em viver.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense