Poemas, frases e mensagens de joãomestreportugal

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de joãomestreportugal

Desilusão

 
[um dia todos partiremos]

Implosão.
A luz liquefez-se
No momento

Dissolvida
A imagem:
Deixou de ser

Vivem agora:
Em mim
Lembranças
 
Desilusão

Microretrato

 
Captei
O instantâneo do olhar
Enorme
Como os olhos

Desfolhei
A verdade desejada
Na Mentira
Sentida

Abstruso
Guardei:
Microretrato

Na dor do saber
A verdade que coube
 
Microretrato

Infindo

 
Das mãos

Eclodiu com suavidade
A ideia
Acorrentada a um fio de azeite
Cresceu
Talvez imenso
Deixou de ser apenas um substantivo comum
Adjectivou-se com superioridade
Excedeu as preposições

Esgotada
Tombou livro
 
Infindo

Ponto vernal

 
Atapetam-se jardins
De flores
Colhem-se novas cores

- É o ponto vernal

Adossado
Chalaceia o caminheiro
Do inverno

- O solstício ainda vem longe

Solfejam alegria
Andorinhas
Em pomares de fartura

Abrem-se:
Janelas de esperança
 
Ponto vernal

1 - Encerebração [meu]

 
As interrogações não são celibatárias.
Bígamas,
Colhem no seu leito a reflexão e o desespero.
 
1 - Encerebração [meu]

Dilúculo

 
Acontecia suavemente
O dilúculo.
O cedro amoitava
Um sol: límpido

A gota, minúscula
Da noite lavada
Lembrava
Todos os mares

Deitada sobre o caule
A flor
Espreguiça.
Colhe a primeira vida

À janela: o melro
 
Dilúculo

Heurística

 
Apoiado no lamento
Desalegro-me
Atrido
Desdobro uma noite
Apenas minha.

No céu: a Cassiopeia
Retraça-me
Inclemente
Apela em chama
À heurística.

Interrogo-me entre:
Deuses terrenos.
......\\
Escuto-me entre:
Giestas bravas.
......\\
Digo-me entre:
Pedras afiadas.
......\\
Respondo-me entre:
Teorias de evolução.

Escancelados
Os olhos
Deslumbram uma rosa
Na beleza:
Os espinhos.

Nota de autor: \\ - Pausa Longa
 
Heurística

Morte

 
Tudo amadurece
Com sol
Ou com chuva

A vindima chegará
 
Morte

Tempo

 
sacudi a noite na primeira janela da manhã
restos de sonhos

as orvalhadas…
já se fazem sentir

e as noites outrora lúdicas
hoje, fadigoso
 
Tempo

Símile

 
Rabisco
Afolho as palavras
Na armação do tempo
O arval suspira
Alinho as sementes ao sol
Adubo-as com pequenos reparos
Gulosas em minúsculas
É hora do lusco-fusco
Entrego-me ao sono
Jornaleiro
 
Símile

Transumância

 
Deslacei
Que a inteireza é feita de inverdades
O amor contracena com o desamor

E até o afecto
Fenecido
Lamenta o tempo

É a hora da transumância humana
Sobejam ainda:
Alguns frutos selvagens da primavera
 
Transumância

Garimpeiro

 
Destreza na peneira
Mestre do olhar

Agita a cupidez
Perlustra leiras

Na água
Paira a vida

Ora abutre
Ora primavera
 
Garimpeiro

Suicídio

 
O sonho estatelou-se
Desgostoso
Era mais pesado que o ar
 
Suicídio

Alegoria

 
As palavras aziumadas
Usam samarra de cordeiro
Propagam-se como vento
Esmordaçam como lobos
 
Alegoria

Desabafo [em arrogância] verbal

 
Eu escrevo:
logo sou, existo
....- penso

Tu não escreves:
..logo não és, não existes
.- nunca pensas

Ele não escreve:
logo nunca é, nunca existe
.- nunca pensa

Nós escrevemos:
obviamente somos [estou cá EU] , existimos
.......- pensaremos [continuo por cá, EU]

Vós não escreveis:
logo nunca sois, nunca existis
- nunca pensareis

Eles nunca escrevem:
...logo nunca são, nunca existem
...- nunca pensarão

Está no vosso olhar a melhor leitura, aquela que mais vos aprouver.
Eu letreio a caligrafia encarnada.
 
Desabafo [em arrogância] verbal

Antenupcial

 
A escrita é um encontro
Antenupcial

Saibam as ameixas florir
E as metáforas parir
Belas e monstros
 
Antenupcial

Plantação

 
Plantei uma lágrima
Era azul
Cobri-a de terra pura
*
Um dia
Será
*
Amendoeira em flor
*
Branca
 
Plantação

Vocábulos dubitativos

 
Sempre que rabisco
Crio retábulos
Esculpidos em arte nobre do dizer

Aos que me contabescem
Deixo uma diaporese

[nasce o silêncio em formato de
interrogação]

Onde acaba o homem
E morre o escritor
 
Vocábulos dubitativos

Aclasto

 
Atrás
Dos desfrutáveis olhos
Vadiavam memórias temporais
Contristados
Entressonham lágrimas
Em:
Bem-aventurança
 
Aclasto

Representar o pensamento por meio de caracteres

 
A escrita:
São encontros de palavras
Ordenam-se por interesses
Comunicacionais.

Melieiro, o escrevente
Exorna com:
Traço
Aprumo e labor.

Uma panóplia de
Enxertos requintados
Esteticismo em apelo
Ao regresso às artes

Acaba a coluna em:
Galanteios ao leitor
Um apelo à paixão
Eterna
 
Representar o pensamento por meio de caracteres