Fugir
Caminho rastejando os meus pés,
Sinto-me sem forças nem para respirar.
Cai-o sobre os meus joelhos esfolados
O pó entra pelas minhas narinas e tapa-me os olhos.
Não sei de onde venho, nem sequer para onde quero ir
Apenas sei que tento fugir…
Já nem tenho forças para me levantar,
Apenas penso em desistir e esperar ser apanhado.
Mergulho na escuridão das trevas,
Tudo o que respiro é amargura
E sinto um peso enorme sobre o meu peito.
Desfaleço sobre o terra,
Os meus sinais vitais ficam fracos
A toda uma vida passa-me agora pela frente
E reparo em tudo o que perdi,
As oportunidades que não agarrei
E todas as vezes que me desleixei.
Em pouco tempo milhares de pensamentos bombardeiam-me a cabeça,
São tão reais que parece que estão aqui e agora.
Todos este pensamentos parecem ganhar vida,
Dando-me um pequeno impulso para que me possa levantar
Demonstrando que ainda posso não estar no fim.
Uma porta se abre
E uma luz ilumina-me
Sinto a brisa da esperança a tocar-me o rosto.
Tudo isto pode não ser suficiente
Mas dá-me um pouco de forças para continuar a fugir.
A fugir do que nunca devia ter fugido.
Os problemas são como abutres,
Que sobrevoam a nossa cabeça à espera do nosso
desfalecer.
Sei que estou sozinho,
Pelo menos pareço estar, mas já nada me importa
Sempre o estive…
Apenas respiro fundo uma última vez,
E limpo as minhas lágrimas.
Olho o pôr-do-sol lá ao fundo,
E continuo a fugir…
Medo
Tenho medo do medo.
Já vi o medo, e senti medo
Olhos negros sem fundo, assim vi o medo.
O medo entranha-se como a chuva miudinha no nosso corpo
Pior que um tumor que ganha raízes que jamais se pode cortar.
Tenho medo do medo.
Já vi o medo, e não pude fugir
Pior que uma prisão, pior que um exílio,
Com garras fortes que nos prende o corpo e alma.
Esmaga-nos até não existir mais um Eu.
Tenho medo do medo.
Já vi o medo, e quase morri de medo
Pior que a guerra que nos tira a vida o medo leva-nos a alma,
O coração bate forte com o medo, como os tambores na guerra.
Caímos num buraco sem paredes para no agarrar.
Tenho medo do medo.
Já vi o medo, e tive medo
O medo suga-nos a alma e a mente como uma sanguessuga o sangue.
Ficamos vazios, tudo com que ficamos é com medo
Medo até do que não mete medo.
Acordamos no medo e adormecemos no medo.
Tenho medo do medo.
Sim, é isso….
Tenho medo do medo.
O que mais queria era não ter medo.
Mas,
Tenho medo do medo…
Voar
Podes me arrancar os olhos
E cortar-me a língua,
Deixando-me sem visão para apreciar o belo
E sem gosto para saborear o doce,
Mas nunca conseguirás me arrancar as minhas asas
E impedir-me de voar.
Não terei visão para me conseguir guiar,
Basta-me apenas seguir o bater do meu coração que ele me guiará.
Não precisarei de língua para gritar,
O bater das minhas asas será o meu grito.
Não diferenciarei a noite do dia,
Mas carregarei a liberdade e a sabedoria nas minhas costas,
Que serão o sol que iluminará o meu caminho
E tornará tudo mais claro que os teus malditos dias cinzentos.
Sei que tentarás me perseguir,
Mas de que te valerá isso se não tens asas?
Ou já as tiveste e deixaste que as arrancassem?
Só eu saberei apreciar o levitar do meu corpo
E o purificar da minha alma,
Enquanto tu apenas rastejarás com as serpentes
E comerás o pó da terra.
Tentaras te lançar a mim e encravar as tuas unhas na minha carne,
Eu não terei como gritar para pedir ajuda,
Mas tenho força e inteligência para me ver livre de ti.
Não me atravessarei no caminho de ninguém,
Apenas seguirei o meu.
Quando me sentir cansado repousarei,
E ganharei forças para poder continuar.
Enquanto tiver coração, alma e sonhos,
Quem me poderá parar?
