Transumância
Deslacei
Que a inteireza é feita de inverdades
O amor contracena com o desamor
E até o afecto
Fenecido
Lamenta o tempo
É a hora da transumância humana
Sobejam ainda:
Alguns frutos selvagens da primavera
Garimpeiro
Destreza na peneira
Mestre do olhar
Agita a cupidez
Perlustra leiras
Na água
Paira a vida
Ora abutre
Ora primavera
Suicídio
O sonho estatelou-se
Desgostoso
Era mais pesado que o ar
Alegoria
As palavras aziumadas
Usam samarra de cordeiro
Propagam-se como vento
Esmordaçam como lobos
Desabafo [em arrogância] verbal
Eu escrevo:
logo sou, existo
....- penso
Tu não escreves:
..logo não és, não existes
.- nunca pensas
Ele não escreve:
logo nunca é, nunca existe
.- nunca pensa
Nós escrevemos:
obviamente somos [estou cá EU] , existimos
.......- pensaremos [continuo por cá, EU]
Vós não escreveis:
logo nunca sois, nunca existis
- nunca pensareis
Eles nunca escrevem:
...logo nunca são, nunca existem
...- nunca pensarão
Está no vosso olhar a melhor leitura, aquela que mais vos aprouver.
Eu letreio a caligrafia encarnada.
Antenupcial
A escrita é um encontro
Antenupcial
Saibam as ameixas florir
E as metáforas parir
Belas e monstros
Plantação
Plantei uma lágrima
Era azul
Cobri-a de terra pura
*
Um dia
Será
*
Amendoeira em flor
*
Branca
Vocábulos dubitativos
Sempre que rabisco
Crio retábulos
Esculpidos em arte nobre do dizer
Aos que me contabescem
Deixo uma diaporese
[nasce o silêncio em formato de
interrogação]
Onde acaba o homem
E morre o escritor
Aclasto
Atrás
Dos desfrutáveis olhos
Vadiavam memórias temporais
Contristados
Entressonham lágrimas
Em:
Bem-aventurança
Representar o pensamento por meio de caracteres
A escrita:
São encontros de palavras
Ordenam-se por interesses
Comunicacionais.
Melieiro, o escrevente
Exorna com:
Traço
Aprumo e labor.
Uma panóplia de
Enxertos requintados
Esteticismo em apelo
Ao regresso às artes
Acaba a coluna em:
Galanteios ao leitor
Um apelo à paixão
Eterna