Ombros curvados ao destino incerto,
Feitos à curva do tempo, infinita,
Estuga-se o passo ao distante perto,
No silêncio da noite que grita.
Olhar que te venera, boquiaberto,
Numa oração muda que se recita,
Todo o fim em teu corpo descoberto,
Toda a vida na palavra não dita.
Volátil como a fantasia doce,
Ainda que em riscos de carvão te esboce,
Fazes-te e desfazes-te num segundo…
Que na garupa do breu que te trouxe,
Assertivo o dizer, triste e rotundo,
Fogo-fátuo és também coisa do mundo.
20 de Junho de 2024
Viriato Samora