Mar Português
Há que lhe chame fado,
Outros chamam-lhe destino,
Mas o que todos sabemos é que deixa saudade.
Descobrimentos, emigração e também envagelização,
Tudo serviu de pretexto para sair de Portugal.
Por terra, por mar e também por ar,
Desde sempre este povo valente procurou novos destinos.
Jardim à beira mar plantado, chamava Tomás Ribeiro,
Onde nem tudo são rosas,
Mas espalharam o seu perfume em todo o Mundo.
Terra de poetas, aventureiros e guerreiros,
Já foram donos e senhores do Mar,
Tudo indicava o 5º Império, como afirmava Pessoa
Não se concretizou,
Mas onde quer que se vá
Seja Ásia, América ou África
Ouve-se falar a poética língua Portuguesa.
Amados por uns e odiados por outros,
Mais que uma simples nação,
E muito mais que uma simples geração,
Ser português não é apenas ter um número no bilhete de identidade
A nossa identidade é aquela que nos corre nas veias
E faz exaltar o nosso coração quando se fala em Portugal.
Nobre Povo, nação valente,
Não interessa onde se nasceu ou viveu,
Interessa sim a nossa herança de ser português.
Nunca se poderá negar, e nunca ninguém te a poderá tirar,
Mais que um dom é uma virtude,
Poucos têm essa sorte mas muitos o gostariam de ter,
Só existe uma maneira de deixar de ser português,
É deixando a morte te invada a casa,
Mas certamente quem ficará não deixará cair no esquecimento um Português.
Foram tantas as batalhas por nós travadas,
Para levantar o esplendor de Portugal.
E mesmo hoje e amanhã,
Contra os canhões marchar, marchar…
Dormir
Fecho os olhos e tudo desaparece,
Apenas fica o sono e o sonho…
A vida lá fora continua, o Mundo não pára,
E eu mantenho os olhos fechados,
Apenas durmo.
Descanso o corpo,
A mente trabalha, e eu ainda respiro.
Os problemas deixam de ser problema
Tudo o que interessa é o sono e o sonho.
Os olhos continuam fechados,
Eu continuo a dormir,
Um sono profundo, ou não…
Mas durmo….
Apenas durmo porque tenho de dormir
Eu não quero dormir mas a Natureza manda me dormir.
O quanto gostava de estar sempre acordado,
Seguindo o Mundo na sua cavalgada em torno do Sol.
Mas tenho de dormir…
Amanha vou acordar, espero acordar
Nada será melhor e nada será pior.
Continua tudo igual,
O Mundo não parou
A vida continua e os problemas também…
Dormi e acordei mas os problemas não desapareceram.
Apenas durmo por dormir,
Mas porque durmo se os problemas continuam?
Porque durmo se apenas o corpo descansa?
A mente não,
Essa continua activa, não pára,
Assim como os problemas não desaparecem…
Sim, eu dormi,
E acordei,
Mas tudo continua igual…
O bater das asas
Soltem-me as amarras
Elas não são suficientes para me deter,
As minhas asas foram me dadas para poder voar.
Não posso ficar preso ao chão, isso não….
Preciso de espaço para bater as minhas asas,
E ir onde quero ir e ver o que quero ver.
É tudo o que eu quero, e eu quero sempre mais,
Nem o céu será o limite.
O bater das minhas asas acompanha o bater do meu coração.
Aprecio a liberdade, a inteligência
Podem vir os Deuses, demónios e as forças do além
Mas ninguém me conseguirá deter….
Voarei até à minha exaustão
Até ao parar do bater do meu coração.
Aproveitarei cada momento porque é único,
E saborearei o ar fresco do conhecimento e liberdade que me baterá na minha cara.
O dia em que assentarei os pés no chão,
Será o sinal da vinda do meu fim,
Porque já não terei mais forças para voar
E esperarei a morte de cabeça erguida.
Nessa altura terei a certeza que tudo o que passei
E todo o tempo que voei, valeu a pena.
E o meu peito se abrirá e sairá fogo do meu coração
Que iluminará a escuridão das trevas.
E para todo o sempre se saberá que apenas fui eu,
Não porque também errei mas sim porque nunca parei.