BORRÃO
Um borrão.
Um borrão bloqueado.
Um borrão sem vida estando transbordando dela.
A carência personificada que não carece de nada mais!
Algo meio amargo, meio doloroso.
Um borrão.
Um borrão uma lágrima.
Um pouco de medo pelo futuro...
Um muito de incerteza pelo presente que em minha porta bate.
Uma enorme e profunda tristeza insondável.
Nasci para sofrer somente?
E estar sozinho, agudamente?
Para que essa decepção iminente?
E para que eu...
Por que não fui só mais um?
Por que não me resigno e digo amém?
Por que ainda insisto?
Por que ainda choro/
E sofro?
Qual o sentido?
Onde irei parar?
E o tempo que não pára?
O tempo que me consome...
O que fará dos meus planos?
Meus sonhos serão pesadelos ou não?
E quem eu amo me amará?
Eu serei ou não feliz?
Tirarei ou não do peito essa dor?
Esse rancor pelas coisas do mundo?
E quando eu morrer...
Terei me realizado ou serei apenas o resto do que um dia fui?
Um borrão mal borrado e apagado?
Um não ser?
Amargura?
Dor?
Frustração?
O quê?
O que me espera?
Meu Amor Esquecido
Meu maior medo é que não me ouças,
Que estejas deitado sonhando comigo,
Sem que nunca o fales,
Sem que nunca me digas.
Temo por meu amor, que pode se perder pelo caminho,
Temo pelos desencontros de corações sozinhos.
Temo estar aqui escrevendo enquanto minha vida lá fora passa,
Sem que encontre o meu alguém por tanto tempo venerado.
Mas é um risco que corro.
É um risco que corremos.
É a vida e suas complicações.
A vida cujos caminhos são tão incertos e obscuros como a própria noite densa,
E cuja estrada guarda imensa dor.
E cuja dor lança raízes no meu solitário mundo de sombras,
Na minha falta de paixão.
Meu amor pode estar pensando em mim nesse momento,
Mas como saber onde?
Como encontrar no vasto caminho do destino
O caminho que me leve até tão amado ser?
Como saber?
Como não se entregar ao desespero e chorar minha tristeza profunda
Penar minha solidão?
Onde está meu amor?
Onde estou eu?
Onde estamos que não estamos juntos?
Onde, meu Deus?
Como encontrá-lo nesta imensidão de pessoas?
É tarefa árdua. Pior: é quase impossível.
Ainda bem que vivo do quase.
Enquanto isso quem eu amo se perde em corpos.
Enquanto isso eu me perco em corpos.
Enquanto isso, nós nos perdemos.
Só que os corpos não nos satisfazem,
Os lábios não dão mais prazer.
E a ausência dentro de nós, corrói nosso ser.
Boca na boca,
Lábios nos lábios,
Corpo com corpo,
Mentes unidas,
Corações sincronizados:
Amor.
Meu medo é que meu amor esteja pensando em mim agora,
E eu, agora, pensando e escrevendo ele,
Sem que venhamos de fato a nos encontrar.
Sem que venhamos de fato a nos consumar.
Sem preenchermos o vazio um do outro,
Como uma parte extraviada recuperada;
A plenitude do meu quebra-cabeça.
Tiago Silva (23/12/09)
Não Há Mais...
[center]Não há mais carícias,
Não há mais palavras doces,
Nem superficiais amizades,
Tampouco falsa felicidade
Que console o Inconsolável.
Não há!
O consolo dos miseráveis é a morte.
A morte é o consolo final e último.
Só ela conforma.
Só ela faz tudo esquecer.
Todo o resto é mero paliativo,
Não curam...
Não há cura para a insatisfação!
Senão...
O gélido beijo ardente.
(19/12/09)
Mais Um Sem Nome
Vivo em um mundo que não é meu.
Sinto na pele dores que nunca quis.
Nas noites escuras e frias amargo sozinho.
Nunca quis.
Quando choro meu brilho some
E sou tomado pela amargura e pelo medo.
Em meus lábios...
Sempre selo o segredo.
Dentro de mim há incerteza.
No meu caminho dureza.
Sempre tento fugir...
Fugir de mim,
Do medo,
Da dor,
Do amor;
Da solidão.
Porém é só a solidão minha companheira.
Só ela me acompanhou até agora.
Mas... acho que está na hora,
Na hora de mudar minha vida.
De buscar a felicidade e o trigo novo,
A alegria a muito esquecida.
E finalmente
Ser eu.
E ser feliz.
E viver!
Por que estou aqui?
Por que eu estou aqui?
E você está aí?
Por que não estamos em todo lugar?
Por que as barreiras e os limites?
E as paredes?
Devo eu dizer o porquê?
Sendo eu só mais um insatisfeito, incoerente?
Um louco que nada sabe?
Por que o céu é azul? Mais uma vez a mesma pergunta já feita... Por quê?
O que é que nos move e guia no meio destes caminhos tortuosos?
Onde é nosso pouso, nossa chegada?
Nosso carinho, nossa bela morada...
O que deles foram feitos?
O sonho, Çucena,
O que fizeram de nosso sonho, Çucena?
O que fizeram de nós?
Só o tempo pode dizer ou calar...
Essa verdade ou essa mentira.
Só o tempo e o vento que nos leva nos braços sem nada saber.
Por tudo querer.
É só o tempo... Somos só nós.
Pequenos em nossa grandeza.
Grandes... em nossa insignificação!
E vimos e vamos... calados como a rocha que dormita nas margem de nosso caminho....
Talvez até mais calados, uma vez que elas não tem o dom/privilégio de falar.
Todos calados contendo uma grande verdade...
Mas faz-se silêncio profundo e obrigado sobre ela...
Que jaz nos túmulos seculares, há milênios encerrada.
Ela... o motivo e a causa primeira... preterida... como nós diariamente!
No final das contas... não se diz nada. E vai-se, também, com nada!
E no pó se espalha a verdade fingida. Reprimida... Hereditária!!!
Nada se diz!!!
Por que as estrelas que caem me doem?
Por que a empatia profunda perante o mundo
Tão adverso à própria empatia?
Chama... chama fria... banha meu corpo vindo de há muito tempo.
E de repente, me vejo só e nu no mundo que me atravessa e nada me diz!
E me queimo no silêncio. E morro, também na covardia. Enquanto mato minha nossa verdade periclitante e sombria.
Mas cheia de luz!!!!
Verdade?
Quem sou eu para falar de verdade!!!???
São apenas impressões de um algo maior que minha compreensão não concebe.
Nem poderia.
Isto é o que tenho:
Este momento novo e velho e agudo.
Porém feliz em sua contemplação!!!