Textos : 

Lúcido Mar

 

Nesta travessia das dúvidas, movimentos de luz sobre as águas, pontos de vista distante em líquido olhar sobre o chão, estaleiro de sonhos, vento, cordas e cabos de laborar, ruas e casas, Ana perscrutava o sentido do mar de Luciana e Luís, a luz e a lucidez.
-"Tendo o ferro a pique de estai, iça a vela grande e a de estai e continua-se a suspender, procurando arrancar, quando com a guinada do navio tiver posto o pano a grivar, porque ficou com a testa na linha do vento. Arrancado que seja o ferro, iça a bujarrona, aquartelando à proa para o lado contrário àquele para que se quer fazer cabeça e, tendo o pano cheio, camba e caça à proa, seguindo de ló ou como melhor convier. Sempre que for possível, deve-se fazer cabeça para o lado oposto ao do ferro."
Ana analisava este grupo - um tanto heterogéneo, que aqui singrava o mar, ao som cheio da voz calma de Henrique.
Luciana, estudante de artes plásticas; Luís, poeta; Henrique, marinheiro; Domingos, carpinteiro naval; Álvaro, estudante de arquitectura; Wirsung, psiquiatra; Ana, também médica.
-"Com o ferro a pique de estai e a água no bico, que é como quem diz quando a corrente da água vem pela proa, iça a vela de estai e, logo que arranca o ferro, mareia e segue com vento da popa, até estar em franquia. Depois orça, iça grande e bujarrona e segue de ló ou como convier."
Juntando as cores, o ar, a água, a madeira, as pedras, as mentes e os corpos, interpenetrando os seus elementos, todos em conjunto se ensinam e constroem uma escultura viva.
-"Navegando de bolina, dá-se mais em cheio, para adquirir bom seguimento. Pronto a virar por d'avante, mete-se o leme de ló, folga à proa e ala a retranca a meio. Logo que a proa esteja na linha do vento, aquartela avela de estai, camba a retarnca e amantilha-se a barlavento. Se o navio parar, pôr o leme a meio. Se cair a ré, pôr em revés. Quando tiver o pano cheio, camba à proa e caça, seguindo de ló ou como convier. Quando a proa está na linha do vento, folga-se o brandal volante e tesa-se o do bordo oposto logo que a vela enche para um lado."


José Jorge Frade

Capítulo 12 de "Lúcido Mar"
 
Autor
josejorgefrade
 
Texto
Data
Leituras
891
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.