O Poeta e a Flor
O amor é o bem que nos faz tão mal,
Disse o poeta à flor que quer tão bem.
O amor é como um cravo no roseiral,
Disse a flor, toda vermelha, amava também.
O amor é a presença de uma ausência,
Disse o poeta ao sentir o perfume da flor,
O amor é estar com a pele à flor da pele.
Disse a flor à flor da pele e com dolência.
O amor é como um sonho dourado,
Disse o poeta com a sua certa altivez.
É carregar mais leves os seus fardos.
Disse a flor naquela última vez.
Então foi que tudo aquilo teve um fim,
Pois os poetas sabem o que é o amor,
Mas não sabem simplesmente amar.
O poeta arrancou a flor, e saiu do jardim.
Noites de Verão
Nessas noites de um azul fecundo,
Com minhas mãos nos bolsos vazios,
Vou andando pelo mundo,
Sentindo deste calor um frio.
Os postes fazem poças de luz no chão,
Apenas minha sombra me acompanha,
Por esta rua comprida e deserta,
A lua brilha como um clarão.
Sigo por este corcel de sobrados,
Onde ali passam seus dias:
Velhos, doentes, viúvas e soldados,
Cada um com sua pouca alegria.
A noite é alta e sobe a madrugada,
Penso em tudo, contudo, tudo é nada,
Mas sinto o cheiro desta nova estação,
Nestas noites trêmulas de verão.
Canção do Amor
O amor é como um perfume ao vento
Que embriaga o coração de alegria.
È sentimento que faz do sentimento
Uma lira com as cordas de fantasia.
O amor é como uma tempestade
Que naufraga o barco nos seus ensejos.
Chama escassa que por dentro arde
No calor dos demorados beijos.
O amor é como as flores do prado
Que só florescem quando o sol têmpera.
Cobre o campo que antes era cardo
É um sonho feliz de uma primavera.
A Lira Maldita
Roubei de um tísico vendedor de rosas
O perfume para fazer a minha prosa,
Que anda gasta por essas ruelas,
Onde ando a ver fechadas janelas.
Eu maldigo mais que um mendigo,
Como um jovem muito velho,
Que em orquestra de sapos canta:
Sobre a mesa o podre fruto.
De uma laranjeira que está morta,
Onde estão no chão as laranjas.
Pois um novo estilo e com franjas
Prefere um pequeno pé de bergamota.
E sigo eu com minha lira desafinada
A procurar palavras mais agudas.
Então encontro em uma cesta uma agulha
E uma camisa de algodão.