Razões
Não sei.
Não sei o que me levou a ficar ali paralisada?
Parei. Parei mesmo ali imobilizada.
Nada me fazia mexer, estava incrédula
Não acreditava no que estava a ver à minha frente
São segundos que não se esquecem
Aqueles que nos deixam sem reacção
Essas
As razões
Deixam-me fora de mim
Sem ver nada
Aqui
Faço silêncio
Não as vou mencionar
Nem por nada.
Melodia
O vento sopra forte a sacudir as folhas nas árvores, dois serafins inquietos são os gomos que dançam como se fossem a imagem de uma criança em bicos dos pés no topo das suas sapatilhas cor de rosa. Oscilam por dento do olhar dois cisnes brancos.
A melodia das árvores é o silêncio que me aperta no peito numa dança inquieta que acorda as borboletas negras neste tango de amofinas sobre as coroas de mármore
Espero…
Acomodo-me em serenidade na utopia das estrelas
Estática no tempo, aguardo o renascer das cinzas…
Vulto
Lua cheia
O mar prateado
As vagas do mar
Sonhavam o passado
Na areia deliam conchas
De seu rosto desenhado
A menina estava morta
Com o seu cabelo penteado
As flores faziam cruzes
Num pérola meio debotado
Ceras tremeluziam no trago
Enquanto as ondas batiam
Côncavos os pés esboçados
O vulto não tinha rosto
Enquanto deambulava na noite
Na fantasmagoria da água
Azulava no horizonte
Numa maré enlutado
Janelas
São dois livros
Minhas janelas
Náufragas no seu remar
Cada uma tem um peixinho
Nadando no grande mar
Minha porta é só silêncio
Paisagem
Noite
e
Luar
Lagos s(em) brilho de estrelas
Que acordam à noite
A sonhar
Sopro
Sopra o vento…
Fosco está o tempo
nas terras destruídas
O petróleo evaporou
para atear a torcida
Sopra o vento,
Searas sem nada
Tristes e esmorecidas
As mãos calejadas
ainda gretadas
das foices…partidas…
São as nuvens que passam
Que falam…
As histórias desprovidas,
“Memórias esquecidas”
Dos tempos passados
Das mulheres esguias
-O Ciclo do rio
Segue a sua vida!…
Longe do sublime
Da chegada prometida
Olhares distorcidos
Mistérios
Feridas
Guerreiros sem flores
Cantadeiras sem vida
Espaço
O amor me adir
Está preso no meu sentir
Ele voa, porque é pássaro
Ele é flor no meu sorrir
Se o esqueço
Ou não sinto
Nesse espaço
Eu me minto
Falam os cataventos
Que é uma rosa-dos-ventos
Que volta sempre nos tempos
Porque nunca parte de mim
Inimigos nunca
Amigos estranhos
Quem não tem?
Daqueles que nos fazem pensar
Ora são amigos
Ora passam distraídos sem nos cumprimentar.
Há o ir e o voltar
Estranhos
Esquisitos
Misteriosos
Enigmáticos
Inimigos nunca.
Não tenho nenhum tempo assim que lhes possa desperdiçar
Cada um tem o seu tempo para ocupar.
Estranhos?
Amigos?
Fazem-nos pensar.
Coincidência
Ia tirar uma fotografia a uma máscara de oxigénio, faltou-me a respiração.
Noite Escura
Vem da noite escura o meu tédio
Nesta vida ainda haverá algum remédio?
Minha alma não utiliza o seu “ego”
Só não vê, quem na verdade já está cego
Pois o mundo se elogia à minha porta
Onde eu abro a janela sem revolta
Só é grande, aquele que tudo dedique
Entre os nabos e as nabiças sem despique
Venham os homens dos tambores a dançar
O bobo da corte a cortejar. Façam silêncio!
Raias damas com os seus seios a amamentar
Da noite já despida e amortalhada
Sigo os dias em boca mármore e lacrada
Onde a vida emana, criativa e emancipada
Quem sabe?
Falta-me a imaginação
Para te dizer o quanto gosto de ti
Podia falar das flores que morreram
Das aves que não piam
Dos acordes do vento que partiram
Falta o ditame
A noite caiu sombria
O poema que escrevo não foi hoje
Talvez, quem sabe?
O poema um dia acorde e seja dia…